segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-IV

IV-A DIMENSÃO ESPIRITUAL DA PESSOA

A pessoa não se esgota na sua dimensão biológica. A nível biológico, a pessoa humana é uma obra-prima feita barro, como diz a bíblia (cf. Gn 2,7a).

Mas o corpo da pessoa é apenas a matriz de uma outra obra-prima feita de espírito, cujo princípio animador é o hálito da vida divina (Gn 2, 7b).

Por outras palavras, a pessoa humana é uma obra-prima feita de barro em cujo interior está a emergir e a estruturar-se outra obra-prima feita de espírito.

A pessoa humana é um ser talhado para o amor. Só atinge a sua plenitude na comunhão amorosa.

De facto, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A pessoa é um ser talhado para as relações. Ninguém vê o seu próprio rosto. Estamos talhados para o face a face.

É por esta razão que, de modo directo, só vemos o rosto dos outros, não o nosso. Para se crescer de modo equilibrado, a pessoa deve alimentar a intimidade, sentir-se perto dos outros através do amor, isto é, sentir-se compreendida e aceite.

Esta necessidade de comunicação e intimidade a nível emocional como intelectual, físico e espiritual faz-se sentir ao longo de toda a vida, embora com matizes diferentes.

A fé cristã assegura-nos que Deus não é um sujeito isolado e sozinho. A Divindade é uma família de três pessoas.

Esta necessidade de relações amorosas e de comunhão resultam, afinal, do facto de sermos criados à imagem e semelhança de Deus.

A fé cristã afirma que, após a morte, o ser humano já possui apenas a sua dimensão pessoal-espiritual.

Por outras palavras, na Festa do Reino de Deus, as pessoas humanas são seres plenamente espiritualizados.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Jesus respondeu aos saduceus: “Estais enganados, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.

Na ressurreição nem os homens terão mulheres nem as mulheres maridos, pois serão como anjos de Deus no Céu” (Mt 22, 29-30).

Podemos dizer que o nosso ser espiritual emerge no interior do nosso ser exterior como o pintainho dentro do ovo.

Virá um dia em que o ovo rebenta, e o pintainho nasce para a plenitude da vida que é a comunhão universal da Família de Deus.

Isto quer dizer que a vocação fundamental do ser humano não é apenas prolongar o mais possível a vida mortal, mas edificar, através do amor, a Vida Eterna.

São Paulo diz isto de modo muito feliz, quando afirma: “Por isso não desfalecemos. E mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia pela acção do Espírito Santo.

A nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Por esta razão, não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, pois as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

A pessoa humana está em realização histórica. Manterá eternamente a sua identidade histórica.
A identidade eterna da pessoa é de ordem espiritual e, portanto, definitiva.

A pessoa emerge espiritualmente à medida que se vai humanizando. A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Emergir como interioridade pessoal significa, portanto, atingir uma maior densidade espiritual.

Por outro lado, convergir para a comunhão universal significa ganhar maior capacidade para interagir com as pessoas humanas e as divinas na Comunhão da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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