
Ao aperceberem-se de que o pecado contraria o projecto de Deus, os profetas bíblicos começam a produzir alguns textos de tipo apocalíptico, a fim de acentuarem que Deus não pactua com o pecado e que este não tem um lugar definitivo no plano de Deus.
Os apocalipses dos profetas começam a falar de uma intervenção purificadora universal de Deus , a qual terá como fim a correcção das distorções operadas pelo pecado.
Nesta intervenção final Deus porá fim à existência do pecado, destruindo todos os pecadores.
A intervenção final de Deus será, pois, um dia de tragédia universal, ao qual os profetas puseram o nome de dia da ira.
Nesse dia todos os pecadores seriam mortos. Só o pequeno resto dos justos se salvaria. Estes justos começam a ser chamados o pequeno resto.
Nesse dia não haverá escapatória: “Ai dos que desejam ver o dia do Senhor. Será um dia de trevas e não de luz.
É como um homem que foge de um leão e encontra um urso. É como se o homem, ao regressar a casa, apoiasse a mão na parede e fosse mordido por uma serpente.
O dia do Senhor será de trevas e não de luz, de escuridão e não de claridade” (Am 5, 18-20).
Isaías vê o dia da ira como o dia do terror: Estremecei porque o dia do Senhor está perto. Virá como um açoite do Deus omnipotente (Is 13, 6).
O profeta Joel reforça o discurso dos profetas anteriores dizendo que o dia do Senhor está muito próximo:
“Ai aquele dia! O dia do Senhor está muito próximo. Virá como destruição operada pelo devastador.
O Sol e a Lua ficarão escuros e as estrelas já não brilharão” (Jl 1, 15-16; cf. 2,1). O dia do Senhor é o dia do julgamento universal: Multidões e mais multidões vão juntar-se no vale do julgamento, pois o dia do Senhor está perto” (Jl 4,14).
Será um dia de ira e vingança, diz o profeta Isaías: “A terra embriagar-se-á de sangue e ficará coberta de gorduras de animais, pois é o dia da vingança do Senhor” (Is 34, 8).
Por detrás desta perspectiva aterradora está um cenário de esperança que aguarda a renovação da Humanidade.
O Paraíso primordial da harmonia e da paz será restaurado por Deus naquele dia. O Espírito de Deus vai recriar o Homem, dando-lhe um coração novo.
Para o pensamento bíblico, o coração é o núcleo mais nobre da interioridade espiritual de pessoa.
O coração é o ponto de encontro da pessoa com Deus e o núcleo a partir do qual a pessoa decide a qualidade das relações e do encontro com Deus e os irmãos.
O resto fiel é o grupo de justos com o qual Deus vai renovar a sua aliança, dando origem a uma nova Humanidade.
Será algo parecido ao resto que escapou do dilúvio e com o qual Deus restaurou a sua Aliança (Gn 9, 1-13).
No coração desta Humanidade recriada, Deus vai infundir uma nova força espiritual, diz o profeta Ezequiel.
Sem comentários:
Enviar um comentário