sábado, 5 de junho de 2010

DA CRIAÇÃO À SALVAÇÃO EM CRISTO

No princípio só existia uma comunidade amorosa em diálogo e reciprocidade Amorosa.
E eis que um grito potente se faz ouvir a partir deste diálogo amoroso: “Haja Luz!”.

Este grito omnipotente brotou do amor criador da Santíssima Trindade. E o eco deste grito continua a atravessar a vastidão do Universo que nós medimos em anos-luz.

Este grito primordial continua a provocar um eco criador ao longo dos, dinamizando a marcha evolutiva da Criação.

É também deste grito que surgem as estrelas, as aves e a grande variedade dos animais, tanto os domésticos como os selvagens.

O evangelho de São João diz que Jesus Cristo é o grito primordial na sua concretização mais pura e plena, pois ele é o Verbo fecundo que faz emergir a Criação. Eis as palavras de São João:

“No princípio era o Verbo, o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. Foi por ele que tudo começou a existir e sem ele nada veio à existência.

A vida de tudo o que veio a existir com vida estava no Verbo. E a vida era a luz dos homens.
A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1,1-5).

O Livro do Génesis diz que o grito primordial era um grito de amor e por isso fez que as trevas se separassem das trevas:

“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra. A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.

Deus disse: “Haja luz. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas.
À luz, Deus chamou dia e às trevas chamou noite” (Gn 1, 2-5).

O início do evangelho de São João é, na verdade, um novo relato da criação, o qual veio projectar um feixe poderoso de luz sobre o relato do Livro do Génesis:

“O Verbo era luz verdadeira que ao vir ao mundo ilumina o homem. Foi pelo Verbo que o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas aos que o aceitaram, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nascerem dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne ou da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo encarnou e habitou entre nós” (Jo 1, 9-14).

O mistério da luz e das trevas, à luz destes relatos, não é, afinal, uma questão de ciências físicas, mas um mistério associado com o coração do Homem capaz de optar pelo bem e pelo mal.

As obras criadas fazem parte de um plano de amor, no qual Deus quis incluir o Homem. Mas o Homem pode opor-se a este plano amoroso de Deus, como diz o Livro do Génesis:

“Depois, Deus disse: “Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança, a fim de dominar sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”.

Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança, à imagem de Deus o criou. Criou-os homem e mulher.

Depois, abençoando-os, Deus disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1, 16-28).

São João diz que o Verbo, depois de se ter dado ao Homem torna-se uma luz que ilumina todos os seres humanos e como Vida poderosa que ressuscita a todos.

Eis as palavras de Jesus numa oração que ele fez ao Pai do Céu:

“Pai, não peço apenas por estes, mas também por todos aqueles que vão acreditar em mim através da sua Palavra.

Deste modo, eles serão um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Pai, faz que eles estejam em nós, a fim de o mundo acreditar que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de eles serem um como nós somos um. Eu neles e tu em mim, a fim de poderem atingir a perfeição da unidade.

Deste modo, o mundo poderá conhecer que tu me enviaste e os amaste a eles como me amaste a mim” (Jo 17, 20-23).

Depois, dirigindo-se aos discípulos acrescenta: “Eu vou pedir ao Pai e ele vos dará outro Consolador, o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece.

Ele vai permanecer convosco para sempre, pois vós conhecei-lo, uma vez que ele permanece junto de vós e está em vós” (Jo 14, 16-17).

Podemos dizer que o mistério da luz é o coração humano iluminado pelo Espírito Santo. Isto quer dizer que Deus, apesar de não ser uma realidade histórica, faz história connosco.

Por outras palavras, Deus não manipula os acontecimentos, mas interage com o Homem numa dinâmica de relações amorosas.

Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à comunicação da fé e ao conhecimento da verdade.

Deste modo se vai fortalecendo a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.

Este mistério foi manifestado no devido tempo pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tit 1, 1-3).


A Carta de São Paulo a Tito, diz que a vida eterna é um dom gratuito que Deus nos proporciona pela acção do Espírito Santo:

“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para connosco, ele salvou-nos.

Isto não se deve às nossas obras de justiça, mas sim à sua misericórdia. Deu-nos a possibilidade de nascer de novo através da renovação do Espírito Santo que ele derramou com abundância sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.

Deste modo, uma vez justificados pela graça de Deus, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tit 3, 4-7).

A vida eterna é a Festa da Família de Deus. O Livro do Apocalipse diz que a vida eterna é uma comunhão familiar de Deus com a Humanidade:

“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.

E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.

E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.

Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.

O que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!”. E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são verdadeiras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim!

Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida. O que vencer receberá estas coisas como herança, pois eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7).

A vida eterna é uma dinâmica relacional e interactiva e não algo que uma pessoa possa possuir de modo isolado.

O evangelho de São João diz que a possibilidade de possuirmos a vida eterna radica na Encarnação, mistério através do qual o divino se enxertou no humano, a fim de o Homem ser divinizado:

“Aos que o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram dos impulsos da carne nem da vontade do Homem, mas sim de Deus.

E o Verbo Encarnou e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).

A Vida Eterna resulta da nossa incorporação na Família de Deus cujo resultado é a nossa divinização.

A Primeira Carta de São João diz que a dinâmica da vida eterna é o amor:

“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.
Todo o que tem ódio ao seu irmão é homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a Vida Eterna” (1 Jo 3, 14-15).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias