sábado, 30 de agosto de 2008

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-I

I-ESPERANÇA E COMPROMISSO HISTÓRICO

Foi a força da esperança que alimentou a caminhada histórica do Povo Bíblico. Na verdade, a expectativa da vinda do Messias era um motivo de esperança para as pessoas, levando-as a comprometer-se com a vida, mesmo nos momentos mais difíceis.

A vinda do Messias foi esperada ao longo dos mil anos que precederam o acontecimento de Jesus Cristo.

A primeira profecia data dos anos mil antes de Cristo. Trata-se de um oráculo do profeta Natã dirigido ao rei David, garantindo-lhe que Deus tem em mente suscitar um filho a David, o qual será adoptado como filho de Deus (2 Sam 7, 12-16).

O Novo Testamento é a proclamação de que Deus realizou o prometido a David. O Senhor Deus é fiel e verdadeiro, pois realizou em Jesus Cristo o que prometera a David (Lc 1, 30-33).

Sem o Novo Testamento, o Antigo era um projecto falhado, pois Deus não realizou o que prometeu a David e aos profetas.

Podemos dizer que o Novo Testamento é o alicerce da nossa esperança, pois confirma que Deus é um fiel e verdadeiro.

Se Deus realizou em Jesus o que prometeu a David, então podemos estar seguros de que também nos concederá o que nos revelou e realizou em Jesus Cristo.

É esta a razão pela qual São Paulo chama a Deus o Deus da esperança: “Que o Deus da esperança vos encha de alegria e paz na vossa fé, a fim de abundardes na Esperança pela força do Espírito Santo” (Rm 15, 13).

A Carta aos Tessalonicenses diz que a nossa esperança é uma dádiva de Deus: “Que Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus seu Pai confirmem a esperança, consolem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras” (2 Tes 2, 16-17).

A primeira carta a Timóteo diz que os pobres, os fracos e os desprotegidos devem reforçar a sua confiança no Deus que liberta e nunca falha:

“A viúva que ficou sozinha no mundo deve pôr a sua esperança em Deus, perseverando noite e dia em oração” (1 Tim 5, 5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-II


II-ESPERANÇA E FIDELIDADE DE DEUS

Deus é a razão sólida da nossa esperança, pois é fiel mesmo quando nós somos infiéis:

“Mesmo quando nós somos infiéis, Deus continua fiel, pois não se pode contradizer a si mesmo” (2 Tim 2, 13).

Também a carta aos Hebreus diz que o fundamento da nossa esperança é a fidelidade de Deus:
“Conservemo-nos firmemente apegados à nossa esperança, pois o que fez a promessa é fiel” (Heb 10, 23).

Os que fundamentam a sua esperança nas riquezas, estão a edificar para o fracasso, diz a primeira carta a Timóteo:

“Recomendo aos ricos de bens deste mundo que não sejam orgulhosos nem confiem na incerteza das riquezas, mas sim em Deus, que nos dá todas as coisas com abundância, a fim de nos servirmos delas.

Recomenda-lhes que façam o bem, a fim de se tornarem ricos em boas obras. Que sejam generosos e liberais, entesourando para si um sólido tesouro para o futuro, a fim de conquistarem a vida verdadeira” (1 Tim 6, 17-19).

Por ter como fundamento a Palavra de Deus, a esperança cristã confere aos crentes os critérios certos para valorizar e dar sentido às coisas e os acontecimentos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-III

III- JESUS CRISTO E A ESPERANÇA CRISTÃ

Jesus Cristo é o alicerce sólido da nossa esperança. São Paulo diz que pretender obter a salvação noutra mediação é caminhar para o fracasso.

Os que tentam virar-se para a lei de Moisés estão a separar-se de Cristo, pretendendo obter a salvação por caminhos errados.

Eis as suas palavras: “Estais separados de Cristo. Ao procurardes a justificação pela Lei decaístes da graça.

Quanto a nós é pelo Espírito que aguardamos a salvação esperada pela fé. De facto, em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão têm qualquer valor, mas a fé que actua pela caridade” (Gal 5, 4-6).

A meta da nossa esperança é a comunhão definitiva com Deus na qual somos incorporados pelo Espírito Santo, diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 14-17).

Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem temos acesso, pela fé, a esta graça na qual permanecemos e também nos gloriamos, apoiados na Esperança da glória de Deus (Gal 5, 12).

A esperança abre-nos um horizonte maravilhoso de comunhão familiar com Deus. Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Romanos:

“Não só a Criação, mas também nós que possuímos as primícias do Espírito gememos, guardando a filiação adoptiva e a nossa libertação.

Com efeito, foi na esperança que fomos salvos. Mas o conteúdo da esperança é algo que não se vê.

Na verdade, o que se vê não é a esperança, pois como é que alguém pode esperar aquilo que vê?
Mas se esperamos o que não vemos com paciência o esperamos” (Rm 8, 23-25).

Em Comunhão Com Deus
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-IV

IV-ESPERANÇA E MATURIDADE CRISTÃ

A Carta aos Hebreus aconselha os cristãos a manter firme a esperança, a fim de terem a força necessária para enfrentar as dificuldades:

“Desejamos, porém, que cada um de vós mostre um zelo e confiança semelhantes aos dos antigos patriarcas, a fim de manter intacta a sua esperança até ao fim” (Heb 6,11).

A confiança em Deus é o suporte da nossa esperança e, portanto, a certeza de obter os dons que ele prometeu e reservou para nós diz a Carta aos Hebreus:

“Abraão, esperando com paciência, alcançou a realização da promessa” (Heb 6, 15). A fé, a esperança e o amor caminham juntas.

A esperança e a Fé concretizam-se em atitudes que configuram o jeito de viver dos que são animados pela Palavra e o Espírito Santo.

São Paulo pensa que não é possível ter uma fé sólida sem ter uma esperança e um amor em densidade igual:

“Recordamos o dinamismo da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a constância da esperança que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 1, 3).

Na Carta aos Efésios, São Paulo diz-lhes que estes, antes da sua conversão, não pertenciam ao povo eleito.

Estavam alheios às alianças e às promessas, gente sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2, 12).

A esperança é uma dimensão fundamental da pessoa em construção histórica. É pela esperança a pessoa antecipa um resultado positivo ou uma expectativa que se apresenta como promissora de um futuro bom.

É pela porta da esperança que entramos de modo criador na dimensão do futuro. Na verdade, o futuro de uma pessoa é o que lhe falta para atingir a sua plenitude.

As pessoas divinas não têm futuro, pois não são seres em realização. O mesmo acontece com as pessoas humanas que já partilham a plenitude da comunhão familiar com Deus.

Enquanto está na História, o crente não pode atingir a sua maturidade cristã sem a esperança.

Por estar alicerçada na Palavra de Deus, a esperança cristã abre a mente e o coração dos crentes para horizontes que ultrapassam o futuro histórico.

De facto, por estar alicerçada na revelação, a nossa esperança não se confunde com a utopia, essa capacidade humana de imaginar um mundo diferente.

A utopia é um sonho que idealiza uma Nova Humanidade, mas sem alicerces sólidos no presente.
O futuro, para ter alicerces sólidos, precisa de assentar sobre as colunas do passado e do presente.

Como seres históricos, as pessoas humanas, para se dizerem precisam de contar uma história com passado e presente.

Do mesmo modo, o que essa pessoa irá fazer amanhã depende em grande parte do que ela fizer hoje.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-V

V-ESPERANÇA E REVELAÇÃO

Quando o ser humano começa a olhar a realidade com as lentes da Palavra de Deus o seu presente é optimizado e o seu futuro torna-se um apelo a realizar os melhores dos seus talentos.

Com efeito, a Palavra de Deus optimiza o sentido da vida, conferindo horizontes novos e inimagináveis à dimensão da esperança.

A esperança cristã tem, pois, os horizontes da Palavra de Deus e não apenas os da razão humana.

Por outras palavras, a esperança cristã não é um desejo vago do coração humano, mas uma abertura ao futuro, tal como ele se revela nas Escrituras.

A esperança cristã tem como alicerce o plano de Deus para a História, a Humanidade e sua vontade salvadora para cada ser humano.

A nossa fé diz-nos que e a esperança é um dom de Deus e não apenas uma conquista da inteligência humana.

O Espírito Santo, ao dizer a Palavra de Deus no nosso coração, capacita-nos para olhar o sentido da nossa história pessoal dentro da História Universal e do plano salvador de Deus.

Eram estes os horizontes de plenitude que levavam São a dizer com esperança que já somos filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros do Filho de Deus (Rm 8, 14-16).

Tenho a certeza, acrescentava ainda, de que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a alegria e felicidade que possuiremos em Deus (Rm 8, 18).

A esperança cristã facilita-nos a vivência do baptismo no Espírito, isto é, a abertura à presença criadora do Espírito Santo no nosso íntimo, conduzindo-nos para a plenitude de Deus.

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5)

Devemos estar abertos e atentos aos apelos do Espírito Santo, pois ele habita em nós como num templo (1 Cor 3, 16).

A esperança cristã não nos desvia da grande tarefa de construir a História e o Homem. Podemos dizer que a Esperança fortalece o coração dos crentes para compromissos novos, pois optimiza o sentido da vida, conferindo-nos novas razões para nos empenharmos.

Na verdade, o plano salvador que Deus nos revelou fortalece a nossa esperança, pois dá-nos a certeza de que o nosso presente é fruto da fidelidade de Deus no passado.

Eis o que diz a Carta aos Efésios: “Foi assim que Deus nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo.

Deste modo, Deus nos chama a ser santos e irrepreensíveis no amor, caminhando na sua presença.

Na verdade, Deus predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade” (Ef 1, 4-5).São Paulo diz que o alimento da nossa esperança é a Palavra de Deus:

“Tudo o que foi escrito no passado, diz ele, foi escrito para alimentar a nossa esperança” (Rm 15, 4).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-VI

VI-ESPERANÇA E PLENITUDE HUMANA

Quanto mais a esperança se torna o motor do nosso agir, mais Cristo se torna a razão da nossa vida.

Eis as palavras da Carta aos Filipenses a este propósito: “Para mim, viver é Cristo e morrer é um lucro” (Flp 1, 21).

A esperança dá-nos a certeza de que não estamos abandonados por Deus. Eis o que diz o profeta Jeremias: “Conheço muito bem os planos que fiz para vós, diz o Senhor.

São planos para prosperardes e não serdes aniquilados. Planos para fortalecer a vossa esperança num futuro bom.

Nessa altura chamareis por mim, far-me-eis a vossa oração e eu escutar-vos-ei” (Jer 29, 11-12).
Mesmo no meio das dificuldades, a esperança dá-nos a certeza de que não estamos sós, pois Deus é fiel e não nos abandona:

“Basta-te a minha graça, pois o meu poder libertador é perfeito quando ajuda a fraqueza” (2 Cor 12, 9).

O evangelho de São João diz que Jesus, na última Ceia, robustece a esperança dos Apóstolos, a fim de estes poderem suportar a dura prova da perda de Jesus:

“Agora estais abatidos, mas ver-vos-ei de novo e vós vos alegrareis de novo. Nessa altura ninguém poderá tirar-vos a vossa alegria” (Jo 16, 22).

A Carta aos Colossenses indica uma norma sábia para o amadurecimento da Esperança cristã:
“Colocai a vossa mente nas coisas do alto e não nas realidades terrenas” (Col 3, 2).

O Salmo 126 exprime de modo muito bonito a força da esperança no coração dos crentes que põem a sua confiança em Deus:

“Os que semeiam com lágrimas irão ceifar com canções de alegria. Os que saem chorando, levando a semente para a sementeira, voltarão com canções de alegria trazendo molhos de espigas consigo” (Sal 126, 5-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-VII

VII- ANUNCIADORES DA ESPERANÇA

A nossa esperança deve ser cultivada, a fim de ser proclamada e testemunhada junto dos nossos irmãos, diz a primeira carta de Pedro:

“Acolhei nos vossos corações Jesus Cristo, o Senhor. Estai sempre preparados para responder aos que vos interrogam sobre as razões da vossa Esperança” (1 Ped 3, 15).

No presente, a luz da nossa esperança apenas nos ajuda a ver a plenitude de modo indirecto.
Com efeito, apesar de ser uma certeza apoiada na fidelidade de Deus, a esperança não é ainda uma evidência.

Mas a mesma esperança garante-nos de que um dia nos encontraremos face a face com Deus.
Nessa altura, diz a Primeira Carta de São João, conhecê-lo-emos como somos conhecidos por ele (1 Jo 3, 2).

Pela esperança nós sabemos que apesar dos nossos sofrimentos e dificuldades Deus tem para nós uma plenitude e uma alegria sem limites.

Nessa plenitude, o único limite será a nossa capacidade de abarcar o amor e comunhão com Deus.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Lucas:

“Bem-aventurados os que agora chorais, pois haveis de rir” (Lc 6, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA ESPEERANÇA-VIII

VIII-ESPERANÇA E CORAGEM DE ARRISCAR

A Carta aos Filipenses diz que a esperança optimiza o dia-a-dia dos crentes, capacitando-os para fazer maravilhas:

Tudo é possível aos que estão em comunhão com Deus (Flp 4, 13). A Carta aos Hebreus diz que Abraão é um modelo de Esperança.

Apesar de a evidência sugerir o contrário, Abraão confiou em Deus abrindo o seu coração à esperança, obtendo assim aquilo que esperava:

“E assim, depois de ter esperado pacientemente, Abraão recebeu o conteúdo da promessa” (Heb 6, 15).

Podemos dizer que a esperança cristã assenta no conhecimento do que Deus nos revela através da sua Palavra.

A nossa esperança ultrapassa os muros apertados da vida que acaba no cemitério, poisa ressurreição de Cristo abre-nos um horizonte de vida sem fim.

Quanto mais cresce a esperança de um cristão, mais este sente capacidade para arriscar e anunciar o Evangelho da salvação aos irmãos.

O evangelho de São Mateus diz que os cristãos estão chamados s ser no mundo um sal que confere sabor às coisas.

Além disso, acrescenta São Mateus, o crente está chamado a ser uma luz que ajuda os seres humanos a olhar a realidade com outros critérios (Mt 5, 13-16).

Graças à nossa esperança, os sofrimentos e a própria morte são vistos como acontecimentos que têm sentido.

Tenho a certeza, diz São Paulo, de que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a alegria e felicidade que nos aguarda o futuro em Deus (Rm 8, 18).

São Paulo diz que as Escrituras são o alimento para a nossa esperança: “Tudo o que foi escrito nas Escrituras foi escrito para alimentar a nossa esperança” (Rm 15, 4).

É a esperança que nos capacita para e celebrar no presente o que havemos de ser no futuro.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-I

I-NATUREZA HUMANA E EMERGÊNCIA PESSOAL

A natureza humana é uma realidade dinâmica, embora não determinista. Na verdade a natureza humana é a fonte do impulso criador da pessoa sempre aberto ao novo e ao diferente.

Como princípio de acção estruturante, a natureza humana suscita novos talentos sempre que o ser humano emerge mediante a realização dos talentos anteriores.

Eis a razão pela qual o Homem é um ser que se faz, fazendo. De facto, a pessoa humana cria-se, criando.

A base do ser da pessoa humana é o seu corpo, embora não se esgote no seu corpo. O nosso corpo liga-nos à Terra da qual obtemos constantemente os elementos essenciais à vida.

É também através do nosso corpo que comunicamos e convivemos com as outras pessoas.
O nosso corpo é um ser vivo que tem necessidades, tais como:

Fome, sede, necessidade de conforto e repouso, de movimento, de sono, de vigília, de higiene e muitas outras.

Muitos dos nossos comportamentos estão marcados e condicionados pelas necessidades do nosso corpo: comer, vestir, higiene, sexualidade etc.

O nosso corpo é também um receptor de ternura. O ser humano precisa muito de receber ternura, condição essencial para a pessoa se estruturar e crescer de modo equilibrado.

As crianças que recebem ternura e carícias desenvolvem melhor as suas capacidades corporais e mentais do que as crianças carenciadas destes elementos.

Por outras palavras, as crianças que receberam muita ternura ficam capacitadas para se tornarem pessoas felizes.

As crianças a quem não foi dada ternura e carinho ficam atrofiadas no corpo e muito mais pobres na sua vida psíquica.

É fácil observar como existe uma grande variedade de comportamentos nos seres humanos.
Muitos destes comportamentos estão ligados ao facto de as pessoas, quando eram crianças, terem ou não recebido carícias e a ternura de que precisavam.

As crianças que não receberam ternura, ao atingirem a idade adulta, relacionam-se de modo distorcido e agem de modo incorrecto quando se trata de satisfazer as necessidades do seu corpo.
Se estivermos atentos, podemos observar em nós, e nos outros, algumas atitudes que não são as mais correctas:

Relações agressivas, necessidade de se compensar com excesso de comida busca exagerada de prazeres e satisfações, intolerância, ou ser demasiado exigente com os outros.

A maior parte destes comportamentos é resultado de as pessoas, quando eram crianças, não terem recebido a ternura e o carinho de que tinham necessidade.

Estudos recentes verificaram que as crianças que foram privadas da ternura e carícias necessárias ficam frágeis, com menos defesas e, portanto, mais sujeitas a doenças.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-II

II-EMERGÊNCIA PESSOAL E RELAÇÕES

Mas para lá vida corporal, temos também o nível da vida psíquica e emocional: Sentimentos, afectos, emoções, desejos, aspirações e o modo de reagir face às situações do dia-a-dia.

A pessoa humana não é uma ilha. Só em relação com os outros se pode realizar. O nosso psiquismo não nasce inteiramente determinado pela herança genética.

O nosso psiquismo estrutura-se e configura-se em grande parte pela dinâmica histórica das relações com os outros.

Por outras palavras, os dados que recebemos pela herança genética podem dar uma pessoa com um determinado jeito de viver, ou com outro bastante diferente.

A nossa inteligência e a nossa vontade não são faculdades isoladas das outras capacidades nem se desenvolve de modo isolado em relação ao contexto social em que a pessoa se realiza.

Por outras palavras, a pessoa humana é um ser histórico. A história das vivências emocionais de uma pessoa condiciona ou possibilita a sua capacidade de entender, decidir e realizar.

A vida psíquica e a vida corporal estão interligadas e fazem parte do ser exterior da pessoa. O ser interior é espiritual e constitui o núcleo pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Por outras palavras, a vida espiritual de uma pessoa é a sua interioridade pessoal, a qual emerge e se fortalece através das relações de amor.

A interioridade espiritual de uma pessoa é aquilo a que a bíblia chama o coração, isto é, o ponto de encontro com Deus e o núcleo a partir do qual a pessoa se decide a eleger o outro como próximo.

É no nosso coração, diz São Paulo, que habita o Espírito Santo (1 Cor 3, 16).

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-III

III-A HUMANIDADE COMO TOTALIDADE ORGÂNICA

A Humanidade é um conjunto incontável de pessoas, ligadas por uma unidade orgânica. Os seres humanos que nos precederam na História continuam a fazer parte da única Humanidade que existe.

Na verdade, os homens de hoje dependem das realizações e conquistas dos homens que nos precederam.

Mas isto é verdade também a nível mais profundo, pois a Humanidade forma uma totalidade orgânica cuja cabeça é Jesus Cristo.

A pessoa humana começa por ser aquilo que os outros fizeram dela, pois é dos outros que recebe os talentos que possibilitam a sua realização.

Mas mais importante do que os talentos que recebeu do outros é o modo como os realiza.
Os talentos são apenas possibilidades de realização e a pessoa realiza-se, realizando.

O evangelho de São João apresenta-nos uma imagem muito sugestiva para exprimir a união orgânica que une a Humanidade com Jesus Cristo:

Jesus é a cepa da videira da qual nós somos os ramos. Nós teremos vida e seremos fecundos na medida em que estivermos unidos a Cristo, como os ramos da videira estão unidos à cepa (Jo 15, 4-5).

São Paulo diz que formamos um só corpo cuja cabeça é Jesus Cristo (1 Cor 10, 17; 12,27). Isto significa que a Humanidade forma um todo orgânico, interactivo e dinâmico.

Por outras palavras, as pessoas que vivem hoje na História, estão espiritualmente interligadas com os que nos precederam ao longo dos séculos.

Na verdade, a Humanidade não é uma sucessão de gerações que caminham isoladamente para o cemitério.

Pelo contrário, os seres humanos que vivem hoje na História formam a geração que está de “turno” na edificação da comunhão humana universal.

A Humanidade está a acontecer como processo histórico, mas a sua plenitude é a comunhão Universal do Reino de Deus.

Por outras palavras, a Humanidade está a emergir de modo único, original e irrepetível no concreto de cada pessoa.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-IV

IV-O HOMEM COMO OBRA-PRIMA DE DEUS

Podemos dizer que a Humanidade, tal como acontece com a Divindade, assenta sobre dois pilares: a pessoa e a comunhão das pessoas.

Na Humanidade não há repetições inúteis, pois cada pessoa é única, original e irrepetível. É por esta razão que ninguém está a mais no projecto da comunhão universal do Reino de Deus.

Os seres humanos que queiram ser construtores da humanidade, têm de edificar na linha da realização pessoal mediante relações de amor.

Na verdade, é esta a lei da humanização: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal”.

De facto, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão. A vida humana é a obra-prima de Deus. É o verso central do poema grandioso da Criação.

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Isto significa que a vida humana leva em si as impressões digitais do Criador.

Foi sonhada por Deus ainda antes de existir, diz o Livro do Génesis (Gn 1, 26-27). A bíblia diz que somos o resultado de um desejo expresso de Deus.

Para inicial a marcha da Humanização, Deus infundiu o hálito da vida no barro primordial do qual saiu o Homem (Gn 2, 7).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-V

V-LUGAR CENTRAL DA VIDA HUMANA

Com o aparecimento do Homem começa a dinâmica do amor na marcha da Criação. De facto, o amor é o motor da marcha da humanização.

Antes do Homem surgir sobre a terra, já havia cores, sons e ritmos. Quando o Homem aparece na marcha criadora do Cosmos, já havia muitos pios, urros, cacarejos, balidos e grunhidos.

Mas ainda não havia um coração capaz de fazer planos de fraternidade e comunhão. Amar é eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitá-lo assim como é, apesar de ser diferente e agir de modo a facilitar a sua realização e felicidade.

O amor é um a dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Antes de o Homem dar entrada no processo histórico da criação ainda não havia, pessoas, isto é, seres capazes de encontro e diálogo com o próprio Criador.

Antes da entrada do Homem nesta terra bonita e fecunda, ainda não havia seres capazes de fazer poesia nem havia uma voz capaz de dizer a Deus: “Amo-te e aceito a tua aliança!”

Por isso o Criador parou a marcha da criação para pensar e sonhar a sua obra-prima. Depois de pensar e planear, Deus decidiu criar o Homem à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27).

Na verdade, o Homem é a única imagem que Deus criou de si. Todas as outras foram feitas pelos homens.

A Divindade é pessoas em relações e a Humanidade também!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O HOMEM E O UNIVERSO-VI

VI-A COMUNHÃO UNIVERSAL COMO META

No concreto de cada ser humano está a emergir o Homem com letra grande, isto é, a Humanidade. Mas a obra ainda não está terminada:

A criança é uma pessoa iniciada, mas longe de estar realizada. O jovem ainda não teve tempo para chegar longe na caminhada da sua maturidade e realização.

Nem mesmo o adulto se pode arrogar o título de pessoa plenamente realizada e acabada.
Cada pessoa é uma concretização histórica, isto é, um pedaço de história personalizada.

De facto, a pessoa, para se dizer, tem de contar uma história. Enquanto estamos no tempo somos seres não acabados, mas já pertencemos à cúpula personalizada da criação.

Na verdade, o Homem já pertence à esfera da transcendência: Transcende o Universo que não é uma pessoa nem uma comunhão de pessoas.

Transcende a Criação que não é capaz de comungar e fazer aliança com Deus. Podemos dizer que a Humanidade é proporcional à própria Divindade e por isso já faz parte Galáxia da Comunhão Universal.

Sem a dinâmica do amo, a pessoa não emerge nem se realiza. Isto quer dizer que a pessoa não é igual diz, mas sim igual ao que faz.

Mas só pode fazer-se em relações. Quem não facilita a génese e realização dos outros não está em sintonia com a acção Criadora de Deus.

A cúpula deste Homem em construção é Jesus Cristo, o fruto mais amadurecido da Humanidade e o ponto de encontro do Humano com o Divino.

Nele aconteceu o enxerto do Divino no Humano, Condição essencial para que o Humano possa ser divinizado.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-I

I-O HOMEM COMO SER HISTÓRICO

Deus não criou o Homem feito. Somos um projecto em realização histórica. A Humanidade acabada e perfeita está no futuro, não no passado.

Na verdade, o Homem não se define pelo seu aparecimento (evolução a partir da vida animal), mas pela plenitude que o aguarda.

Estamos a caminhar para a condição de pessoas assumidas e incorporadas de modo orgânico e interactivo na comunhão Santíssima Trindade.

O Jardim primordial onde o Homem existia como ser perfeito e acabado nunca existiu. O Paraíso como morada do Homem acabado e perfeito foi inaugurado pelo acontecimento da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Foi isto que Jesus declarou ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43).

A inauguração do Paraíso representa um salta de qualidade na marcha histórica do Homem em construção.

Por outras palavras, o acontecimento histórico de Jesus Cristo representa a plenitude dos tempos, isto é, a fase da plenitude que é a divinização do Homem.

Isto quer dizer que a plenitude do Homem não está em si, mas na comunhão com Deus. Se o Homem ainda não está acabado, então temos de dizer que Deus não criou o Homem de uma só vez.

Para sermos exactos temos de dizer que Deus começou a criar, está criando e continuará a criar o Homem até este estar plenamente incorporado na festa da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-II

II-A FORÇA CRIADORA DO AMOR

A razão pela qual Deus não criou o Homem acabado é dar-lhe a oportunidade de tomar parte na dinâmica da sua realização.

Podemos dizer com verdade que somos autores de nós mesmos, mas a partir das possibilidades que recebemos de Deus pela mediação dos outros.

Para atingir a sua plena realização, o ser humano tem de se construir a partir do que recebeu dos outros como possíveis.

Os dons de Deus são-nos sempre concedidos em forma de possíveis, a fim de os podermos aceitar ou não.

A maneira de aceitar os talentos que Deus nos concede é pô-los a render, realizando as possibilidades que eles nos concedem, como diz Jesus no evangelho de São Mateus (Mt 25, 14-30).

Se assim não fosse, os dons de Deus não eram dons, mas imposições. Como sabemos, Deus é amor e o amor nunca se impõe.

Isto quer dizer que Deus respeita profundamente a dignidade do Homem. O Homem está em processo de realização história. A Humanidade está a emergir no concreto de cada pessoa de modo único, original e irrepetível.

À medida que o ser humano emerge como pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar, converge para a comunhão universal da Família de Deus.

Ao iniciar a criação do Homem, Deus quis que este fosse um ser com uma dignidade semelhante à dignidade de Deus.

A identidade espiritual de uma pessoa emerge e fortalece-se de modo gradual e progressivo através do amor.

Na verdade, só o amor pode gerar o amor. Deus amou-nos primeiro, a fim de nós podermos avançar na dinâmica da humanização.

A lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado primeiro. O amor dos outros, portanto, capacita-nos para amar. Eis a razão pela qual os mal amados ficam, a amar mal, isto é, com bloqueios e tropeções.

Estas pessoas, no entanto, não têm culpa de ter sido mal amadas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-III

III-DEUS E A CONSTRUÇÃO DO HOMEM

Como já vimos, os seres humanos começam por ser o que os outros fizeram de eles. O mais importante, no entanto, não são o que recebemos dos outros, mas o modo como o fazemos render, realizando-nos como pessoas a caminhar para Deus.

Isto quer dizer que o Homem não pode ser definido em relação ao animal, como fez Aristóteles que definiu o Homem como um animal racional.

Na verdade, o salto da hominização representa um salto de qualidade em relação ao animal.
Ao entrar no limiar a hominização, o ser humano está chamado a tomar nas mãos o processo histórico da sua humanização.

Isto quer dizer que o ser humano, para ser uma pessoa acabada, tem de tomar parte na sua própria humanização.

De facto, ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa humanização. Nem Deus o pode fazer por nós.

À luz da bíblia, o Homem deve ser definido por referência a Deus e não em relação ao animal.
Na verdade, a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

Deus sonhou o Homem à sua imagem e semelhança, a fim de entrar em comunhão com ele:
“Deus disse:

“Façamos o Homem à nossa imagem, à nossa semelhança, a fim de dominar sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.

Deus criou o Homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele os criou homem e mulher” (Gn 1, 26-27).

Depois acrescenta: “Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida. E o Homem tornou-se num ser vivo” (Gn 2, 7).

Este sopro da vida significa um gesto especial da ternura de Deus. O texto sugere que Deus, ao criar o Homem, lhe deu um beijo.

Em consequência deste beijo, o hálito de Deus passou para o interior do Homem, fazendo deste um ser animado pelo sopro da vida divina.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-IV

IV-DEUS ESTÁ CONNOSCO

A Humanidade não está sozinha na marcha histórica da humanização. Por outras palavras, o Espírito vai conduzindo os seres humanos a partir de dentro, interpelando e iluminando, a fim de estes avançarem no processo da humanização.

Isto ganha um sabor especial se tivermos presente que a pessoa humana será tanto mais divina, isto é, capaz de interagir e comungar com as pessoas divinas, quanto mais se humanizar agora.

Já vimos que ninguém nos pode humanizar. Nem o próprio Deus o pode fazer por nós. Mas também é verdade que a pessoa humana não se pode humanizar sozinha.

Por outras palavras, precisamos dos outros e do dinamismo do Espírito Santo para nos humanizarmos.

Humanizar-se é construir-se como pessoa, crescendo em densidade espiritual e capacidade de comunhão amorosa.

Por crescimento espiritual devemos entender uma cada vez maior densidade espiritual e capacidade de interacção amorosa.

A convergência para a comunhão universal significa a incorporação da pessoa humana na comunhão com as pessoas divinas, as humanas e todas as outras que possam existir na comunhão do Reino de Deus.

Face aos animais, o Homem reconhece a sua condição de pessoa, isto é, um ser estruturado para a transcendência.

Deus transcende o Homem e este transcende a natureza e os animais. A pessoa é um ser capaz de se distanciar da natureza e dos animais, reflectindo e descobrindo o sentido e a funcionalidade destas realidades.

O livro do Génesis exprime esta verdade dizendo que Deu fez passar os animais diante do Homem, a fim de este lhes dar um nome (Gn 2, 19-20).

Dar um nome significa dominar uma realidade atribuindo-lhe uma função e um sentido. É esta a razão pela qual a bíblia diz que o Homem não é capaz de dar um nome a Deus.

Perante os animais a pessoa humana sente que transcende as capacidades destes. Por outras palavras, o Homem transcende os animais, e sabe que os transcende.

De facto, os animais sabem muitas coisas, mas não sabem que sabem, isto é, não são conscientes. A pessoa humana, pelo contrário, é um ser consciente: sabe e sabe que sabe.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-V

V-A LIBERDADE COMO PROCESSO

O Homem é uma obra-prima de barro em cujo interior está a emergir outra obra-prima feita de espírito.

A nossa interioridade espiritual é dinâmica. Ao nível pessoal-espiritual nada está acabado ou determinado, pois o leque de possibilidades e condicionamentos é enorme.

No coração do processo da humanização está o livre arbítrio, isto é, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

Isto quer dizer que o livre arbítrio não é ainda a liberdade, mas sim a possibilidade de a pessoa chegar a ser livre.

Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não pode escolher pelo mal.
Na medida em que a pessoa opta pelo amor, a liberdade emerge como capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

É importante saber assumir o processo da própria realização pessoal de maneira realista, isto é, aceitando os talentos que temos e não sonhar talentos que outros têm e nós não.

Na verdade, a pessoa não acontece de modo fatal. Somos seres em processo de auto transcendência constante.

Por outras palavras, à medida que nos realizamos vamos sendo diferentes, mas sem deixar de ser as mesmas pessoas.

A identidade espiritual da pessoa humana é histórica. Para nos dizermos temos de contar uma história.

O Homem vem do animal por evolução, mas a sua vocação é construir-se à imagem e semelhança de Deus.

Na verdade somos causa de nós mesmo a partir do que recebemos dos outros. Mas como não emerge de modo fatal, o Homem tem a possibilidade de se recusar a ser, destruindo os seus possíveis de realização.

O pecado é precisamente a recusa da pessoa a ser mais humana através do amor. Apenas há pecado quando há possíveis para realizar e a pessoa recusa. Pecar é optar pelo não ser opondo-se ao amor.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-I

I-O ROSTO DA SABEDORIA

A Sabedoria que Vem de Deus está na origem e na meta da História da Humanidade. A Criação leva consigo a marca da Sabedoria, pois esta encontra a sua origem no Criador.

É por esta razão que, na ordem da Criação as coisas encontram sentido no conjunto da Criação.
Quando a Sabedoria habita o coração de uma pessoa, esta torna-se sábia.

A Sabedoria situa-se ao nível do sentido da vida, da História, das coisas e dos acontecimentos.
Podemos dizer que a Sabedoria é a capacidade de saborear a realidade com o sentido e os critérios da Palavra de Deus.

As ciências analisam fenómenos e factos, a fim de descobrirem as suas causas e efeitos. A sabedoria, pelo contrário, prefere contar histórias capazes de projectar sentido sobre a realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

As propostas e os apelos da sabedoria não são meras utopias ou fantasias sem sentido. Pelo contrário, as suas inspirações são realizáveis, mas apenas por seres humanos que, deixando-se moldar pela sabedoria, se tornam sábios.

A ciência sem a sabedoria pode gerar forças de destruição e morte. A sabedoria que vem de Deus, pelo contrário, sonha sempre com o melhor para a Humanidade.

A Sabedoria é modesta e discreta. Não fala para se exibir ou adquirir privilégios. Animado pelos horizontes novos da Sabedoria, São Paulo diz que graças a Jesus Cristo o Homem deu um salto de qualidade.

Ao ressuscitar, Jesus deu início a uma Nova Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).
A Humanidade recriada assenta na fraternidade fundada no sentimento da igualdade básica de todos os seres humanos.

Já não há qualquer razão para segregarmos as pessoas por razões de religião, de raça, do estatuto social ou da sua condição sexual, diz São Paulo.

Eis as suas palavras na Carta aos Efésios: “Já não há diferença entre judeu ou grego, escravo ou livre.

Já não há diferença entre homem ou mulher, pois todos formamos um em Jesus Cristo” (Gal 3, 28).

Esta visão de São Paulo representa uma viragem imensa no antigo teólogo judeu que olhava os pagãos como seres impuros e amaldiçoados por Deus.

Neste mesmo sentido, a Carta aos Efésios diz que Deus é o princípio unificador de toda a Criação:
“Há um só Corpo e um só Espírito. Existe apenas uma esperança à qual fostes chamados.

Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus Pai que é Pai de todos” (Ef 4, 4-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-II

II-A SABEDORIA GERA SENSATEZ E BONDADE

O Espírito Santo fecunda os nossos corações com os talentos, isto é, as possibilidades de que dispomos para levar por diante a tarefa da nossa humanização.

É ele que optimiza as possibilidades que o Pai, pela mediação dos nossos irmãos, vai colocando no nosso coração.

É o Espírito Santo que nos dá a Sabedoria que nos ensina a valorizar e realizar os melhores talentos que recebemos de Deus pela mediação dos irmãos.

A Sabedoria que o Espírito Santo infunde na nossa mente e no nosso coração ajuda-nos a ser fieis esses talentos recebidos, a fim de nos realizarmos e podermos atingir a comunhão do Reino com um coração fiel como o de Jesus.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo dinamiza e fortalece a nossa comunhão com o Pai e o Filho, introduzindo-nos na comunhão familiar de Deus.

É também o Espírito Santo que fortalece e anima a imensa comunhão orgânica constituída pela Humanidade.

Graças ao acontecimento da Encarnação o Espírito Santo cria vínculos de comunhão e interacção entre a Humanidade e a Divindade.

A Sabedoria está junto de Deus desde toda a eternidade, diz o Livro da Sabedoria: “A intimidade que existe entre a Sabedoria e Deus indica a nobreza da sua origem, pois o Senhor do Universo amou-a deste o princípio.

A Sabedoria está iniciada na ciência de Deus e foi ela quem inspirou o Criador as obras que podia criar (…).

Se há alguém que deseje uma vasta experiência, una-se à Sabedoria, pois ela conhece o passado e prevê o futuro.

Ela penetra as subtilezas da linguagem e tem a chave dos enigmas. Sabe interpretar os sinais e prodígios e antecipa o sentido das idades e dos tempos” (Sb 8, 3-8).

E depois acrescenta: “Deus de Bondade: dá-me a Sabedoria que se senta junto do teu trono, a fim de eu não ser excluído do número dos teus filhos (…).

Mesmo que alguém fosse perfeito entre os homens, nada seria sem a sabedoria que vem de ti” (Sb 9, 4-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-III

III-SABEDORIA E CONHECIMENTO DE DEUS

O Espírito Santo comunica-nos a mensagem da Sabedoria e envia-nos profetas que denunciem a hipocrisia dos que exploram e machucam os pobres sem pudor nem vergonha.

Quando o Espírito Santo nos comunica o dom da Sabedoria esta torna-se no nosso coração a capacidade de saborear as coisas e os acontecimentos com os critérios de Deus.

Devido ao materialismo que reina neste mundo desumanizado, a Humanidade está a perder os horizontes da Sabedoria que vem da Palavra de Deus.

Há cada vez mais dificuldade em discernir o bem, devido à confusão do mundo em que vivemos.

Precisamos que o Espírito Santo nos proporcione bons evangelizadores, a fim de aprendermos a separar com clareza o bem do mal e a ter um sentido claro do mistério de Deus e do Homem.

Precisamos que o Espírito Santo fortaleça a fé e a esperança dos cristãos, a fim de estes poderem ser testemunhas de Evangelho neste mundo sem horizontes de esperança.

Precisamos de homens e mulheres apaixonados pelo trabalho da evangelização do mundo, a fim de os seres humanos conhecerem a verdade da salvação em Cristo.

Precisamos de homens corajosos que sejam no mundo uma luz capaz de nos ajudar a caminhar no sentido da justiça e da paz.

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-IV

IV-SABEDORIA E O SENTIDO DA SALVAÇÃO

A Sabedoria capacita-nos para saborearmos o mistério do Homem a caminhar para o Reino de Deus.

Com as lentes da Sabedoria os seres humanos ficam aptos para amarem a Humanidade como uma Família imensa chamada a fazer parte da Família de Deus.

Na verdade, a Humanidade forma uma união orgânica e dinâmica, apesar de serem biliões as pessoas que a constituem.

Isto quer dizer que o bem e o mal que fazemos, valorizados com os critérios da Sabedoria possibilitam e condicionam não apenas as pessoas que os fazem, mas também o tecido orgânico universal do qual fazem parte.

Na verdade, possibilitamos o crescimento e o sucesso humano com o bem que fazemos, tal como perturbamos e bloqueamos a marcha da Humanidade com a dinâmica bloqueadora do nosso pecado.

Jesus, no evangelho de São João afirma que nele e por ele a Humanidade está organicamente unida à Divindade:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20). Depois Jesus acrescenta: “Eu neles e tu em mim, Pai, a fim de eles serem perfeitos na unidade.

Deste modo o mundo conhecerá que me enviaste e os amaste a eles, tal como me amaste a mim” (Jo 17, 23).

São Paulo exprime esta verdade de modo muito bonito quando afirma. Movida pela Sabedoria que recebeu do Espírito de Cristo ressuscitado, São Paulo afirma:

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual chamais “Abba”, ó Pai (…).

Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Somos herdeiros de Deus pai e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que sofremos com ele, a fim de sermos também glorificados com ele (Rm 8, 14-17).

Só podemos ter vida e dar bons frutos, diz o evangelho de São João, formos como ramos de videira unidos à cepa que é Jesus Cristo (Jo 15, 4-5).

Olhando o projecto de Deus com os horizontes da Sabedoria, os cristãos estão chamados a ser um sinal de esperança para a Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-I

I-O LUGAR DO HOMEM NO CORAÇÃO DE DEUS

Deus não é uma força cega e sem coração. O nosso Deus é relações de bem-querer e amor familiar.

A Humanidade está unida de modo orgânico e dinâmico à Divindade. Isto deve-se ao facto Jesus de Nazaré e o Filho Eterno de Deus fazerem uma união orgânica e dinâmica alimentada pelo Espírito Santo.

Enquanto viveu na História, Jesus era a expressão humana perfeita do amor incondicional de Deus para connosco.

O modo como agia e nos amava estava plenamente em harmonia com a vontade do Pai, dizia Jesus.

Ele exprimiu muitas vezes e de muitos modos esta sua união com a vontade do Pai. Eis algumas das suas afirmações a este respeito: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

“Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30). “O pai não me deixou sozinho, pois eu faço o que lhe agrada” (Jo 8, 29).

“O mundo há-de saber que amo o Pai e que faço como ele me ordenou” (Jo 14, 31). O modo como Jesus actuava em sintonia com a vontade do Pai era expressão da união orgânica que existia o Filho e o Pai.

O evangelho de São João exprime esta verdade pondo na boca de Jesus uma afirmação que exprime de modo perfeito esta união orgânica do Filho com o Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

A paixão que levava Jesus a procurar a libertação e a felicidade das pessoas era a expressão humana do amor do Pai que deseja a nossa salvação.

Eis o que diz o evangelho de São Mateus: “Não é da vontade do vosso Pai que está nos Céus, Que um só destes pequeninos se perca” (Mt 18, 14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-II

II-ANTES DE NOS CRIAR, DEUS FEZ UM PLANO DE AMOR

Podemos dizer que o plano de Deus para o Homem, ainda antes de ter sido iniciado, foi dialogado entre as três pessoas da Santíssima Trindade.

O Espírito Santo recebeu a missão de ser o hálito da vida no interior do barro amassado. Por outras palavras, o Espírito Santo assumiu a missão de ser no interior das pessoas uma presença que dinamiza o processo da humanização.

Esta missão atinge o seu ponto mais alto quando chegou a plenitude, isto é, Jesus Cristo. Graças ao acontecimento da Encarnação o divino enxertou-se no humano, isto é, o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, formam uma união orgânica.

Com o acontecimento da ressurreição de Jesus, a Humanidade é assumida e incorporada na comunhão da Santíssima Trindade.

O Espírito Santo é o vínculo e o princípio animador deste encontro humano-divino realizado em Cristo.

É também o Espírito Santo que com seu jeito maternal de amar nos incorpora na Família Divina, diz São Paulo (Rm 8, 14-17).

Os frutos de vida nova que vamos produzindo são, na verdade, resultado da seiva da videira que vem da cepa da videira, isto é, Jesus Cristo, para nós que somos o seus ramos.

Com a sua ternura maternal, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos.
Do mesmo modo conduz-nos ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Eis a palavras de São Paulo na Carta aos Romanos: “Todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos escraviza e encha de temor (referência ao espírito das normas, leis e preceitos do judaísmo).

Pelo contrário, vós recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos e vos leva aclamar: “Abba, ó Pai”.

É este mesmo Espírito que no íntimo do nosso coração dá testemunho de que realmente somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Deste modo, acrescenta a Carta aos Romanos, o Filho de Deus tornou-se o primogénito, de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O Espírito Santo é, realmente o sangue da Nova Aliança que leva a vida nova ao mais íntimo de todos nós que fazemos um todo orgânico com Cristo.

No nosso íntimo, diz São João, ele é a Água Viva que faz jorrar um regato de Vida Eterna no nosso Coração.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Isto significa que é mo Espírito Santo que o Pai e o Filho nos amam incondicionalmente.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias