terça-feira, 27 de maio de 2008

DRAMAS DE GENTE MAL AMADA-III

III-O PECADO DO PAI CHANTAGISTA

A Margarida teve a pouca sorte de ter um pai chantagista. As suas chantagens acabaram por destruir a felicidade da sua filha.

Quando discutia com a esposa, o pai da Margarida ameaçava suicidar-se. Se discutia com a filha acabava dizendo que se ia matar.

Como ainda não têm critérios e são muito frágeis, as crianças são vulneráveis às chantagens, pois são incapazes de se defender.

A margarida vivia o seu dia-a-dia aterrorizada com a ideia de perder o pai. Passava horas sentada num canto da sala, mantendo-se inactiva, com medo de fazer algo que desgostasse o pai.

Evitava brincar com as outras crianças, pois sentia-se horrorizada com a ideia de desgostar o seu pai.

Quando fazia algo de incorrecto, a sua angústia era tão forte que chegava a fazer temperaturas altas.

Hoje, a Margarida é uma mulher. O pai morreu recentemente no hospital. Este acontecimento é uma fonte de tormentos e culpabilidade, pois o pai tinha-lhe dito que não queria morrer no hospital. Quando levou o pai para o hospital, pensou apenas no facto de este ser melhor atendido.
A Margarida tem consciência de que o pai lhe roubou a alegria e felicidade, pois os seus sentimentos passavam entre o pânico de fazer algo errado e os sentimentos de culpa por ter falhado.

A chantagem é, na verdade, uma atitude desumana, pois é uma forma de explorar e manipular as pessoas.

Enquanto o pai viveu, a Margarida não viveu nem se realizou como pessoa: Não casou com o rapaz de quem gostou com medo de que o pai se matasse.

Não tirou o curso de que gostava porque o pai não gostava desse curso. Não foi promovida no emprego, pois tinha de deixar a cidade em que vivia com o pai, o que seria motivo de profundo desgosto para o pai.

A Margarida não realizou algumas modificações profundas na sua casa porque o pai não gostava dessa ideia.

O seu pai já morreu. Mas temos de reconhecer que morreu tarde demais para que a filha se pudesse realizar e ser feliz.

A Margarida passou a vida a pedir sofrimentos a Deus, a fim de os oferecer a Deus para impedir que o pai se matasse.

Quando ficava doente ou lhe acontecia algo de penoso, a Margarida sentia-se tranquila, pois isso queria dizer que, nesse dia, o pai não se suicidaria.

Hoje, a Margarida compreende que ninguém é obrigado a renunciar à sua realização pessoal pelo facto de que alguém viver usando a arma da chantagem.

Os pais que amam bem os seus filhos são os arquitectos da humanização e felicidade destes.
Estes pais são verdadeiramente benfeitores da Humanidade, pois são o alicerce de pessoas livres e criadoras porque bem-amadas.

Realizada deste modo, a paternidade humana é verdadeiramente mediação da paternidade divina.

Os primeiros arquitectos do Homem em construção são realmente os pais. Depois são os próprios filhos com o que receberam de bom dos pais.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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