terça-feira, 29 de setembro de 2009

A META DIVINA DA HUMANIDADE-I

I-O BARRO DO QUAL EMERGIU ADÃO

Ao iniciar a génese da criação, Deus já tinha em mente a emergência da vida espiritual, condição básica para o gesto de amor infinito da Encarnação.

Por outras palavras, ao iniciar a marcha criadora, Deus já tinha em vista a génese da vida pessoal na génese do Universo e a divinização do Homem em Jesus Cristo.

A Palavra de Deus diz-nos que a plenitude do Homem não culmina na comunhão humana, mas sim na assunção e incorporação Do Homem na Família de Deus.

Por outras palavras, a nossa plenitude acontece através de Jesus ressuscitado o qual, ao comunicar-nos o Espírito Santo, nos introduziu na comunhão da Santíssima Trindade.

É esta a razão pela qual temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, como diz Jesus Cristo (Jo 3, 6).

Ao encarnar, acrescenta o evangelho de São João, o Filho de Deus deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus.

Eis as suas palavras: “A todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).

Por outras palavras, nascemos inacabados, a fim de completarmos em nós a obra criadora de Deus, isto é, humanizarmo-nos em relações de amor, a fim de atingirmos a plenitude do Reino de Deus.

Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de amar e comungar com Deus e os irmãos.

O ser humano nasce hominizado, isto é, com uma estrutura própria de homem, mas não nasce humanizado, pois a humanização é uma tarefa que cada pessoa tem de realizar em contexto de relações de amor.

Depois de o barro estar amassado, diz o Livro do Génesis, Deus beijou-o e introduziu nele o hálito da vida, a fim de este iniciar a aventura da humanização (cf. Gn 2, 7).

A Encarnação representa um outro beijo, do qual derivou a divinização do Homem. O primeiro beijo foi dado ao Homem por Deus Pai no início da grande epopeia da humanização.

O segundo beijo é dado ao Homem pelo Filho de Deus, possibilitando o salto qualitativo da divinização da Humanidade.

Através do segundo beijo, os seres humanos passam a interagir de modo orgânico com a própria comunidade divina.

De facto, isto só pode acontecer através de Jesus, o evangelho de São João: “Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

O Espírito Santo fortalece e alimenta a nossa união orgânica com Jesus através do qual somo incorporados na comunhão da Família de Deus.

Jesus comparou a nossa união com ele à união que existe entre ele que é a cepa da videira, e nós que somos os ramos.

Só podemos ser ramos vivos e fecundos se permanecermos unidos à cepa da qual nos vem a seiva, isto é, o Espírito Santo (cf. Jo 15, 4-5).

No nosso íntimo, diz Jesus, o Espírito Santo é como uma Água Viva que faz brotar no nosso coração uma fonte de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

Por outras palavras, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo como fonte de Vida Eterna é falar da mesma realidade.

O Espírito Santo é o Sangue da Nova Aliança que vai ser derramado para perdão dos pecados (cf. Mt 26, 28).

Ele é o produto da videira que Jesus beberá com os discípulos no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).

Ele é o beijo que Deus deu ao barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7). Ele é também o beijo da Encarnação através do qual fomos introduzidos na plenitude dos tempos.

O tempo da gestação chegou à plenitude, dando início ao parto do qual vão surgir os filhos de Deus, pela acção do Espírito Santo, diz a Carta aos Gálatas:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).

O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).

O plano de Deus assenta sobre estes dois beijos que devem ser entendidos como uma realidade dinâmica e progressiva.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A META DIVINA DA HUMANIDADE-II

II-HUMANIZAÇÃO E COMUNHÃO COM DEUS

À medida que um ser humano se humaniza emerge como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de amar.

A tarefa da humanização dura a vida toda de uma pessoa. Estamos na História para nos humanizarmos e, deste modo, atingirmos a meta da divinização.

A Comunhão Universal para a qual convergem os seres humanos é a festa universal do Reino de Deus.

Isto quer dizer que o projecto de Deus para a Humanidade engloba duas dimensões: a criação e a salvação.

A salvação da pessoa humana consiste na sua incorporação na Família de Deus. Eis as palavras de São Paulo:

“Na verdade, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos encha de medo.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos. É por este Espírito que clamamos “Abba” ó Pai.

O próprio Espírito Santo dá testemunho no nosso íntimo de que realmente somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos também somos herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-16).

Graças a esta presença dinâmica do Espírito Santo em nós, Deus torna-se realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco, como diz o evangelho de São Mateus:

“Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem chamarão Emanuel, isto é, Deus connosco” (Mt 1, 23).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo Deus vai-nos moldando à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27).

Pelo segundo, vai-nos incorporando na Família Divina (Jo 1, 12-14). Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo facilita a nossa caminhada no processo da humanização.

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo ressuscitado. Assim como ressuscitou Jesus também nos vai ressuscitando com ele.

O sacramento da Eucaristia exprime esta união orgânica com Cristo, dizendo que nós e Jesus fazemos um como ele é um com o Filho Eterno de Deus e, através dele, é um com o Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

E foi assim que o Filho unigénito de Deus, ao encarnar se tornou o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo (Rm 8, 29).

São Paulo não se cansava de insistir que o Espírito Santo habita no nosso coração. Em primeiro lugar diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Na Primeira Carta aos Coríntios, ele diz que o nosso coração é um templo no qual habita o Espírito Santo:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

Repete ainda esta mesma ideia na Segunda Carta aos Coríntios: “Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus:

Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

Diz ainda: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo recebestes de Deus e que está em vós? “ (1 Cor 6, 19).

A presença do Espírito Santo é nós é uma fonte de santidade: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Eis como o Livro do Apocalipse descreve a comunhão definitiva do Homem com Deus na plenitude do Reino:

“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: ‘Esta é a morada de Deus entre os homens.

Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo. Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos, pois já não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 26 de setembro de 2009

DESCOBRINDO O ROSTO DE DEUS-I

I-O ROSTO DE DEUS COMO MISTÉRIO ASSUSTADOR

O rosto de Deus, na bíblia, significa o ser e a identidade de Deus. Quando a bíblia diz que um patriarca ou um profeta procura o rosto de Deus quer dizer que essa pessoa deseja entrar na intimidade com Deus.

No Antigo Testamento há muitas passagens bíblicas que falam da impossibilidade de ver a face de Deus.

Há textos que falam do perigo de ver o rosto de Deus. O livro do Génesis diz que certa noite o patriarca Jacob passou a noite a lutar com um personagem desconhecido.

Pela manhã, ao aperceber-se de que se tratava de Deus, Jacob ficou assustado, pois viu Deus face a face e não morreu (Gn 32, 30).

Subjacente a este relato está a ideia de que o homem não pode ver o rosto de Deus, isto é, não tem acesso directo ao mistério do ser e da identidade de Deus.

Por outras palavras, a transcendência e a santidade de Deus é tão excelsa que a proximidade de Deus pode representar uma ameaça para o Homem que é pobre e pecador.

O Livro do Êxodo descreve um episódio em que Moisés pede a Deus para lhe mostrar o seu rosto. Deus respondeu-lhe dizendo que o ser humano não pode ver o rosto de Deus e continuar a viver:

“Não podes ver o meu rosto, disse Deus, pois o homem não me pode ver e continuar a viver” (Ex 33, 20).

É evidente que um texto como este não é para ser tomado à letra. Na verdade, o autor quer dizer apenas que Deus e Moisés não são iguais. O ser humano é imperfeito e limitado.

Deus, pelo contrário, é infinitamente perfeito em todos os seus aspectos. Dizer que o homem não pode ver o rosto de Deus quer dizer que o Homem não tem capacidade para captar Deus de modo perfeito.

A prova de que o autor não pretende ser tomado à letra, é que no capítulo vinte e quatro do mesmo Livro do Êxodo o autor diz que Moisés viu a face de Deus.

Apesar de ter visto a face de Deus e ter comunicado face a face com ele, Moisés não morreu (Ex 24, 10-11).

O livro do Deuteronómio diz que Moisés foi especial entre os profetas, pois Deus comunicou face a face com ele (Dt 34, 10).

Estes textos pretendem afirmar a excepcional intimidade que existia na relação de Deus com Moisés.

A aparente contradição destes textos não é mais que uma tentativa de afirmar por um lado a total transcendência de Deus e, por outro, a sua presença junto do Homem.

Por vezes a bíblia dá a entender que Deus esconde o seu rosto quando está magoado com os pecados do povo.

Neste caso, esconder o rosto corresponde a afastar-se do Homem. A palavra hebraica “Paniym” significa rosto e presença. Portanto, esconder o rosto é retirar-se, afastar-se.

O livro do Êxodo apresenta Moisés como o grande revelador do rosto de Deus. A maneira de Moisés revelar o rosto de Deus consiste em fazer de medianeiro entre Deus e o povo, indo ao encontro de Deus e voltando de novo para junto do povo.

Por outras palavras, o medianeiro é uma pessoa que fala de Deus como de alguém com quem acabou de se encontrar.

Eis alguns textos significativos sobre a tarefa do medianeiro: “E Moisés subiu até Deus (Ex 19, 3).

Então Moisés desceu de junto de Deus e falou aos anciãos do Povo (Ex 19, 7).

Moisés levou as palavras do Povo até junto de Deus (Ex 19, 8).

Então Moisés desceu da montanha até à planície onde se encontrava o Povo (Ex 19, 14).

O Senhor chamou Moisés do alto da montanha. Então Moisés subiu até ao topo da montanha e conversou com Deus (Ex 19, 20).

Depois, Moisés desceu até junto do Povo e disse (Ex 19, 25).

Moisés subiu para receber as tábuas da Lei. O Povo, aterrorizado, mantinha-se à distância e não quis aproximar-se da nuvem densa a partir da qual Deus comunicava com Moisés (Ex 20, 18-21).

O Povo mantinha-se à distância, enquanto Moisés se aproximou da densidade da nuvem na qual Deus estava presente (Ex 20, 21).

Então Moisés desceu até junto do Povo e relatou todas as palavras do senhor e os seus preceitos (Ex 24, 3);

De novo Moisés subiu à montanha cujo pico ficou coberto pela nuvem (Ex 24, 15).

Então, Moisés recebeu as tábuas da Lei, as quais foram escritas pelo próprio dedo de Deus (31, 18).

Depois, Moisés desceu da montanha, trazendo as Tábuas da Lei, as quais estavam escritas dos dois lados (Ex 32, 15).

Depois, Moisés voltou até junto de Deus (Ex 32, 31).

Então, Deus disse a Moisés: “Agora vai e conduz o Povo até onde eu te disse” (Ex32, 34).

Moisés desceu da montanha, mas não sabia que o seu rosto brilhava em virtude de ter falado com Deus (Ex 34, 29).

Este texto significa que o portador da Palavra de Deus leva em si as marcas da mesma Palavra.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DESCOBRINDO O ROSTO DE DEUS-II

II-JESUS E O ROSTO DE DEUS

Para Jesus Cristo o encontro com o rosto de Deus acontece no interior da pessoa. Também para São Paulo a experiência de Deus é algo interior.
É por esta razão que ele diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

A primeira Carta aos Coríntios reforça esta ideia dizendo que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

É no íntimo do nosso coração que o Espírito Santo nos põe face a face com Deus Pai que nos acolhe como filhos e com o Filho de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14-17).

Quanto maior for a nossa fidelidade ao Espírito que nos habita mais profunda será a nossa comunhão familiar com o Espírito de Deus.

Por outras palavras, o mistério, na bíblia, é um segredo, isto é, uma realidade desconhecida à qual o ser humano só pouco a pouco pode ter acesso mediante a revelação de Deus.

Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Efésios: “Por revelação me foi dado conhecer o mistério, tal como vo-lo apresentei de modo sumário.

Ao lê-lo podereis compreender a compreensão que eu tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer dos homens do passado.

Mas agora Deus o revelou pelo Espírito Santo aos seus santos Apóstolos e Profetas” (Ef 3, 3-5).
Para o Novo Testamento o encontro com Deus acontece sempre mediação do Espírito Santo.

A Carta aos Colossenses diz que a missão de São Paulo é anunciar a riqueza e profundidade do mistério de Cristo, a fim de as pessoas poderem conhecer o mistério de Deus, no qual estão ocultos os tesouros da Sabedoria e do conhecimento de Cristo” (Col 2, 2-3).

No evangelho de São Mateus, Jesus diz aos seus discípulos que eles têm o privilégio de aceder aos mistérios do Reino:

“A vós foi-vos dado conhecer o mistério do Reino dos Céus, mas aos de fora não” (Mt 13, 11).

O evangelho de São Lucas é ainda mais explícito quando põe na boca de Jesus as seguintes palavras:

“Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Na verdade, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 23-24).

Jesus Cristo é a melhor expressão do rosto de Deus na História. Antes de revelar o rosto de Deus aos homens, Jesus Cristo comunicou face a face com o próprio Deus.

“Após ter sido baptizado, Jesus entrou em oração. Nesse momento, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre ele, tendo a forma corporal de uma pomba.

Nesse momento, ouviu-se uma voz vinda do Céu que disse: “Tu és o meu filho bem-amado. Hoje mesmo te gerei” (Lc 3, 21-22).

Antes de iniciar a sua missão, Jesus foi consagrado pelo Espírito santo e o Pai declara que ele é o Messias, o filho de Deus.

Tal como aconteceu com Moisés, Jesus procurava as montanhas, as colinas e os lugares silenciosos para contemplar o rosto de Deus, isto é, entrar em comunhão com a intimidade de Deus.

O ruído e a dispersão não são boas mediações para nos encontrarmos face a face com Deus. Eis o que diz o evangelho de São Lucas:

“Tomando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu à montanha para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornam-se brilhantes” (Lc 9, 28-29).

Não é difícil descobrir a relação desta e outras passagens com os relatos que falam dos encontros de Moisés com Deus:

“De madrugada, estando ainda escuro, Jesus levantou-se e retirou-se para um lugar deserto, a fim de orar (Mc 1, 35).

São Mateus diz mais ou menos a mesma coisa: “Tendo despedido as multidões, Jesus subiu ao monte para orar a sós” (Mt 14, 23).

Olhando para os ensinamentos de Jesus, vemos como Moisés e os profetas ficaram muito aquém de Jesus no que se refere à profundidade do conhecimento e da experiência de Deus.

Podemos dizer com toda a verdade que antes de Jesus, ninguém chegou tão longe na revelação do rosto de Deus.

Basta olhar para a profundidade deste texto do evangelho de São João para compreendermos o salto de qualidade que a revelação deu com Jesus Cristo:

“Jesus disse a Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco e não ficaste a conhecer-me, Filipe?

Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me pedes para te mostrar o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 9-10).

Numa outra passagem deste mesmo evangelho, Jesus fez a seguinte afirmação: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Quando a bíblia diz que Deus nos mostra o seu rosto, não está a falar de um acontecimento exterior.

Deus revela-se ao Homem a partir de dentro, pois ele é a interioridade máxima da realidade.

Por outras palavras, quando Deus vem ao encontro do Homem não vem a partir de fora.

A Primeira Carta aos Coríntios diz que o nosso coração é um templo onde o Espírito de Deus habita (1 Cor 3, 16).

O evangelho de São João diz que a revelação do rosto de Deus acontece porque Deus faz uma união orgânica connosco:

“Nesse dia, disse Jesus, compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).

Por ser homem como nós, Jesus é o medianeiro entre Deus o Homem como afirma a primeira Carta a Timóteo (1 Tim 2, 5).

O medianeiro tem a missão de revelar o rosto de Deus. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João:

“Jesus respondeu: eu sou o Caminho a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.
Se me conheceis, conhecereis também o Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo” (Jo 14, 6-7).

Isto quer dizer que as palavras e atitudes de Jesus são uma revelação perfeita do rosto de Deus.

Por outras palavras a fidelidade incondicional de Jesus à vontade de Deus é o meio mais perfeito de Jesus nos revelar o rosto do Pai.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DESCOBRINDO O ROSTO DE DEUS-III


III-OS CRISTÃOS E O ROSTO DE DEUS

À imitação de Jesus, as comunidades cristãs estão chamadas as ser no mundo uma revelação do rosto de Deus.

São Paulo diz que as comunidades cristãs são o corpo de Cristo (1 Cor, 10, 17; 12, 27). Isto quer dizer que a comunidade é uma mediação privilegiada para revelar o rosto de Deus, pois não é uma pessoa mas uma comunidade de três pessoas.

Na verdade, Deus não é uma pessoa mas uma comunidade amorosa de três pessoas. Além da união orgânica que liga Cristo e a Humanidade, os cristãos estão ligados a Cristo através de um vínculo sacramental.

Quando acolhemos a Palavra de Deus no nosso coração, o Espírito Santo consagra-nos para a anunciarmos ao mundo.

Enquanto orava, Jesus fazia a experiência do face a face com Deus, condição essencial para revelar o rosto de Deus ao mundo.

Quando Jesus falava de Deus às pessoas estas tinham um pouco a impressão de que Jesus acabava de se encontrar com Deus. Assim devemos ser nós também.

São Paulo diz que missão do Apóstolo é uma graça de Deus: “Foi-nos dada a graça de anunciar aos gentios a maravilhosa salvação de Jesus Cristo” (Ef 3, 8).

Eis um ensinamento importante de Jesus sobre a necessidade de haver evangelizadores:

“A Seara é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da seara que mande operários para a sua seara” (Lc 10, 4-5).

No evangelho de São Mateus, Jesus insiste na importância da missão dos cristãos para que o rosto de Deus seja revelado aos homens:

“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens” (Mt 5, 13).

Depois acrescentou: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo da mesa, mas sim em cima, a fim de iluminar todas as pessoas” (Mt 5, 14-16).

O Apóstolo sabe que não leva Deus às pessoas. A sua missão é ajudar as pessoas a descobrirem o rosto de Deus e a sua presença salvadora no íntimo do seu próprio coração.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O JEITO DE AMAR DE JESUS CRISTO

Chamava-se Jesus e amou sem fingimento. A sua grande paixão era introduzir os seres humanos na Família de Deus.

Tratava Deus por Papá e ensinava as pessoas a fazer o mesmo dizendo: Pai-Nosso que estais no Céu.

Era corajoso e leal. Punha-se sempre do lado dos pobres e dos que não sabiam defender-se.

Deixava mais felizes os que tinham a sorte de comunicar com ele em profundidade. Nunca ninguém ficou mais pobre pelo facto de o ter encontrado.

Defendia a partilha como o caminho seguro para os bens chegarem para todos. Sentia-se bem entre os que tinham um coração capaz de ajudar as pessoas.

Apreciava a companhia dos pobres, pois estes têm uma grande capacidade de partilhar. Apesar de ser contra o pecado jamais defendeu a morte dos pecadores.

Foi por esta a razão que ele tomou partido pela mulher adúltera, apesar de ser contra o adultério.


A vitória de Cristo sobre a morte aconteceu pela acção do Espírito Santo em simultâneo com o próprio acontecimento da morte.

A primeira Carta de São Pedro diz que Jesus não podia permanecer sob o domínio da morte, pois nele estava o Espírito Santo, a dinâmica da ressurreição.

Jesus é a própria ressurreição como diz o Evangelho de São João:
“Jesus disse a marta: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido viverá” (Jo 11, 25).

Como o grupo apostólico só fez a experiência do ressuscitado ao terceiro dia, o autor da carta de Pedro diz que Jesus nesse intervalo não esteve sob o domínio da morte.

Nesse tempo intermédio entre a ressurreição e as aparições, Jesus esteve profundamente dinâmico.

Foi à morada dos mortos, acrescenta a Primeira Carta de São Pedro, levar o Evangelho e ressuscitar os que estavam sob o domínio da morte (1 Pd 3, 18-19).

Graças à união orgânica que existe entre nós e Jesus, o Espírito Santo tem condições para realizar a nossa ressurreição.

Jesus, no evangelho de São João, diz que a força ressuscitadora de Cristo na Humanidade acontece graças ao facto de existir uma união orgânica entre Jesus e a Humanidade.

Esta união, diz Jesus no evangelho de São João, é idêntica à união orgânica e vital que existe entre Cristo e Deus Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

Devemos entender a ressurreição de Jesus como um acontecimento progressivo a acontecer em simultâneo com o acto de morrer:

À medida que, no alto da cruz, Jesus ia morrendo, a ressurreição ia acontecendo, pela acção recriadora do Espírito Santo.

Por outras palavras, à medida que ia morrendo aquilo que no homem é mortal, o imortal ia sendo assumido e glorificado.

Isto quer dizer que no momento em que morreu o último elemento do que no homem é mortal, o imortal ou espiritual de Jesus Cristo ficou plenamente ressuscitado e glorificado em Deus.

Deus libertou Jesus da morte, não permitindo que ele estivesse um só momento sujeito à morte.
Quando Jesus acabou de morrer estava totalmente ressuscitado.

Enquanto a morte ia aniquilando o que no homem é destrutível pela morte, o Espírito Santo ia recriando e incorporando na comunhão divina o que tinha densidade para ser assumido e glorificado na Família da Santíssima Trindade.

Portanto, não existe qualquer distância temporal entre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Na verdade, à medida que Jesus ia morrendo, o Espírito Santo ia realizando a vitória sobre a morte.

Eis as palavras da Carta aos Hebreus:“Nos dias da sua vida terrena, Jesus apresentou orações e súplicas, com clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade” (Heb 5, 7).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




quarta-feira, 16 de setembro de 2009

JESUS CRISTO E O MISTÉRIO DA CRUZ-I

I-A SABEDORIA QUE EMERGE DA CRUZ

O Mistério da Cruz no acontecimento da morte e ressurreição de Cristo é uma fonte de Sabedoria que ilumina o mistério de Deus, de Jesus Cristo e do Homem.

O evangelho de São Lucas diz que Jesus, no momento de morrer sobre a cruz, garantiu ao Bom Ladrão que nesse mesmo momento ia abrir o Paraíso à Humanidade (Lc 23, 43).

Esta afirmação tem uma força simbólica enorme: no momento em que Jesus morre sobre a cruz, foi vencido o pecado de Adão.

O Livro do Génesis diz que após o pecado primordial, Deus fechou as portas do Paraíso, impedindo o acesso de Adão e seus filhos à Árvore da Vida.

“O Senhor Deus disse: “Eis que o homem quanto ao conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós.

Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele viva para sempre” (Gn 3, 22).

Inserida neste contexto, a cruz ganha uma força simbólica de vitória sobre o pecado e a morte.

Ao morrer e ressuscitar sobre a cruz, Jesus proporciona-nos o acesso à Vida Eterna da qual Adão nos tinha privado.

Esta afirmação é reforçada por uma série de acontecimentos que exprimem uma transformação radical face à vida do Homem e à sua História:

O véu do templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27, 51). Com este relato, os evangelistas querem dizer que graças à morte e ressurreição de Cristo, as pessoas humanas têm acesso directo a Deus.

Com efeito, graças ao facto de os seres humanos estarem unidos de modo orgânico a Cristo, são assumidos e incorporados na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

O véu do templo era um cortinado que separava o Santo dos Santos, isto é, o lugar santificado pela presença de Deus do santuário onde permaneciam os crentes.

Só o sumo-sacerdote entrava no Santos dos Santos para comunicar com Deus. Ao rasgar-se o véu do templo todas as pessoas têm acesso directo a Deus, pois estão unidas a Cristo ressuscitado, o único Sumo-Sacerdote.

Agora já fazemos parte da Família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Foi na cruz que teve início a Nova Humanidade, pois foi na cruz que aconteceu o mistério da morte e ressurreição de Cristo.

São Paulo diz que este acontecimento representa a plenitude dos tempos, isto é, o fim dos tempos da gestação e o início do parto através do qual nascem os filhos de Deus.

Ao chegar a plenitude dos tempos, os seres humanos nascem como filhos de Deus e já podem clamar “Abba”, Papá (Gal 4, 4-7).

O evangelho de São Mateus diz que no momento da morte e ressurreição de Jesus sobre a cruz, os túmulos começam a abrir-se e os justos começam a ressuscitar com Cristo (Mt 27, 52).

Na verdade, se Cristo é o Novo Adão, isto é, a Nova Cabeça da Humanidade, não tinha sentido ressuscitar a cabeça sem o corpo.

De facto, diz São Paulo, nós somos corpo de Jesus Cristo e seus membros, cada qual com sua função (1 Cor 12, 27).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E O MISTÉRIO DA CRUZ-II

II-A CRUZ E A DINÂMICA DA SALVAÇÃO

Foi a partir da cruz que aconteceu difusão salvadora do Espírito Santo. No momento em que o soldado introduziu a lança no coração de Jesus crucificado, saiu sangue e Água, diz o evangelho de São João (Jo 19, 34).

A água é a Água Viva como Jesus tinha ensinado aos Apóstolos, a qual faz emergir uma fonte de Vida Eterna no coração das pessoas (Jo 7, 37-38).

A Água Viva, acrescenta o evangelho, é o Espírito Santo, a força ressuscitadora de Jesus que também nos vai ressuscitando com ele.

As pessoas que beberem desta Água, disse Jesus à Samaritana, nunca mais terão sede (Jo 4, 14).

Do mesmo modo, o sangue que brotou do lado de Jesus, é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo que é, na verdade, o sangue de Cristo ressuscitado.

Os que são vivificados por este sangue recebem a Vida Eterna e ressuscitam com Jesus Cristo, como disse o mesmo Cristo (Jo 6, 54-55).

Foi a partir da cruz que o Espírito Santo rompe com as fronteiras estreitas da fé judaica.

Quando São João afirma que no momento da morte e ressurreição de Jesus o véu do templo se rasgou de alto a baixo também quer dizer que, nesse momento, Jesus pôs fim às fronteiras estreitas da religião judaica.

Por outras palavras, com a ressurreição de Cristo, a força salvadora do Espírito Santo adquire dimensões universais.

No momento em que Jesus morre e ressuscita no alto da cruz, a primeira pessoa que o reconheceu como Filho de Deus foi o centurião romano, o qual era pagão.

Cristo não nos fala de um Deus Pai cruel, um Deus incapaz de perdoar sem exigir tormentos e maus tratos.

As pessoas que interpretavam a morte de Jesus como um sacrifício expiatório exigido por Deus Pai estavam de facto a desfigurar o rosto de Deus.

Estas pessoas não se davam conta que Deus é uma Família Trinitária cujos laços são o amor e a comunhão.

O que Deus Pai sente em relação a nós também o sente o seu Filho Unigénito, bem como o Espírito Santo.

Jesus curava os doentes e perdoava os pecados, afirmando que era esta a vontade de Deus Pai.

Justificava o seu procedimento, dizendo que estava a proceder de Acordo com a missão que o Pai lhe tinha confiado:

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

Noutra passagem ainda mais explícita, afirma: “Eu não desci do Céu para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.

E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6, 38-39).

Se é este o jeito de Deus Pai amar e perdoar, como é que ele podia ter exigido ao seu Filho aquela morte cruel?

Deus não ama o pecado, e a morte de Jesus foi um pecado perpetrado pelos judeus daquele tempo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




JESUS CRISTO E O MISTÉRIO DA CRUZ-III

III-O AMOR E O MISTÉRIO DA CRUZ

São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7; 16). Isto significa que as pessoas divinas nada podem contra o amor, pois Deus não se pode negar a si mesmo.

Não basta dizer que Deus nos ama, pois ele ama-nos de modo incondicional. Por outras palavras, Deus não esteve à espera que fôssemos bons para gostar de nós.

Pelo contrário, criou o Homem à sua imagem e confiou-lhe o domínio de toda a criação (Gn 1, 26-30).

Depois, comunica-lhe o hálito da vida para que ele se possa tornar bom, humanizando-se. Por outras palavras, falar da justiça de Deus não significa falar de um julgamento de tribunal.

Se Deus é amor, a sua justiça não pode ser outra senão a justiça do amor e o amor nunca se vinga, diz São Paulo:

“O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 7-8).

Se Deus é amor, então temos de reconhecer que Deus é assim, quer se trate de Deus Pai, de Deus Filho ou do Deus Espírito Santo.

Esta é a luz que nos vem da Sabedoria da Cruz, a qual nos fala da plena fidelidade de Jesus à missão que Deus lhe confiou.

A morte violenta de Jesus resultou da maldade do judaísmo da sua época, o qual se opôs ao plano de amor e salvação universal de Deus.

Mas a sabedoria que brota da cruz revela-nos a grandeza do amor de Deus e a gratuidade do seu plano salvador em favor de todos os homens.

Ao mesmo tempo, o mistério da cruz revela-nos como a fidelidade de Jesus Cristo foi agradável a Deus, que o ressuscitou e sentou à sua direita.

O amor de Jesus Cristo por nós é o reflexo do amor que Deus nos tem. São Paulo entendeu muito bem a relação que existe entre o amor de Deus Pai por nós e o modo fiel como Jesus exprimiu este mesmo amor.

Eis as suas palavras na Segunda Carta aos Coríntios: “Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que em Jesus Cristo nos reconciliou consigo, não levando mais em conta o pecado dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

É por esta razão que na Primeira Carta a Timóteo, São Paulo diz que Jesus Cristo é o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tim 2, 15).

Eis como a Carta aos Colossenses descreve o projecto salvador que Deus sonhou para nós e realizou em Jesus Cristo:

“Jesus Cristo é a imagem perfeita do Deus invisível, o primogénito de toda a Criação. Foi em harmonia com ele que as coisas do Céu e da Terra foram criadas, tanto as visíveis como as invisíveis (…).

Tudo foi criado nele e por ele, pois ele é anterior a todas as coisas e todas subsistem por ele. Ele é a cabeça da Igreja e o princípio, o primogénito de entre os mortos, a fim de ter a primazia em todas as coisas.

Aprouve a Deus que habitasse nele toda a plenitude, a fim reconciliar consigo todas as coisas em Cristo e por Cristo” (Col 1, 15-20).

O mistério da cruz sintetiza de modo admirável este amor incondicional de Deus pela Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A EPOPEIA DO HOMEM EM CONSTRUÇÃO-I

I-O SENTIDODA HUMANIZAÇÃO

O Homem faz parte da cúpula personalizada do Universo!

Isto quer dizer que o Homem faz parte do melhor que a génese criadora do Universo já produziu.

É verdade que o Homem não é Deus, mas devido ao facto de a Humanidade ser uma união orgânica de pessoas é proporcional à própria Divindade.

Com efeito, a Divindade é pessoas constituídas em comunhão amorosa e a Humanidade também.
É por esta razão que o Homem é a menina dos olhos de Deus.

A vida humana já tem sabor a eternidade, pois está a emergir como vida espiritual e, por isso, com densidade de vida imortal.

Como realidade em construção, a pessoa humana está a emergir em cada ser humano de forma única, original e irrepetível.

A multidão dos seres humanos que nos precederam na aventura da histórica já está incorporada na comunhão Universal da Família de Deus.

Com o mistério da Encarnação, a Humanidade deu um salto de qualidade entrando no limiar da divinização.

São Paulo diz que, com Jesus Cristo, chegou o fim dos tempos, isto é, o fim da gestação e o começo do parto que deu início ao nascimento dos filhos de Deus (Ga 4, 4-7).

Agora já podemos dirigir-nos a Deus Pai, chamando-lhe Abba, isto é, Papá e dirigir-nos ao Filho de Deus chamando-lhe irmão (Rm 8, 14-16).

Por outras palavras, com Jesus Cristo chegou a plenitude dos tempos, isto é, a fase da nossa divinização do Homem mediante a sua incorporação na Família de Deus.

Em Jesus de Nazaré o divino enxertou-se no humano, formando uma união orgânica e dinâmica de grandeza humano-divina.

Nesta interacção, nem o humano é anulado, nem o divino é diminuído. Eis a maneira Como São Paulo exprime esta dinâmica da divinização do Homem:

“De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos de Deus e vos leva a chamar a Deus “Abba”, isto é, Papá!

O Espírito Santo, no nosso íntimo, dá testemunho de que somos realmente filhos de Deus.

Ora, se somos filho de Deus somos também herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A EPOPEIA DO HOMEM EM CONSTRUÇÃO-II

II-DA ORIGEM À PLENITUDE

Os evangelhos dizem que o Reino de Deus é um banquete, por vezes comparado ao grande banquete da Família de Deus.

Nesta Festa todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que tiver treinado na História.

Por outras palavras, é na História que estamos a edificar a nossa identidade espiritual, isto é, o jeito com o qual estaremos presentes na festa da Família de Deus.

O evangelho de São João diz que o Filho de Deus, ao encarnar, nos deu o poder de nos tornarmos nos filhos de Deus:

“Mas a quantos o receberam, aos que nele crêem deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

O Verbo encarnou e veio habitar no nosso meio. E nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como filho unigénito do Pai cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 12-14).

Podemos dizer que a Encarnação é a cúpula da criação do Homem. Ao nascer da aurora, Deus foi amassando o barro primordial do qual nasceu Adão (cf. Gn 2, 7).

Ao chegar o meio-dia, Deus concedeu-nos o dom da salvação em Cristo.Depois do meio-dia Deus convida-nos a aceitar o dom da salvação vivendo como membros da Família de Deus.

E foi assim que em Jesus Cristo, a Humanidade passou a ser uma Nova Criação reconciliada com Deus, como diz São Paulo:

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. Passou o que era velho e eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que, em Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

Os anseios mais profundos do coração humano encontram a sua realização no acontecimento de Jesus Cristo.

O Espírito Santo não cessa de nos convidar a crescer na nossa humanização, a qual constitui a matéria-prima da nossa incorporação na Família de Deus.

Por outras palavras, Deus criou-nos para que nos criemos, a fim de emergirmos como pessoas livres, conscientes e responsáveis.

Quanto mais a pessoa emerge, maior é a sua capacidade de interagir amorosamente com Deus e os irmãos.

É este o caminho que conduz à Família Universal de Deus onde os laços do sangue, da raça, da língua, da nacionalidade, do espaço e do tempo são superados.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

HINO À MATERNIDADE DE MARIA

Foste mãe de modo plenamente livre, apesar da tua maternidade ter sido um dom de Deus.

De facto, os dons de Deus são-nos concedidos em forma de possibilidades, a fim de os podermos aceitar ou não.

Na verdade, o nosso Deus jamais nos manipula ou violenta.

Isto quer dizer que Deus, por ser amor, propõe-se à pessoa humana, mas nunca se nos se nos impõe.

Assim aconteceu contigo Maria:
Deus convidou-te e tu assumiste de modo consciente e livre a tua missão maternal, vivendo-a como uma vocação.

Isto quer dizer que a tua maternidade messiânica é fruto de um chamamento de Deus.

Tu és, Maria, a mulher fiel!

És a nossa Senhora da gratidão, pois respondeste ao chamamento de Deus com o teu “Magnificat”.

Foste uma esposa carinhosa e mãe de doação total. E como amaste de coração inteiro, és a Senhora do amor virginal.

Aprofundaste o mistério do teu Filho, meditando as Escrituras.

Compreendeste o alcance espiritual da sua missão salvadora.

Nunca pretendeste ser a rainha mãe…

Por isso estavas preparada para orientar os discípulos após a Páscoa.

Estes, ao contrário de ti, pretendiam ser ministros de um reino terreno do teu Filho (Mc 10,35ss).

O Espírito Santo encontrou um eco perfeito no teu coração.

Graças à tua fidelidade plena e incondicional, o Filho de Deus, no teu seio, tornou-se nosso irmão.

Na verdade, foi no teu seio que o divino se enxertou no humano, a fim de todos nós sermos divinizados:

Jesus de Nazaré, o teu Filho, e o Filho Eterno de Deus ficaram unidos de modo orgânico, interactivo e dinâmico, graças à acção maternal do Espírito Santo.

E foi assim que todos nós fomos beneficiados pela tua maternidade, tornando-nos filhos de Deus no teu Filho, sendo incorporados com ele na comunhão da Santíssima Trindade.

Ao longo das gerações o teu nome tem sido bendito, realizando-se deste modo a profecia de São Lucas o evangelista.

Como a nossa identidade histórica se mantém no Reino de Deus, tu foste assumida na Família de Deus como mãe do Messias Salvador.

Tu és, Maria, a Nossa Senhora do sim!

Na verdade, tu és bendita entre todas as mulheres…

No acontecimento histórico de Jesus Cristo o teu amor maternal interagiu com o Espírito Santo que é o amor maternal de Deus.

Isto quer dizer que o divino se enxertou no humano graças à acção do Espírito Santo e ao teu sim incondicional.

Por teres amado de coração inteiro, foste assumida na plenitude máxima da vida.

Bendita sejas, Maria, por teres tomado Deus a sério. Foi também com este jeito que preparaste o coração do teu Filho para a sua doação total a Deus e ao Homem.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo optimizou o teu amor maternal, conferindo-lhe esse jeito divino de amar.

E foi assim que no teu seio, o Céu se uniu à Terra!

Viveste a tua maternidade como um serviço a Deus e à Humanidade.

Sob o teu olhar maternal, o teu Filho crescia e ia sendo consagrado, isto é, optimizado, pela acção do Espírito Santo cuja plenitude o habitava (Lc 4, 18-21).

Através de ti Deus concedeu aos homens a melhor dádiva que tinha para lhes dar.

Maria,
Tu és realmente Bendita entre todas as mulheres!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




terça-feira, 8 de setembro de 2009

SABOREANDO A PROXIMIDADE DE DEUS


Deus nunca está longe de nós. A sua morada é a interioridade máxima do Universo! Isto significa que Deus habita no limiar do nosso do nosso coração.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de relações amorosas, constituindo a interioridade máxima do Universo.

No ponto onde termina a nossa interioridade espiritual limitada, começa a morada de Deus infinita e ilimitada.

A Divindade é um Deus sempre presente. O ponto de encontro entre nós e Deus é o nosso coração.

Apesar de estar tão próximo, Deus nunca nos invade. A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor(1 Jo 4, 7).

Como sabemos, o amor propõe-se, mas nunca se impõe. Sempre que abrimos o nosso coração para a transcendência encontramo-nos face a face com a Comunhão Universal da Família de Deus.

O Deus que Jesus anunciou aos homens é fiel e verdadeiro. Nunca nos manipula nem joga com a nossa vida.

Apesar de estar sempre connosco, não nos manipula não joga connosco nem nos substitui.

Quando abrimos o coração ao amor, o Espírito Santo torna-se em nós uma presença criadora que nos faz renascer para a Vida Eterna.

O Livro do Génesis diz que o Espírito Santo é o hálito da vida que nos faz emergir para a vida Espiritual.

Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o hálito da vida e o Homem transformou-se num ser vivo” (Gn 2, 7).


É pelo Espírito Santo que comunicamos de modo familiar com Deus Pai e com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Sem a tua acção nos nossos corações, a tua Palavra, em nós, era apenas letra que mata, como diz São Paulo (2 Cor 3, 6).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo é o grande animador do mistério da Encarnação, dinamizando a união orgânica que existe entre o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Ele é a Água Viva que faz brotar no nosso coração uma fonte de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

Ele é a ternura maternal de Deus que optimizou o amor maternal de Maria, a fim de ela amar o
seu filho ao jeito do próprio Deus.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

A Primeira Carta aos Coríntios diz que ele habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

O Espírito Santo é o sangue de Cristo ressuscitado a circular nos nossos corações (Jo 62-63).

O Espírito Santo é o grande animador das relações de amor entre as pessoas, inspirando-lhes constantemente atitudes novas, a fim de fortalecer a comunhão fraterna entre elas.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




sábado, 5 de setembro de 2009

A ESTRUTURAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA-I

I-A CONSCIÊNCIA COMO PONTO DE ENCONTRO

Todos nós conhecemos o ditado popular segundo o qual é importante respeitar a consciência, pois esta é a voz de Deus.

Sem pretendermos tomar à letra este ditado, devemos, no entanto, afirmar que este refrão contém um aspecto verdadeiro.

É importante acrescentar também que além de ser a voz de Deus, a nossa consciência é também a voz dos outros.

Na verdade, o nosso superego é o conjunto das opiniões, critérios e modos de valorizar que os outros inscreveram em nós através da educação.

Como sabemos, ninguém nasce consciente. À medida que os outros nos vão comunicando os valores, a nossa consciência vai-se estruturando.

À medida que se estrutura, a consciência torna-se um altifalante do Espírito Santo. Na verdade, os valores tornam-se no íntimo da nossa consciência apelos a agir em harmonia com o seu significado.

À medida que a pessoa actua de acordo com os valores, estrutura-se como pessoa e configura-se em harmonia com o seu modo de agir.

Deste modo, a pessoa que age em harmonia com a justiça torna-se justo. Agir de modo injusto, para esta pessoa, é algo que se torna cada vez mais violento para ela.

Do mesmo modo, a pessoa que age em harmonia com a verdade, vai-se tornando verdadeira, ao ponto de a mentira ser algo que se torna violento para ela.

À medida que a consciência de uma pessoa se estrutura, o Espírito Santo faz ouvir os seus apelos no interior da pessoa, convidando-a a agir de acordo com os valores que foram estruturando a sua consciência.

Podemos dizer que a consciência das pessoas varia de acordo com os critérios e valores que nelas foram inscritos pelos outros.

Isto quer dizer que a voz do Espírito Santo não se faz ouvir com a mesma densidade em todas as pessoas.

Na verdade, a capacidade de uma pessoa ouvir os apelos do Espírito Santo depende da formação da sua consciência.

Isto quer dizer que o Espírito Santo nos toma a sério e comunica connosco, adaptando-se à nossa maneira de ser e pensar.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos moldando por dentro à imagem e semelhança de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ESTRUTURAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA-II

II-A ESTRUTURA DIALOGANTE DA CONSCIÊNCIA HUMANA

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-se adaptando às nossas capacidades e talentos, a fim de interagir connosco de modo adequado e fecundo.

A marcha da nossa humanização caminha em diálogo com o Espírito Santo e com os que nos marcaram ao longo da nossa história.

Isto quer dizer que no coração da pessoa em construção acontece a convergência de Deus, com os outros de quem recebemos os talentos e com o nosso livre arbítrio.

O livre arbítrio é a capacidade psíquica de uma pessoa optar pelo bem ou pelo mal. É através do modo como a pessoa orienta o seu livre arbítrio que decide ser ou não fiel aos apelos do Espírito Santo e aos valores que recebeu dos outros.

Isto quer dizer que a pessoa se constrói sempre em diálogo com os outros e com o sopro da vida que Deus insuflou no interior do barro primordial do qual saiu Adão.

À medida que a pessoa se vai humanizando, o Espírito Santo, cheio de ternura maternal incorpora-nos progressivamente na Família de Deus, a fim de sermos divinizados.

O Espírito Santo, diz São Paulo, introduz-nos na Família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Consciente desta força divinizante do Espírito Santo, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Como abamos de ver, a voz do Espírito Santo faz-se ouvir de modo especial na nossa consciência, convidando-nos a responder aos apelos do amor.

Quando agimos de acordo com a nossa consciência estamos de facto a responder aos apelos do Espírito Santo no íntimo da nossa consciência.

Sempre que ouvimos a nossa consciência a interpelar-nos no sentido de sairmos de nós e ir ao encontro dos irmãos, no fundo estamos a escutar a voz do Espírito Santo.

É isto que o evangelho de São João quer dizer quando nos pede para nascermos de novo pelo Espírito Santo, a fim de tomarmos parte na Família de Deus (Jo 3, 3-6).

De facto, não somos capazes de nos realizar sem os outros e sem esta interacção interior com o Espírito Santo.

Agora já não nos será difícil compreender como o ser humano não nasce consciente.
De facto, a consciência humana vai-se moldando de modo gradual e progressivo.

É também por este facto que não há duas consciências iguais, pois a formação da consciência depende da história concreta da pessoa.

Na verdade, não há duas consciências iguais, pelo facto de não haver duas pessoas com histórias rigorosamente iguais.

A formação da consciência começa por ser o resultado do nosso processo educativo no qual emergimos e crescemos.

Ao habitarmo-nos, isto é, ao tornarmo-nos conscientes já estamos habitados pelos outros.

É também por este motivo que há consciências bem formadas e consciências mal formadas.
Apesar de tudo isto, a consciência é o último recurso para o agir de uma pessoa, pois é o encontro da pessoa com Deus e com os outros que a moldaram.

Jesus disse que não temos o direito de julgar os irmãos.De facto, não temos nas nossas mãos a história das pessoas.

Não conhecemos nunca de modo perfeito os traumas, condicionamentos ou possibilidades que a história de certa pessoa lhe concedeu.

Na verdade, mesmo quando vemos uma pessoa fazer o mal não sabemos se ela está a ser má ou vítima do mal.

A sociedade tem o dever de se defende do mal, mas nunca saberemos se a pessoa que faz o mal é vítima ou culpada desse mal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias





terça-feira, 1 de setembro de 2009

CONHECER DEUS É SABOREAR A SALVAÇÃO-I

I-O CONHECIMENTO COMO INTERACÇÃO AMOROSA

Para o pensamento bíblico, o conhecimento de Deus, não é uma questão meramente intelectual.

Conhecer Deus é algo que implica uma comunhão orgânica com ele mediante o Espírito Santo:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8). Segundo a Primeira Carta de São João, o amor de Deus não é separado do amor dos irmãos.

Por outras palavras, o amor aos irmãos é o caminho seguro para chegarmos ao conhecimento de Deus:

“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).

E logo a seguir acrescenta: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.

Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido por Deus, no sentido de se constituir uma interacção amorosa entre Deus e o ser humano:

“ Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus (1 Cor 8, 3). O conhecimento de Deus, diz a Primeira Carta aos Coríntios, não é uma conquista da ciência humana.

Na verdade, só pelo amor podemos chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus: “A ciência incha, mas o amor edifica” (1 Cor 8, 1).

O princípio animador desta interacção fecunda entre Deus e o Homem é o Espírito Santo:

“Nós damo-nos conta de permanecer em Deus e ele em nós, porque ele nos fez participar do seu Espírito” (1 Jo 4, 13).

São Paulo diz que ninguém pode conhecer Jesus Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:

“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

Conhecer Cristo é fazer com ele uma só carne. Eis a razão pela qual comemos a carne de Cristo (Jo 6, 54-57).

A comunhão, na Eucaristia, é um momento privilegiado para o crente fortalecer este conhecimento de Cristo.

Por isso, comer a carne de Cristo, significa unir-se a Cristo ressuscitado mediante o Espírito Santo (Jo 6, 62-63).

São Paulo diz que a união a Cristo implica fazer parte do corpo de Cristo:

Comemos um só pão porque formamos um só Corpo, isto é, uma união orgânica, isto é, interactiva e fecunda (cf. 1 Cor 10, 17).

O mesmo diz o evangelho de João: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá também convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 4-5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECER DEUS É SABOREAR A SALVAÇÃO-II

II-ESPÍRITO SANTO E CONHECIMENTO DE CRISTO

O conhecimento de Cristo é a mediação fundamental para conhecermos Deus Pai, diz o evangelho de São João:

“Há tanto tempo que estou convosco, Filipe, e ainda não me conheces? Quem me vê, vê o Pai.” (Jo 14, 18).

À medida que conhecemos Cristo, então passamos a conhecer o Pai, isto é, a fazer uma união orgânica com Deus Pai, Deus Filho no Espírito Santo:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo J0 14, 20).

Eis o que significa realmente conhecer Cristo e, através dele, conhecer Deus Pai.

Como sacramento, a Eucaristia exprime exactamente esta união com o Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

A meta desta união orgânica é a comunhão universal da Humanidade com a Divindade:

“Pai, não rogo apenas por eles, mas igualmente por todos os que hão acreditar em mim por meio da sua palavra, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Deste modo eles estarão em nós, e o mundo acreditará que tu me enviaste. Pai, eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de que todos sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim, a fim de eles poderem chegar à perfeição da unidade (…).

Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te e estes reconheceram que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a conhecer quem tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17, 20-26).

O princípio animador desta interacção amorosa e fecunda é o Espírito Santo: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

Isto quer dizer que o Espírito Santo nos faz participar de modo orgânico na própria união do Pai e o Filho.

No evangelho de São João, Jesus explicita esta união orgânica com as seguintes palavras: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

É esta a razão pela qual São Paulo exclama com júbilo: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos. É por este Espírito que clamamos “Abba”, ó Pai” (Rm 8, 14-15).

Conhecer Cristo, diz a Carta aos Filipenses, é configurar a nossa mente com a sua (Flp 2, 5; cf. 1 Cor 2, 16).

A Carta aos Gálatas sublinha que o conhecimento de Cristo implica uma união muito especial com Cristo e os irmãos: “Vós todos sois apenas um em Cristo” (Ga 3, 29).

Este tipo de união modifica-nos e configura-nos com o próprio Cristo. Eis o modo como São Paulo explicitou este mistério: “Já não sou eu que vivo mas Cristo que vive em mim” (Ga 2, 10).

Conhecer o Senhor, diz a Carta aos Colossences, implica despir-se do homem velho configurado com Adão e revestir-se do homem novo, configurado com Cristo:

“Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho, com as suas más acções, e vos revestistes do homem novo, aquele que, para chegar ao conhecimento, não cessa de ser renovado à imagem do seu Criador.

No homem novo já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas apenas Cristo que é tudo em todos e está em todos” (Col 3, 9-11).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONHECER DEUS É SABOREAR A SALVAÇÃO-III

III-A VIDA ETERNA COMO CONHECIMENTO DE DEUS

“Esta é a vida eterna: Conhecer-te, Pai Santo, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

O projecto que Deus sonhou para a Humanidade implica duas vertentes: a criação e a salvação.
Nenhuma destas vertentes pode acontecer sem a acção do Espírito Santo.

A primeira vertente acontece pela comunicação do Espírito Santo, esse hálito da vida que faz do Homem um ser com vida espiritual (Gn 2,7).

O barro, costumo eu dizer, adquiriu um coração capaz de eleger o outro como alvo do seu amor.

Esta comunicação inicial do Espírito Santo é o início do processo histórico da humanização, a qual só pode acontecer através do amor.

No nosso interior, o Espírito Santo está connosco de modo permanente, mas nunca nos substitui.

É ele que nos ilumina, interpela e convida a agir na linha do amor. A segunda comunicação do Espírito Santo acontece como introdução da Humanidade na plenitude do conhecimento e comunhão com Deus.

Na primeira vertente o ser humano realiza-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

O segundo beijo é dado por Deus Filho ao chegar a plenitude dos tempos através desse acto de amor infinito que é a Encarnação.

Através deste segundo beijo o Divino se enxertou-se no Humano, a fim de o Humano ser divinizado.

Com a Encarnação iniciou-se a fase da plenitude dos tempos, isto é, a plenitude da gestação e o começo do parto que dá início ao nascimento do dos filhos de Deus.

Ao chegar a plenitude dos tempos, diz a Carta aos Gálatas, Deus enviou o seu Filho que nos comunicou o Espírito de adopção e nos leva a clamar “Abba”, isto é, Papá (Gal 4, 4-7).

É este o segundo beijo de Deus através do qual o Espírito Santo nos é comunicado, não como hálito de vida, mas como Espírito divinizante.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Este amor introduz-nos na comunhão familiar da Santíssima Trindade, fazendo de nós filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

O beijo dos primórdios, tal como o beijo da plenitude são realidades dinâmicas e progressivas que se continuam ao longo da História Humana e durante a vida toda de cada pessoa.

Por outras palavras, o beijo primordial do Pai dinamiza a marcha da humanização e o beijo do Filho na plenitude, dinamiza a marcha da divinização do Homem.

Pelo primeiro beijo, Deus cria-nos à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27). Pelo segundo introduz-nos na Família de Deus através de um novo nascimento como diz São João:

“O que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 6). O primeiro beijo introduz-nos na marcha histórica da humanização, dando-nos a possibilidade de sermos humanos.

O segundo dá-nos a possibilidade de sermos divinos:

“Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).

Este nascimento implica uma verdadeira união orgânica com Cristo alimentada pelo Espírito Santo que é a carne e o sangue de Cristo ressuscitado:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

Jesus Cristo é a condição para o dinamismo maternal do Espírito Santo se difundir rganicamente pela Humanidade, incorporando-a na Família Divina.

Deste modo, diz São Paulo, Jesus Cristo tornou-se o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O Evangelho de São João exprime esta verdade, dizendo que Jesus é a cepa da videira da qual nós somos os ramos (Jo 15, 1-8).

Com esta imagem o evangelista está a pensar na Árvore da Vida cujo fruto, Espírito Santo, está ao nosso alcance (Gn 2, 9).

No momento da morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade que o precedeu passou a fazer uma união orgânica de grandeza humano-divina.

Os que precederam Jesus Cristo, no momento da morte e ressurreição do Senhor, não mudaram de lugar, mas a densidade da sua plenitude passou deu um salto de qualidade.

E a situação dos que vivem na História depois de Cristo foi igualmente optimizada como diz a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios:

“Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

É este o sabor da Salvação, como diz São Paulo: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? “ (1 Cor 6, 19).

Eis a maneira bonita como o livro do Apocalipse descreve esta comunhão orgânica do Homem com Deus:

“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: "Esta é a morada de Deus entre os homens.
Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.

O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos.

Agora já não haverá mais morte nem pranto, pois as coisas antigas passaram” (Apc 21, 3-4).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias