domingo, 28 de dezembro de 2008

O REINO DE DEUS TEM COMO LEI O AMOR-I

I-REINO DE DEUS E AMOR UNIVERSAL

O Reino de Deus é uma comunhão de grandeza humano-divina cuja dinâmica é o amor. Quando a lei de um reino é o amor, todos reinam, pois as relações são de comunhão.

Jesus é um rei que fez de nós seus irmãos e amigos: ele ensinou-nos que o Reino de Deus não é uma realidade distante.

Como comunhão orgânica e dinâmica de grandeza humano-divina, o Reino de Deus começou a emergir no interior de Jesus de Nazaré, graças à dinâmica da Encarnação.

No momento da sua morte e ressurreição, Jesus Cristo entra nas coordenadas da universalidade, tornando-se presente a tudo e a todos a partir de dentro.

Neste momento, o Reino de Deus passa para o interior das pessoas. Eis o que Jesus diz a este respeito no evangelho de São João:

“Se alguém me tem amor guardará a minha palavra e meu Pai o amará. Então nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).

O que delimita a nossa participação na plenitude do Reino de Deus é a nossa realização espiritual como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa.

Uma vez inseridos na Comunhão do Reino de Deus dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito que tivermos treinado aqui na terra.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O REINO DE DEUS TEM COMO LEI O AMOR-II

II-O REINO DE DEUS COMO PROCESSO

Felizes dos que sabem dar conteúdo ao seu futuro, construindo-se como pessoas no presente.

Com efeito seremos assumidos e incorporados na Festa do Reino de Deus na medida em que nos tenhamos construído como pessoas capazes de relações de amor e reciprocidade comunitária.

Por outro lado, a interioridade pessoal-espiritual emerge progressivamente mediante opções, atitudes e relações de amor.

Jesus tinha consciência de ser um homem a viver uma condição original face a Deus. Isto era notado pelo modo como falava da sua relação com Deus.

Jesus sabia que a génese do Reino de Deus estava em processo no seu íntimo. São Lucas exprime esta consciência que Jesus tinha da sua originalidade face a Deus dizendo:

“Jesus veio a Nazaré, onde se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ungiu-me para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos, a recuperação da vista aos cegos, a mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar o ano da graça.”

Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.

Depois, Jesus dirige-lhes a palavra, dizendo: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).

Os evangelhos insistem na proximidade do Reino de Deus. Eis o que diz São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava a Palavra de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O REINO DE DEUS TEM COMO LEI O AMOR-III

III-SÃO JOÃO E O REINO DE DEUS

No evangelho de São João, o tema central é a Hora de Jesus, isto é, o momento da sua morte e ressurreição.

É este o momento da Salvação, pois o Senhor, ao ressuscitar, dá-nos a Água Viva, isto é, o Espírito Santo que faz jorrar no nosso coração rios de Vida Eterna (Jo 7, 37-39; 4, 14).

Como vimos acima, enquanto Jesus vivia na História, o Reino de Deus estava a emergir no interior de Jesus.

Esta emergência era a dinâmica da Encarnação, isto é, o enxerto do divino no humano a acontecer.

Esta interacção humano-divina era tanto mais forte quanto mais Jesus crescia como interioridade espiritual humana.

Por outras palavras, antes da ressurreição de Jesus, o Reino de Deus, estava entre os homens.
No momento da sua ressurreição, Jesus passa das coordenadas exteriores da raça, da língua, do espaço e do tempo para as coordenadas da interioridade total: equidistância a tudo e a todos.

Nesse momento, Jesus torna-se a cabeça da comunhão orgânica que incorpora a Humanidade na comunhão da Santíssima Trindade.

Nesse momento, o Reino de Deus deixa de estar no meio dos homens para estar no interior das pessoas.

Por outras palavras, no momento da ressurreição de Jesus Cristo, o Reino de Deus passa da face exterior para a face interior da realidade.

Esta passagem do Reino para a interioridade máxima do real significa a sua universalização.
É neste momento que se dá a comunicação universal do Espírito Santo, tornando-se a fonte da Vida Eterna no coração dos seres humanos:

“No último dia, o mais solene da Festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede venha a mim e o que acredita em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura hão-de correr do seu coração rios de água via”. Ora, Jesus disse isto, referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que nele cressem.

Na verdade, o Espírito Santo ainda não tinha vindo por Jesus ainda não ter sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

Jesus foi-se apercebendo gradual e progressivamente de que, com a sua morte, o Reino de Deus atingiria um alcance universal, como diz o evangelho de São João:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no meu Pai, vós em mim, e eu em vós” (Jo14, 20).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O REINO DE DEUS TEM COMO LEI O AMOR-IV

IV-JESUS E A EMERGÊNCIA DO REINO DE DEUS

Jesus acreditava que o Reino de Deus já estava a emergir em si e que, com a sua morte e ressurreição começaria a génese universal do Reino de Deus.

Por isso, no Pai-Nosso ele ensina os discípulos a pedir ao Pai que o Reino venha e que a vontade do Pai se faça (Mt 6,9-13; Lc 11, 2-4).

No início do seu evangelho, São Marcos convida as pessoas a converterem-se em virtude da proximidade do Reino de Deus. (Mc 1, 15).

E nós podemos acrescentar o seguinte: através da acção libertadora de Jesus as pessoas experimentavam a proximidade do Reino em forma de uma acção transformadora.

Por outras palavras, os milagres de Jesus exprimiam a dinâmica da libertação do Reino a acontecer entre as pessoas.

Na verdade, as pessoas experimentavam os efeitos libertadores da presença do Reino através da actividade de Jesus.

Referindo-se ao resultado libertador da sua palavra e dos seus gestos, Jesus disse aos fariseus que o facto de ele expulsar os demónios pelo Espírito Santo é o sinal de que o Reino de Deus chegou até eles (Lc 11, 20; Mt 12, 28).

O evangelho de São João diz que o Reino de Deus é a Comunhão Universal da Humanidade com a Divindade.

O Reino de Deus diz Jesus, é a morada de Deus com o Homem. Neste Reino as pessoas humanas são divinizadas mediante a incorporação na Família Divina:

“Não se perturbe o vosso coração. Assim como acreditais em Deus, acreditai também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse eu não vos teria dito que ia preparar-vos um lugar.

Quando eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente a vós e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde eu estou vós estejais também” (Jo 14, 2-3).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O REINO DE DEUS TEM COMO LEI O AMOR-V

V-O REINO COMO COMUNHÃO ORGÂNICA

No Reino de Deus cada pessoa é um ponto de encontro e uma mediação para acontecer a Comunhão humano-divina.

São Paulo diz que o Reino de Deus não é uma questão de comida ou bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14, 17).

Como mediações de introdução na Comunhão Universal, as pessoas são uma concretização única, original e irrepetível do património da Comunhão Universal.

Na verdade, o Reino de Deus é constituído apenas por pessoas que se encontram em perfeita reciprocidade amorosa.

O Reino de Deus, portanto, é a esfera da Comunhão e da novidade permanente. Na Festa da Vida Eterna os seres humanos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito com que treinou durante a sua génese pessoal na História.

Por outras palavras, os ressuscitados continuam com a identidade resultante da sua realização pessoal na história.

Somos pessoas em construção. A nossa identidade espiritual é precisamente o jeito de interagir e comungar com as pessoas humanas e as divinas.

É com este jeito que nós tomaremos parte na Comunhão Universal da Família de Deus. O Reino de Deus é a esfera do amor, essa dinâmica universal de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A universalização do Reino de Deus aconteceu com o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus.

Na verdade, Jesus Cristo venceu a morte no próprio acto de morrer. Enquanto, sobre a cruz, ia morrendo o que no homem é mortal, o imortal ia sendo glorificado e incorporado na comunhão da Santíssima Trindade.

Deste modo, ao morrer o último elemento daquilo que em Jesus era mortal, o imortal, isto é, a sua interioridade espiritual, estava plenamente ressuscitada.

Isto quer dizer que Cristo não esteve um só minuto sob o domínio da morte, como convinha ao Senhor da Vida!

Foi assim que Cristo, ao morrer, destruiu a nossa morte e ao ressuscitar restaurou e conduziu a nossa vida à plenitude.

Deste modo o Espírito Santo realizou em Cristo a vitória sobre a morte, não apenas para si, mas também para todos nós.

Foi assim que aconteceu a plenitude dos tempos, isto é, a fase da recriação e da divinização da Humanidade.

Se não tivesse havido pecado, a salvação em Cristo consistiria apenas na nossa divinização, pois não era necessário restaurar o Homem distorcido pelo pecado.

Neste caso teria bastado conduzir a Humanidade à sua plenitude pela assunção na comunhão da Santíssima Trindade.

Eis as palavras de São Paulo sobre a plenitude à qual Deus nos conduziu em Cristo: “Foi assim que Deus nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e fiéis ao amor, caminhando na sua presença.

Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo de acordo com a sua vontade, a fim de ser louvado e glorificado pela graça que derramou sobre nós (…).

Foi este o modo como Deus nos manifestou o mistério da sua vontade e o seu plano amoroso, a fim de conduzir os tempos à sua plenitude, reunindo sob o domínio de Cristo tudo o que existe.” (Ef 1, 4-10).

Podemos dizer que o Reino de Deus é a esfera da Comunhão Universal cuja dinâmica é o amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 20 de dezembro de 2008

A UNIÃO DO HUMANO COM O DIVINO EM CRISTO-I

I-A UNIÃO DO HUMANO COM O DIVINO

A nossa fé diz-nos que, em Jesus Cristo, a união do humano com o divino é perfeita e harmoniosa.

Por outras palavras, em Jesus Cristo, nem o humano é substituído pelo divino, nem o divino é empobrecido pelo humano.

Por outras palavras, a humanidade e a divindade em Jesus Cristo formam uma união orgânica e interactiva perfeita.

A maneira como Jesus viveu e se realizou plenamente como homem é a prova de que o divino, ao tocar o humano, não o anula, nem o substitui.

Como sabemos, a presença do Espírito Santo no nosso coração não nos anula. Pelo contrário, optimiza as nossas capacidades e qualidades.

O facto de Jesus ser um homem perfeito em comunhão connosco é condição essencial para a nossa salvação.

Do mesmo modo, o facto de o divino em Jesus Cristo formar uma união orgânica com o humano é condição essencial para a nossa divinização.

Os seres humanos são ressuscitados e assumidos na Família da Santíssima Trindade, não de modo individual, mas sim na medida em que formamos uma unidade orgânica com Jesus Cristo.

São Paulo diz que nós ressuscitamos porque fazemos um todo com Cristo. “Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos?

Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou” (1 Cor 15, 12-13).

Como Jesus e a Humanidade formam uma unidade orgânica era impossível acontecer a ressurreição de Cristo sem acontecer também a ressurreição da Humanidade.

São Paulo explicita melhor o seu pensamento dizendo que também Adão como cabeça da Humanidade faz um todo com ela:

“Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Porque assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos.

Assim como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos recebem a plenitude da vida” (1 Cor 15, 20-22).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A UNIÃO DO HUMANO COM O DIVINO EM CRISTO-II

II-O HOMEM E DEUS UNIDOS DE MODO ORGÂNICO

O evangelho de São João vai nesta mesma linha ao afirmar que a nossa união com Cristo se pode comparar à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos.

Os ramos vivem e dão fruto na medida em que estão unidos à videira: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós.

Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

Depois acrescenta que somos todos membros do corpo de Cristo, embora tenhamos funções diferentes, tal como acontece com os membros do corpo (1 Cor 12, 27).

Isto quer dizer que em Jesus Cristo se realizam de modo perfeito a natureza divina e a humana.
Como sabemos, a natureza divina concretiza-se em pessoas e a natureza humana também.

É verdade que as pessoas humanas não são iguais às divinas, mas são proporcionais. É neste facto que assenta a possibilidade da Encarnação.

Pela Encarnação, o Filho Eterno de Deus não se tornou uma grandeza biológica. Se assim fosse, o Filho de Deus também podia encarnar num animal qualquer.

Neste caso, mais que de encarnação, teríamos de falar de possessão. Também não é preciso imaginar que pela Encarnação, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, se meteu dentro do homem Jesus, substituindo, a pessoa humana de Jesus de Nazaré.

Se assim fosse, teríamos de dizer que Jesus não era um homem perfeito, pois faltava-lhe o núcleo mais nobre do homem, isto é, o facto de ser pessoa.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A UNIÃO DO HUMANO COM O DIVINO EM CRISTO-III

III-O DIVINO OPTIMIZA O HUMANO

Podemos dizer com toda a verdade que em Jesus Cristo o divino, ao unir-se ao humano, não o anula. Pelo contrário, optimiza-o.

Também nós, ao sermos assumidos na comunhão familiar da Santíssima Trindade, não somos anulados, mas optimizados nas nossas capacidades de amar e comungar.

A encarnação não pode acontecer num animal precisamente pelo facto de os animais não serem pessoas.

Se a encarnação aconteceu na Humanidade, isto deve-se ao facto de existir proporcionalidade entre as pessoas humanas e divinas.

O mistério da Encarnação é em tudo semelhante ao mistério da Trindade. Como sabemos, Deus é uma comunhão de três pessoas formando, não uma pessoa, mas um Deus que é comunhão de pessoas.

No evangelho de São João, Jesus Cristo, para afirmar a sua união orgânica com Deus Pai, diz que ele e o Pai fazem um (Jo 10, 30).

Nesta união do Pai e do Filho, as duas pessoas não se fundem, nem confundem. O mesmo acontece com a união humano-divina do Filho Eterno de Deus e de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Esta união é animada pelo Espírito Santo que é o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).

Por outras palavras, Jesus Cristo não é uma casca de homem ocupada interiormente pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Segundo os diversos dogmas cristológicos, Jesus tinha uma alma humana, isto é, uma interioridade espiritual humana.

Tinha também uma vontade humana, distinta da vontade da Segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Além disso, Jesus tinha consciência e liberdade humanas, as quais não eram anuladas pelas divinas.

Por outras palavras, Jesus não era um homem substituído pelo Filho Eterno de Deus. O Espírito Santo é uma pessoa divina. Com seu jeito maternal de amar ele optimiza as relações de amor e fortalece os vínculos de comunhão entre as pessoas.

São Paulo diz que é pelo Espírito Santo que os seres humanos são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus. (Rm 8, 14-17).

Ele é o princípio animador dessa união orgânica que resulta do mistério da Encarnação. O Espírito Santo interage de modo adequado e apropriado com cada pessoa.

Relaciona-se de modo único, original e irrepetível com cada um de nós. Está em mim, por mim e para mim, o que não significa que, por este facto, esteja contra alguém.

O evangelho de São João diz que também nós, graças a Jesus Cristo, somos incorporados na comunhão orgânica da Santíssima Trindade (Jo 17, 21-23).

Por outras palavras, pelo mistério da Encarnação a Divindade enxertou-se na Humanidade, a fim de as pessoas humanas serem assumidas e incorporadas na comunhão familiar das pessoas divinas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-I

I-AMOR E CONHECIMENTO DE DEUS

Os evangelhos associam muitas vezes a salvação ao conhecimento de Deus. São João diz que o conhecimento de Deus é uma experiência que só pode acontecer através do amor:

“Caríssimos amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8). O conhecimento de Deus, portanto, não é apenas uma questão teórica.

Eis o que Jesus diz a este respeito: “ Esta é a vida eterna: Que te conheçam, Pai, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

Na cultura bíblica, o conhecimento na bíblia, não é apenas uma função de tipo intelectual, mas sim uma interacção amorosa.

Eis o que diz a Primeira Carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus.

Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8).

Depois acrescenta que o amor a Deus não é separado do amor aos irmãos. Eis as suas palavras:
“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).

E diz ainda: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.

Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-II

II-ESPÍRITO SANTO E CONHECIMENTO DE DEUS

São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido pelo próprio Deus: “ Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus (1 Cor 8, 3).

O princípio animador desta interacção amorosa é o Espírito Santo: “Nós damo-nos conta que permanecemos em Deus e ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito” (1 Jo 4, 13).

A Primeira Carta aos Coríntios afirma que ninguém pode conhecer Jesus Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:

“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

Devido ao facto de acontecer como interacção amorosa, o conhecimento de Deus contém em si mesmo uma força salvadora.

O conhecimento de Deus não é uma questão de conceitos e palavras. Estes, por si mesmos não salvam, diz Jesus:

“Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21).

A Salvação dá-se mediante a incorporação na Família de Deus. O ser humano entra na Comunhão Familiar de Deus, diz Jesus, através de uma relação amorosa:

“Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 5).

Quando a pessoa vive em sintonia com Deus, diz a Carta aos Filipenses, o próprio Espírito Santo nos leva a agir em harmonia com a vontade de Deus:

“É Deus quem opera em nós o agir e o operar, segundo a sua vontade” (Flp 2, 13). O conhecimento de Jesus Cristo está associado ao conhecimento de Deus Pai:

“Há tanto tempo que estou convosco, Filipe, e ainda não me conheces? Quem me vê, vê o Pai.” (Jo 14, 18).

Isto significa que o conhecimento de Cristo é o caminho para conhecermos o Pai: “Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo J0 14, 20).

Eis o que significa realmente conhecer Cristo e, através dele, conhecermos igualmente o Pai.
A Eucaristia é o sinal sacramental desta união orgânica que nos liga a Cristo e, através dele, com o Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias
















CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-III

III-CONHECIMENTO DE DEUS E REINO DOS CÉUS

A união orgânica com Cristo é, pois, o caminho seguro para atingirmos a salvação:Eis o que diz o evangelho de São João: “Jesus respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (J0 14, 6).

A meta desta união é a comunhão universal do Homem com Deus, diz Jesus: “Pai, não rogo apenas por eles, mas igualmente por todos os que hão acreditar em mim por meio da sua palavra, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Pai Santo: Que eles estejam em nós, a fim de o mundo acreditar que tu me enviaste. Pai, eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de que todos sejam um, como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, a fim de eles chegarem à perfeição da unidade (…). Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te e estes reconheceram que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a conhecer quem tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17, 20-26).

O princípio animador desta interacção orgânica é o Espírito Santo. É esta a razão pela qual só pelo Espírito Santo podemos conhecer, isto é, interagir amorosamente com o Pai e o Filho:

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

Ao ressuscitar, Jesus comunicou-nos a possibilidade de interagirmos de modo intrínseco com o Espírito Santo, a fim de participarmos na interacção amorosa que existe entre o Pai e o Filho.

É esta a razão pela qual São Paulo exclama com júbilo: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

O Reino de Deus já está emergir no nosso íntimo. À medida que vamos crescendo no conhecimento de Deus vamos sendo incorporados na comunhão do seu Reino.

Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que o Espírito Santo faz de nós o corpo de Cristo ressuscitado:

“Fomos baptizados num mesmo Espírito, a fim de formarmos o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13).
O conhecimento de Cristo vai realizando em nós uma profunda identificação com Cristo, diz São Paulo:

“Já não sou eu que vivo, diz São Paulo, mas Cristo que vive em mim” (Gal 2, 10).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-IV

IV-O CONHECIMENTO DE DEUS COMO SABEDORIA

Conhecer Cristo, diz a Carta aos Colossenses, implica despir-se do homem velho configurado com Adão e revestir-se do homem novo, configurado com Cristo:

Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho, com as suas acções, e vos revestistes do Homem Novo, o qual não cessa de se renovar à imagem do Criador.

Já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas apenas Cristo que é tudo em todos e está em todos” (Col 3, 9-11).

O conhecimento de Deus, por ser uma interacção amorosa e fecunda, vai provocando no ser humano uma identificação com Deus:

A contemplação das belezas da Natureza ajuda-nos a conhecer e a entrar em comunhão com o amor criador de Deus.

O Insensato diz o Livro da Sabedoria só se fixa nas aparências. Este não cresce na comunhão com o Criador, pois vislumbra a beleza do autor de todas as coisas.

Eis o que diz o Livro da Sabedoria: “A ignorância de Deus instalou-se no coração dos insensatos.
Estes não foram capazes de, através das belezas visíveis, atingirem o seu autor.” (Sb 13, 1).

Isto quer dizer que o amor à Criação, ao lado das Escrituras e do discernimento espiritual nos conduzem ao conhecimento de Deus.

Quando Deus concede a sabedoria aos crentes é para estes serem no mundo uma força transformadora no mundo.

Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Efésios: “Foi-me dada a sabedoria de Deus, a fim de a dar a conhecer” (Ef 3, 10).

A Sabedoria é a capacidade de conhecer o projecto amoroso que Deus sonhou desde toda a eternidade em favor da Humanidade.

Uma vez conhecedor deste projecto amoroso, o Espírito Santo consagra o crente para anunciar aos homens a Boa Nova da Salvação:

“Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta que Deus destinou antes dos séculos para nossa glória” (1 Cor 2, 7).

Jesus garante aos seus discípulos que, no meio das perseguições, o Espírito Santo dará uma sabedoria especial aos mensageiros do Evangelho, de modo que os seus inimigos ficarão
confundidos:
“Dar-vos-ei uma eloquência e sabedoria às quais nenhum dos vossos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc 21, 15).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-V

V-CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA

O plano que Deus sonhou para a Humanidade implica duas vertentes: a criação e a salvação.
A criação Homem acontece como dinâmica histórica de humanização cujos protagonistas são o Homem e o Espírito Santo.

A salvação acontece como incorporação das pessoas humanas na Família de Deus. Aqui o protagonismo pertence ao Filho de deus e ao Espírito Santo.

Pela Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado. O evangelho de São João diz que, pela Encarnação, foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus, não pela vontade da carne ou pelo impulso do Homem, mas por vontade de Deus (Jo 1,12-14).

Mas a Encarnação aconteceu pela acção do Espírito Santo (Lc 1, 35). Finalmente, é pelo Espírito Santo que nós somos introduzidos na Família de Deus:
Com seu jeito maternal de amar, ele conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como seus filhos e herdeiros e ao Filho de Deus que nos acolhe como seus irmãos co-herdeiros (Rm 8, 14-17).

Na primeira vertente do plano de Deus, isto é, o processo da humanização, o ser humano realiza-se como pessoa livre, consciente, responsável, única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.

Na segunda, atinge a plenitude mediante o dom gratuito da divinização.Tanto a criação do Homem como a sua divinização são iniciadas com de um beijo de Deus através do qual Deus nos foi comunicado o dom do Espírito.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECIMENTO DE DEUS E VIDA ETERNA-VI

VI-SABOREANDO A TERNURADE DEUS

A criação, isto é, a marcha da humanização é iniciada com o beijo primordial no barro amassado.
Através deste beijo o hálito da vida entrou no interior do barro e o Homem tornou-se barro com coração.

O texto do Génesis sugere que Deus, depois de o barro estar amassado, lhe deu um beijo. Como consequência, o sopro gerador de vida espiritual entrou no Homem e este tornou-se um ser vivente, isto é um ser animado de vida espiritual.

Podemos chamar a este beijo a intervenção especial de Deus na criação do Homem (Gn 2, 7). O segundo beijo é dado por Deus ao chegar a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos.

A Encarnação é o segundo beijo através do qual o Espírito Santo nos é comunicado, mas agora de forma intrínseca em virtude de fazermos uma união orgânica com o Filho de Deus.

O Espírito Santo é Água Viva que se torna uma nascente a brotar Vida Eterna no nosso íntimo, como Jesus diz à Samaritana (Jo 4, 14).

Aqui, o Espírito Santo completa em nós a obra da nossa divinização e é-nos comunicado no momento da ressurreição de Cristo (Jo 7, 37-39).

Segundo a linguagem sacramental da Eucaristia, o Espírito Santo é o sangue da Nova e Eterna Aliança que alimenta e dinamiza a união orgânica que nos liga a Cristo.

Com o mistério da Encarnação iniciou-se a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos ou da divinização do Homem.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Com esta expressão, São Paulo quer significar o dom da graça que nos une a Cristo de modo orgânico:

“Fomos baptizados num mesmo Espírito, a fim de formarmos um só Corpo” (1 Cor 12, 13). Estes beijos de Deus são uma dinâmica histórica que se concretiza de modo gradual e progressivo, os quais nos configuram com Cristo através de um novo nascimento, diz Jesus:

“O que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 6). Podemos exultar com São Paulo reconhecendo que Cristo é o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O primeiro beijo dá-nos a possibilidade de sermos humanos, o segundo dá-nos a possibilidade de sermos divinos.

O segundo dá-nos a possibilidade de sermos divinos, como diz São João: “Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus.

E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14). Jesus ressuscitado alimenta-nos com a sua carne e o seu sangue, os quais não são uma realidade de ordem biológica, mas espiritual.

O Espírito Santo é que dá vida a carne não serve para nada (Jo 6, 62-63). São Paulo diz que a carne e o sangue como ordem biológica, não podem fazer par do Reino de Deus (1 Cor 15, 50).
O nosso coração é, de facto, o templo do Espírito Santo como diz São Paulo:

“Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

É com estas palavras bonitas que São Paulo interpreta o mistério do Emanuel, o Deus connosco com o qual nós estamos unido de modo orgânica e dinâmico.

Eis o que ele diz na Primeira Carta aos Coríntios: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? “ (1 Cor 6, 19).

Para terminar podemos dizer que o Conhecimento de Deus é, realmente, uma experiência de Vida Eterna.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CRISTO É O ROSTO HUMANO DO AMOR DE DEUS-I

I-JESUS CRISTO É A REVELAÇÃO DO DEUS VIVO

A revelação é uma luz que nos faz compreender a realidade de Deus, do Homem e do universo.
No evangelho de São João, é frequente encontrarmos expressões que identificam Jesus com a Luz e a Verdade:

“Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da Vida” (Jo 8, 12).
Depois acrescenta: “Enquanto estou no mundo, eu sou a Luz do mundo” (Jo 9, 5).

Com estes termos São João quer dizer que Jesus é o portador máximo da revelação de Deus. Do mesmo modo, quando Jesus é visto como medianeiro da salvação, São João chama a Jesus o caminho que nos conduz a Deus:

“Jesus respondeu a Tomé:”Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).

Com este mesmo sentido, o evangelho de São João diz que o Espírito Santo é o Espírito da verdade:

“Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa” (Jo 16,13).
O evangelho de São Lucas diz que Simeão, ao tomar o Menino Jesus ao colo, diz que ele é a luz para iluminar o mundo:

“Luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel” (Lc 2, 32). Estas expressões querem dizer que Jesus, no seu modo de agir e falar exprimem de modo perfeito a realidade de Deus.

O evangelho de São João diz que Jesus tinha consciência clara de ser a expressão perfeita do amor do Pai por nós.

Esta identificação é de tal modo perfeita que os discípulos, ao verem o modo de Jesus actuar, podiam compreender perfeitamente o rosto e o jeito de Deus Pai para connosco:

De tal modo Jesus se identificava com a vontade do seu Pai do Céu que um dia afirmou: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9).

Os evangelhos dizem que Jesus elegeu como razão principal para o que dizia e fazia a vontade de Deus Pai:

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra (Jo 4, 34). Jesus fez da vontade de Deus Pai a razão primeira da sua vida.

É este o sentido das seguintes frases de Jesus: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo5, 30).

“O Pai não me deixa sozinho, pois eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8, 29). Segundo o evangelho de São Mateus, Jesus, ao convidar as pessoas a acolher o Reino de Deus, identifica a conversão com adesão e fidelidade à vontade do Pai:

“Nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21).

Jesus tinha consciência de que a sua missão era construir a Família de Deus, a qual não assenta nos laços do sangue mas nos laços do Espírito Santo.

Os evangelhos dizem que Jesus considerava as pessoas que faziam a vontade de Deus como membros da Família de Deus:

“Aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 50; Mc 3,35; Lc 8, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO É O ROSTO HUMANO DO AMOR DE DEUS-II

II-JESUS CRISTO E A PALAVRA DE DEUS

O evangelho de São João diz que Jesus veio como Filho de Deus cheio de Graça e Verdade. A Graça é a optimização da nossa vida espiritual que acontece pelo facto de sermos incorporados de modo orgânico na Família de Deus.

A Verdade, por seu lado é a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Isto quer dizer que só Deus possui a plenitude da Verdade e que os seres humanos crescem na verdade na medida em que se deixam penetrar pela Palavra de Deus.

O evangelho de São João diz que Jesus veio ao mundo, a fim de dar testemunho da Verdade (Jo 18, 37).

Após a sua ressurreição, Jesus continua a ser o grande comunicador da Verdade, pois é ele quem nos comunica a luz e a força do Espírito Santo que é o Espírito da Verdade:

“Quando vier o Espírito da Verdade ele vos conduzirá à verdade plena” (Jo 16, 13). Com a vinda do Espírito Santo, os discípulos ficam consagrados na Verdade, isto é, capacitados para comunicar aos homens a Palavra de Deus:

“Pai, consagra-os na Verdade. A tua Palavra é a Verdade” (Jo 17, 17). O evangelho de São João diz que a pessoa que cresce na Verdade gosta de se aproximar da Luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas:

“Quem age segundo a Verdade aproxima-se da Luz, a fim de que se veja que as suas obras são feitas em Deus” (Jo 3, 21).

Jesus associa a Verdade com a liberdade. Quando mais a pessoa estiver em posse da Verdade mais livre será:

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Como sabemos, a pessoa humana não nasce livre, mas sim com a possibilidade de o vir a ser.

A possibilidade de a pessoa se tornar é o livre arbítrio, isto é, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

O ser humano não chegará a ser livre sem exercitar o livre arbítrio. Mas não basta exercitar o livre arbítrio para que a pessoa se torne livre, pois a pessoa tanto pode exercitar o livre arbítrio optando pelo bem ou pelo mal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO É O ROSTO HUMANO DO AMOR DE DEUS-III

III-JESUS CRISTO E A LIBERTAÇÃO DO HOMEM

A pessoa humana torna-se livre na medida em que opta pelo amor. A esta luz entendemos muito melhor a importância fundamental do mandamento de Jesus:

“Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei. As pessoas saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).

Depois, Jesus acrescenta: “É este o meu mandamento: que vos amais uns aos outros como eu vos amei.

Ninguém tem mais amor do que a pessoa que dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se cumprirdes o meu mandamento.

Já não vos chamo servos, pois servos, pois o servo não está ao corrente do que faz o seu senhor.
A vós chamo-vos amigos, pois dei-vos a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 12-15).

Amar é eleger o outro como alvo de bem-querer. Aceitá-lo como é, apesar de ser diferente, e agir de modo a facilitar a sua realização e felicidade.

Na verdade, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Isto quer dizer que a liberdade é uma conquista do Homem em construção. Isto significa que a pessoa apenas se torna livre, optando pelo amor.

Se a Verdade, como disse Jesus, nos faz crescer na liberdade, isto quer dizer que quanto mais a pessoa estiver na posse da verdade, mais capacitada está para optar e decidir no sentido do bem e do amor.

A Palavra de Deus é a Luz que nos capacita para compreendermos o mistério de Deus e do Homem, bem como o sentido das coisas e dos acontecimentos.

Por outras palavras, sem estar na posse da Verdade, o Homem não pode agir e relacionar-se de modo adequado e amoroso com a realidade.

O evangelho de São João diz que as pessoas que fazem o mal não se tornam livres. Optar pelo pecado é tornar-se escravo do pecado, disse Jesus (Jo 8,3).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO É O ROSTO HUMANO DO AMOR DE DEUS-IV

IV-JESUS REVELA-NOS O AMOR SALVADOR DE DEUS

Para o Novo Testamento, a ressurreição de Cristo não é apenas um acontecimento com alcance individual.

Por ser um homem como nós, Jesus faz um todo orgânico com a Humanidade. Eis a razão pela qual a ressurreição de Jesus Cristo tem um alcance Universal.

Os primeiros efeitos da força da ressurreição de Jesus tornaram-se evidentes na transformação operada nos Apóstolos.

Na Quinta-Feira Santa, todos fugiram. Pedro afirmou que não conhecia Jesus de lado nenhum.
Três dias depois ei-los na praça pública a dizer aos judeus que Jesus é o Messias, o eleito de Deus.

Uma transformação destas só podia resultar de dois factos: ou os discípulos enlouqueceram devido à perda do Mestre, ou aconteceu um milagre.

Deram provas sobejas de que não estavam loucos, pois utilizavam os textos bíblicos com tanta lucidez que confundiam os especialistas das Escrituras.

Então só pode ter acontecido um milagre a que nós podemos dar o nome de experiência pascal dos discípulos.

Como eles próprios afirmam, a sua mudança deve-se ao facto de terem contactado com o Senhor Ressuscitado.

A experiência pascal não é uma evidência humana, mas uma experiência feita no Espírito Santo, diz São Paulo (1 Cor 12, 13).

A experiência pascal dos discípulos está alicerçada não numa, mas em várias aparições e a grupos distintos (1 Cor 15, 3-7).

Embora não fazendo parte do grupo dos Doze, São Paulo dá testemunho da diversidade das aparições que constituem a experiência Pascal dos apóstolos, tal como eles a relataram ao próprio São Paulo.

Eis as suas palavras: Em primeiro lugar o Senhor apareceu a Pedro e em seguida aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos, isto é, a um grande número de discípulos, muitos dos quais ainda vivem, acrescenta ele.

Em seguida apareceu a Tiago. Aqui nós devemos entender uma aparição a Maria, Mãe de Jesus e aos chamados irmãos de Jesus dos quais o mais velho era Tiago.

Antes da Páscoa, Maria e os irmãos de Jesus não faziam parte do grupo dos apóstolos. Mas logo a seguir à ressurreição do Senhor, diz o Livro dos Actos dos Apóstolos, Maria e os irmãos de Jesus já fazem parte da comunidade de Jerusalém (Act 1, 14).

Depois São Paulo continua a falar das aparições do Senhor ressuscitado e acrescenta: Finalmente apareceu-me também a mim que sou como que um aborto, pois persegui a Igreja de Deus (1 Cor 15, 5-9).

Ao contrário dos mitos das diversas religiões, a experiência pascal dos apóstolos torna-se imediatamente objecto de pregação.

E, um pouco mais tarde, foi redigida por escrito, embora já transformada pela comunicação oral e a preocupação de responder às diversas interrogações e acusações que iam surgindo contra os discípulos.

A ressurreição de Cristo tornou-se o centro da Fé dos discípulos e o acontecimento que os leva a reformular o projecto salvador de Deus.

Eis as palavras de São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é falsa e é inútil a vossa fé.

Ainda estais perdidos, pois ainda permaneceis nos vossos pecados” (1 Cor 15, 14, 17). São Paulo parte do pressuposto de que, sem a ressurreição de Jesus Cristo, não havia salvação para a Humanidade.

Podemos dizer que através da ressurreição de Cristo, a Humanidade deu um salto qualitativo fundamental:

São Paulo diz que a linguagem sacramental do baptismo exprime a nossa condição de seres organicamente unidos ao mistério de Cristo ressuscitado:

“Fomos sepultados com Cristo no baptismo, a fim de vivermos uma vida nova, pois Jesus ressuscitou dos mortos” (Rm 6, 4).

Na Carta aos Colossenses, São Paulo acrescenta que, graças à ressurreição de Cristo, o nosso pecado foi perdoado (Col 2, 12-13).

Contrapondo a infidelidade de Adão e a morte que ela trouxe para a Humanidade, São Paulo diz que o projecto de Deus foi restaurado em Cristo, o qual nos trouxe o dom da vida eterna:

“O salário do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm 6, 23).

Eis o que diz o evangelho de São João: “De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu o seu único Filho, a fim de que todo o que acredita nele não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

A Carta aos Efésios diz que a salvação da Humanidade é um dom gratuito de Deus e não algo que o Homem tenha conquistado pelas suas obras:

“Vós estais salvos pela graça, mediante a Fé. E isto não se deve às vossas obras, pois é um dom de Deus” (Ef 2, 8-9).

O mérito do Homem consiste no facto de acolher Cristo, o Filho de Deus enviado aos seres humanos para fazer deles membros da Família de Deus:

“Àqueles que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram da carne nem da vontade dos homens, mas sim da vontade de Deus” (Jo 1, 12-13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO É O ROSTO HUMANO DO AMOR DE DEUS-V

V-JESUS É O CAMINHO DA SALVAÇÃO

Jesus é o Mestre e o pedagogo que nos conduz ao conhecimento de Deus e do seu plano de amor.
Deus confiou-lhe a missão de nos ajudar a conhecer e a amar a Deus, a fim de possuirmos a vida eterna.

Após a Ceia da Páscoa, diz o evangelho de são João, Jesus fez uma longa oração ao Pai, dando-lhe graças por se dar a conhecer dos homens e pelo seu plano de salvação para a Humanidade:

“ Pai Santo, é assim a vida eterna: Que te conheçam, Pai, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

Segundo a Bíblia, conhecer Deus é algo que implica uma comunhão com ele mediante o Espírito Santo, como diz a Primeira Carta de São João:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8). Isto quer dizer que o amor aos irmãos é o caminho seguro para chegarmos ao conhecimento de Deus:

“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).

E logo a seguir acrescenta: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.

Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido pelo próprio Deus. Conhecer, no sentido bíblico, significa estabelecer uma interacção amorosa e fecunda:

“ Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus (1 Cor 8, 3). A Primeira Carta aos Coríntios afirma que ninguém pode conhecer Jesus Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:

“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

Pelo facto de fazermos uma união orgânica com Jesus Cristo nós somos incorporados na Família de Deus com ele:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá também convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 4-5).

Conhecer Jesus Cristo é o caminho para conhecermos o Pai, diz Jesus no evangelho de São João:
“Há tanto tempo que estou convosco, Filipe, e ainda não de conheces? Quem me vê, vê o Pai.” (Jo 14, 18).

O princípio animador desta união orgânica é o Espírito Santo. Ao ressuscitar, Jesus enviou-nos o Espírito Santo, a fim de ele nos conduzir à Verdade e à comunhão com Deus:

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

Consciente da profundidade da comunhão que acontece através de Jesus Cristo, Jesus disse aos discípulos:

“Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Digo-vos na verdade que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram” (Lc 10, 23-24).

São Paulo diz que Jesus nos conduz a Deus, introduzindo-nos na própria família divina: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão para andar com medo. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos de Deus.

É por este Espírito que nós clamamos “Abba”, ó Pai” (Rm 8, 14-15). Jesus conduz-nos à união da família de Deus, diz São Paulo, pelo que todos temos a mesma dignidade (Gal 3, 29).

Eis as suas palavras na Carta aos Colossenses: “Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho com as suas acções, e vos revestistes do Homem Novo, o qual não cessa de se renovar à imagem do seu Criador:

Por isso já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas apenas Cristo que é tudo em todos e está em todos” (Col 3, 9-11).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-I

I-A VIDA ETERNA COMO DOM DE DEUS

Deus não é uma realidade histórica, mas as pessoas divinas estão empenhadas na história do Homem.

Na sua ternura infinita Deus quis que o Humanidade tivesse parte na festa da vida eterna. Eis o que diz o evangelho de São João: “Pai, chegou a hora!

Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o teu Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste, a fim de ele dar a vida eterna a todos os que lhe entregaste.

Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, Pai, como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste” (Jo 17, 1-3).

Podemos dizer que a vida eterna é o grande dom que Deus nos oferece em Jesus Cristo. Eis o modo como São Paulo vê o dom da vida eterna em Cristo:

“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à fé dos eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade, que conduz à piedade.

Assim é fortalecida a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.

Este mistério foi manifestado no devido tempo pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tit 1, 1-3).

A vida eterna é um dom totalmente gratuito que Deus nos proporciona mediante a acção do Espírito Santo em nós:

“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com a Humanidade, ele salvou-nos.

Esta salvação não é devida às obras de justiça que tivéssemos praticado, mas sim à sua misericórdia, através de um novo nascimento e renovação mediante o Espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.

Deste modo, uma vez justificados pela sua graça, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tit 3, 4-7).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-II

II-VIDA ETERNA E COMUNHÃO COM DEUS

A vida eterna é a Festa da Família de Deus. O Livro do Apocalipse descreve de modo muito bonito a vida eterna como comunhão de Deus com a Humanidade:

“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.

E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.

E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.

Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.

O que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!” E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são verdadeiras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim!

Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida. O que vencer receberá estas coisas como herança.

Eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7). A vida eterna é uma dinâmica relacional e interactiva e não algo que uma pessoa possa possuir de modo isolado.

Como princípio animador de relações e vínculo maternal de comunhão orgânica, o Espírito Santo é o elo da comunhão que constitui a vida eterna.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-III

III-ENCARNAÇÃO E VIDA ETERNA

O evangelho de São João diz que a Encarnação é a fonte da vida eterna: “Aos que o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram de um impulso da carne nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).

A vida eterna implica, pois, a nossa incorporação na Família de Deus cujo resultado é a nossa divinização.

A Primeira Carta de São João diz que a dinâmica da vida eterna é o amor: “Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos.

Quem não ama permanece na morte. Todo o que tem ódio ao seu irmão é um homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a vida eterna” (1 Jo 3, 14-15).

A vida eterna é um dom que nos vem de Deus através de Jesus ressuscitado: “Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho.

Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o filho não tem a vida” (1 Jo 5, 11-12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-IV

IV-VIDA ETERNA E CONHECIMENTO DE DEUS

Deus é o Senhor da Vida Eterna. Por ser amor Deus não condena ninguém. As pessoas que vão para a morte eterna, condenam-se por sua própria decisão.

eterna dependem da atitude da pessoa perante o amor. No Reino de Deus todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que tiver treinado agora na história.

Isto quer dizer que a vida eterna atinge a sua plenitude no Reino de Deus, mas está a emergir na História.

Graças ao acontecimento histórico de Jesus Cristo, a pessoa vai sendo divinizada na medida em que se humaniza.

Jesus propõe-nos um jeito novo de viver, o qual nos possibilita uma interacção nova com o Espírito Santo, condição para atingirmos o conhecimento de Deus.

O evangelho de São João diz que a vida eterna consiste em conhecer a Deus: “Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

Conhecer, na Bíblia, significa interagir de modo amoroso e fecundo. O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo implica, portanto, uma comunhão orgânica, a qual confere uma nova qualidade à vida:

“Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).

Conhecer Deus é, pois, interagir de modo amoroso e fecundo com as pessoas divinas. Este conhecimento não é resultado de um simples treino humano, mas algo que só pode acontecer pela acção do Espírito Santo:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:

“Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque foi esta a tua vontade e o teu agrado” (Lc 10, 21).

Como este texto nos indica, o conhecimento de Deus não é uma questão teórica, mas uma experiência viva feita no Espírito Santo.

A Primeira Carta de São João diz-nos que o conhecimento de Deus é uma questão de amor:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus.

Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.O que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus á amor” (1 Jo 4, 7-8).

Depois acrescenta: “A Deus nunca ninguém o viu, mas se nos amarmos, Deus permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós” (1 Jo 4, 12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-V

V-JESUS CRISTO E A VIDA ETERNA

A razão de isto ser assim é porque Deus é amor: “Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).

O evangelho de São João diz que Jesus revela o Pai pelo seu jeito de ser e amar: “Há tanto tempo que estou convosco e não me ficastes a conhecer, Filipe?

Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes mostra-nos o pai” (Jo 14, 8-9). O Espírito Santo é quem nos guia neste caminho do conhecimento de Deus.

Não por nos comunicar muitos conceitos, mas por nos conduzir para atitudes de amor idênticas às de Cristo:

“Fui-vos dizendo estas coisas enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, recordando-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26).

O evangelho de São João diz que o Espírito Santo tem a tarefa de completar a missão de Jesus, conduzindo-nos para a Verdade plena, isto é, para um jeito de viver idêntico ao de Cristo:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender por agora.
Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a verdade completa” (Jo 16, 12-13).

A verdade plena é o conhecimento de Deus que culmina na comunhão com Deus através de Cristo.

Jesus diz que não há conhecimento de Deus que não passe pelo amor aos irmãos: “Então os justos vão responder a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?

Quando te vimos peregrino e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?

Então o rei responder-lhes-à: “Em verdade em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 37-40).

No coração do amor humano acontece sempre a acção do Espírito Santo que optimiza esse amor.
Podemos dizer que o conhecimento de Deus é uma experiência que passa pelo jeito de agir face ao amor.

Isto significa que a vida eterna é algo que já está a emergir no nosso coração, graças ao modo como nos deixamos conduzir pelos apelos do amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA ETERNA EM PERSPECTIVAS BÍBLICAS-VI

VI-O ESPÍRITO SANTO COMO ÁGUA DA VIDA

Jesus disse à Samaritana que o dom da Salvação acontece no interior da pessoa, graças à acção da Água Viva, isto é, o Espírito Santo.

“Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma Água Viva” (Jo 4, 10).

O profeta Jeremias denuncia a infidelidade do povo que ousa voltar as costas a Deus que é a fonte da Água Viva.

A Carta aos Romanos diz que todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus:

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo, mas sim um Espírito de adopção graças ao qual clamamos “Abba”, papá.

É o próprio Espírito que dá testemunho no nosso íntimo de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, somos igualmente herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-17).

São Paulo também utiliza a simbologia da Água para falar do Espírito Santo: “Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres.

Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13). Em relação às dúvidas da Samaritana a propósito da Água Viva, Jesus diz-lhe que á Água Viva não é como a água do poço de Jacob, símbolo da Antiga aliança.

A água do poço de Jacob, não mata a sede de modo definitivo: “Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.

Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-à nele em Fonte de Vida Eterna” (Jo 4, 13-14).

O profeta Ezequiel diz que o Messias vem conduzir as pessoas para a autenticidade de vida, graças à acção do Espírito Santo:

“Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).

Na Carta aos Efésios, São Paulo convida os cristãos a não se embriagarem com vinho, mas a encher-se do Espírito Santo (Ef 5, 18).

O profeta Isaías, diz que o Espírito Santo é uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida em abundância:

“Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes.

Estes crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas correntes” (Is 44, 3-4).

São Paulo reconhece que Jesus ressuscitado iniciou os tempos da abundância do Espírito Santo.Na Carta aos Romanos ele diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Os Actos dos Apóstolos vêem no acontecimento do Pentecostes os tempos da plenitude do Espírito anunciado pelos profetas.

Face ao entusiasmo e alegria dos apóstolos, os judeus acusavam-nos de estar embriagados.Os Apóstolos respondem dizendo que a sua exultação é a realização do oráculo do profeta Joel:

“Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia.

Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16). Na verdade, o profeta Joel anunciou os tempos messiânicos como a plenitude do grande dom do Espírito Santo:

“Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão e os vossos anciãos terão visões.

Também derramarei o meu Espírito sobre os vossos servos e servas naqueles dias” (Jl 3, 1-2).A vida eterna brota da dinâmica do Espírito Santo em nós, diz São Paulo na Carta aos Gálatas:

“Quem semear na carne, da carne colherá a corrupção. Mas quem semear no Espírito do Espírito Santo colherá a vida eterna” (Ga 6, 9).

O profeta Isaías via o Espírito Santo como a fonte da Salvação: “Cheios de alegria tirareis água das fontes da Salvação” (Is 12, 3).

Graças ao facto de Deus estar a fazer história com o Homem, a Vida eterna está a emergir no nosso coração.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias