segunda-feira, 14 de julho de 2008

A FORÇA CRIADORA DA ESPERANÇA CRISTÃ-I

I-ESPERANÇA CRISTÃ E REVELAÇÃO DE DEUS

A esperança é uma dimensão fundamental da pessoa em construção na história. Pela esperança a pessoa antecipa um resultado positivo ou uma expectativa que se apresenta como promissora de um futuro bom.

É pela porta da esperança que a pessoa entra positivamente na dimensão do futuro. O futuro de uma pessoa humana é o que lhe falta para atingir a sua plenitude.

A esperança cristã abre o coração da pessoa não apenas para o futuro histórico, como também para o futuro de Deus.

A esperança cristã não se confunde com a utopia, essa capacidade humana de imaginar uma nova Humanidade, mas sem quaisquer alicerço sólido no presente.

Como sabemos, o futuro para o ser humano só pode acontecer a partir do alicerce do passado e do presente.

Somo seres históricos. Para nos dizermos temos de contar uma história cujo presente assenta num passado.

Do mesmo modo, o que iremos fazer amanhã depende em grande parte do que fizermos hoje.
Quando o ser humano se abre à Palavra de Deus o seu presente é optimizado e o seu futuro ganha horizontes novos.

Por outras palavras, a Palavra de Deus confere horizontes novos e inimagináveis à dimensão da esperança.

Na verdade, a esperança cristã tem os horizontes da Palavra de Deus e não apenas os da razão humana.

O crente que se alimenta das Escrituras começa a olhar os acontecimentos com a luz do plano de Deus e do seu cuidado providencial pelas criaturas.

A esperança cristã não é um desejo vago do coração humano. Pelo contrário, é uma abertura ao futuro, tal como ele é delineado pelo conhecimento do Deus que se revela nas Escrituras.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FORÇA CRIADORA DA ESPERANÇA CRISTÃ-II

II-ESPERANÇA E PLANO SALVADOR DE DEUS

A esperança cristã tem um fundamento sólido, pois alicerça-se no conhecimento do plano de Deus e da vontade divina a respeito de cada ser humano.

Os cristãos sabem que a sua fé e a sua esperança são um dom de Deus e não uma mera conquista da inteligência humana.

O conteúdo da esperança assenta na revelação do plano de Deus para a Humanidade. O Espírito Santo ajuda os crentes a saberem integrar a sua história pessoa dentro da História humana.

Ao integrar a sua história no plano universal de Deus, o crente torna-se capaz de inserir a sua história pessoal no plano salvador de Deus.

Ao inserir a sua história pessoa na História geral da Salvação, a pessoa fica forte para transformar os acontecimentos que podem ser transformados e integrar na sua história pessoal os acontecimentos que não pode transformar.

A esperança cristã, por assentar na Palavra de Deus, abrindo-nos os horizontes da nossa incorporação na Família de Deus.

São Paulo rejubilava ao aperceber-se de os seres humanos são incorporados pelo Espírito Santo na Família de Deus.

Somos, dizia ele, filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros do Filho de Deus (Rm 8, 14-16).

Graças à força da sua esperança, os cristãos. Tenho a certeza, diz São Paulo, de que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a alegria e felicidade que nos aguarda o futuro em Deus (Rm 8, 18).

A Esperança cristã facilita aos crentes a vivência do baptismo no Espírito, isto é, essa abertura permanente à acção do Espírito Santo no seu coração.

São Paulo dizia que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado n os nossos corações (Rm 5,5)
Devemos estar abertos aos apelos e inspirações do Espírito Santo, continua São Paulo, pois ele habita em nós como num templo (1 Cor 3, 16).

A confiança no amor e na fidelidade deste Deus, dinamiza a nossa vida e abre o nosso coração para compromissos novos, que nos ajudem a alcançar os horizontes da nossa esperança.

A esperança cristã capacita-nos para vivermos intimamente unidos a Deus e cooperar com a presença do Espírito que nos quer conduzir para plenitude da Família Divina.

Dirigindo-se aos pagãos que aderiram ao Evangelho, a Carta aos Efésios diz-lhes que antes de serem cristãos eles viviam sem esperança no mundo (Ef 2,12).

Isto quer dizer que não saboreavam os acontecimentos como fazendo parte de um projecto de amor e salvação.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FORÇA CRIADORA DA ESPERANÇA CRISTÃ-III

III-JESUS É O FUNDAMENTO DA NOSSA ESPERANÇA

Ao abolir as normas, preceitos e distinções da Lei de Moisés, Cristo tornou-se a Paz da Nova humanidade, pois destruiu o muro que dividia judeus e pagãos (Ef 2, 14-16).

O Espírito Santo é a Nova Lei, a Lei da Vida que se opõe à lei da morte (2 Cor 3, 6). Agora a Nova lei habita dentro de nós, pois o Espírito Santo, diz São Paulo, é amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

A nossa esperança dá-nos a certeza de que, graças a este presença do Espírito Santo em nós, somos filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

A Palavra de Deus dá conteúdos à nossa esperança e dá-nos a certeza de que estamos a caminhar para uma plenitude sem condicionamentos:

“Foi assim que Deus nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e irrepreensíveis no amor, caminhando na sua presença.

Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade” (Ef 1, 4-5).

A Carta aos Romanos aconselha os crentes a viverem alegres na Esperança, pacientes nos sofrimentos e fiéis na oração (Rm 12, 12).

São Paulo diz que as Sagradas Escrituras foram escritas para alimentar e fortalecer a nossa esperança:

“Tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para alimentar a nossa esperança” (Rm 15, 4).
Quanto mais cresce em nós a fé, a esperança e a caridade, mais a nossa vida começa a estar em função de Cristo.

Isto vale tanto para viver como para morrer, pois Cristo é a garantia de que estamos a caminhar para a plenitude da vida:

“Para mim viver é Cristo e morrer é um lucro” (Flp 1, 21).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FORÇA CRIADORA DA ESPERANÇA CRISTÃ-IV

IV-ESPERANÇA E CONFIANÇA EM DEUS

Graças à nossa esperança, temos a certeza de que não estamos abandonados por Deus.
Eis o que o Senhor diz através do profeta Jeremias:

“Conheço muito bem os planos que fiz para vós, diz o Senhor, planos para prosperardes e não serdes aniquilados, planos para vos dar esperança e um futuro bom.

Então chamareis por mim, far-me-eis a vossa oração e eu escutar-vos-ei” (Jer 29, 11-12).
Mesmo quando surgem as dificuldades, a esperança assegura-nos de que não estamos sós.

Deus é fiel e, por isso, podemos estar seguros de que não nos abandona: “Basta-te a minha graça, pois o meu poder libertador é perfeito quando ajuda a fraqueza” (2 Cor 12, 9).

Segundo o Evangelho de São João, Jesus robustece a esperança dos Apóstolos, a fim suportarem a dura prova da morte de Jesus:

“Agora estais abatidos, mas ver-vos-ei de novo e vós vos alegrareis e ninguém poderá tirar-vos a vossa alegria” (Jo 16, 22).

A Carta aos Colossenses indica uma norma sábia para o amadurecimento da esperança:
“Colocai a vossa mente nas coisas do alto e não nas terrenas” (Col 3, 2).

A esperança deve ser cultivada, a fim de a podermos testemunhar junto dos outros, diz a primeira carta de Pedro:

“Acolhei nos vossos corações Jesus Cristo, o Senhor. Estai sempre preparados para responder aos que procuram compreender as razões da vossa esperança” (1 Ped 3, 15).

Os horizontes da nossa esperança, no presente, são vividos na fé, não na evidência. Mas a esperança dá-nos a certeza de que nos encontraremos face a face com Deus, a fim de o contemplarmos na evidência (1 Jo 3, 2).

São Paulo diz que a esperança nos garante que, apesar dos sofrimentos e dificuldades da vida presente, Deus tem para nós uma plenitude de alegria sem limites.

O único limite será a nossa capacidade de saborearmos essa alegria: “Bem-aventurados os que agora chorais, pois haveis de rir” (Lc 6, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FORÇA CRIADORA DA ESPERANÇA CRISTÃ-V

V-ESPERANÇA E FIDELIDADE DE DEUS

A Carta aos Hebreus diz que Abraão foi um modelo de esperança: “E assim, depois de ter esperado pacientemente, Abraão recebeu o conteúdo da promessa” (Heb 6, 15).

A Esperança é como uns binóculos que nos ajudam a ver o nosso futuro com os olhos da revelação de Deus e não apenas com os olhos da inteligência humana.

A esperança cristã é alimentada pela Palavra e dinamizada pelo Espírito Santo que habita em nós.

A esperança cristã ultrapassa os muros apertados e estreitos da vida que morre, abrindo-nos os olhos do nosso coração para saborearmos não apenas os bens da terra como também os do Céu.

Mas isto não que dizer que Deus nos distrai dos compromissos históricos. Pelo contrário, envia-nos para o mundo com critérios diferentes dos do mundo.

Por isso os cristãos são sal, luz e fermento no mundo (cf. Mt 5, 13-16). A esperança cristã ajuda os crentes a compreender que os sofrimentos e a própria morte fazem parte de uma história cheia de sentido.

Tenho a certeza, diz São Paulo, de que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a alegria e felicidade que nos aguarda o futuro em Deus (Rm 8, 18).

A esperança de um jovem cristão surge como apelo a construir um projecta de vida onde o amor e a solidariedade surjam como dimensão fundamental.

À medida que o crente se vai tornando adulto, a esperança começa a abrir-se para horizontes mais vastos, os quais têm este sentido: “o melhor ainda está para vir!”.

Que segurança e que felicidade este novo horizonte da esperança confere aos cristãos idosos.
À medida que esta caminhada se vai fazendo, torna-se muito clara a passagem da segunda Carta aos Coríntios que diz:

“Por isso não desfalecemos e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se todos os dias.

Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória além de toda e qualquer medida.

Não olhamos para as coisas visíveis, pois estas são passageiras. Olhamos para as realidades invisíveis, as quais são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Por ser alimentada pela Palavra de Deus, a esperança cristã garante-nos que não estamos a caminhar para o vazio da morte.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 12 de julho de 2008

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-I

I-A SORTE DE TERMOS UM DEUS QUE É AMOR

Vamos partir de uma base essencial para compreendermos o nosso tema: Deus é amor. Isto que dizer que para Deus é possível tudo o que é possível ao amor.

Mas devido ao facto de ser amor, Deus só pode aquilo que o amor pode e nada contra o amor, pois não se pode negar a si mesmo.

Se a realidade é esta, podemos estar tranquilos e não temos razões de ter medo de Deus. De facto, ninguém tem medo do amor, a não ser a pessoa que não queira deixar o seu egoísmo.

Pelo facto de ser amor, Deus toca-nos no mais íntimo do nosso ser e comunica connosco em atitudes exclusivas de bem-querer.

O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão. Deus é assim!

O amor leva a pessoa a eleger o outro como alvo de bem-querer, facilitando a sua realização e felicidade. Deus é assim!

O amor confere às relações humanas a força capaz de fazer emergir a interioridade pessoal livre, consciente, responsável e capaz de comunhão do ser humano. Deus é assim!

Jesus entendeu muito bem o que é o amor ao fazer dele o seu único mandamento. Do mesmo modo São Paulo entendeu muito bem o mistério do amor quando disse:

“Ainda que fale as línguas dos homens e dos anjos, se não amar, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine.

Ainda que tenha o dom da profecia, conheça a totalidade dos mistérios, possua toda a ciência, ainda que tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada sou.

Ainda que distribua todos os meus bens pelos pobres e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita” (1 Cor 13, 1-3)

Depois acrescenta: “O amor é paciente e prestável. Não é invejoso, nem arrogante, nem orgulhoso.

O amor nada faz de inconveniente, nem gira só à volta do seu interesse. O Amor não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor é eterno, pois nunca passará” (1 Cor 13, 4-8).

Deus é assim! Eis a razão pela qual nunca nos afasta de si. Mas nós podemos afastar-nos dele.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-II

II-INTERAGIR COM O AMOR INFINITO

Deus interage connosco de modo contínuo e permanente através do Espírito Santo que habita em nós, como diz São Paulo:

“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3,16). Nesta mesma linha vai o evangelho de São Lucas quando afirma: “O Reino de Deus está no vosso íntimo” (Lc17, 21).

Esta presença do Espírito Santo no nosso íntimo vai recriando o nosso coração, a fim de assarmos das obras do egoísmo, para os frutos do amor.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós.

O ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira. Assim também acontece convosco.

Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

O Espírito Santo é a seiva da videira que vem da cepa para os ramos, tornando-se assim o alimento da vida nova em nós.

Com efeito, a glória de Deus é o Homem vivo e fecundo, diz Jesus: “Nisto se manifesta a glória de meu Pai: em que deis muito fruto e vivais como meus discípulos” (Jo 15, 8).

Graças à presença desta seiva vivificante que vem de Cristo, nós somos iluminados para compreendermos a presença de Deus em nós e a sua bondade para com todas as criaturas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-III

III-ASSUMIDOS EM DEUS PELO AMOR

Deus é, de facto, a fonte da Vida e do bem. O Espírito Santo ajuda-nos a compreender este mistério da fecundidade de Deus em nós e capacita-nos para o anunciarmos aos nossos irmãos.

Se vivermos o mandamento do amor, tal como Jesus nos propõe, ficamos aptos para conhecer Deus, pois Deus é amor.

Eis as palavras da Primeira Carta de São João a este respeito: “O amor vem de Deus. Todo o que ama nasceu de Deus e faz a experiência de Deus, pois Deus é amor” (l Jo 4. 7-8).

Depois acrescenta: “Ninguém jamais viu a Deus. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus prova que está em nós, e o seu amor, em nós, é fecundo.

Deste modo tomamos consciência de que partilhamos a vida divina, pois temos em nós o Espírito Santo” (1 Jo 4, 12-13).

O Espírito Santo é a ternura maternal de Deus. Assim como Deus Pai ama com um jeito paternal, o Espírito Santo ama com um jeito maternal.

Ele é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5). É por esta razão que habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo é um princípio animador de relações de amor e é vínculo de comunhão orgânica.

É o Espírito Santo que anima a nossa comunhão com Deus e os irmãos. Para Santo Agostinho a nossa vivência diária do amor aos irmãos é o critério para sabermos o grau de comunhão que temos com a Santíssima Trindade:

“Quando amamos o amor estamos a amar a Deus, pois Deus é amor” (Tratado das Cartas de São João, 9, 10).

Amar é libertar, possibilitando a realização do outro e facilitando a emergência da riqueza que há nele.

Eis a dinâmica do Espírito Santo em nós, como diz São Paulo: “Todos os que vivem animados pelo Espírito são filhos de Deus.

De facto não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual clamais, “Abba”, Papá.

Se somos filhos somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros de Jesus Cristo” (Rm 8, 14-16).

Se vivemos em comunhão com o Espírito Santo estamos organicamente unidos à Santíssima Trindade.

É o Espírito Santo que provoca no nosso coração o eco da Palavra de Deus, fazendo-nos entender o nosso lugar no projecto criador e salvador de Deus.

O Espírito Santo ajuda-nos a encontrar a resposta à interrogação fundamental do homem: “Quem sou eu e para onde vou?

A resposta correcta a esta questão só pode ser dada pela Sabedoria que vem de Deus e nos é comunicada pelo Espírito Santo.

A Divindade é uma comunhão familiar de três pessoas. O Coração de Deus é uma comunhão orgânica animada pelo Espírito Santo.As pessoas divinas relacionam-se em clima de amor infinito.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matiaas

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-IV

IV-QUANDO O HOMEM BRINCA COM O AMOR

A Bíblia revela-nos um Deus cujo jeito de se relacionar é a aliança, isto é um acordo de amizade.
Logo no princípio da criação, Deus fez uma aliança com Adão, fazendo dele o chefe e a cabeça da criação (Gn 1, 28-30; 2, 15-20).

Mas Adão foi infiel e rompeu com a aliança proposta por Deus. Não aceitou ser colaborador de Deus na obra da Criação.

Numa atitude de rotura orgulhosa, Adão pretendeu ser igual a Deus. A rotura de Adão pressupõe um pecado que conduz à separação de Deus.

Como cabeça da Humanidade, Adão introduziu o Homem no caminho do malogro e do fracasso.
É muito perigoso ser infiel a Deus. Não que Deus se vingue, pois Deus é amor (1 Jo 4, 7).

É perigoso brincar com Deus porque o seu querer coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Brincar com Deus, portanto, significa brincar com o que é melhor para nós. Na verdade, Deus é a fonte da vida e de todos os bens!

A pessoa que brinca com Deus está a entrar no caminho do malogro e do fracasso. Mas o coração de Deus continua sempre a tentar a restauração da aliança.

Quanto mais a Humanidade se tornava infiel em relação a Deus, mais entra no caminho do malogro e do fracasso.

Após o pecado de Adão, veio o dilúvio. Por outras palavras, ao afastar-se da comunhão com Deus, a Humanidade começa a afogar-se, isto é, a afundar-se cada vez mais no fracasso e na tragédia.

Não foi Deus que fez que o Homem se afogasse. Pelo contrário, ao vê-lo afundar-se no fracasso e na autodestruição, Deus veio em seu socorro, fazendo uma aliança com Noé e toda a sua família:

“Contigo vou estabelecer a minha aliança. Entrarás na Arca com a tua mulher, os teus filhos e as mulheres dos teus filhos” (Gn 6, 18).

A aliança de Deus com Noé tinha a finalidade de salvar a Humanidade e os todos os seres vivos.
O Livro do Génesis diz que o arco-íris passa a ser o sinal da aliança restaurada com Noé:

“Deus disse: este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós com todos os seres vivos que estão convosco.

Colocarei o meu arco nas nuvens. Ele será um sinal da minha aliança com toda a terra” (Gn 9, 12-13).

A aliança de Deus com Noé tem um carácter universal, diz o Livro do Génesis, pois é feita em favor de todos os seres vivos:

“Quando o arco-íris estiver nas nuvens eu, ao vê-lo, lembrar-me-ei da minha aliança eterna, aliança com todos os seres vivos que vivem sobre a terra” (Gn 9, 16).

Mas de novo o homem começa a tornar-se infiel, recusando-se a colaborar com Deus. Mais uma vez vai surgir a velha tentação de ser igual a Deus.

A ideia de construir uma torre que chegue até ao Céu é a nova maneira de concretizar a velha tentação de ser igual a Deus.

A tentação é uma insinuação subtil que emerge na mente do ser humano, fazendo-lhe acreditar que é bom o que na realidade é mau.

É verdade que nós estamos talhados para o Céu e para sermos divinos. Mas isso é um dom de Deus, não uma conquista do Homem.

A divinização do Homem só pode acontecer mediante a Encarnação, isto é, o enxerto da vida divina na humana.

Adão pecou ao rejeitar a sua condição de criatura, tentando colocar-se no lugar do Criador. É a tentação de querer ser Deus por sua conta e risco (Gn 11, 1-8).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-V

V-O DEUS FIEL E VERDADEIRO

E o homem começa a caminhar de novo em direcção ao fracasso. De novo Deus vai escolher um homem fiel e bom, a fim de fazer com ele uma aliança de amizade e, deste modo, salvar a Humanidade.

E o Senhor fez aliança com Abraão, garantindo-lhe queria fazer com ele uma aliança, a fim de beneficiar todas as famílias da Terra (Gn 12,3).

Como vemos, o amor de Deus é difusivo. Quando escolhe alguém para uma missão, pensa logo na maneira de fazer que essa missão seja benéfica para toda a Humanidade.

No coração do Deus da aliança cabem todos os seres humanos. Deus prometeu a Abraão uma terra, a fim de formar um povo que seja, no meio dos outros povos, uma mediação da Sua Palavra (Gn 15, 8).

Eis o que Deus propõe a Abraão: “Vou fazer uma aliança entre mim e ti. Multiplicarei a tua descendência sem medida” (Gn 17, 2).

Depois acrescenta: “Serás pai de muitas nações (…). Vou estabelecer contigo uma aliança eterna.
Eu serei o teu Deus e o Deus dos teus descendentes” (Gn 17, 7).

E, ao longo dos tempos, Deus foi dando provas da sua fidelidade à aliança que fizera com Abraão: “Eu ouvi os gemidos dos filhos de Israel que os egípcios escravizaram e lembrei-me da minha aliança” (Ex 6, 5).

Após a saída do Egipto, Deus de novo renova a sua aliança como o povo de Abraão, agora liberto do terrível jugo dos egípcios:

“Se observardes a minha aliança sereis minha propriedade especial entre todos os povos” (Ex 19, 5).

Deus renovou a sua aliança com o povo de Israel através de Moisés, entregando-lhe os dez mandamentos escritos em duas tábuas de pedra.

Ao construir o santuário, as tábuas dos mandamentos ficaram guardadas dentro de uma arca chamada a Arca da Aliança: “Dentro da arca coloca o documento da aliança que te dei” (Ex 25, 16).

Deus entregou por escrito o documento da aliança, a fim de permanecer o testemunho: “Deus disse ainda a Moisés: escreve estes mandamentos, pois é de acordo com eles que eu faço a aliança contigo e com Israel” (Ex 34, 27).

O livro do Deuteronómio insiste na necessidade de ser fiéis a aliança de Deus, cumprindo os Mandamentos:

“Deus comunicou-vos a sua aliança, a fim de que cumprísseis as dez palavras que Ele escreveu em duas tábuas de pedra” (Dt 4, 13).

O Deus da aliança é fiel e verdadeiro: “Reconhece que o Senhor teu Deus, é o único Deus. Ele mantém a aliança e o seu amor por mil gerações em favor dos que o amam e observam os seus mandamentos” (Dt 7, 2).

Os mandamentos, a terra prometida e a descendência constituem os elementos básicos da aliança de Deus com o Povo Bíblico:

“Inclina-te, Senhor, do Céu, a tua morada santa, e abençoa Israel, teu povo e a terra que nos deste, tal como juraste aos nossos antepassados, uma terra onde corre leite e mel” (Dt 26, 15).
Com a instituição da monarquia, surge a aliança com a casa de David.

A promessa messiânica fica ligada à aliança de Deus com David. Eis as palavras de David no Segundo Livro de Samuel:

“A minha casa está firme junto de Deus, pois a sua aliança para comigo é para sempre. Eu sei que esta aliança está assente em alicerces sólidos” (2 Sam 23, 5).

Segundo a profecia dirigida ao rei pelo profeta Natã, Deus decidiu suscitar um filho a David graças ao qual a monarquia davídica duraria para sempre:

“Quando chegares ao fim de teus dias e te fores juntar aos teus antepassados, eu suscitarei, depois de ti, um filho teu.

Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho (…). A tua casa e o teu reino serão firmes para sempre” (2 Sam 7, 12-16).

Devido à profecia de Natã, os filhos de David, no dia da sua entronização passam a chamar-se filhos de Deus:

“Vou anunciar o decreto do Senhor. Ele disse-me: Tu és meu filho, hoje mesmo te gerei” (Sal 2, 7).

Esta profecia está associada à construção de um templo para Deus: “David disse ao profeta Natã: “Como podes observar, eu estou a morar num bom palácio, ao passo que a Arca da Aliança de Deus está debaixo de uma tenda” (1 Cron 17, 1).

O Filho prometido a David vai construir o templo que Deus deseja e por isso a casa real de David permanecerá para sempre:

“Fiz uma aliança com o meu eleito, jurei a David, meu servo: estabelecerei a tua descendência para sempre e o teu trono há-de manter-se eternamente” (Sal 89, 4-5).

E ainda: “Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, és o meu Deus e o rochedo da minha salvação. Eu farei dele o primogénito, o maior entre os reis da terra.

Hei-de assegurar-lhe para sempre o meu favor e a minha aliança com ele há-de manter-se firme.

Estabelecerei para sempre a sua descendência e o seu trono terá a duração dos céus” (Sal 89, 27-30).

“Jurei uma vez pela minha santidade. De modo algum enganarei David! A sua descendência permanecerá para sempre e o seu trono será como o sol, na minha presença, estará firme para sempre como a lua, testemunho fiel no firmamento” (Sal 89, 36-38).

Apesar das repetidas infidelidades do povo, Deus será sempre fiel ao seu amor, diz o profeta Isaías:

“Mesmo que os montes se retirem e as colinas vacilem, o meu amor nunca se afastará de ti. A minha aliança de paz não vacilará, diz o Senhor que se compadece de ti” (Is 54, 10).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

BREVE HISTÓRIA DA TERNURA DE DEUS-VI

VI-A NOVA ALIANÇA

Face às repetidas infidelidades do povo, Deus começa a inspirar os profetas no sentido destes anunciarem uma nova aliança.

O Espírito de Deus é a garantia de solidez da desta Nova Aliança. Mesmo as vidas que permaneciam estéreis se tornarão fecundas, graças à acção do Espírito Santo:

“Isto diz o Senhor aos eunucos que observam os meus sábados, que escolhem o que me agrada e permanecem firmes na minha aliança:

“Dar-lhes-ei um monumento e um nome mais valioso do que os filhos e filhas” (Is 56, 4-5). A Nova Aliança será vivida em perfeita harmonia com Deus.

A Palavra do Senhor brotará abundante da boca das pessoas: “Esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor:

O meu espírito está sobre ti, e as palavras que coloquei em ti, jamais se afastarão da tua boca e da boca dos teus filhos, desde agora e para sempre” (Is 60, 19-22).

Graças à Nova Aliança, Jerusalém será totalmente renovada. Já não será iluminada pelo sol durante o dia nem pela lua durante a noite, pois Deus será a sua luz eterna” (Is 60, 19-22).

A Nova Aliança já não será estabelecida sobre as tábuas da Lei, as quais desapareceram quando os caldeus invadiram Jerusalém.

O profeta Jeremias, contemporâneo deste facto, diz claramente que a nova aliança não assenta num coração de pedra mas num coração de carne. Não na letra, mas no dom do Espírito.

A Arca da Aliança guardava o coração de pedra, alusão às pedras da Lei. A nova aliança, pelo contrário, assentará num coração de carne.

A Arca da Aliança não faz parte da dinâmica da Nova Aliança, diz o profeta Jeremias: “Quando crescerdes e vos multiplicardes no país, oráculo do Senhor, já ninguém mais falará na Arca da Aliança do Senhor.

“Dias virão em que farei uma Nova Aliança com Israel e Judá. Não será como a aliança que fiz com seus pais quando os tomei pela mão e os tirei da terra do Egipto.

A Nova Aliança é assinada no coração das pessoas e não numa pedra, continua Jeremias: “A aliança que vou fazer com Israel, oráculo do Senhor, será assim:

colocarei as minhas leis no seu peito, gravá-las-ei no seu coração e eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus” (Jer 31, 31-33).

Depois acrescenta: “Farei com eles uma aliança eterna. Nunca deixarei de lhes fazer bem.
Colocarei no seu coração o meu temor, a fim de que não se afastem de mim” (Jer 32, 40).

Na ceia pascal, Jesus demonstrou ter consciência de ser o medianeiro da Nova Aliança: “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

A Nova Aliança leva consigo o dom do perdão total do pecado, diz São Paulo: “Essa será a aliança com eles quando eu perdoar os seus pecados” (Rm 11, 27).

A Nova aliança é geradora de Vida: “Foi Deus que nos tornou capazes de sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata e o Espírito é que dá vida” (2 Cor 3, 6).

Eis o que diz a Carta aos Hebreus: “Jesus tornou-se a garantia de uma aliança melhor” (Heb 7, 22).

De facto, o Senhor Ressuscitado, “Recebeu um sacerdócio superior, pois é mediador de uma aliança melhor. Se a primeira aliança não fosse deficiente não havia lugar para uma Nova Aliança” (Heb 8, 6-7).

A dinâmica da Nova Aliança É o Espírito Santo, fonte de fecundidade. A antiga aliança não permitia aos eunucos, mesmo sendo filhos de Aarão, oferecer os sacrifícios do altar (Lv 21, 20-21).

O profeta Isaías, prevendo a dinâmica da Nova Aliança declara que a fecundidade da Nova Aliança é fruto do Espírito Santo, a qual é mais rica que a mera fecundidade biológica:

“Que o eunuco não diga: não passo de uma árvore seca” (Is 56, 3). Os Actos dos Apóstolos declaram que o primeiro pagão a ser baptizado, foi um eunuco etíope, servo da rainha de Candace (cf. Act 8, 36).

A Nova Aliança gera um Nova Humanidade reconciliada com Deus, diz São Paulo: “Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação.

Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo. Tudo isto vem de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2 Cor 5, 17-18).

Podemos dizer com toda a verdade que a História que Deus faz com o Homem é, de facto, a História da ternura de Deus.

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Calmeiro Matias

quinta-feira, 10 de julho de 2008

FIM DO MUNDO E JUÍZO FINAL EM SÃO PAULO-I

I-O FINAL DA HISTÓRIA EM SÃO PAULO

Falar de São Paulo é falar do maior teólogo da primeira geração cristã. Por ser um teólogo judeu convertido à Fé Cristã, São Paulo encontrava-se numa situação privilegiada para compreender o plano salvador de Deus realizado em Cristo.

Com Jesus Cristo, Diz São Paulo, chegou a plenitude dos tempos, isto é, a História entrou na fase dos acabamentos (1Cor 10-11).

Com a ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade recebe o dom do Espírito Santo que a incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-16; Gal 4, 4-7).

O fim da História humana vai acontecer com a segunda vinda de Cristo constituído rei e Cabeça da Nova Humanidade (Col 1, 15-20; Flp 2, 6-11).

Com a sua ressurreição, Jesus foi constituído rei e investido como Senhor de toda a Criação (Rm 1, 3-5).

No dia em que o Senhor aparecer (parusia), os mortos ressuscitarão e os vivos serão arrebatados nos ares e, num abrir e fechar de olhos, ficarão plenamente espiritualizados.

São Paulo estava convencido de que a segunda vinda de Jesus Cristo ia acontecer muito em breve.

Estava absolutamente convencido de que graças à ressurreição de Jesus Cristo, a morte tinha sido vencida para toda a Humanidade (1 Cor 15, 26).

Como teólogo judeu, São Paulo tinha uma visão orgânica da Humanidade: os seres humanos fazem uma união orgânica e dinâmica como os ramos de uma árvore gigante com o seu tronco.

Se Cristo ressuscitou, então também nós somos ressuscitados e glorificados com ele.

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Calmeiro Matias

FIM DO MUNDO E JUÍZO FINAL EM SÃO PAULO-II

II-EM CRISTO, DEUS SUSCITOU UMA NOVA CRIAÇÃO

Isto significa que o futuro da Humanidade está cheio de sentido (Col 1, 27; 1 Cor 15, 12-24). A ressurreição de Jesus Cristo não é uma transformação meramente individual.

O Senhor Jesus Cristo é um homem em tudo igual a nós, excepto no pecado. É esta a razão pela qual ele faz com todos nós uma união orgânica com a Humanidade.

Para São Paulo, a relação que existe entre a ressurreição de Cristo e a nossa põe-se de modo muito claro:

Se nós não ressuscitamos, então também Cristo não ressuscitou. Por outras palavras, se Cristo não ressuscitou, então também nós não ressuscitamos e a salvação humana ainda não aconteceu (1 Cor 15, 12-13).

Com a ressurreição de Jesus Cristo, a dinâmica da salvação está a actuar na Humanidade pelo poder do Espírito Santo.

O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). O acontecimento da ressurreição de Cristo inaugura de modo definitivo, o futuro da Humanidade.

A dinâmica da salvação já está a activa no coração dos que se abrem a Cristo (Rm 3, 26; 11, 5; Ef 2, 8).

Cristo é o Novo Adão que tem a missão de anular as forças do pecado e da morte que o primeiro Adão introduziu no tecido da Humanidade (1 Cor 15, 51-52).

Assim como a morte veio para todos por intermédio de Adão, do mesmo modo, a vitória sobre a morte vem por Jesus Cristo, o Novo Adão (1 Cor 15, 54-56).

Quando Jesus Cristo aparecer como rei glorioso, então também nós seremos glorificados com ele (Col 3, 4).

O nosso ser presente será transformado e ficará como Cristo glorioso (Flp 3, 21).

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Calmeiro Matias

FIM DO MUNDO E JUÍZO FINAL EM SÃO PAULO-III

III-SÃO PAULO E O JUÍZO FINAL

Os discípulos de Jesus estavam convencidos de que ele era o Filho de David prometido, isto é, o rei messiânico que em breve iria subir ao trono.

Isto nada tem de extraordinário, pois era esta a compreensão judaica da sua época. Como podemos verificar no evangelho de São Lucas foi nestes termos que o anjo anunciou a Maria o nascimento do seu Filho (cf. Lc 1, 32-33).

Convencidos de que Jesus em breve se sentaria no trono real, os Apóstolos Tiago e João pedem a Jesus para lhes conceder o privilégio de ocuparem os primeiros lugares ao lado do rei.

Os outros dez Apóstolos, ao ouvirem as pretensões de Tiago e João, protestam, pois também eles tinham pretensões no sentido de ocuparem esses lugares.

Pouco a pouco, Jesus tenta mudar esta mentalidade dos discípulos (Mc 10, 35s). Apesar dos seus esforços para mudar a visão dos discípulos, mas conseguiu muito pouco (Mt 16, 23).

Esta tarefa ficaria para o Espírito Santo realizar após a Páscoa (Act 3, 19-21; 2, 32-36). Após a experiência pascal, a compreensão dos discípulos acerca da realeza de Jesus começa a transformar-se.

Uma vez que ele morreu sem subir ao trono, os apóstolos começam a recorrer à profecia do Filho do Homem de Daniel e dizem que Jesus foi entronizado no Céu, após a sua ressurreição (Rm 1, 3-5).

Na verdade, argumentam eles, Deus já tinha anunciado através do profeta Daniel que as coisas aconteceriam assim (Dan 7, 13-14).

Uma vez entronizado no Céu, Jesus vai voltar com todo o poder, a fim de estabelecer com o resto o Reino de Deus e executar a purificação do dia da ira (Act 3, 19-21).

Os discípulos vão, pois, anunciar a segunda vinda de Cristo dentro do cenário que os profetas tinham elaborado para o dia da ira.

São Paulo anuncia aos cristãos que eles formam o resto fiel que escapará ao dia ira nos dias da vinda de Jesus Cristo:

“Jesus ressuscitou dos mortos e livrou-nos da ira futura” (1 Tes 1, 10). Quando o Senhor vier, os que permaneceram fieis vão ao encontro do Senhor nos ares, ficando para sempre com Ele (1 Tes 4, 14-17).

Procuremos estar preparados, pois o dia do Senhor virá como um ladrão, surpreendendo os desprevenidos (1 Tes 5, 2).

Os fiéis devem alegrar-se com a proximidade do dia do Senhor, pois isto quer dizer que está perto a sua libertação.

Devemos estar conscientes, diz São Paulo, que Deus não os reservou para a ira, mas para a salvação em Jesus Cristo (1 Tes 5, 9).

O Senhor vai vir entre chamas de fogo, a fim de fazer justiça e punir todos os que se opõem ao Evangelho (2 Tes 2, 6-8).

Os eleitos que constituem o resto fiel aparecerão junto do Senhor revestidos de glória (Flp3, 1-4). Os judeus, ao rejeitarem o Evangelho, estão a aumentar os motivos do seu castigo no dia da ira (Rm 2, 5-6).

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Calmeiro Matias

FIM DO MUNDO E JUÍZO FINAL EM SÃO PAULO-IV

IV-REINADO MESSIÂNICO E RESTO FIEL

É enorme a influência dos textos apocalípticos dos profetas nos textos do Novo Testamento.
Os textos apocalípticos do Antigo Testamento são o material com que os autores do Novo Testamento elaboram o cenário da Segunda vinda Cristo.

Para São Paulo, a Vinda de Cristo como rei messiânico significa o fim do mundo velho. “Se alguém está em Cristo, diz ele, é um Nova Criação. Passou o que era velho” (2 Cor 5, 17).

Na sua maneira de entender, a parusia, a vinda de Cristo, vai dar-se muito em breve. Se Cristo já ressuscitou, não há razão para permanecermos no mundo velho.

O Espírito Santo é a força transformadora de Cristo ressuscitado. Este Espírito já nos foi derramado sobre a Humanidade.

Como força criadora do Mundo Novo, o Espírito Santo já presente e activo nas comunidades cristãs espelhadas pelo mundo,

São Paulo diz que o dia do Senhor virá como um ladrão pela calada da noite (1 Tes 5, 2). O dia do Senhor será um dia de tragédia e destruição para os que se opõe ao Evangelho e ao plano salvador de Deus.

Mas para os eleitos esse será um dia de glória e alegria, pois é o dia da salvação e da libertação para o resto fiel.

A primeira carta aos Tessalonicenses é o documento do Novo Testamento que melhor testemunha a tensão escatológica da primeira geração cristã (cf. 1, 3; 4, 13-18; 5, 1-11 4, 13-18; 5, 1-11; 5, 23-24).

Para os que vivem para o Senhor esse dia será em que farão a experiência da misericórdia do Senhor e da sua glorificação.

Mas para os inimigos de Cristo esse será o dia da ira e da destruição. Nesse dia acontecerão as tragédias e os castigos anunciados pelos apocalipses dos profetas (cf. Am 5, 18-20; Jl 2, 1;3, 14;Ez 30, 20-21; Mal 3, 19-23).

Para São Paulo, os cristãos formam o resto fiel de que falaram os profetas, os quais escaparão ao dia da ira:

“Deus não nos reservou para a ira mas para a salvação que nos vem de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Tes 5, 9).

O resto fiel é preservado da maldade do mundo, a fim de participar no Reino da glória de Deus (1 Tes 2, 12).

Os cristãos falecidos vão ressuscitar no dia da vinda do Senhor, a fim de participarem na festa da salvação (1 Tes 4, 15-17).

Deus é fiel e por isso fortalece, a fim de aparecermos irrepreensíveis no dia da vinda de Cristo (1 Cor 1, 8; 1 Tes 3, 13; 5, 23-24).

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Calmeiro Matias

FIM DO MUNDO E JUÍZO FINAL EM SÃO PAULO-V

V-A VINDA DO SENHOR

Os que se obstinam na prática do mal estão a acumular razões de condenação para o dia da ira de Deus (Rm 5, 9).

Para os eleitos, o dia do Senhor é motivo de alegria e exultação, pois eles formam o grupo dos eleitos que foram marcados com o Espírito Santo que é o selo da salvação de Deus (Ef 4, 30).

Nós não andamos nas trevas de modo a ser surpreendidos no dia do Senhor (1 Tes 5, 4). Devemos vigiar e estar atentos, pois este dia está próximo (Flp 4, 5;Rm 13, 11).

Na verdade, nós já chegámos a estes tempos que são os últimos (1 Cor 10, 11). Esse será o dia da vingança em que o Senhor vai chegar com todo o seu poder, acompanhado dos seus anjos (2 Tes 1, 5-10).

Os eleitos devem permanecer tranquilos, pois para eles não há condenação. Na verdade, ninguém nos poderá separar do amor de Cristo (Rm 8, 35-39).

O resto dos eleitos será reunido dos quatro cantos da terra, a fim de formar o Reino Messiânico, diz o evangelho de São Marcos. A estes a ira não os atingirá (Mc 13, 26).

Os judeus que troçam do anúncio da Segunda vinda diz a Segunda Carta de São Pedro, fazem parte do grupo dos ímpios reservados para o dia da ira (2 Pd 1, 16-17).

Estes serão punidos com o fogo, o flagelo que atingiu os habitantes de Sodoma (2 Pd 2, 7-8). Se Deus tem atrasado um pouco esse dia, é para possibilitar a salvação do maior número possível (2 Pd 3,3).

São Paulo pensava que o Reino de Cristo, na Terra, duraria apenas o tempo suficiente para Cristo dominar os poderes maléficos que vagueiam pelos ares.

Depois, o Senhor ressuscitado entregará o Reino ao Pai, afim de Deus ser tudo em todos (1 Cor 15, 24-28).

São Paulo não é milenarista como o autor do Apocalipse, para quem o reino messiânico, sobre a terra, durará mil anos.

O evangelho de São João tem uma visão profundamente diferente da visão do Apocalipse e mesmo da de São Paulo.

Eis o que Jesus diz neste evangelho: “Eu não vim para julgar o mundo, mas para o salvar” (Jo 12, 47).

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Calmeiro Matias

terça-feira, 8 de julho de 2008

CRESCIMENTO PESSOAL NA ADOLESCÊNCIA-I

I-O DESPERTAR DA ADOLESCÊNCIA

O despertar da adolescência irrompe com uma forte dose de mistério e, por isso, ele desperta tantas dúvidas e interrogações, tanto nos adolescentes como nos pais e educadores.

Eis algumas das manifestações significativas que marcam o despertar da adolescência:
Crescimento do sentido da própria identidade.

Atenção especial ao seu mundo interior: sentimentos, emoções, impulsos, ideais, etc. Despertar do pensamento abstracto e capacidade de entrega generosa a uma causa.

Capacidade de adiar recompensas. Surgimento de preocupações pelos problemas sociais.
Preocupação e interesse pelo futuro, vontade de assumir tarefas orientadas no sentido de corrigir as injustiças e desigualdade de tipo social.

É o período em que despertam afectos fortes e os impulsos sexuais. O adolescente torna-se capaz de viver relações interpessoais com grande empenho e profundidade.

O adolescente vive o mundo dos valores como um chamamento a compromissos generosos. Este chamamento, no entanto, é acompanhado com uma forte carga de idealismo.

Cresce nele o apreço pelos valores morais e o sentido dos direitos humanos.

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Calmeiro Matias

CRESCIMENTO PESSOAL NA ADOLESCÊNCIA-II

II-A DEFINIÇÃO DA PERSONALIDADE

É na adolescência que se afirmam de maneira decisiva as manifestações da mulher ou do homem que vai realizar-se de modo livre, consciente e responsável.

O adolescente pode não saber ainda muito bem o que quer, mas sabe muito bem aquilo que não quer.

As suas decisões e opções acontecem dentro de um sistema de valores com os quais se identifica.
A adolescência é um período fundamental para tomar decisões e fazer opções.

Os adultos dão-se muito bem conta da importância das decisões, escolhas e decisões tomadas na adolescência e na juventude em geral, pois compreendem a importância que teve na nossa vida tal escolha ou decisão.

A experiência ensinou os adultos a importância das decisões, opções e escolhas acertadas que se fazem na adolescência.

Qualquer adulto consciente e bem formado reconhece a verdade de afirmações deste tipo:
Como hoje seria diferente se tivesse optado de outro na fase da minha juventude!

Ah, se o tempo voltasse para trás como eu teria optado de outro modo! Que seria de mim hoje se eu não tivesse tomado aquela decisão difícil?

Tudo isto quer dizer que o período da adolescência e da juventude são fundamentais para tomarmos decisões que vão orientar de modo marcante o futuro da pessoa.

Como sabemos, as decisões e opções significativas têm sempre consequências na nossa vida.
São elos que se vão ligar a uma cadeia de muitas outras decisões e opções que só acontecem porque nós optámos de determinada maneira na adolescência ou na juventude.

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Calmeiro Matias

CRESCIMENTO PESSOAL NA ADOLESCÊNCIA-III

III-EDIFICAR UM EDIFÍCIO SÓLIDO

As opções, escolhas e decisões da adolescência são como que o alicerce sobre o qual se edifica uma casa.

Se o alicerce for robusto e seguro, a casa fica sólida e segura. Se, pelo contrário, o alicerce for arenoso e sem profundidade, a casa vai acabar por ruir quando chegarem as tempestades e os vendavais.

Até ao período da adolescência fomos moldados pelos demais, em especial os pais e educadores.
Com a adolescência, a pessoa começa a interagir com os outros de modo muito mais selectivo, isto é, aceitando umas coisas e rejeitando outras.

O adolescente não pode esquecer que continua a precisar dos outros para se realizar, embora de maneira mais autónoma.

Como já vimos, o adolescente pode ainda não saber bem o que quer, mas sabe muito bem aquilo que não quer.

Na verdade, o adolescente começa a saber excluir coisas que ele sente não servirem para ele.
Mas precisa dos outros para descobrir outras coisas que ele desconhece e são fundamentais para a sua realização.

De facto, continua a precisar dos pais e educadores, a fim de construir aquilo que ainda lhe falta para ser uma pessoa plenamente autónoma, segura e realizada.

Pouco a pouco o adolescente começa a sentir que está a emergir nele uma maturidade que se manifesta através de decisões mais amadurecidas e responsáveis.

Com grande alegria os próprios pais também descobrem isto e falem entre si com muito orgulho do seu filho ou filha a crescer.

E assim se vai afirmando o jeito de ser do homem ou da mulher que está a adquirir a sua configuração definitiva na adolescência.

Como somos seres em construção, todas as decisões têm impacto e consequências na nossa vida, em particular as decisões relacionadas com a orientação do futuro.

Como sabemos, a pessoa é um ser histórico. As decisões, escolhas, opções e compromissos vão-se entretecendo e tornando interdependentes.

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Calmeiro Matias

CRESCIMENTO PESSOAL NA ADOLESCÊNCIA-IV

IV-ADOLESCÊNCIA E VALORES

A adolescência é um período cheio de incontáveis oportunidades e desafios.
Feliz do adolescente e do jovem que começa a decidir e optar orientado pelos valores que conduzem à maturidade e realização pessoal.
Eis alguns destes valores:
Verdade;
Lealdade;
Honestidade;
Justiça;
Fidelidade à sua consciência;
Capacidade de gerir a própria vida;
Atenção aos outros;
Coragem para manifestar e defender as próprias convicções;
Fraternidade;
Coragem para defender os que estão a ser injustamente marginalizados ou machucados;
Disponibilidade para se comprometer com causas sociais importantes.

Na medida em que o adolescente comece a orientar a sua acção por estes e outros valores básicos, está a configurar de modo positivo o seu próprio futuro.

Podemos dizer que o futuro de um jovem ou adolescente depende em grande parte da capacidade de conduzir e orientar bem as oportunidades que se lhe apresentam neste período importante da sua vida.

Por seu lado, os pais que apresentam aos filhos os critérios, a sabedoria e os valores para decidirem de modo seguro estão a oferecer-lhes excelentes possibilidades de realização.

Os critérios, a sabedoria e os valores são ferramentas preciosas e indispensáveis para os adolescentes modelarem a sua personalidade numa linha correcta.

Como sabemos, a pessoa faz-se, fazendo. Torna-se capaz de optar, optando. Quanto mais o adolescente for iniciado na arte de decidir e optar correctamente, mais vai sendo capaz de se construir como pessoa livre, consciente e responsável.

No interior da pessoa vai-se formando de modo progressivo um núcleo de decisão onde se combinam os valores transmitidos pela educação, os quais nos dão critério para escolhermos de modo acertado.

Este núcleo de decisão e confronto com os valores é chamado pela Bíblia de coração e ao qual nós damos o nome de consciência.

Visto nesta perspectiva, o coração é o ponto de encontro do melhor que recebemos dos outros com a luz e a voz do Espírito Santo que nos convida a agir de acordo os valores inscritos pelos outros em nós.

Os pais e os educadores são as principais mediações para se estruturar o coração, isto é o ponto de encontro onde se encontram face a face o que recebemos dos outros, a nossa sensibilidade e a voz do Espírito Santo.

A pessoa responsável é aquela que responde de modo correcto a estas interpelações e apelos que levamos no mais íntimo do nosso ser.

O coração é o santuário sagrado do adolescente no qual ninguém pode entrar para decidir ou optar, substituindo-o.

Por outras palavras, o adolescente só poderá ser livre, consciente e responsável na medida em que seja ele a entrar no labirinto interior da sua consciência e encontrar a sua própria saída.

No entanto, ele não se pode esquecer que é fundamental escutar os outros, sobretudo os que têm uma experiência maior nesta caminhada da realização humana.

Os outros não podem substituir-nos, mas são mediações fundamentais para nós encontrarmos as saídas certas que nos conduzem à maturidade psíquica e espiritual.

Nesta tarefa da nossa realização ninguém nos pode substituir, mas também é verdade que ninguém se pode realizar sozinho.

Como vemos, a pessoa não é uma ilha. Pelo contrário, forma um todo orgânico com toda a Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 5 de julho de 2008

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-I

I-O DIA DA IRA E A FACE VINGATIVA DE DEUS

Ao aperceberem-se de que o pecado contraria o projecto de Deus, os profetas bíblicos começam a produzir alguns textos de tipo apocalíptico, a fim de acentuarem que Deus não pactua com o pecado e que este não tem um lugar definitivo no plano de Deus.

Os apocalipses dos profetas começam a falar de uma intervenção purificadora universal de Deus , a qual terá como fim a correcção das distorções operadas pelo pecado.

Nesta intervenção final Deus porá fim à existência do pecado, destruindo todos os pecadores.
A intervenção final de Deus será, pois, um dia de tragédia universal, ao qual os profetas puseram o nome de dia da ira.

Nesse dia todos os pecadores seriam mortos. Só o pequeno resto dos justos se salvaria. Estes justos começam a ser chamados o pequeno resto.

Nesse dia não haverá escapatória: “Ai dos que desejam ver o dia do Senhor. Será um dia de trevas e não de luz.

É como um homem que foge de um leão e encontra um urso. É como se o homem, ao regressar a casa, apoiasse a mão na parede e fosse mordido por uma serpente.

O dia do Senhor será de trevas e não de luz, de escuridão e não de claridade” (Am 5, 18-20).
Isaías vê o dia da ira como o dia do terror: Estremecei porque o dia do Senhor está perto. Virá como um açoite do Deus omnipotente (Is 13, 6).

O profeta Joel reforça o discurso dos profetas anteriores dizendo que o dia do Senhor está muito próximo:

“Ai aquele dia! O dia do Senhor está muito próximo. Virá como destruição operada pelo devastador.

O Sol e a Lua ficarão escuros e as estrelas já não brilharão” (Jl 1, 15-16; cf. 2,1). O dia do Senhor é o dia do julgamento universal: Multidões e mais multidões vão juntar-se no vale do julgamento, pois o dia do Senhor está perto” (Jl 4,14).

Será um dia de ira e vingança, diz o profeta Isaías: “A terra embriagar-se-á de sangue e ficará coberta de gorduras de animais, pois é o dia da vingança do Senhor” (Is 34, 8).

Por detrás desta perspectiva aterradora está um cenário de esperança que aguarda a renovação da Humanidade.

O Paraíso primordial da harmonia e da paz será restaurado por Deus naquele dia. O Espírito de Deus vai recriar o Homem, dando-lhe um coração novo.

Para o pensamento bíblico, o coração é o núcleo mais nobre da interioridade espiritual de pessoa.
O coração é o ponto de encontro da pessoa com Deus e o núcleo a partir do qual a pessoa decide a qualidade das relações e do encontro com Deus e os irmãos.

O resto fiel é o grupo de justos com o qual Deus vai renovar a sua aliança, dando origem a uma nova Humanidade.

Será algo parecido ao resto que escapou do dilúvio e com o qual Deus restaurou a sua Aliança (Gn 9, 1-13).

No coração desta Humanidade recriada, Deus vai infundir uma nova força espiritual, diz o profeta Ezequiel.

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Calmeiro Matias

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-II

II-DEUS PLANEIA A RENOVAÇÃO DO HOMEM

“Dar-lhes-ei um coração novo e infundirei no seu íntimo um espírito novo. Arrancarei do seu peito o coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne, a fim de caminharem sobre os meus preceitos e observarem as minhas leis.

Então eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus” (Ez 11, 19-20). Naquele dia Deus vai fazer surgir o Homem Novo, o qual é obra do Espírito Santo:

“Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito renovado. Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne.

Dentro de vós porei o meu Espírito, a fim de seguirdes as minhas leis e praticardes os meus preceitos” (Ez 36, 26-27).

Oseias diz que a restauração do povo acontecerá em três dias, texto que o Novo Testamento vai interpretar como tratando-se de uma profecia sobre a ressurreição de Cristo:

“Deus dar-nos-á a vida em dois dias e ao terceiro dia nos levantará” (Os 6, 1-2). Segundo os textos apocalípticos do dia da ira, a maior parte da Humanidade seria destruída pela ira de Deus.

Só o pequeno resto escapará. As pessoas ficarão cheias do Espírito Santo, passando a formar o Reino Santo de Deus, diz o profeta Isaías (Is 7, 3; 10, 20-22).

Deus fará, então, uma Aliança definitiva com este resto restaurado, diz o profeta Jeremias:“Dias virão em que firmarei um Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá Oráculo do Senhor (…).

Esta será a Aliança que estabelecerei, depois desses dias com a casa de Israel, oráculo do senhor:
Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Jer 31, 31-33).

De modo gradual e progressivo, o judaísmo posterior aos profetas começa a associar o dia da Ira à vinda do Messias.

Quando o Messias vier, ele vai criar a Nova Humanidade, destruindo o pecado e os pecadores.
A própria pregação de João Baptista situava-se nesta linha.

Eis o que diz o evangelho de São Lucas: “João dizia às multidões que acorriam para serem baptizadas: Raça de víboras quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar” (Lc 3, 7).

João era um continuador da grande tradição dos profetas de Israel. No evangelho de São Mateus, João Baptista ameaça os fariseus e os saduceus com o dia da ira que estava para chegar:

“Vendo que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu baptismo, João dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar (…).

O machado já está posto à raiz das árvores e toda a árvore que não dá fruto vai ser cortada e lançada no fogo (…).

O que vai chegar baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. Ele tem na sua mão a pá de joeirar, limpará a sua eira e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará a palha num fogo inextinguível” (Mt 3, 7-12).

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Calmeiro Matias

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-III

III-A TRANSFORMAÇÃO OPERADA POR JESUS

Jesus ao ouvir a pregação de João começou a distanciar-se no que dizia respeito ao dia da ira.
Na verdade, Jesus não se sentia chamado a destruir os pecadores, mas a libertá-los das amarras do pecado.

De João Baptista Jesus recebeu a ideia de que o Reino estava mesmo a chegar. As tentações significavam precisamente a crise pela qual Jesus passou ao tentar discernir o modo de realizar a sua missão messiânica.

Segundo o evangelho de São Lucas, o Espírito Santo ajudou Jesus a descobrir a sua missão messiânica através de um texto de Isaías (Is 61, 1-3).

Após ter descoberto o plano de Deus para si, Jesus comunicou de modo solene a sua descoberta na sinagoga da sua terra (Lc 4, 18-21).

A pregação inicial de Jesus limitava-se a interpelar as pessoas no sentido de se converterem a Deus, pois o seu Reino estava mesmo a chegar.

Eis o que nos diz o evangelho de São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Se Jesus é o Messias, ele é o rei, o Filho prometido a David. Com o acontecimento da morte de Jesus os discípulos pensaram que, afinal, Jesus não era o rei prometido a David.

No evangelho de São Lucas aparece muito clara a desilusão dos discípulos de Emaús: responderam-lhe: “O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo.

Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel. Entretanto os sumo-sacerdotes e os nossos chefes entregaram-no para ser condenado à morte e crucificado.

E já lá vai o terceiro diz desde que se deram estas coisas” (Lc 24, 19-21).

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Calmeiro Matias

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-IV

IV-INFLUÊNCIAS APOCALÍPTICAS NA PREGAÇÃO DOS APÓSTOLOS

Após a experiência do Senhor ressuscitado, os discípulos começaram a pregar a realeza de Cristo, dizendo que é o Messias anunciado.

Os judeus mataram-no, mas Deus ressuscitou-o e entronizou-o, fazendo-o sentar à sua direita no Céu (Rm 1, 3-5).

Isto quer dizer que o Senhor ressuscitado, agora constituído rei messiânico, vai regressar para restaurar o Reino de Deus.

Esta restauração vai acontecer através de uma segunda vinda, a qual implicará, então, a eliminação total do pecado através de destruição dos pecadores.

Para os Apóstolos era normal que isto fosse assim, pois foi isto que os profetas anunciaram (Act 3, 19-21).

E é assim que os Apóstolos começam a pregar a segunda vinda de Cristo como o dia da ira.
Sentado no Céu à direita de Deus Pai, Jesus subiu ao trono à maneira do Filho do Homem, tal como o profeta Daniel anunciou (cf. Dan 7, 13-14).

A partir de agora, o dia da ira torna-se sinónimo da segunda vinda de Cristo: “Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva.

Vós sabeis perfeitamente que o dia do Senhor chega de noite, como um ladrão. Quando disserem, paz e segurança, então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína como as dores de parto sobre a mulher grávida. Nenhum deles escapará.

Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão (…).

Considerando-se privilegiado por fazer do pequeno resto dos justos, São Paulo diz que Deus não nos destinou para a ira, mas para a posse da salvação, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5, 1-9).

Jesus vai vir como juiz severo e castigador. O dia da sua vinda será um dia de desgraça.
Eis as palavras dos Actos dos Apóstolos:

“O Sol transformar-se-á em trevas e a Lua em sangue antes de vir o dia do Senhor, grande e glorioso.

Todo o que invocar o nome do Senhor (o resto fiel) será salvo” (Act 2, 20-21). Jesus Cristo virá sentado no seu trono, investido do poder de julgar, condenar e destruir os pecadores (Lc 21, 20-30).

A prova de que esse dia está prestes a chegar, é que Deus derramou o seu Espírito (Pentecostes) como tinha prometido pelo profeta Joel:

“Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: “Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura” (Act 2, 16-17).

Só os que fazem parte do resto fiel escaparão ao dia da ira, diz a Primeira Carta aos Tessalonicenses:

“Deus não nos reservou para o dia da ira, mas para alcançarmos a salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 5, 9).Esta pregação dos Apóstolos está fundamentada nos textos apocalípticos dos antigos profetas e não são fruto directo da pregação de Jesus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-V


V-JESUS E A LIBERTAÇÃO DOS PECADORES

Na verdade, a pregação de Jesus incidia sobre a vinda do Reino de Deus e não sobre uma segunda vinda para destruir o pecado.

Foi a pregação apocalíptica de João que fez Jesus entrar em crise e ir para o deserto aprofundar o plano de Deus sobre a sua missão.

O Senhor não entendia a sua missão como uma tarefa destinada matar os pecadores. O modo de actuar de Jesus demonstra que nunca se atribuiu o papel de executor da ira de Deus.

Pelo contrário, Jesus entendia-se como o enviado de Deus para destruir o pecado, a fim de libertar os pecadores.

Por isso enfrenta a velha mentalidade do judaísmo que matava os pecadores, julgando prestar assim um serviço à justiça de Deus.

Tomou partido pela mulher adúltera, apesar de ser contra o adultério (Jo 8, 3-11). Além disso entra na casa de Zaqueu e toma parte numa refeição ao lado dos pecadores e marginais (Lc 19, 7-8).

Sabemos como os Apóstolos se esforçavam para conciliar a missão de Jesus Cristo com os escritos do Antigo Testamento, de modo especial com os escritos dos profetas.

São Paulo entendeu muito bem a missão libertadora de Jesus que veio para salvar os pecadores.
Eis o que ele diz na Primeira Carta a Timóteo: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” (1 Tim 1,15).

Do mesmo modo, para Jesus, a obra de Deus é a salvação dos pecadores: No relato da Anunciação, o anjo disse o seguinte a José:

“Ela dará um filho e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1, 21).

Estando a falar da sua missão com um grupo de fariseus e saduceus, Jesus declara-lhes: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32).

Jesus sabia distinguir muito bem entre pecado e pecador. O pecado é para ser destruído. O pecador é para ser liberto e salvo:

“Quem comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34). Eram conhecidas e motivo de críticas as muitas refeições de Jesus com os pecadores:

“Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, vieram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se à mesa com ele e os seus discípulos.

Vendo isto, os discípulos perguntaram aos discípulos: “Porque come o vosso mestre com os publicanos e os pecadores?” (Mt 9, 10-11; cf. Mc 2, 15-16; Lc 5, 30).

A libertação do pecador é, para Jesus um motivo de grande alegria:“ Alegrai-vos, comigo porque encontrei a minha ovelha perdida!

Eu vos digo que haverá no Céu mais alegria no Céu por um só pecador que se converta do que por noventa e nove justos que não precisa de conversão” (Lc 15, 6-7).

A parábola do Filho Pródigo é a alegoria genial para falar do amor incondicional de Deus para com os pecadores.

O pecador encontra sempre o Pai do Céu de braços abertos para o acolher (Lc 15, 11-32). Eis o que São Paulo diz nos Actos dos Apóstolos: “Sabei que é por este Jesus que a remissão dos pecados vos é anunciada” (Act 13, 38).

Isto quer dizer que os textos apocalípticos sobre a destruição dos pecadores por parte de Jesus afastam-se do núcleo da pregação de Jesus sobre o plano salvador de Deus.

Os textos apocalípticos do Novo Testamento que falam de Jesus como o executor do dia da ira têm como fonte os apocalipses dos profetas e a leitura que o judaísmo tardio fez destes textos.

O rosto de Deus Pai apresentado por Jesus é sempre o Pai bondoso e nunca o Deus castigador dos apocalipses.

Aos ensinar os discípulos a rezar, Jesus ensinou-os a tratar Deus como Pai bondoso sempre disposto a ajudar-nos (Mt 6, 9-13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias