terça-feira, 27 de maio de 2008

DRAMAS DE GENTE MAL AMADA-IV

IV-O DRAMA DA MARGINALIZAÇÃO

Era considerado o coitadinho da família. Na escola todos o consideravam o menos dotado. Tudo isto porque, como sofria de dislexia, dava mais erros que os outros.

Como era estrábico, chamavam-lhe o Manuel dos olhos tortos. Em casa, os pais tratavam-no com compaixão e não lhe permitiam as mesmas liberdades de que usufruíam os seus irmãos.

Todos pensavam que o Manuel não chegaria a ser uma pessoa realizada e feliz. Desde criança que o Manuel se perguntava a razão pela qual não prestava.

A criança acredita cegamente nos seus pais. Quando estes lhe dizem que não presta, ela considera-se como alguém que não presta.

Mas o Manuel não entendia a razão pela qual os seus irmãos prestavam e ele não. Como tinha muita necessidade de compreender os seus sofrimentos, o Manuel começou a prestar atenção às conversas dos adultos tentando, deste modo, descobria a razão pela qual os seus irmãos prestam e ele não.

Apesar da dislexia, conseguiu fazer um curso superior. No entanto nunca continuava sem confiar em si mesmo.

Como os outros sempre o desvalorizaram, o Manuel não era capaz de se valorizar. Com efeito, ninguém é capaz de gostar de si antes de alguém o ter valorizado.

A nossa auto-estima acontece na medida em que os outros nos valorizaram e apreciaram. Pouco a pouco, o Manuel foi inventando comportamentos e recursos para se defender e proteger, mas sempre considerando-se como alguém inferior aos demais.

Antes de agir estuda minuciosamente todas as possibilidades de não falhar. Isto desgasta-o e bloqueia enormemente as suas possibilidades de render.

Não falha, mas também não cria, pois é incapaz de aventurar ou correr riscos, por menores que sejam.

As suas limitações faziam que ele fosse humilhado e marginalizado. Hoje, o Manuel, sente horror a assumir qualquer comportamento que dê nas vistas, pelo que está constantemente a anular-se e a arranjar modos de não ser notado.

Somos seres talhados para a reciprocidade. O juízo que os outros fazem acerca de nós condiciona e molda o modo como nos olhamos a nós próprios.

Há momentos em que o Manuel se sente morrer por dentro, pois toda a sua preocupação consiste em não falhar nem ser notado.

Não corre riscos porque tem medo de falhar e voltar a ser humilhado e desprezado. De facto, a experiência da rejeição é tão dolorosa que a pessoa que foi rejeitada prefere não emergir, a fim de não ser notada e voltar a sofrer a dos da rejeição.

Devido ao seu isolamento, o Manuel sofre muito com a solidão que o habita. Quer emergir e libertar-se. Mas sente-se enclausurado numa série de bloqueios que o impedem de desabrochar.

Nunca se defende nem tenta impor-se, pois nada o aterroriza mais que o facto de ser notado. É solteiro. Vive sozinho. Todas as manhãs, procurando não chamar a atenção, lá vai de casa para o trabalho.

Do mesmo modo no final do dia regressa do trabalho, procurando entrar em casa sem ser muito notado.

No trabalho desgasta-se exageradamente, a fim de não se enganar nem chamar a atenção.

Em Comunhão Convosco
calmeiro Matias

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