
Ao libertar o justo da situação de opressão, Deus liberta com ele a multidão dos pecadores, pois o povo de Deus faz um todo orgânico, tanto justos como pecadores.
Esta leitura aprofundada dá origem a um conceito totalmente novo: o sofrimento do justo é redentor para os pecadores.
Por ter sempre presente o mistério da união orgânica do povo de Deus composto por justos e pecadores, o profeta passa constantemente do justo que sofre para o povo o povo sofredor.
Eis algumas palavras profundamente significativas disto que acabámos de analisar: “O meu servo terá êxito, pois será engrandecido e exaltado.
Muitos povos ficaram espantados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme.
Do mesmo modo, muitos povos e reis vão ficar espantados ao verem as coisas maravilhosas e inauditas que vão acontecer (…).
O servo cresceu diante do Senhor sem figura e sem beleza, pois estava desfigurado pelo sofrimento.
Como um rebento em terra árida, vimo-lo sem aspecto atraente. Desprezado e abandonado, por ser o homem das dores dominado pelo sofrimento.
Desconsiderado, era considerado como um homem diante do qual se deve tapar o rosto, por ser um homem castigado por Deus.
Na verdade ele tomou sobre si as nossas doenças e carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso ferido por Deus e humilhado.
Mas foi ferido por causa dos nossos pecados e esmagado por causa das nossas iniquidades.
O castigo que nós merecíamos caiu sobre ele, pois fomos curados nas suas chagas.
Andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada qual seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele os nossos crimes, perdoando a nossa iniquidade.
Foi maltratado e humilhado, mas não abriu a boca. Era semelhante ao cordeiro levado ao matadouro ou à ovelha que permanece muda nas mãos do tosquiador.
Sem defesa nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino?
Foi ferido por causa dos pecados do meu povo e suprimido da terra dos vivos.
Deram-lhe sepultura entre os ímpios e uma tumba entre malfeitores, apesar de não ter cometido qualquer crime nem praticado qualquer fraude.
Aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimentos, mas a sua vida tornou-se um sacrifício de reparação.
Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias. O desígnio do Senhor realizar-se-à por meio dele (…).
O Justo justificará a muitos, pois carregou com os seus crimes. Por esta razão terá uma multidão como herança e grandes despojos.
Entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores, pois tomou sobre si os pecados de muitos, sofrendo pelos culpados” (Is 52, 13-53,12).
É admirável a profundidade deste texto de Isaías. Não admira que este fosse o texto preferido pelos Apóstolo para justificar a morte violente e injusta de Jesus.
Calmeiro Matias
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