sábado, 5 de julho de 2008

DO DEUS DA IRA AO PAI BONDOSO-V


V-JESUS E A LIBERTAÇÃO DOS PECADORES

Na verdade, a pregação de Jesus incidia sobre a vinda do Reino de Deus e não sobre uma segunda vinda para destruir o pecado.

Foi a pregação apocalíptica de João que fez Jesus entrar em crise e ir para o deserto aprofundar o plano de Deus sobre a sua missão.

O Senhor não entendia a sua missão como uma tarefa destinada matar os pecadores. O modo de actuar de Jesus demonstra que nunca se atribuiu o papel de executor da ira de Deus.

Pelo contrário, Jesus entendia-se como o enviado de Deus para destruir o pecado, a fim de libertar os pecadores.

Por isso enfrenta a velha mentalidade do judaísmo que matava os pecadores, julgando prestar assim um serviço à justiça de Deus.

Tomou partido pela mulher adúltera, apesar de ser contra o adultério (Jo 8, 3-11). Além disso entra na casa de Zaqueu e toma parte numa refeição ao lado dos pecadores e marginais (Lc 19, 7-8).

Sabemos como os Apóstolos se esforçavam para conciliar a missão de Jesus Cristo com os escritos do Antigo Testamento, de modo especial com os escritos dos profetas.

São Paulo entendeu muito bem a missão libertadora de Jesus que veio para salvar os pecadores.
Eis o que ele diz na Primeira Carta a Timóteo: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” (1 Tim 1,15).

Do mesmo modo, para Jesus, a obra de Deus é a salvação dos pecadores: No relato da Anunciação, o anjo disse o seguinte a José:

“Ela dará um filho e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1, 21).

Estando a falar da sua missão com um grupo de fariseus e saduceus, Jesus declara-lhes: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32).

Jesus sabia distinguir muito bem entre pecado e pecador. O pecado é para ser destruído. O pecador é para ser liberto e salvo:

“Quem comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34). Eram conhecidas e motivo de críticas as muitas refeições de Jesus com os pecadores:

“Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, vieram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se à mesa com ele e os seus discípulos.

Vendo isto, os discípulos perguntaram aos discípulos: “Porque come o vosso mestre com os publicanos e os pecadores?” (Mt 9, 10-11; cf. Mc 2, 15-16; Lc 5, 30).

A libertação do pecador é, para Jesus um motivo de grande alegria:“ Alegrai-vos, comigo porque encontrei a minha ovelha perdida!

Eu vos digo que haverá no Céu mais alegria no Céu por um só pecador que se converta do que por noventa e nove justos que não precisa de conversão” (Lc 15, 6-7).

A parábola do Filho Pródigo é a alegoria genial para falar do amor incondicional de Deus para com os pecadores.

O pecador encontra sempre o Pai do Céu de braços abertos para o acolher (Lc 15, 11-32). Eis o que São Paulo diz nos Actos dos Apóstolos: “Sabei que é por este Jesus que a remissão dos pecados vos é anunciada” (Act 13, 38).

Isto quer dizer que os textos apocalípticos sobre a destruição dos pecadores por parte de Jesus afastam-se do núcleo da pregação de Jesus sobre o plano salvador de Deus.

Os textos apocalípticos do Novo Testamento que falam de Jesus como o executor do dia da ira têm como fonte os apocalipses dos profetas e a leitura que o judaísmo tardio fez destes textos.

O rosto de Deus Pai apresentado por Jesus é sempre o Pai bondoso e nunca o Deus castigador dos apocalipses.

Aos ensinar os discípulos a rezar, Jesus ensinou-os a tratar Deus como Pai bondoso sempre disposto a ajudar-nos (Mt 6, 9-13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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