
Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo afirma a dimensão espiritual da ressurreição de maneira muito bonita.
Os coríntios, como eram pagãos, estavam a deturpar a verdade da ressurreição da carne, pois imaginavam-na em termos de reanimação de cadáveres.
Então São Paulo corrige essa visão grosseira, dizendo-lhes que se trata de uma realidade espiritual:
“Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção. Semeia-se na ignomínia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza e ressuscita-se na força.
Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual. O que digo, irmãos, é que a carne e o sangue (a biologia) não podem tomar parte no Reino de Deus, nem a corrupção pode herdar a incorrupção” (1Cor 15, 42-50).
Nesta mesma linha vai a afirmação de São João ao afirmar que comer a carne de Cristo ressuscitado é ser animado pelo Espírito Santo que ele nos comunica (Jo 6, 62-63).
A alegoria da videira exprime muito bem esta nossa união orgânica a Cristo: os que comem a carne e sangue de Jesus são os ramos alimentados pela seiva que vem da cepa e os torna fecundos (Jo 15, 4-5).
A nossa união orgânica a Cristo ressuscitado culmina na comunhão familiar com as pessoas da Santíssima Trindade, diz Jesus:
“Que todos sejam apenas um como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Que também eles sejam um em nós” (Jo17, 21).
Vendo as coisas à luz do pensamento bíblico, é mais bonito e pleno falar da ressurreição da carne do que da ressurreição dos corpos.
Para evitar confusões junto dos pagãos helenistas, São Paulo começou a utilizar o termo ressurreição dos corpos.
Mas depois teve de explicar que se trata, não do corpo biológico, mas de um corpo espiritual:
“Semeado corpo terreno, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo terreno também há corpo espiritual” (cf. 1 Cor 15, 44).
A Boa Nova da ressurreição da carne leva consigo o pressuposto de que nós ressuscitamos porque fazemos um todo orgânico com Cristo ressuscitado.
Eis o que São Paulo diz na Primeira Carta aos Coríntios: “Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos?
Se não há ressurreição para os mortos, então também Cristo não ressuscitou. Ora, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e também é vã a vossa fé.
Sendo assim, nós somos falsas testemunhas de Deus, pois dizemos que ele ressuscitou a Cristo, quando na verdade não o ressuscitou, se os mortos não ressuscitam” (1 Cor 15, 12-16).
Como teólogo judeu, São Paulo está a argumentar tendo presente o pensamento bíblico:
Cristo é a Cabeça da Nova Humanidade, como Adão era a cabeça da decaída pelo pecado.
Não é possível a cabeça ressuscitar e o corpo ficar sem participar na mesma ressurreição.
Calmeiro Matias
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