terça-feira, 20 de maio de 2008

PAIS E FILHOS FACE A FACE-VI

VI-REVISÃO E REENCONTRO

Quando sinto que és leal e fiel agradeço muito a Deus e desaparecem muitos dos meus receios.
Tenho a certeza de que o meu primeiro desejo e aspiração é de que sejas uma pessoa feliz e realizada.

Só que, por vezes, confundo as coisas e penso que a medida da tua felicidade sou eu e os meus critérios.

Esta limitação pode ser corrigida através do diálogo e se nos dispusermos a caminhar juntos.
Antes eu pensava que o modo de te fazer uma pessoa a sério é dar-te ordens.

Hoje começo a compreender que o principal da missão paternal é o amor e este propõe-se, não se impõe.

Por outras palavras, é muito mais importante pedir-te favores que impor-te coisas ou dar-te ordens.

Começo a tomar consciência de não ter cumprido muitas vezes o que tinha dito ou prometido.
Deste modo tornei-me um exemplo negativo. De facto, acho que é importante ser fiel à palavra.

Peço-te para compreenderes que também eu sou uma pessoa falível. Também já compreendo que procedi mal quando me pus a comparar-te com os outros.

É verdade que eu procedi com boa intenção, pois apenas queria estimular as tuas capacidades e dar-te razões novas para avançar.

Mas em vez de te ajudar acabei por te prejudicar, colaborando para uma série de complexos que ainda persistem.

As minhas hesitações levaram-me muitas vezes a mudar de opinião, deixando-te confuso ou dando-te a impressão de que os valores são coisas arbitrárias.

Isto deveu-se em grande parte às minhas hesitações, pois em certas etapas do teu crescimento eu não sabia bem qual o melhor modo de agir.

Muitas vezes tive dificuldade em me aperceber do teu crescimento. Tenho tendência de ver em ti a criança indefesa que eu ajudava, a fim de compensar a sua fragilidade.

Eis a razão pela qual ainda hoje tenho a tendência de te substituir. Hoje compreendo que não tinha razão para o azedume com que me relacionei contigo quando surgiu a tua adolescência.

Quando chegou a tua adolescência eu senti que começaste a fazer tentativas para voar para fora do ninho.

Ao dar-me conta de que começavas a agir por ti, eu assustei-me e pensei que já não gostavas de mim.

Tomei isso como uma verdadeira falta de amor. Hoje compreendo que esse passo era fundamental para o teu amadurecimento. Foi nesse período que começaste a escolher o teu grupo de amigos.

Hoje aceito perfeitamente que a melhor maneira de aceitares o que fiz por ti é começares agora a fazer por ti mesmo.

Dou-me conta de que este passo é bastante difícil para a maioria dos pais. No entanto já compreendo que é fundamental para o amadurecimento dos adolescentes, pois sem autonomia não há maturidade humana.

Sempre tive muito medo dos teus fracassos e quedas. Na verdade, se tu falhas como filho, a sociedade passa a olhar-me como um pai fracassado.

Compreendo que fiz mal em acentuar muito os erros que cometeste, exigindo muitas justificações.

Não é fácil compreender que a melhor maneira de corrigir é compreender e perdoar. Agora já compreendo que é injusto obrigar os outros a fazer aquilo que nós não fazemos.

Muitas vezes procedi assim pensando apenas que isso te faria uma pessoa mais apta para viver em sociedade.

Hoje compreendo que a autoridade é mais uma realidade moral do que jurídica. Tem mais autoridade quem age mais de acordo com o que diz, pois a pessoa é igual ao que faz, não ao que diz.

Agora entendo muito bem o refrão que diz: “As palavras movem, mas os exemplos arrastam”. Muitas vezes me esqueci desta verdade.

Só agora começo a compreender a importância de ser teu confidente. Tenho pena de não te dado o tempo de que precisavas para falar das tuas coisas.

Também não estava consciente da importância de te dizer que gosto de ti. Agora entendo-o muito bem, até porque começo a sentir que também preciso que me digas isso mesmo a mim.

Peço-te o favor de não seres muito duro quando me julgas e condenas. Gostava de pedir-te para procederes de modo a que também eu me aperceba de que gostas de mim.

Queria que tivesses a certeza de que estava disposto a dar a minha vida por ti.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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