segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-I

I-A CONDIÇÃO HISTÓRICADA PESSOA

A pessoa é um mistério, isto é, uma realidade não evidente. Na verdade, as pessoas, na sua realidade mais profunda, não são evidentes.

Mas revelam-se de modo gradual e progressivo através das relações, sobretudo através das relações de amor.

Só o amor consegue desmontar as defesas através das quais a pessoa não se deixa invadir pelo outro.

Por estarmos em realização histórica, ainda não somos seres na sua plenitude. Somos seres históricos, tanto na nossa realidade corporal, como no nosso ser espiritual.

É por esta razão que nós, para nos dizermos, temos de contar uma história. Somos todos diferentes, não apenas a nível genético como também a nível de vivências históricas.

Eis a razão pela qual cada pessoa é única, original e irrepetível. Devido à nossa condição de seres históricos, o nosso presente interage com o passado e prepara as possibilidades de futuro.

O nosso passado condiciona-nos, mas não anula as nossas possibilidades de realização. Na verdade, as outras pessoas possibilitaram-nos, mas também nos condicionaram.

Com efeito, começamos por ser o que os outros fizeram de nós, mas o mais importante é o que agora fazemos com as possibilidades que re4cebemos dos demais.

Quanto melhor conhecermos a nossa história pessoal, melhor nos podemos dar conta do leque de possibilidades e também dos condicionamentos que nos limitam.

No fundo é a questão dos talentos de que Jesus falava (Mt 25, 14-30). Ninguém é herói por ter recebido muitos talentos, como ninguém é culpado por ter recebido poucos.

Neste ponto, a heroicidade acontece no modo como nos realizamos, fazendo render os nossos talentos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-II

II-A CONSCIÊNCIA DAS PRÓPRIAS POSSIBILIDADES

Podemos colocar-nos algumas questões que nos ajudam a tomar consciência da nossa realidade histórica, bem como das nossas possibilidades e condicionamentos:

Como foi a minha infância?
Que coisas positivas recordo com agrado?

Quais os condicionamentos de e traumas que recordo com mais frequência?
O que é que eu valorizava mais nos amigos da infância?

Que pessoas me marcaram mais neste período primordial da minha existência?
Qual o momento mais feliz da minha infância?

Como foram despertando em mim as tendências, tanto as positivas como as negativas, da adolescência?

Quais as razões que me motivaram a decidir-me pelo meu estilo de vida?
Que pessoas me influenciaram mais na adolescência e na fase da juventude?

Que estilo de amigos eu tinha e quais os amigos da minha preferência?
Recordo alguns traumas e experiências dolorosas da minha adolescência?

Qual a maior alegria que me lembro ter tido na adolescência?
Quais as experiências mais dolorosas que me marcaram na infância e na adolescência?

Quais os valores que mais me motivam na presente etapa da minha vida?
Quais as qualidades que mais valorizo em mim?

Qual o estilo de pessoas que mais me cativam?
Quais as qualidades e atitudes que valorizo mais nas pessoas com quem convivo?

Quais as mudanças positivas que me estão a acontecer e a marca nesta fase da minha vida?
Quais as qualidades e talentos que reconheço em mim e que podem ser muito válidas para ajudar os outros?

Sinto-me um membro positivo e cooperante no contexto em que vivo?
Como sinto e aprecio o empenhamento e a colaboração das pessoas com quem vivo?

Tenho consciência de que a pessoa é um ser a construir-se através das suas atitudes e opções?
Tenho consciência de que a pessoa se faz, fazendo, realizando e agindo de acordo com os apelos do amor?

Tenho presente e que a pessoa humana só pode realizar-se em relações.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-III

III-A CONSCIÊNCIA E OS VALORES

Os valores que os outros inscreveram em nós através da educação foram configurando a nossa consciência.

À medida que os valores vão sendo comunicados à criança, esta começa a sentir o chamamento dos valores como um apelo vindo da sua consciência.

Isto não pode acontecer se a pessoa não tiver um contexto de relações com um mínimo de qualidade humanizante.

Quando a criança começa a habitar-se, isto é, a ser consciente, já está habitada por aqueles que lhe foram comunicando os valores.

Mas a pessoa humana não é uma fotocopiadora, isto é, não se limita a receber os dados e a mantê-los como coisas estáticas.

É verdade que os primeiros conteúdos da consciência são o que a pessoa recebeu dos outros.
Mas os dados recebidos são tijolos para construir o edifício da pessoa a emergir e a estruturar-se na história.

Podemos dizer que os valores são apelos ideais que convidam a pessoa a estruturar-se de acordo com eles.

Por se situarem ao nível do ideal, os valores são uma interpelação e um convite a ir mais longe, pois o real humano nunca atinge de modo pleno a meta do seu ideal.

Por outras palavras, existe uma distância entre o ideal proposto pelos valores e o real da pessoa em construção.

À medida que vão sendo inscritos na consciência, os valores tornam-se, pois, uma voz que interpela a pessoa a agir de acordo com eles.

Como a pessoa é um ser que vive e se realiza em sociedade, os valores interpelam tanto no sentido da humanização da pessoa como no sentido da humanização da sociedade.

À medida que a pessoa responde ao chamamento dos valores estes começam a moldar e a estruturar o próprio modo de ser da pessoa.

Eis alguns exemplos que nos ajudam a compreender a interacção entre os valores, a consciência e a estruturação humana:

A pessoa que age em conformidade com o valor “verdade” vai-se tornando verdadeira. À medida que a pessoa age em harmonia com os apelos da liberdade, torna-se livre.

O ser humano que age em conformidade com o valor “Justiça” torna-se uma pessoa justa. Do mesmo modo, a pessoa que age em harmonia com o valor fidelidade, torna-se cada vez mais fiel.

Os valores não são inscritos em todas as pessoas da mesma maneira. É por esta razão que as consciências não são todas iguais.

Recorrendo ao exemplo dos talentos, diríamos que o amor com que os outros nos amaram e os valores que inscreveram em nós, há pessoas que receberam cinco talentos, outras receberam apenas três, dois ou um.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-IV

IV-A DIMENSÃO ESPIRITUAL DA PESSOA

A pessoa não se esgota na sua dimensão biológica. A nível biológico, a pessoa humana é uma obra-prima feita barro, como diz a bíblia (cf. Gn 2,7a).

Mas o corpo da pessoa é apenas a matriz de uma outra obra-prima feita de espírito, cujo princípio animador é o hálito da vida divina (Gn 2, 7b).

Por outras palavras, a pessoa humana é uma obra-prima feita de barro em cujo interior está a emergir e a estruturar-se outra obra-prima feita de espírito.

A pessoa humana é um ser talhado para o amor. Só atinge a sua plenitude na comunhão amorosa.

De facto, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A pessoa é um ser talhado para as relações. Ninguém vê o seu próprio rosto. Estamos talhados para o face a face.

É por esta razão que, de modo directo, só vemos o rosto dos outros, não o nosso. Para se crescer de modo equilibrado, a pessoa deve alimentar a intimidade, sentir-se perto dos outros através do amor, isto é, sentir-se compreendida e aceite.

Esta necessidade de comunicação e intimidade a nível emocional como intelectual, físico e espiritual faz-se sentir ao longo de toda a vida, embora com matizes diferentes.

A fé cristã assegura-nos que Deus não é um sujeito isolado e sozinho. A Divindade é uma família de três pessoas.

Esta necessidade de relações amorosas e de comunhão resultam, afinal, do facto de sermos criados à imagem e semelhança de Deus.

A fé cristã afirma que, após a morte, o ser humano já possui apenas a sua dimensão pessoal-espiritual.

Por outras palavras, na Festa do Reino de Deus, as pessoas humanas são seres plenamente espiritualizados.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Jesus respondeu aos saduceus: “Estais enganados, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.

Na ressurreição nem os homens terão mulheres nem as mulheres maridos, pois serão como anjos de Deus no Céu” (Mt 22, 29-30).

Podemos dizer que o nosso ser espiritual emerge no interior do nosso ser exterior como o pintainho dentro do ovo.

Virá um dia em que o ovo rebenta, e o pintainho nasce para a plenitude da vida que é a comunhão universal da Família de Deus.

Isto quer dizer que a vocação fundamental do ser humano não é apenas prolongar o mais possível a vida mortal, mas edificar, através do amor, a Vida Eterna.

São Paulo diz isto de modo muito feliz, quando afirma: “Por isso não desfalecemos. E mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia pela acção do Espírito Santo.

A nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Por esta razão, não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, pois as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

A pessoa humana está em realização histórica. Manterá eternamente a sua identidade histórica.
A identidade eterna da pessoa é de ordem espiritual e, portanto, definitiva.

A pessoa emerge espiritualmente à medida que se vai humanizando. A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Emergir como interioridade pessoal significa, portanto, atingir uma maior densidade espiritual.

Por outro lado, convergir para a comunhão universal significa ganhar maior capacidade para interagir com as pessoas humanas e as divinas na Comunhão da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-V

V-A PESSOA E A COMUNHÃO UNIVERSAL

Na comunhão universal do Reino de Deus, todas as pessoas dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito e a densidade que tiver atingido aqui na terra.

Isto quer dizer que a pessoa é realmente um ser em construção histórica. A dignidade da pessoa humana começa no facto de não nascer determinada.

Os animais nascem e crescem determinados pela natureza da sua espécie, a qual lhes marca o destino.

A pessoa humana, pelo contrário, nasce com um leque de talentos que lhe possibilita uma diversidade enorme de opções, escolhas, decisões e compromissos de vida.

Ao contrário dos animais, a pessoa está chamada a ser autora de si própria. Até neste aspecto o ser humano é, de facto, feito à imagem e semelhança de Deus.

A Divindade é pessoas. A Humanidade, também. Pela sua condição pessoal, a pessoa humana pertence ao nível da transcendência, isto é, à esfera da vida pessoal.

A nível da Criação, a vida pessoal-espiritual aparece no fim. É a cúpula do processo criador.
Mas a nível do Criador, a vida pessoal foi primeiro.

No princípio, ainda antes de existir o Universo, só existia Deus, três pessoas em comunhão amorosa.

Podemos dizer que ainda antes da explosão primordial dar início à gestação do Universo, já
existia o Amor.

A comunhão das três pessoas é o começo e o fim, o Alfa e o Ómega. Por outras palavras, Deus é o começo e a plenitude da Criação.

A vida pessoal, por ser espiritual tem densidade de vida eterna. Na verdade, a vida pessoal ou é divina ou é proporcional à Divindade.

Por outras palavras, a pessoa humana situa-se ao nível da cúpula da Criação. As pessoas humanas, juntamente com as divinas e outros seres pessoais que possam existir fazem parte da Galáxia da vida espiritual.

O crescimento da vida pessoal não é uma questão de quantidade. Não se mede ao quilo, nem é questão de volume. Também não se mede ao metro.

A vida pessoal-espiritual só se pode avaliar pela qualidade das suas relações. Na verdade, a pessoa em realização caminha para a reciprocidade:

Possui-se na medida em que se dá. Por outras palavras, a plenitude de uma pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

De facto, a realização pessoal é uma tarefa de amor. Ao dar-se, a pessoa não se perde. Pelo contrário, encontra-se mais plenamente.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

CRISTO COMO INÍCIO E PLENITUDE DACRIAÇÃO-I


I-O LUGAR DO HOMEM NO PLANO CRIADOR

O Novo Testamento é a proclamação alegre do projecto salvador de Deus realizado em Cristo e ressuscitado.

Na verdade, Jesus Cristo é a cúpula do plano de Deus iniciado com a Criação. A História foi assumida e plenificada por Jesus Cristo ressuscitado, o qual se tornou a Cabeça da Humanidade reconciliada salva (2 Cor 5, 17-18).

Mas o Novo Testamento proclama a presença dinâmica do Filho Eterno de Deus no princípio da Criação.

Por outras palavras, Cristo é o impulsionador do impulso primordial que deu início à génese criadora do Universo.

O evangelho de São João diz que o Verbo, isto é, o Filho Eterno de Deus, é a Palavra que realiza o que significa, conferindo sentido e finalidade à marcha criadora.

Segundo o evangelho de São João, Cristo continua a ser a Palavra eficaz que conduz a Criação à plenitude da Salvação.

Eis a razão pela qual temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, diz São João (Jo 3,6). São Paulo explicita este mistério de modo muito bonito dizendo que todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros do Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Deste modo a História atinge a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos ou divinização do homem.

Com o mistério da Encarnação fica consumado o projecto da criação, e da Salvação. Devido ao facto de possuir uma vida espiritual, o Homem já era a cabeça da Criação.

Mas com o acontecimento da Encarnação, isto é, do enxerto do humano no divino ele é incorporado na Família Divina.

Com a divinização do Homem, a Criação atinge a sua plenitude.Se o mundo é criação de Deus, então as coisas são boas.

Deus proclamou a bondade da Criação no próprio acto de criar, diz o Livro do Génesis (cf. Gn 1, 1-2, 7).
Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

CRISTO COMO INÍCIO E PLENITUDE DACRIAÇÃO-II

II-TODAS AS COISAS CRIADAS POR DEUS SÃO BOAS

O Novo Testamento reafirma a bondade da Criação e dá um salto de qualidade ao interpretar a Criação à luz do acontecimento de Cristo.

Os fariseus, movidos por uma leitura distorcida da realidade dividiam as coisas entre puras e impuras, boas e más, benditas e malditas.

Jesus opõe-se a estes tabus e reafirma a bondade essencial de todas as coisas. Os alimentos são todos puros. O que mancha o homem é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que possa ingerir (Mc 7, 14-20).

O Sábado, sinal da Aliança, aparece no livro do Génesis como a consumação e santificação da Criação.

Jesus entende a santificação do Sábado como compromisso com a libertação, a restauração e a salvação do Homem.

A Salvação é uma verdadeira recriação. Deus cuida com ternura de todas as criaturas. Nem um só pássaro cai por terra sem que Deus o permita (Mt 10, 29).

Foi Deus quem deu beleza aos lírios do campo e agilidade às aves do céu (Mt 6, 25-34). Deus é o criador e Senhor de todas as coisas. Do Senhor é a terra, diz a Primeira Carta aos Coríntios e tudo quanto ela contém (1 Cor 10, 26).

Deus chama à existência as coisas que não são, diz a Carta aos Romanos, a fim de que possam existir (Rm 4, 17; cf. Gn 1, 3).

As coisas existem graças ao poder criador de Deus (Rm 11, 36). Deus é invisível, diz São Paulo, mas o invisível de Deus mostra-se-nos de modo analógico através das criaturas (Rm 1, 19; cf. Sb 13).

A plenitude da Criação é Cristo. Ele é a cabeça da Criação em estado de plenitude. O mundo foi criado por Cristo e para Cristo (Col 1, 15-20; Flp 2, 6-11).

Criado como cabeça da Humanidade, Adão acabou por desorientá-la. Jesus Cristo veio como o Novo Adão, a fim de restaurar os danos causados por Adão na dinâmica da Criação.

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Calmeiro Matias

CRISTO COMO INÍCIO E PLENITUDE DACRIAÇÃO-III

III-CRISTO COMO PRINCÍPIO E FIM DA CRIAÇÃO

São Paulo, inspirando-se na presença da Sabedoria nos primórdios da Criação, diz que Cristo é a Sabedoria de Deus que esteve presente na dinâmica criadora do Universo.

Jesus Cristo é o princípio, o centro e o fim da Criação (Col 1, 15-20). Adão foi sonhado por Deus para ser o medianeiro entre Deus e a Criação.

Adão foi infiel à sua missão. Jesus, o novo Adão, é a imagem perfeita de Deus (Col 1, 15; Flp 2, 6).
Ele é, de facto, a Sabedoria de Deus (Col 1, 24; 30). A Sabedoria tinha uma função arquétipa (forma virtual da realidade que viria a ser criada).

A sua presença junto de Deus tinha uma função inspiradora (Prov 8, 22). Agora, Cristo é igualmente visto como forma primordial e modelo da acção criadora de Deus. Ele é o primogénito da Criação.

Por outras palavras, Jesus Cristo é o ponto de encontro entre Deus e a Criação. Ele é a causa exemplar e inspiradora do projecto criador de Deus.

Ele é também, acrescenta São Paulo, a plenitude e a cabeça da Nova Criação: “Todos os que estão em Cristo são uma Nova Criação. Passaram as coisas velhas.

Tudo isto se deve ao facto de Deus ter reconciliado consigo a criação por intermédio de Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (1 Cor 5, 17-19).

Cristo é o ícone (imagem) de Deus. Por isso é a causa exemplar e o padrão do projecto de Deus para a Humanidade (Col 1, 1-16; cf. Sb 9, 1-2).

Isto quer dizer que Deus, ao iniciar a marcha da criação, já tinha presente a plenitude da salvação em Cristo.

É neste sentido que a Carta aos Colossenses diz que “tudo foi criado nele e para ele “ (Col 1, 16b).
Logo no início da criação, Deus inspira-se na plenitude do projecto. Esta plenitude acontece em Cristo ressuscitado (1 Cor 8, 6; Rm 11, 36).

Olhada à luz da revelação de Deus, a Criação é cristocêntrica. Adquire o seu sentido pleno em Cristo ressuscitado.

Devido à sua infidelidade Adão desorientou a Criação, conduzindo-a para o caminho do fracasso.
Cristo é o novo Adão, o recriador e restaurador desta Criação distorcida (Rm 5, 15-17).

Com Jesus Cristo a criação entrou na sua última fase. Chegou a plenitude dos tempos. A Humanidade entrou na fase da sua divinização.

Cristo libertou-nos, a fim de sermos livres. Jesus Cristo veio para nos conduzir à liberdade (Gal 5, 1; 5, 13).

Deus fez de nós condutores da marcha criadora, diz São Paulo: Tudo é vosso. Vós sois de Cristo e Cristo é de Deus (1 Cor 3, 21-23).

O prólogo do evangelho de João representa o cume da Cristologia do Novo Testamento. Mas é também um testemunho fundamental de fé na criação.

São João, ao escrever o prólogo do seu evangelho tinha a intenção de conferir um sentido de plenitude ao relato do Génesis sobre a Criação.

Por isso ele inicia o seu prólogo com as mesmas palavras com que o Génesis inicia o relato da criação: “No princípio” (Jo 1,1; cf. Gn 1, 1).

Tal como acontece no Livro do Génesis, também no prólogo do evangelho de São João a criação é obra da Palavra (Jo 1,3).

Tal como no Livro do Génesis surge o confronto e oposição da luz e das trevas (Jo 1, 4-5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO COMO INÍCIO E PLENITUDE DACRIAÇÃO-IV

IV-O SONHO CRIADOR DE DEUS É ETERNO

No entanto, o prólogo de São João dá um salto de qualidade em relação ao Génesis. No livro do Génesis a criação é iniciada em simultâneo com a marcha do tempo.

No prólogo de São João ela é concebida no interior da eternidade. Os possíveis da criação surgem antes do tempo.

Brotam das relações amorosas que existem na Comunidade Divina. Mas o início da génese criadora é temporal (Jo 1.12-14).

A estrutura literária do prólogo de João é a dos hinos sapienciais (cf. Prov 8, 22; Si 24, 3-12; Sb 9, 9-12).

Existe um ser preexistente à criação, isto é, o Logos, a Palavra que é causa exemplar da mesma.
Na perspectiva do evangelho de João, Cristo é o princípio e o fim da Criação (cf. Apc 1, 17; 22, 13).

A chave de leitura da teologia bíblica sobre a criação é a Aliança e o plano salvador de Deus. O Novo Testamento, por seu lado, faz uma leitura cristocêntrica do projecto criador de Deus.

Podemos dizer que o documento fundamental da teologia bíblica sobre a criação não é o livro do Génesis mas sim o prólogo de São João, o qual explica e dá sentido aos relatos do Génesis.

Segundo o Livro do Génesis, Deus viu que todas as coisas eram boas (cf. Gn 1, 3-27). Para o prólogo de São João a plenitude desta bondade acontece pelo mistério da Encarnação, graças ao qual os homens foram divinizados e introduzidos na Família de Deus (Jo 1, 12-14).

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Calmeiro Matias

CRISTO COMO INÍCIO E PLENITUDE DACRIAÇÃO-V

V-PECADO E RESTAURAÇÃO EM CRISTO

Apesar do pecado do Homem, Deus não abandonou o seu projecto. Após a sua infidelidade, Adão sentiu que estava nu, isto é, sem possibilidades de sair do seu fracasso (Gn 3, 9-11).

Logo que Adão se sentiu nu, isto é, incapaz de atingir a sua plenitude, Deus começou logo a revesti-lo, isto é, a dar-lhe novas possibilidades de realização:

“Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, pois ela seria a mãe de todos os viventes. Depois o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher e vesti-os” (Gn 3, 20-21).

Ao revestir o Homem, Deus inicia o processo da recriação do homem, corrigindo as distorções que o afastavam de Deus e de si próprio.

O evangelho de São João diz que o Homem só pode atingir a plenitude do seu ser se nascer de novo, pois o facto de ser filho de Adão não o conduz à comunhão com Deus (Jo 3, 3-6).

A recriação do Homem dá-se no interior de cada ser humano. Ainda que o homem exterior envelheça, degradando-se e perdendo energias, o homem interior vai-se renovando gradualmente pela acção do Espírito Santo, diz São Paulo (2 Cor 4, 16-17).

São João diz que Cristo ressuscitado nos dá a Água Viva que faz jorrar Vida Eterna no nosso íntimo (Jo 4, 14; 7, 37-39).

Na verdade, diz a Carta aos Romanos, os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14-16).

O Novo Testamento tem uma visão optimista da Criação: Tudo é visto sob o prisma da plenitude em Jesus Cristo.

Por outras palavras, em Jesus Cristo, Criador e Criação interligam-se amorosa e definitivamente. Não tem sentido criar uma dicotomia entre Deus e a Criação como se de coisas opostas se tratasse.

Em Jesus Cristo Deus realizou a reconciliação de todas as coisas, tanto as da Terra como as do Céu (2 Cor 5, 17-19).

Mas a Criação ainda está em génese. Deus não criou de uma só vez. Por outras palavras, a Criação está em marcha. O Deus criador convida-nos a ser seus colaboradores, conduzindo a Criação à sua plenitude.

Unido a Cristo de modo orgânico, o Homem tornou-se a cúpula da Criação assumida e incorporada na própria Família Divina.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-I

I-JESUS COMO SERVO FIEL

Graças ao acontecimento da Encarnação, a Humanidade e a Divindade ficaram definitivamente unidas.

As pessoas humanas não são ilhas. As divinas também não. Por outras palavras, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

É por esta razão que a Humanidade, tal como a Divindade, formam uma união orgânica. Na verdade, a Humanidade é constituída por pessoas e a Divindade também.

Olhando o mistério da pessoa nesta perspectiva bíblica, torna-se claro que o ser humano é solidário com a Humanidade tanto no bem que faz como no mal.

Esta maneira de entender as coisas aparece muito clara no livro do profeta Isaías. O profeta faz uma leitura dramática do exílio do Povo de Deus na Babilónia.

Para Isaías é sobretudo chocante o facto de, na Babilónia, haver justos que estão a passar por situações de grande sofrimento (Is 52, 13-53, 12).

Até este período o povo bíblico pensava que os justos não podiam sofrer, pois Deus é justo e não vai provocar sofrimentos aos justos, pois estes realizam de modo fiel a vontade de Deus.

Neste período pensava-se que Deus era o autor do sofrimento. Nesta perspectiva, o sofrimento das pessoas humanas era expressamente provocado por Deus, a fim de as punir das suas infidelidades e pecados.

Segundo esta maneira de ver as coisas, é normal que Deus não envie sofrimentos aos pecadores, a fim de o punir das suas maldades.

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Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-II

II-O SOFRIMENTO E A JUSTIÇA DE DEUS

Como Deus é justo, é normal que ele não envie sofrimentos aos justos, pois estes, além de não serem pecadores, são amigos de Deus.

O sofrimento das crianças era atribuído ao pecado dos pais. Ainda no Novo Testamento encontramos vestígios desta mentalidade:

“Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: Rabi, quem pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?

Jesus respondeu: nem pecou ele nem os seus pais. Isto aconteceu para se manifestarem nele as obras de Deus (Jo 9, 1-3).

A observação do sofrimento dos justos no exílio de Babilónia deu origem a uma releitura que deu origem a uma visão que vai muito além da visão tradicional:

A saída encontrada pelo profeta Isaías (Segundo Isaías) é a de que o justo, por fazer uma união orgânica com o povo pecador, passa pelos mesmos sofrimentos: perseguições exploração e violência.

Mas Deus não quer o sofrimento do justo e, portanto vai tomar partido em seu favor, libertando-o.

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Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-III

III-O JUSTO SOFREDOR E A REDENÇÃO DO POVO

Ao libertar o justo da situação de opressão, Deus liberta com ele a multidão dos pecadores, pois o povo de Deus faz um todo orgânico, tanto justos como pecadores.

Esta leitura aprofundada dá origem a um conceito totalmente novo: o sofrimento do justo é redentor para os pecadores.

Por ter sempre presente o mistério da união orgânica do povo de Deus composto por justos e pecadores, o profeta passa constantemente do justo que sofre para o povo o povo sofredor.

Eis algumas palavras profundamente significativas disto que acabámos de analisar: “O meu servo terá êxito, pois será engrandecido e exaltado.

Muitos povos ficaram espantados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme.

Do mesmo modo, muitos povos e reis vão ficar espantados ao verem as coisas maravilhosas e inauditas que vão acontecer (…).

O servo cresceu diante do Senhor sem figura e sem beleza, pois estava desfigurado pelo sofrimento.

Como um rebento em terra árida, vimo-lo sem aspecto atraente. Desprezado e abandonado, por ser o homem das dores dominado pelo sofrimento.

Desconsiderado, era considerado como um homem diante do qual se deve tapar o rosto, por ser um homem castigado por Deus.

Na verdade ele tomou sobre si as nossas doenças e carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso ferido por Deus e humilhado.

Mas foi ferido por causa dos nossos pecados e esmagado por causa das nossas iniquidades.
O castigo que nós merecíamos caiu sobre ele, pois fomos curados nas suas chagas.

Andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada qual seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele os nossos crimes, perdoando a nossa iniquidade.

Foi maltratado e humilhado, mas não abriu a boca. Era semelhante ao cordeiro levado ao matadouro ou à ovelha que permanece muda nas mãos do tosquiador.

Sem defesa nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino?
Foi ferido por causa dos pecados do meu povo e suprimido da terra dos vivos.

Deram-lhe sepultura entre os ímpios e uma tumba entre malfeitores, apesar de não ter cometido qualquer crime nem praticado qualquer fraude.

Aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimentos, mas a sua vida tornou-se um sacrifício de reparação.

Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias. O desígnio do Senhor realizar-se-à por meio dele (…).

O Justo justificará a muitos, pois carregou com os seus crimes. Por esta razão terá uma multidão como herança e grandes despojos.

Entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores, pois tomou sobre si os pecados de muitos, sofrendo pelos culpados” (Is 52, 13-53,12).

É admirável a profundidade deste texto de Isaías. Não admira que este fosse o texto preferido pelos Apóstolo para justificar a morte violente e injusta de Jesus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-IV

IV-OS APÓSTOLOS E O SOFRIMENTO DE CRISTO

Perante a dificuldade de justificar os sofrimentos e a morte de Jesus, os discípulos recorreram a estes textos magníficos, dizendo que Jesus é o Servo sofredor.

Fomos salvos pelo sofrimento de um homem justo, Jesus Cristo, o Messias. Isto foi possível porque Jesus de Nazaré é um homem e, como tal, faz uma união orgânica com toda a Humanidade.

Por ser justo, Deus não podia permitir que ele ficasse sob o domínio da morte e por isso o ressuscitou.

Uma vez ressuscitado, ele dá-nos a comer a sua carne e a beber o sem sangue, isto é, o Espírito Santo, fazendo-nos participar da sua ressurreição (Jo 6, 53-54).

Ele é verdadeiramente a cepa da videira da qual nós somos os ramos. Apenas podemos viver e ser fecundos na medida em que estivermos unidos à cepa (Jo 15, 4-5).

A Primeira Carta de São Pedro tem uma passagem em que cita o texto do Servo Sofredor, para dizer que fomos salvos em Cristo por estarmos unidos a ele:

“Carregou sobre si os nossos pecados sobre o madeiro da Cruz, a fim de que nós, estando mortos para o pecado, possamos viver na justiça. Fomos curados nas suas feridas” (1 Pd 2, 24).

Um morreu por todos, diz São Paulo, e nele todos morreram para o pecado (2 Cor 5, 14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-V

V-AO GLORIFICAR JESUS, DEUS REDIME A HUMANIDADE

Como Jesus era Justo e fiel, Deus tomou partido por ele, ressuscitando-o e glorificando-o. Como a Humanidade forma um todo orgânico com Jesus Cristo, todos fomos assumidos e glorificados nele e com ele.

Este mesmo argumento é usado na Segunda Carta a Timóteo: “Eis uma palavra digna de confiança: Se morremos com Cristo também vivemos com ele” (2 Tim 2, 11).

A Humanidade está unida a Cristo de modo orgânico e interactivo. Com a ressurreição de Cristo, a Humanidade deu um salto de qualidade, entrando no limiar da fraternidade universal, diz São Paulo.

Agora já não importa a raça, a língua, o estatuto social, o povo ou a condição sexual, pois todos têm a mesma dignidade em Jesus Cristo:

“Já não há diferença entre judeu ou grego, escravo ou homem livre. Já não há diferença entre homem ou mulher, pois todos formamos um em Jesus Cristo” (Gal 3, 28).

O evangelho de São João põe na boca de Jesus o sentido profundo desta união orgânica com Cristo, a qual nos introduz na própria comunhão da Santíssima Trindade:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20). E um pouco mais à frente acrescenta:

“Eu neles e tu em mim, Pai, a fim de eles serem perfeitos na unidade. Deste modo o mundo conhecerá que me enviaste e os amaste a eles, tal como me amaste a mim” (Jo 17, 23).

Graças a esta união orgânica que nos liga a Cristo, nós fomos incorporados na Família de Deus.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos ao Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Romanos: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual chamais “Abba”, ó Pai (…).

Ora, se somos filhos somos também herdeiros: herdeiros de Deus pai e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com ele sofremos, para também com ele sermos glorificados (Rm 8, 14-17).

E depois explicita melhor o seu pensamento dizendo: “Àqueles que conheceu antecipadamente, Deus também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que este é o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO REDENTOR-VI

VI-A IGREJA E A NOVA HUMANIDADE

A comunidade cristã é o sacramento desta unidade orgânica universal já enxertada e assumida em Deus.

São Paulo insiste em que os membros da comunidade formam o corpo de Cristo: “Comemos de um só pão para formarmos um só corpo” (1 Cor 10, 17).

E ainda: “Vós sois membros do Corpo de Cristo. E cada um de vós é uma parte deste corpo” (1 Cor 12, 27).

Sabemos como o corpo é mediação de encontro e comunicação. Como corpo de Cristo, a comunidade é mediação de encontro e comunicação de Cristo ressuscitado com o mundo.

A Carta aos Efésios vai nesta mesma linha quando afirma: “Portanto, cada um deite fora a hipocrisia e fale a verdade ao seu irmão, pois somos membros de um só corpo” (Ef 4, 25).

A raiz desta comunhão orgânica universal é Jesus ressuscitado. O Espírito Santo é o princípio de organicidade e dinamismo que anima todo o corpo.

Servindo-nos da imagem da união orgânica entre a videira e os ramos, podemos dizer que o Espírito Santo é a seiva que circula da cepa para os ramos, vivificando-os e tornando-os fecundos (Jo 15, 1-8).

Inseridos na comunhão universal da Família Divina e Animados pelo Espírito Santo a nossa vida fica capacitada para dar frutos de excelente qualidade.

A Carta aos Gálatas diz que graças à união com Cristo e à fecundidade do Espírito Santo, nós vamos superando os frutos da carne, isto é, as acções do homem velho.

Deste modo nos vamos tornando de modo gradual e progressivo a Nova Humanidade enxertada em Cristo:

“A carne deseja o que é contrário ao Espírito e o Espírito o que é contrário à carne. Se sois conduzidos pelo Espírito não estais sob o domínio da carne, pois as obras da carne são patentes:

fornicação, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas parecidas.

Sobre estas coisas vos previno como já o fiz antes quando vos disse que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus.

Por seu lado, os frutos do Espírito São: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio.

Contra estas coisas não há lei. Os que são de Cristo crucificaram a carne. Se vivemos pelo Espírito, sigamos o Espírito. Não nos tornemos vaidosos, provocando-nos e tendo inveja uns dos outros” (Gal 5, 17-26).

O amor é muito mais do que uma questão de emoções. Podemos dizer que o amor é o sinal seguro e a garantia de que Deus está em nós, pois Deus é amor.

Unidos a Jesus, o Homem Novo, a Humanidade é a Nova Criação, reconciliada com Deus em Jesus Redentor (2 Cor 5, 17-19).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

IMORTALIDAE OU RESSURREIÇÃO?-I

I-CRISTO E A RESSURREIÇÃO UNIVERSAL

Se Cristo Ressuscitou, então a morte não tem a última palavra. É este o núcleo de uma Boa Nova que confere um sentido totalmente novo à vida.

Depois de Jesus Cristo, qualquer anúncio da fé que não tenha a ressurreição como horizonte não é um anúncio de Evangelho.

A ressurreição de Cristo é Boa Notícia, não apenas por ser algo que diz respeito a Jesus Cristo, mas sobretudo por se tratar de algo que também nos diz respeito.

Na verdade, a ressurreição de Cristo é a garantia da ressurreição de todos os seres humanos, pois Jesus, por ser um homem perfeito, faz uma união orgânica com todos os seres humanos.

Eis o que diz a Primeira Carta aos Coríntios: “Se nós pregamos que Jesus ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que os mortos não ressuscitam.

De facto, se não há ressurreição dos mortos, então também Cristo não ressuscitou” (1 Cor 15, 12-13).

Mais à frente acrescenta: “Se Cristo não ressuscitou a vossa fé não tem qualquer fundamento e vós ainda permaneceis nos vossos pecados (…).

Mas não é assim! Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Assim como por um só homem (Adão) veio a morte, também por um só homem vem a ressurreição dos mortos.

Assim como todos morrem em Adão, assim todos ressuscitam em Cristo” (1 Cor 15, 17-22). São Paulo diz todos nós fazemos um só corpo com o Senhor ressuscitado (1 Cor 10, 17; 12, 27; 12, 13). É esta a garantia da nossa ressurreição.

O Evangelho de São João compara Jesus Cristo com a Árvore da Vida cujo fruto dá a vida eterna a todos os que o comem.

Segundo o Livro do Génesis, no centro do paraíso primordial estava a Árvore da Vida. Com esta imagem, o Génesis queria dizer que Deus não nos criou para a morte mas para a Vida Eterna.

Mas para isso, o Homem devia comer o fruto da Árvore da Vida Eterna. Isto quer dizer que a pessoa humana está chamada a colaborar na construção da sua Vida Eterna.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

IMORTALIDAE OU RESSURREIÇÃO?-II

II-JESUS E A VIDA ETERNA

O Livro do Génesis diz que após o pecado de Adão, Deus expulsou-o do paraíso. Deste modo, Adão ficou sob o domínio da morte, pois ficou sem acesso à Árvore da Vida (Gn 3, 22-24).

O Novo Testamento apresenta-nos Jesus como o Redentor que veio corrigir as distorções provocadas por Adão. Jesus ressuscitado é o Novo Adão, diz São Paulo (Rm 5, 17)

O evangelho de São João associa a missão de Cristo com a Vida eterna. Jesus tem dá-nos o fruto da Vida Eterna graças ao qual nós viveremos para sempre.

O Novo Testamento não confunde Vida Eterna com simples imortalidade. Jesus dá-nos o fruto da Vida Eterna, a qual não é uma simples imortalidade.

A Vida Eterna implica ressuscitar com Cristo. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia (Jo 6, 54).

O fruto da Vida Eterna que Jesus nos dá é o Espírito Santo. No nosso íntimo, o Espírito Santo é como uma nascente de Água Viva que alimenta e fortalece em nós a Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

Ao romper a aliança com Deus, Adão fechou-nos as portas do paraíso (Gn 3, 22-24). Jesus Cristo é o Novo Adão fiel à vontade de Deus, aquele que tornou possível a realização da Nova e Eterna Aliança. Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

IMORTALIDAE OU RESSURREIÇÃO?-III

III-DA IMORTALIDADE À RESSURREIÇÃO

Graças à sua fidelidade incondicional, Jesus abre-nos as portas do paraíso, como ele disse ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição:

“Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43). No momento da sua ressurreição, Jesus oferece à Humanidade o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.

Por outras palavras, Jesus é a Árvore da Vida que nos oferece o fruto da Vida Eterna que implica a ressurreição e não a simples imortalidade.

É verdade que os seres humanos, por serem pessoas, têm uma interioridade espiritual e por isso imortal.

Mas a simples imortalidade é uma garantia de subsistência após a morte, mas não de uma Vida Eterna, a qual implica tomar parte na comunhão universal da Família de Deus.

As pessoas que, porventura estejam em estado de inferno são imortais, mas não possuem a alegria e a plenitude da Vida Eterna.

Jesus enviou os Apóstolos a pregar a ressurreição, não a vida eterna. O conceito de imortalidade é muito anterior a Jesus Cristo e não tem origem no pensamento bíblico.

O núcleo do Evangelho é a Vida Eterna, a qual implica a assunção e incorporação da pessoa humana na comunhão com a Santíssima Trindade.

É verdade que o acontecimento da ressurreição dos seres humanos assenta no facto de estes serem imortais.

Mas a simples imortalidade não é suficiente para podermos participar na festa dos ressuscitados com Cristo.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

IMORTALIDAE OU RESSURREIÇÃO?-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E A DINÂMICA DA RESSURREIÇÃO

Por ter a plenitude do Espírito Santo, Jesus venceu a morte no próprio acto de morrer. Jesus não esteve um só momento sob o domínio da morte, pois no próprio acto de morrer sobre a cruz a morte foi vencida.

Na medida em que ia morrendo aquilo que havia de mortal no homem Jesus, o Espírito Santo ia glorificando e incorporando na comunhão Divina, o que nele havia de imortal.

Isto quer dizer que Jesus não ficou um só segundo sob o domínio da morte. A morte foi tragada pela vitória da ressurreição.

De tal modo o acto de morrer e a dinâmica ressuscitadora actuavam em simultâneo que Jesus, no momento em que acabou de morrer, já estava totalmente ressuscitado.

Isto quer dizer que os seres humanos, após a sua morte, não ficam reduzidos a uma simples alma imortal.

Pelo contrário, são assumidos na comunhão universal como pessoas com uma identidade histórica.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

IMORTALIDAE OU RESSURREIÇÃO?-V

V-A IDENTIDADE HISTÓRICA DOS RESSUSCITADOS

A identidade histórica dos ressuscitados consiste no seu modo e capacidade de interagir amorosamente com Deus e os outros.

O evangelho de São Mateus diz que no momento Jesus morrer e ressuscitar muitos santos ressuscitam e começam a aparecer (Mt 27, 52-53).

Ressuscitar com Cristo é participar da dinâmica ressuscitante que emana dele e nos torna participantes da sua vitória sobre a morte.

O evangelho de João exprime isto de maneira muito bonita ao falar da Eucaristia (Jo 6, 51). A fé cristã leva consigo a certeza jubilosa de que a nossa meta não é o vazio da morte, pois esta foi vencida por Cristo ressuscitado.

Não basta o facto de a pessoa humana ser imortal para atingir a plenitude da Vida Eterna. Esta atinge-se mediante a ressurreição com Cristo.

A salvação e a Vida Eterna é um dom de Deus para todos os seres humanos, seja qual for a sua raça, língua, nacionalidade ou religião.

No entanto, Ninguém atinge a plenitude da Vida Eterna fora de Cristo ressuscitado. Para participar nessa plenitude basta ter a veste nupcial, isto é, um coração capaz de comungar com Deus e os irmãos.

Todas as pessoas que tenham um coração capaz de comungar ressuscitam com Cristo e são assumidas na plenitude da Vida Eterna.

Por outras palavras, a ressurreição de Cristo proporciona-nos a Vida Eterna, não a imortalidade, pois esta é um dado inerente ao facto de sermos pessoas, isto é, seres com vida espiritual.

Do mesmo modo, a imortalidade, só por si, não é suficiente para participarmos na plenitude da ressurreição com Cristo.

Só na medida em que fazemos um todo orgânico com Jesus Cristo somos ressuscitados e
divinizados mediante a incorporação na comunhão da Família Divina.

Isto quer dizer que a dinâmica da Vida Eterna é constituída por relações de comunhão amorosa.
A ideia pagã da imortalidade da alma não tem qualquer fundamento bíblico.

De facto, a teoria da imortalidade da alma é um produto sobretudo da filosofia grega. Jesus Cristo é o salvador de pessoas, não de almas.

A Divindade é constituída por três pessoas, não por três almas. Do mesmo modo, a Humanidade é constituída por uma multidão incontável de pessoas, não de almas.

As pessoas humanas estão chamadas a ser divinas, pois são pessoas capacitadas para comungar com as pessoas divinas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

FILHO MEU QUE ESTÁS NA TERRA-I

I-AMO-TE E CONTO CONTIGO

Como seria o Pai-Nosso, se fosse Deus Pai a rezá-lo? Certamente Já não seria um Pai-Nosso, mas um Filho-Meu!

Talvez fosse mais ou menos assim, o Filho-Meu rezado por Deus Pai: Filho-Meu, que estás na terra. Sabes que te conheço e te chamo pelo teu próprio nome.

Para não me esquecer de ti, resolvi escrever o teu nome na palma da minha mão! O meu grande desejo é que também tu me conheças bem, a fim de me poderes amar.

Na verdade, ninguém ama aquilo que não conhece. Se me conheceres bem, nós vamos amar-nos de coração a coração.

Por isso te enviei o meu Filho, a fim de se tornar teu irmão e, deste modo, amar em ti, o que amo no meu filho unigénito.

Ao tornar-se teu irmão o meu filho, tornou-se o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29). Filho-Meu: eu queria contar contigo para construirmos o Meu Reino.

Queria, sobretudo pedir-te uma colaboração muito importante: Luta o mais que puderes para que os homens não destruam a terra bonita, generosa e fecunda que eu vos dei.

Desta luta depende o futuro desta Humanidade que é a menina dos meus olhos. Podes crer que eu estou do teu lado. Para isso, te envio a minha Palavra e o Espírito Santo que te capacita para esta missão.

Deste modo podes comprometer-te e dar o melhor de ti mesmo. Podes contar com o Espírito Santo, pois ele vai conduzir-te pelo caminho do Amor e da Verdade.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-te conduzir para Fraternidade Universal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FILHO MEU QUE ESTÁS NA TERRA-II

II-A MINHA VONTADE COINCIDE COM O TEU BEM

Filho-Meu: queria pedir-te para fazeres sempre a minha vontade, pois o meu querer coincide sempre com o que é melhor para ti.

Não tenhas medo. Lança-te nos meus braços e faz a Minha vontade sem medo nem reservas. A
minha vontade a teu respeito amplia os horizontes da tua felicidade para dimensões que nunca pudeste imaginar.

Confia em mim. Lembra-te de que és o meu filho muito querido e eu sou o teu “Abba”, como Jesus gostava de me chamar!

Podes confiar em mim que eu jamais te enganarei. Na verdade, eu sou incapaz de enganar alguém.

Confia em mim, pois em posso tudo o que pode o amor. Mas não posso nada contra o amor.
É verdade, eu sou o amor Todo-poderoso! Confia em mim, pois nunca te faltará o pão de cada dia.

Confia em mim e não terás carências de comida e bebida. Filho-Meu: Se confiares em mim, nunca te faltará o agasalho nem o amor das pessoas que vão facilitar a tua felicidade.

Abre o teu coração para os meus dons e o Espírito Santo te dará a coragem necessária para aprenderes a partilhar.

A partilha é o segredo da abundância. Nunca faltou o essencial às pessoas que tiveram a coragem de partilhar.

Podes ter a certeza de que isto é verdade: “A partilha é o segredo da abundância”. Por favor ensina este segredo aos teus irmãos, dizendo-lhe isto em meu nome:

“Vamos deixar de dizer meu. Aprendamos a dizer nosso. Vamos começar a dizer: Pão-Nosso”.
Quando isto acontecer, as fomes acabarão. E com grande espanto verificarás que ainda sobraram muitos cestos de pão para partilhar!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FILHO MEU QUE ESTÁS NA TERRA-III

III-ACEITO-TE ASSIM COMO ÉS

Acima de tudo, apoia-te no meu amor. Acredita que o Espírito Santo que habita em ti é o amor de Deus derramado no teu coração (Rm 5, 5).

É ele que te recria e faz nascer de novo Como Jesus disse a Nicodemos (Jo 3,6). É este amor que opera em ti o perdão, fazendo-te passar do egoísmo para a fraternidade.

É este amor que em cada manhã te dá o impulso necessário para começares o dia a amar e a sorrir para as pessoas que se cruzarem contigo.

Se te deixares conduzir pelo Espírito Santo, todos os dias vais matar a solidão de muitas pessoas.

Filho-Meu: não te esqueças que Deus é amor. Isto quer dizer que eu faço propostas, mas nunca me imponho.

Na verdade, o amor nunca se impõe! Tudo o que tenho para ti é dom, nada é imposição. Isto quer dizer que o podes aceitar ou não.

A melhor maneira de acolheres o meu amor e o meu perdão é criar torno de ti uma história de amor, de fraternidade e Perdão.

Quando os teus irmãos se cruzarem contigo e, depois de contactarem contigo ficarem felizes, podes ter a certeza de que o Espírito Santo está presente e activo no teu coração.

Filho-Meu: quando te sentires a fraquejar, não chores nem desanimes, pois eu nunca vou desistir de ti!

Eu sou Amor, e o Amor nunca desiste! Sou eu quem te ajuda a ver os buracos que há no caminho.
Mas se mesmo assim caíres no precipício, sou eu quem te pega aos ombros para te libertar dos perigos.

Muitas vezes inspiro irmãos teus para te ajudarem. Se algum te inspirar a ti para ajudares o teu irmão, não resistas, por favor.

Filho-Meu: vou revelar-te um segredo: Os meus filhos heróicos não são os que não caem, mas os que após a queda, procuram levantar-se sempre.

Na verdade, só não cai quem não quer aprender a caminhar! Não gosto das pessoas que ficam caídas no chão a resmungar e a deitar as culpas para cima dos seus irmãos.

Os filhos que eu amo apoiam-se no meu amor. Por isso se levantam mil vezes se mil vezes tiverem caído.

E em cada recomeço, eu sorrio de contente, pegando-lhe na mão como fazes os pais quando os seus filhinhos caiem!

Filho-Meu: Não tenhas medo. Confia em mim e descobrirás em ti uma força e um poder que tu ignoravas.

Depois de ter vencido cantarás o teu hino de vitória cujo refrão é: “ABBA, Ó PAPÁ!”

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

PASSOS PARA CRESCER COMO PESSOA-I

I-A IMPORTÂNCIA DA AMIZADE

As relações são o veículo de comunicação e crescimento do amor entre as pessoas. O amor tem a capacidade de se auto gerar através de atitudes e opções que dinamizam e fortalece a comunhão do casal.

A amizade acontece quando as pessoas se encontram e decidem ser dom e ajuda umas para as outras.

Os amigos são dons recebidos e dons oferecidos. Quando as pessoas aceitam ser dom umas para as outras, acontece a comunhão, isto é, a dinâmica que conduz à plenitude humana.

Na verdade, a lei da humanização é emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

A amizade é um dos maiores remédios para combater a doença da solidão, essa epidemia que ameaça destruir a felicidade das pessoas e das sociedades.

A amizade edifica-se sobre a humildade. As pessoas que só pensam em ser mais que os outros e pretendem estar sempre acima deles não chegam longe na vivência da amizade.

O amigo verdadeiro quer o melhor para o seu amigo. Por esta razão é capaz de o elogiar, mas também de lhe dizer algumas verdades que não são agradáveis.

Mas o verdadeiro amigo faz isto para ajudar o seu amigo a crescer como pessoa livre, consciente e responsável.

No entanto, os amigos autênticos aceitam-se mutuamente assim como são, procurando sempre facilitar a realização e felicidade dos seus amigos.