
III-JESUS RESSUSCITADO E A SUA MORTE
Ao tomarem contacto com o Senhor ressuscitado, os discípulos começam a entender pouco a pouco as coisas segundo os critérios de Deus.
Antes, como diz Jesus no evangelho de São Mateus, os discípulos só entendiam a missão de Jesus com os critérios da carne e do sangue (Mt 16, 21-23).
Na verdade, após a Páscoa, os discípulos recebem a força do Espírito Santo que os capacita para ver as coisas segundo Deus (1 Cor 12, 3).
Jesus, pelo contrário, já antes da Páscoa possuía a plenitude do Espírito Santo (Jo 3, 34). O Espírito Santo consagrou-o para anunciar o Evangelho aos pobres, libertar os cativos fazer com que os cegos vejam e os surdos ouçam (Lc 4, 18-21).
Só após a Páscoa, portanto, a compreensão dos discípulos se vai aproximando da compreensão que Jesus tinha antes da Páscoa.
Tal como Jesus lhes prometeu, após a Páscoa, os discípulos seriam conduzidos pelo Espírito Santo para a verdade total (Jo 16, 13).
Jesus apercebeu-se de que o plano salvador de Deus encontrava resistência por parte das forças homicidas do egoísmo humano.
Mas ele sabia que o Espírito é mais forte que as forças de morte que habitam o coração do Homem.
Após a Páscoa, os discípulos perceberam muito bem como a fidelidade incondicional de Jesus foi fecunda, pois dela emergiu a força do Espírito Santo que suscita comunidades cristãs por todo o Império.
Por vezes esta verdade é expressa em termos de resgate ou expiação por associação com os modelos cultuais do Templo.
É por esta razão que o Novo testamento fala várias vezes de resgate realizado pelo sangue de Jesus (1 Ped 2, 9; Act 20, 28; Ef 1, 14).
Paulo afirma que a morte de Jesus foi a condição da nossa justificação ( Rm 4, 25). Noutra parte afirma que Jesus foi a vítima de propiciação cujo sacrifício nos tornou agradáveis a Deus (Rm 3, 25).
Por detrás destas afirmações está a tentativa de justificar o sofrimento e a morte de Jesus.
Para o judaísmo a morte violenta de Jesus era a prova de que Deus não confirmou as suas pretensões messiânicas.
Os textos que falam do sofrimento redentor do Justo, o Novo Testamento vê no sofrimento de Jesus, homem inocente e justo, a redenção do Homem pecador.
Trata-se naturalmente de uma visão orgânica da Humanidade como os textos do Justo Sofredor têm uma visão orgânica do Povo de Deus.
Apoiando-se nos textos do sofrimento redentor do justo, sobretudo o Salmo 22 e Isaías 52,13-53-12, São Paulo faz uma leitura redentora do sofrimento e morte de Jesus.
Mas esta leitura nada tem a ver com a exigência de Deus que, para perdoar aos pecadores, exige o sofrimento do Justo.
Pelo contrário, o sofrimento do justo é redentor para os pecadores porque Deus não suporta o sofrimento dos justos.
Ao libertar o justo do sofrimento, os pecadores, por fazerem uma unidade orgânica com os justos são salvos com ele.
Deste modo, o sofrimento do justo se torna redentor para o pecador e o pecador é salvo pelo sofrimento do justo.
Aplicando esta teologia do a Jesus torna-se claro o sentido da nossa salvação em Cristo. Devido à sua fidelidade incondicional, Deus glorificou Jesus livrando-o da morte.
Como todos fazemos uma união orgânica com ele, todos nós fomos justificados, isto é, incorporados como fiéis a Deus e todos nele fomos redimidos.
São Paulo chega a dizer que Deus identificou Cristo com os pecadores e condenou nele o nosso pecado (2 Cor 5, 21; Gal 3, 13; Rm 8, 3; Col 2, 14).
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