quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O HOMEM, O TEMPO E A ETERNIDADE

Quando olhamos o tempo, tendo como pano de fundo a eternidade, este ganha um sentido e uma importância fundamentais.

À luz da eternidade, o tempo surge como o ventre em cujo interior os seres pessoais emergem e atingem a sua densidade de Vida Eterna.

Por ser espiritual, a vida pessoal tem uma consistência eterna, pois o espírito não morre. Vista à luz da eternidade, a vocação fundamental Do ser humano é realizar-se como pessoa mediante o amor.
Isto quere dizer que a principal tarefa do Homem na História não é apenas manter a vida mortal, mas construir a vida eterna mediante o amor.
Por outras palavras, é hoje o tempo de configurarmos a nossa identidade pessoal que, por espitual, é eterna.

A nossa identidade espiritual coincide com o nosso jeito de amar.

Jesus comparou a dinâmica da vida eterna à festa de umas bodas. À luz desta imagem de Jesus podemos dizer que a pessoa humana, na Festa das bodas da Ressurreição, dançará eternamente o ritmo do amor com o jeito que tiver treinado na história.

É agora, portanto, o tempo de moldarmos a nossa capacidade de comungar com os outros no Reino de Deus.
Hoje mesmo podemos burilar e aperfeiçoar o nosso modo de nos relacionarmos e comungarmos com as pessoas divinas, as humanas e todas as outras que possam fazer parte da Comunhão Eterna da Família de Deus.

Por outras palavras, é agora o tempo de edificarmos a plenitude da vida que ultrapassa a morte.
Olhando o dia de hoje à luz da eternidade, podemos dizer que o dia de hoje é um dom especial de Deus, pois este dia é o tempo de que dispomos para edificar o que havemos de ser para sempre.

Deus criou-nos inacabados, a fim de nos irmos realizando no tempo, estruturando assim a nossa história pessoal.

Isto que dizer que nós somos os gestores do nosso tempo Por outras palavras, somos nós quem decide no dia-a-dia o que seremos eternamente.

Visto à luz da eternidade o tempo não é uma mera sucessão de instantes que se juntam para dar consistência e configuração aos segundos, aos minutos, às horas, aos dias, aos anos, aos séculos ou aos milénios.

Por outras palavras, o tempo é muito mais do que aquilo que os relógios e os calendários contabilizam.

A Palavra de Deus diz-nos que cada dia é para o Homem um “kairós”, isto é, a hora de Deus e a oportunidade de o Homem, ajudado pelo Espírito Santo, realizar a pessoa que deseja ser eternamente.

Hoje é o dia em que o Espírito Santo nos interpela e ilumina, a fim de completarmos, em nós e no mundo, a criação de Deus.

O maior perigo para nós no dia de hoje é decidirmos matar o tempo. Na verdade, isso significaria não emergir nem crescer como capacidade de comungar mais com Deus e os irmãos.

Somos nós quem diz a última palavra sobre a fecundidade do dia de hoje. As pessoas que ao longo da sua vida tomaram o tempo a sério, atingiram uma maior realização pessoal e fizeram a Humanidade avançar.
É este o mistério do Homem em processo histórico de realização.

Deus criou-nos inacabados, a fim de completarmos a sua obra, realizando-nos de modo livre, consciente e responsável.

O ser humano surge na vida com um leque de talentos ou possibilidades que podemos realizar ou não.
É a este nível que a pessoa se edifica se for fiel aos talentos que Deus lhe deu. À medida que vamos construindo a pessoa que temos a tarefa de realizar, o Espírito Santo vai-nos configurado com Jesus e incorporando na Família Divina.

Deste modo Jesus Cristo se torna o primogénito entre muitos irmãos. Eis o que diz São Paulo a este respeito:

“Porque àqueles que Deus conheceu desde os tempos primordiais, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que ele é o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Se hoje crescermos na nossa capacidade de amar, hoje crescemos na capacidade de participar na comunhão da Família de Deus.

São Paulo diz que estamos na plenitude dos tempos. Is quer dizer que o mistério de Cristo introduziu a Humanidade na fase dos acabamentos.

Antes do mistério da Encarnação, a Humanidade estava em processo de gestação humana. Com a ressurreição de Cristo, os tempos chegaram à plenitude, isto é, começou o parto que dá início ao nascimento dos filhos de Deus.

O Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar conduz o processo deste nascimento e leva-nos a clamar “Abba”, Pai Querido (Gal 4, 4-7).

A Plenitude dos tempos começou com o mistério da Encarnação, dando início ao enxerto do divino no humano no íntimo de Jesus de Nazaré.

No momento da sua ressurreição Jesus entra nas coordenadas da universalidade, difundindo o Espírito da Encarnação pelo tecido da comunhão humana universal.

De facto, a nossa fé afirma que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo que, ao ressuscitar Jesus nos ressuscita e incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-17).

Isto que dizer a nossa vida, vista à luz do mistério de Cristo tem sabor a eternidade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CONTEÚDOS DA FÉ EM FRASES CURTAS

I-A ARTE DE CONSTRUIR O HOMEM

A única força de que dispomos para ajudar os outros a entrar no caminho do amor é amá-los.
O amor propõe-se, mas jamais pode impor-se. De facto, ninguém é capaz de fazer uma lei que obrigue as pessoas a amar.

Isto quer dizer que a pessoa humana não é capaz de amar se não for amada primeiro. Ao criar-nos, Deus capacitou-nos para amar, mas para isso teve de nos amar primeiro.

Eis as palavras da Primeira Carta de São João: “Nós amamos graças ao facto de Deus nos ter amado primeiro” (1 Jo 4, 19).

O amor como capacidade de eleger o outro como alvo de bem-querer tem como raiz a liberdade.
O facto de uma pessoa não nos amar como nós quereríamos não significa que não esteja a amar-nos com o melhor das suas forças.

A caridade é o amor ao jeito de Deus, isto é, o amor universal e incondicional. A caridade tem como raiz a pessoa do Espírito Santo, o qual optimiza o amor humano conferindo-lhe um jeito semelhante ao amor de Deus.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Ao atingir a complexidade humana, a evolução da vida entrou no limiar das relações amorosas.

Na raiz do mistério da vida está Deus. Enquanto emergência natural, a vida é o impulso interno que anima a interacção entre a estrutura do ser vivo e as suas funções.

O Homem é capaz de criar uma estrutura orgânica em laboratório, mas não é capaz de activar a função interna desta mesma estrutura.

A vida pessoal humana, atinge o nível de imagem de Deus. Vista a este nível, a vida aparece-nos como talhada para o dom: quanto mais se dá mais se possui.

Ao darmos as nossas coisas materiais ficamos sem elas. Com a vida espiritual acontece o contrário: quanto mais nos damos, mais nos possuímos.

A nível espiritual a pessoa emerge e estrutura-se através de saltos qualitativos possibilitados pelas relações de amor.

O Homem faz-se, fazendo. O que realiza a pessoa não é o que ela tem, mas as suas opções de amor.

Por outras palavras, a pessoa não vale pelo que tem mas por aquilo em que se vai tornando à medida que se realiza como ser único, original e irrepetível.

O pessoa humana é um ser alicerçado na sua condição de ser único, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.

Na verdade, a pessoa só se possui no face a face da comunhão amorosa. Reduzida a si, a pessoa não se possui nem encontra a sua plenitude.

Somos chamados a fazer da nossa vida uma obra-prima de humanidade através de relações de amor.

O Espírito Santo é a fonte da verdade. Pecar contra o Espírito Santo é negar o bem evidente ou atribuí-lo a uma fonte maléfica.

Quanto mais o ser humano se humaniza mais humilde se torna. A humildade é a atitude da pessoa que tenta situar-se numa linha de verdade tanto em relação a si como nas relações com os outros.

A pessoa humilde tem uma consciência muito clara deste princípio: Todos temos a possibilidade de ser válidos. Mas só Deus é imprescindível.

A Palavra de Deus transforma a nossa mente, ajudando-a a descobrir sentidos para as coisas e os acontecimentos.

Por seu lado, o Espírito Santo transforma os nossos corações optimizando a nossa capacidade de amar e fazer o bem.

Deus Pai criou-nos para sermos para sermos seus filhos. Nunca houve um momento em que Deus Pai não fosse Pai. Isto quer dizer que nunca houve um momento em que o Pai existisse e o Filho não.

Na verdade, não pode existir um Pai sem que exista um filho ao mesmo tempo.A prova de que Deus não é uma inutilidade para nós é o facto de a pessoa que procura realizar interagindo e contando com Deus tem resultados totalmente diferentes.

II- JESUS E A SALVAÇÃO UNIVERSAL

A perfeição da pessoa atinge-se através do dom. A plenitude da pessoa depende da densidade com que ela se dá aos outros.

A nível natural, a marcha da vida termina na morte. Mas com Jesus ressuscitado, a vida venceu a lei da morte.

A ressurreição de Cristo significa a vitória vida sobre a morte. Cristo ressuscitado, diz São Paulo, já não morre mais, pois a morte já não tem domínio sobre ele (Rm 6,9). Ele é o Novo Adão (Rm 5, 17-19).

Ao ressuscitar, Jesus Cristo difundiu para nós a dinâmica recriadora do Espírito Santo, o qual vai corrigindo no nosso íntimo as distorções herdadas do Velho Adão.

A cruz é o sinal vitória de Jesus Cristo sobre a morte, pois a ressurreição de Jesus aconteceu na cruz, não no túmulo.

No momento da sua ressurreição, Jesus entrou na morada de Deus com todos os que tinham coração capaz de amar e comungar.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas e que constitui a interioridade máxima do Universo.

Deus vem sempre a nós a partir de dentro. E nós, para nos encontrarmos com Deus temos de entrar no mais íntimo do nosso ser.

No momento de morrer e ressuscitar sobre a cruz, Jesus garantiu ao Bom Ladrão que nessa mesma tarde estariam os dois na plenitude do Reino de Deus:

“Em verdade te digo, disse Jesus, que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).
No momento de Jesus morrer e ressuscitar, as pessoas que o precederam na História entraram com ele na plenitude da Vida Eterna.

Isto não quer dizer que essas pessoas mudaram de lugar, mas sim que foram assumidos numa nova densidade espiritual, pois passaram a interagir em comunhão directa com Deus.

Isto foi possível porque Jesus Cristo, como homem, faz uma união orgânica, isto é, interactiva, fecunda e dinâmica, animada pelo Espírito Santo.

A salvação, portanto, é para todos os seres humanos capazes de amor e comunhão. Isto quer dizer que as pessoas que optaram pelo amor têm a Vida Eterna.

Por outras palavras, as pessoas que se optaram pelo ao amor têm a Vida Eterna. Com efeito, não há salvação fora de Jesus Cristo, mas isto não significa que a salvação é apenas para os cristãos.

Os cristãos formam um povo chamado a celebrar e anunciar a todos os povos o projecto universal da salvação.Por se ter dado totalmente, Jesus Cristo é a cabeça da Nova Humanidade e a sua vida passou a ser de todos nós.
III-OS CRISTÃOS E A EVANGELIZAÇÃO
Evangelizar é convidar os Homens a ser irmãos. O caminho da abundância e do sucesso humano passa pela partilha e a cooperação entre as pessoas, as instituições e as nações.

A Humanidade só terá um futuro com sucesso se as pessoas e as nações aprenderem a pôr as riquezas ao serviço do bem de todos.

Do mesmo modo, é fundamental pôr o poder ao serviço da fraternidade e o prazer ao serviço do amor.

A nossa vida tem sentido na medida em que vivemos para amar e nos vamos gastando pelas causas do amor.

Ao dar o mandamento do amor aos discípulos, Jesus estava a ensinar-lhes a arte de conhecer Deus, pois ninguém o pode conhecer se não amar os irmãos (1 Jo 4, 16).

A nossa fé tem como fundamento a mensagem da bíblia, esclarecida no nosso coração pela acção do Espírito Santo.

Tocar o coração de Deus é sintonizar com a acção do Espírito Santo em nós. São Paulo diz que é em sintonia com Deus que o Espírito Santo intercede em nós e por nós (Rm 8, 26-27).

A bíblia não é a Palavra de Deus encadernada. Não é correcto agarrarmo-nos à bíblia como se as suas palavras fossem uma verdade mágica.

A bíblia é um conjunto de narrações que nos descrevem as experiências primordiais da nossa fé e, portanto, são mediação para acontecer em nós a verdade da revelação de Deus.

A bíblia não analisa factos à maneira de um historiador, mas conta histórias para dizer a verdade e a força salvadora de Deus a actuar na História.

Evangelizar é comunicar a alegria da fé e criar condições para que esta seja saboreada e celebrada de modo comunitário.

Evangelizar é ajudar as pessoas a descobrir e saborear uma história de amor da qual elas também fazem parte.

A qualidade da nossa evangelização depende da compreensão que temos de Deus e do Homem e da nossa abertura à acção do Espírito Santo em nós.

Por outras palavras, quanto melhor conhecermos a Deus mais qualidade terá a nossa evangelização.

Quanto mais as pessoas crescem na fé, mais capacitadas estão para descobrir as impressões digitais de Deus no entretecido da criação e na cadeia dos acontecimentos da História.

Uma mente que não evolua na capacidade de criar sentidos para a Vida e de interpretar os acontecimentos à luz da Palavra de Deus não será capaz de crescer na fé.

A evangelização deve conduzir a Cristo, pois ele é o ponto de encontro do melhor de Deus com o melhor do Homem.

A Encarnação é uma dinâmica de grandeza humano-divina que constitui uma união orgânica entre Deus e o Homem.

A partir do momento da Encarnação o Humano e o divino ficam unidos de modo orgânico e intrínseco como a cepa da videira com os seus ramos (Jo 15, 1-7).

A seiva que alimenta e revigora esta união orgânica é o Espírito Santo. É esta a verdade que afirmamos quando dizemos que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo.

É este o conteúdo da Nova Aliança, o qual não assenta na letra que mata, diz São Paulo, mas no Espírito Santo que vivifica (2 Cor 3, 6).

Isto significa que o Espírito Santo é o sangue da Nova Aliança, o qual leva a vida divina a todas as articulações e junturas que ligam a Humanidade.

Evangelizar é ajudar o Homem a amar a natureza como um dom especial de Deus. A natureza está zangada com o Homem. Isto quer dizer que Deus está magoado com o modo como o Homem se relaciona com a natureza.

É verdade que a natureza não precisa do Homem para se realizar de modo harmonioso nos seus ciclos: Primavera, Verão, Outono e Inverno.

Mas o Homem pode agir contra o plano de Deus, alterando a harmonia da natureza. A natureza não precisa do Homem para realizar o plano de Deus, mas o Homem precisa da Natureza para se realizar como de modo equilibrado e feliz.

O animal não precisa de sentidos para viver. O Homem, pelo contrário, não se pode realizar sem sentidos e opções correctas em relação ao sentido da vida e às exigências da Criação.
O Reino de Deus é a face interior da realidade. A Beleza e a bondade são os únicos reflexos de Deus que o ser humano pode contemplar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O ESPÍRITO SANTO COMO FORÇA DA SALVAÇÃO

Espírito Santo,

És a ternura maternal de Deus, e nós chamamos-te a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade!

A tua presença no nosso íntimo é uma força que nos estimula, ilumina e ajuda a ser livres.

Tu és a seiva que circula de Jesus Cristo, a cepa da videira, para nós que somos os ramos dessa videira.

Sem a tua presença no nosso coração nós seríamos ramos estéreis (Jo 15, 4-5).

Tu consagraste Jesus, capacitando-o para realizar a sua missão messiânica, como diz o evangelho de São Lucas:

“O Espírito de Deus está sobre mim porque me consagrou para anunciar o Evangelho aos pobres.

Enviou-me a proclamar a libertação dos presos e a mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18).

Na segunda Carta aos Coríntios, São Paulo diz que tu és a fonte da liberdade.

Eis as suas palavras: “Cristo ressuscitado é um ser espiritual. Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

És tu quem nos capacita para fazermos o bem. Todos os nossos de amor encontram em ti a sua origem.

Sem a tua presença inspiradora no coração de cada um de nós, as Sagradas Escrituras não passariam de letra morta.

É isto que São Paulo quer dizer quando diz que a letra mata, mas o Espírito Santo dá vida (2 Cor 3, 6).
Foi a tua presença no coração de Jesus que activou o processo da sua morte e ressurreição no alto da cruz.

Enquanto em Jesus ia morrendo o que no Homem é mortal, aquilo que no ser humano é imortal ia sendo glorificado e assumido na comunhão da Santíssima Trindade.

Deste modo, quando morreu o último elemento daquilo que no Homem é mortal, aquilo que no ser humano é imortal já estava ressuscitado, isto é, assumido e incorporado na Comunidade Divina.

Espírito Santo, o que fizeste em Jesus Cristo está a acontecer nos seres humanos que todos os dias passam das coordenadas do tempo e do espaço, a sendo assumidos e incorporados na Família de Deus.

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que todos os que são movidos pelo Espírito Santo são Filhos de Deus (Rm 8, 14).

Noutra passagem desta mesma Carta afirma que tu és o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Tu és o princípio interactivo do mistério da Encarnação, unindo de modo orgânico a interioridade divina do Filho Eterno de Deus com a interioridade humana de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Com teu jeito maternal de amar tu és a força amorosa que fazes brotar um rio de Vida eterna nos nossos corações, como diz Jesus no evangelho de São João (Jo 7, 37-39).

Foste tu quem potenciou o amor maternal de Maria, a fim de ela amar o seu Filho com o jeito do próprio Deus.

O teu amor maternal, Espírito Santo, é o beijo que Deus deu ao barro primordial do qual saiu Adão, comunicando-lhe o hálito da Vida (Gn 2, 7).

Apesar de o homem exterior se degradar com os anos, diz São Paulo, o interior, por ser espiritual, é constantemente fortalecido por ti, Espírito Santo (2 Cor 4, 16).

Glória a ti que és o Sangue da Nova Aliança que faz circular em nós a força vital de Cristo ressuscitado (Jo 6, 62-63).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O MISTÉRIO DA NATUREZA HUMANA

Pai Santo,
A grandeza da tua sabedoria revela-se de modo admirável no conjunto das tuas obras.
Mas é na Natureza humana que tu revelas de modo especial a tua sabedoria e o teu amor criador.

A natureza humana é um princípio de acção que dinamiza e coordena a estruturação do Homem, tanto na singularidade das pessoas, como na totalidade da comunhão humana universal.

A nível pessoal, a natureza rege a emergência espiritual do ser humano, bem como a sua identidade e estruturação pessoal.

A natureza humana apenas realiza a sua perfeição com a vida pessoal-espiritual. É a este nível que atinge a plenitude em Deus.

Na verdade, a natureza humana concretiza-se em pessoas e a divina também. Graças à força criadora da natureza humana, a pessoa acontece de modo gradual e progressivo como ser livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Para isso, a natureza oferece à pessoa uma série de talentos que lhe dá a possibilidade de se realizar de modo único, original e irrepetível.

O ser humano começa por ser um dado biológico, mas está geneticamente programado para atingir o nível espiritual.

Na verdade, recebemos a nossa identidade genética, isto é, o nosso ADN com o seu feixe de possibilidades no momento da nossa concepção.


O conjunto dos nossos talentos genéticos interage com os nossos talentos históricos, sobretudo com o contexto em que nascemos e nos fomos estruturando.

Nesta interacção o amor é a dinâmica fundamental da estruturação da pessoa. Por outras palavras, o nosso ser espiritual emerge em processo histórico e a dinâmica que o faz emergir é a força das relações de amor.

A configuração da nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e nos relacionarmos. A nossa identidade genética é mortal, mas a nossa identidade espiritual é imortal e está chamada à Comunhão Universal da Família de Deus.

Ao contrário da identidade genética, a identidade espiritual de uma pessoa depende dela, pois as pessoas humanas são seres em construção.

Isto quer dizer que a vida espiritual e a comunhão amorosa constituem o ponto mais alto da força criadora da natureza humana.

Mas também é verdade que o ser humano, através do pecado, é capaz de matar as possibilidades mais nobres da natureza humana.

O pecado é sempre uma oposição às propostas e interpelações do amor. Ao dizer não ao amor, o pecador diz não à sua humanização e à humanização das pessoas que marca de modo negativo.

A natureza divina não é uma realidade estática e a humana também não.
A vertente biológica da natureza, interagindo com a vertente social e cultural constituem o leque primordial dos talentos ou possibilidades de realização de cada pessoa.

O ser humano começa por ser o que os outros fizeram dele, como diz o evangelho de São Mateus na parábola sobre os talentos:
Uns recebem cinco, outros três, dois ou um (Mt 25, 14-30). Ninguém é herói por receber cinco, e ninguém é culpado por receber um.

A heroicidade radica na fidelidade a esses talentos. É este o modo de edificarmos a vida eterna.
A luta das ciências contra o envelhecimento e a morte estão a conseguir progressos dignos de admiração.

Mas não nos devemos esquecer de que a vocação fundamental do Homem não é apenas prolongar indefinidamente a vida mortal, mas sobretudo construir a vida eterna.
A vida eterna é a vida pessoal-espiritual, n ão a vida pessoal biológica. À medida que emerge e se estrutura, o nosso ser espiritual emerge capacitado para a comunhão universal da Família Divina.

Vale a pena no que São Paulo diz a este respeito: “Por isso não desfalecemos. Apesar de em nós, o homem exterior caminhar para a ruína e a morte, o homem interior renova-se e robustece-se dia a pós dia pelo Espírito Santo.

De facto, a nossa tribulação momentânea proporciona-nos um peso eterno de glória, muito além do que possamos calcular.

Por isso não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, pois as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18)

A natureza humana e a natureza divina concretizam-se em pessoas talhadas para a comunhão na qual encontram a sua plenitude.

As pessoas humanas estão a realizar-se como seres proporcionais às pessoas divinas e, portanto, capazes de comungar familiarmente com as pessoas divinas.

Por outras palavras, as pessoas humanas não são iguais às divinas, mas são-lhe proporcionais. Por isso já pode acontecer comunhão amorosa entre Deus e o Homem.

A pessoa de Deus Pai e a pessoa de Deus Filho formam uma interacção orgânica ao ponto de Jesus chegar a dizer que ele e o Pai são um” (Jo 10, 30).

Do mesmo modo a Humanidade, graças ao mistério da Encarnação, passou a fazer uma interacção orgânica e dinâmica com Cristo.

No evangelho de São João, Jesus descreve de maneira muito bonita a união orgânica da natureza divina com a natureza humana através do mistério da Encarnação:

“Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer.

Se alguém não permanece em mim, é lançado fora como um ramo e seca. Depois é lançado ao fogo e arde” (Jo 5, 6).

Como vemos, a plenitude da natureza humana, é a sua divinização, a qual acontece na dinâmica da comunhão orgânica com as pessoas divinas.

Pai Santo,Louvado sejas por esta união orgânica que confere plenitude divina à natureza humana.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


sábado, 6 de fevereiro de 2010

CRISTO É A META DO PLANO CRIADOR DE DEUS

A Criação é a concretização de uma obra-prima que emerge de um plano cheio de sabedoria e amor.

Neste plano tudo tem finalidade e está cheio sentido. Nada brota do acaso ou do destino. Tudo acontece segundo uma sequência de causas e efeitos.

O princípio que dinamiza esta sequência criadora é o amor, pois como sabemos, Deus é amor.
Vista à luz da fé, a criação é um testemunho vivo da grandeza de Deus e da sua capacidade criadora.

Tudo brota de uma comunhão amorosa de três pessoas e tudo caminha para o grandioso encontro da Humanidade com a Divindade.

Jesus Cristo é o ponto de encontro do melhor de Deus com o melhor da Humanidade. Nele não
havia intenções retorcidas e falsas.

Passou a vida a fazer bem a toda a gente, partilhando os bens, a Palavra de Deus e a própria vida.

Após a sua ressurreição fez de nós os ramos da videira da qual ele é a cepa. O Espírito Santo é a seiva que vem da cepa para aos ramos, tornando-nos fecundos (Jo 15, 4-5).

O seu jeito de acolher os pobres e perdoar aos pecadores é a expressão fiel do amor de Deus para com a Humanidade.

Foi Por esta razão que um dia ele disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). E depois acrescentou: “Quem me vê, vê o Pai (Jo 14, 9).

Deu-se totalmente à Humanidade. É por esta razão que a sua vida, agora, é de todos nós. É este o sentido profundo na comunhão da Eucaristia: Eis o que ele diz no evangelho de São João:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele” (Jo 6, 56).
A fidelidade de Jesus consistiu nisto: foi tentado como nós, mas permaneceu sempre fiel à vontade do Pai do Céu.

Ao ressuscitar, comunicou-nos a semente da vida Nova, isto é, o Espírito Santo que é o amor de Deus derramado nos nossos corações, diz São Paulo (Rm 5, 5).

No alto da Cruz, a força ressuscitadora do Espírito Santo actuou em Jesus, glorificando-o e incorporando-o na comunhão de Deus.

À medida que morria nele aquilo que nos homens é mortal, o que em nós é imortal, ia sendo glorificado e assumido na comunhão da Família Divina.

Esta vitória da vida sobre a morte em Jesus fez que ao morrer o último elemento do que era Jesus era mortal o que nele era imortal já estivesse totalmente glorificado.

Deus foi fiel totalmente fiel, impedindo que ele ficasse um só instante sob o domínio da morte.
A Carta aos Hebreus diz que foi precisamente isto que Jesus pediu ao Pai no Jardim das Oliveiras:

“Nos dias da sua vida terrena, Jesus, com grande clamor e lágrimas, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte. E foi atendido em atenção à sua fidelidade (Heb 5, 7).

No mistério da Santíssima Trindade, o Espírito Santo é o vínculo de união do Pai com o Filho, agindo como força dinamizadora de comunhão.

No mistério da Encarnação, actua do mesmo modo como vínculo de união do Filho Eterno de Deus com o Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Esta união orgânica e dinâmica do Filho Eterno de Deus com Jesus de Nazaré é o ponto de emergência e difusão da vida Nova dos Filhos de Deus.

É aqui a Nascente da Salvação e a assinatura da Nova e Eterna Aliança entre Deus e o Homem.
À medida que vamos sendo integrados na dinâmica da Nova Aliança, o Espírito Santo vai-nos incorporando na Família de Deus e vai-nos conduzindo à Verdade Plena, diz Jesus no evangelho de São João (Jo 14, 25-26).
Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PEDINDO A DEUS A SABEDORIA DOS PROFETAS

Trindade Santa,
Vós sois o único Deus Verdadeiro, a nossa origem e a meta da nossa História! A génese do Universo teve início em Vós, Deus Bendito, Nada existiu antes de Vós.

Vós sois o criador de todas as coisas, mas não vos confundis com nenhuma delas. A Carta aos Efésios diz que Vós sois o princípio unificador de toda a Criação. Eis as suas palavras:

“Há um só Corpo e um só Espírito. Existe apenas uma esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus Pai que é Pai de todos” (Ef 4, 4-6).

Filho Eterno de Deus,
Nós te damos graças pelo mistério da Encarnação, graças ao qual nós passamos a ser membros da Família Divina.

Ao falar da tua vinda, o evangelho de São João diz que te tornaste nosso irmão por amor e ainda assim foste rejeitado:

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas aos que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo Encarnou e veio habitar no meio de nós. Nós vimos a sua glória, essa que ele possui como Filho Unigénito do Pai, Cheio de Graça e de Verdade” (Jo 1, 12-14).

Espírito Santo
Tu és quem imprime nos nossos corações com os talentos, isto é, as possibilidades de que dispomos para levar por diante a tarefa da nossa humanização.
Espírito Santo
Com o teu jeito maternal de amar tu dinamizas e fortaleces a nossa comunhão com o Pai e o Filho, introduzindo-nos na comunhão familiar de Deus.

Nós sabemos que és tu, Espírito Santo, quem fortalece e anima esta imensa comunhão orgânica que une a Humanidade.

Também és tu o vínculo maternal da comunhão orgânica que une a divindade com a Humanidade.

Por outras palavras, tu és o coração que dinamiza o mistério da Encarnação, essa interacção humano-divina que une de modo orgânico a interioridade humana de Jesus com a interioridade divina do Filho Eterno de Deus.

Pai Santo, dá-nos essa Sabedoria que está contigo desde sempre, como diz o Livro da Sabedoria:
“A intimidade da Sabedoria com Deus indica a nobreza da sua origem, pois o Senhor do Universo amou-a desde toda a eternidade.

A Sabedoria está iniciada na ciência de Deus e foi ele quem inspirou as obras da Criação (…). Se há alguém que deseje uma vasta experiência, una-se à Sabedoria, pois ela conhece o passado e prevê o futuro.

A Sabedoria penetra as subtilezas da linguagem e tem a chave dos enigmas. Sabe interpretar os sinais e prodígios e antecipa o sentido das idades e dos tempos” (Sb 8, 3-8).

E depois acrescenta: “Deus de Bondade, dá-me a Sabedoria que se senta junto do teu trono, a fim de eu pertencer ao número dos teus filhos.

Mesmo que alguém fosse perfeito entre os homens, nada seria sem a sabedoria que vem de ti” (Sb 9, 4-6).

Suscita-nos, Espírito Santo, homens sábios que possam transmitir-nos a Palavra de Deus ao jeito de Cristo, a fim de caminharmos de modo seguro para ti.

Envia-nos profetas que denunciem a hipocrisia dos poderosos que exploram e machucam os pobres sem pudor nem vergonha.

Devido ao materialismo que reina nas nossas sociedades, a Humanidade está a perder os horizontes da sabedoria que brota da tua Deus.

Espírito Santo
Dá-nos bons evangelizadores, a fim de aprendermos a separar com clareza o bem do mal e a ter um sentido claro do mistério de Deus e do Homem.

Capacita os cristãos para serem testemunhas do Evangelho, pois vivemos num mundo sem esperança.

Precisamos de homens e mulheres apaixonados pelo trabalho da evangelização do mundo, a fim de os seres humanos conhecerem a verdade da salvação em Cristo.
Dá-nos homens corajosos que sejam no mundo uma luz capaz de nos ajudar a caminhar no sentido da justiça e da paz.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias