segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-III

III-DEUS E A CONSTRUÇÃO DO HOMEM

Como já vimos, os seres humanos começam por ser o que os outros fizeram de eles. O mais importante, no entanto, não são o que recebemos dos outros, mas o modo como o fazemos render, realizando-nos como pessoas a caminhar para Deus.

Isto quer dizer que o Homem não pode ser definido em relação ao animal, como fez Aristóteles que definiu o Homem como um animal racional.

Na verdade, o salto da hominização representa um salto de qualidade em relação ao animal.
Ao entrar no limiar a hominização, o ser humano está chamado a tomar nas mãos o processo histórico da sua humanização.

Isto quer dizer que o ser humano, para ser uma pessoa acabada, tem de tomar parte na sua própria humanização.

De facto, ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa humanização. Nem Deus o pode fazer por nós.

À luz da bíblia, o Homem deve ser definido por referência a Deus e não em relação ao animal.
Na verdade, a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

Deus sonhou o Homem à sua imagem e semelhança, a fim de entrar em comunhão com ele:
“Deus disse:

“Façamos o Homem à nossa imagem, à nossa semelhança, a fim de dominar sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.

Deus criou o Homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele os criou homem e mulher” (Gn 1, 26-27).

Depois acrescenta: “Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida. E o Homem tornou-se num ser vivo” (Gn 2, 7).

Este sopro da vida significa um gesto especial da ternura de Deus. O texto sugere que Deus, ao criar o Homem, lhe deu um beijo.

Em consequência deste beijo, o hálito de Deus passou para o interior do Homem, fazendo deste um ser animado pelo sopro da vida divina.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-IV

IV-DEUS ESTÁ CONNOSCO

A Humanidade não está sozinha na marcha histórica da humanização. Por outras palavras, o Espírito vai conduzindo os seres humanos a partir de dentro, interpelando e iluminando, a fim de estes avançarem no processo da humanização.

Isto ganha um sabor especial se tivermos presente que a pessoa humana será tanto mais divina, isto é, capaz de interagir e comungar com as pessoas divinas, quanto mais se humanizar agora.

Já vimos que ninguém nos pode humanizar. Nem o próprio Deus o pode fazer por nós. Mas também é verdade que a pessoa humana não se pode humanizar sozinha.

Por outras palavras, precisamos dos outros e do dinamismo do Espírito Santo para nos humanizarmos.

Humanizar-se é construir-se como pessoa, crescendo em densidade espiritual e capacidade de comunhão amorosa.

Por crescimento espiritual devemos entender uma cada vez maior densidade espiritual e capacidade de interacção amorosa.

A convergência para a comunhão universal significa a incorporação da pessoa humana na comunhão com as pessoas divinas, as humanas e todas as outras que possam existir na comunhão do Reino de Deus.

Face aos animais, o Homem reconhece a sua condição de pessoa, isto é, um ser estruturado para a transcendência.

Deus transcende o Homem e este transcende a natureza e os animais. A pessoa é um ser capaz de se distanciar da natureza e dos animais, reflectindo e descobrindo o sentido e a funcionalidade destas realidades.

O livro do Génesis exprime esta verdade dizendo que Deu fez passar os animais diante do Homem, a fim de este lhes dar um nome (Gn 2, 19-20).

Dar um nome significa dominar uma realidade atribuindo-lhe uma função e um sentido. É esta a razão pela qual a bíblia diz que o Homem não é capaz de dar um nome a Deus.

Perante os animais a pessoa humana sente que transcende as capacidades destes. Por outras palavras, o Homem transcende os animais, e sabe que os transcende.

De facto, os animais sabem muitas coisas, mas não sabem que sabem, isto é, não são conscientes. A pessoa humana, pelo contrário, é um ser consciente: sabe e sabe que sabe.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE DO HOMEM-V

V-A LIBERDADE COMO PROCESSO

O Homem é uma obra-prima de barro em cujo interior está a emergir outra obra-prima feita de espírito.

A nossa interioridade espiritual é dinâmica. Ao nível pessoal-espiritual nada está acabado ou determinado, pois o leque de possibilidades e condicionamentos é enorme.

No coração do processo da humanização está o livre arbítrio, isto é, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

Isto quer dizer que o livre arbítrio não é ainda a liberdade, mas sim a possibilidade de a pessoa chegar a ser livre.

Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não pode escolher pelo mal.
Na medida em que a pessoa opta pelo amor, a liberdade emerge como capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

É importante saber assumir o processo da própria realização pessoal de maneira realista, isto é, aceitando os talentos que temos e não sonhar talentos que outros têm e nós não.

Na verdade, a pessoa não acontece de modo fatal. Somos seres em processo de auto transcendência constante.

Por outras palavras, à medida que nos realizamos vamos sendo diferentes, mas sem deixar de ser as mesmas pessoas.

A identidade espiritual da pessoa humana é histórica. Para nos dizermos temos de contar uma história.

O Homem vem do animal por evolução, mas a sua vocação é construir-se à imagem e semelhança de Deus.

Na verdade somos causa de nós mesmo a partir do que recebemos dos outros. Mas como não emerge de modo fatal, o Homem tem a possibilidade de se recusar a ser, destruindo os seus possíveis de realização.

O pecado é precisamente a recusa da pessoa a ser mais humana através do amor. Apenas há pecado quando há possíveis para realizar e a pessoa recusa. Pecar é optar pelo não ser opondo-se ao amor.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-I

I-O ROSTO DA SABEDORIA

A Sabedoria que Vem de Deus está na origem e na meta da História da Humanidade. A Criação leva consigo a marca da Sabedoria, pois esta encontra a sua origem no Criador.

É por esta razão que, na ordem da Criação as coisas encontram sentido no conjunto da Criação.
Quando a Sabedoria habita o coração de uma pessoa, esta torna-se sábia.

A Sabedoria situa-se ao nível do sentido da vida, da História, das coisas e dos acontecimentos.
Podemos dizer que a Sabedoria é a capacidade de saborear a realidade com o sentido e os critérios da Palavra de Deus.

As ciências analisam fenómenos e factos, a fim de descobrirem as suas causas e efeitos. A sabedoria, pelo contrário, prefere contar histórias capazes de projectar sentido sobre a realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

As propostas e os apelos da sabedoria não são meras utopias ou fantasias sem sentido. Pelo contrário, as suas inspirações são realizáveis, mas apenas por seres humanos que, deixando-se moldar pela sabedoria, se tornam sábios.

A ciência sem a sabedoria pode gerar forças de destruição e morte. A sabedoria que vem de Deus, pelo contrário, sonha sempre com o melhor para a Humanidade.

A Sabedoria é modesta e discreta. Não fala para se exibir ou adquirir privilégios. Animado pelos horizontes novos da Sabedoria, São Paulo diz que graças a Jesus Cristo o Homem deu um salto de qualidade.

Ao ressuscitar, Jesus deu início a uma Nova Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).
A Humanidade recriada assenta na fraternidade fundada no sentimento da igualdade básica de todos os seres humanos.

Já não há qualquer razão para segregarmos as pessoas por razões de religião, de raça, do estatuto social ou da sua condição sexual, diz São Paulo.

Eis as suas palavras na Carta aos Efésios: “Já não há diferença entre judeu ou grego, escravo ou livre.

Já não há diferença entre homem ou mulher, pois todos formamos um em Jesus Cristo” (Gal 3, 28).

Esta visão de São Paulo representa uma viragem imensa no antigo teólogo judeu que olhava os pagãos como seres impuros e amaldiçoados por Deus.

Neste mesmo sentido, a Carta aos Efésios diz que Deus é o princípio unificador de toda a Criação:
“Há um só Corpo e um só Espírito. Existe apenas uma esperança à qual fostes chamados.

Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus Pai que é Pai de todos” (Ef 4, 4-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-II

II-A SABEDORIA GERA SENSATEZ E BONDADE

O Espírito Santo fecunda os nossos corações com os talentos, isto é, as possibilidades de que dispomos para levar por diante a tarefa da nossa humanização.

É ele que optimiza as possibilidades que o Pai, pela mediação dos nossos irmãos, vai colocando no nosso coração.

É o Espírito Santo que nos dá a Sabedoria que nos ensina a valorizar e realizar os melhores talentos que recebemos de Deus pela mediação dos irmãos.

A Sabedoria que o Espírito Santo infunde na nossa mente e no nosso coração ajuda-nos a ser fieis esses talentos recebidos, a fim de nos realizarmos e podermos atingir a comunhão do Reino com um coração fiel como o de Jesus.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo dinamiza e fortalece a nossa comunhão com o Pai e o Filho, introduzindo-nos na comunhão familiar de Deus.

É também o Espírito Santo que fortalece e anima a imensa comunhão orgânica constituída pela Humanidade.

Graças ao acontecimento da Encarnação o Espírito Santo cria vínculos de comunhão e interacção entre a Humanidade e a Divindade.

A Sabedoria está junto de Deus desde toda a eternidade, diz o Livro da Sabedoria: “A intimidade que existe entre a Sabedoria e Deus indica a nobreza da sua origem, pois o Senhor do Universo amou-a deste o princípio.

A Sabedoria está iniciada na ciência de Deus e foi ela quem inspirou o Criador as obras que podia criar (…).

Se há alguém que deseje uma vasta experiência, una-se à Sabedoria, pois ela conhece o passado e prevê o futuro.

Ela penetra as subtilezas da linguagem e tem a chave dos enigmas. Sabe interpretar os sinais e prodígios e antecipa o sentido das idades e dos tempos” (Sb 8, 3-8).

E depois acrescenta: “Deus de Bondade: dá-me a Sabedoria que se senta junto do teu trono, a fim de eu não ser excluído do número dos teus filhos (…).

Mesmo que alguém fosse perfeito entre os homens, nada seria sem a sabedoria que vem de ti” (Sb 9, 4-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-III

III-SABEDORIA E CONHECIMENTO DE DEUS

O Espírito Santo comunica-nos a mensagem da Sabedoria e envia-nos profetas que denunciem a hipocrisia dos que exploram e machucam os pobres sem pudor nem vergonha.

Quando o Espírito Santo nos comunica o dom da Sabedoria esta torna-se no nosso coração a capacidade de saborear as coisas e os acontecimentos com os critérios de Deus.

Devido ao materialismo que reina neste mundo desumanizado, a Humanidade está a perder os horizontes da Sabedoria que vem da Palavra de Deus.

Há cada vez mais dificuldade em discernir o bem, devido à confusão do mundo em que vivemos.

Precisamos que o Espírito Santo nos proporcione bons evangelizadores, a fim de aprendermos a separar com clareza o bem do mal e a ter um sentido claro do mistério de Deus e do Homem.

Precisamos que o Espírito Santo fortaleça a fé e a esperança dos cristãos, a fim de estes poderem ser testemunhas de Evangelho neste mundo sem horizontes de esperança.

Precisamos de homens e mulheres apaixonados pelo trabalho da evangelização do mundo, a fim de os seres humanos conhecerem a verdade da salvação em Cristo.

Precisamos de homens corajosos que sejam no mundo uma luz capaz de nos ajudar a caminhar no sentido da justiça e da paz.

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA COMO DOM DE DEUS-IV

IV-SABEDORIA E O SENTIDO DA SALVAÇÃO

A Sabedoria capacita-nos para saborearmos o mistério do Homem a caminhar para o Reino de Deus.

Com as lentes da Sabedoria os seres humanos ficam aptos para amarem a Humanidade como uma Família imensa chamada a fazer parte da Família de Deus.

Na verdade, a Humanidade forma uma união orgânica e dinâmica, apesar de serem biliões as pessoas que a constituem.

Isto quer dizer que o bem e o mal que fazemos, valorizados com os critérios da Sabedoria possibilitam e condicionam não apenas as pessoas que os fazem, mas também o tecido orgânico universal do qual fazem parte.

Na verdade, possibilitamos o crescimento e o sucesso humano com o bem que fazemos, tal como perturbamos e bloqueamos a marcha da Humanidade com a dinâmica bloqueadora do nosso pecado.

Jesus, no evangelho de São João afirma que nele e por ele a Humanidade está organicamente unida à Divindade:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20). Depois Jesus acrescenta: “Eu neles e tu em mim, Pai, a fim de eles serem perfeitos na unidade.

Deste modo o mundo conhecerá que me enviaste e os amaste a eles, tal como me amaste a mim” (Jo 17, 23).

São Paulo exprime esta verdade de modo muito bonito quando afirma. Movida pela Sabedoria que recebeu do Espírito de Cristo ressuscitado, São Paulo afirma:

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual chamais “Abba”, ó Pai (…).

Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Somos herdeiros de Deus pai e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que sofremos com ele, a fim de sermos também glorificados com ele (Rm 8, 14-17).

Só podemos ter vida e dar bons frutos, diz o evangelho de São João, formos como ramos de videira unidos à cepa que é Jesus Cristo (Jo 15, 4-5).

Olhando o projecto de Deus com os horizontes da Sabedoria, os cristãos estão chamados a ser um sinal de esperança para a Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-I

I-O LUGAR DO HOMEM NO CORAÇÃO DE DEUS

Deus não é uma força cega e sem coração. O nosso Deus é relações de bem-querer e amor familiar.

A Humanidade está unida de modo orgânico e dinâmico à Divindade. Isto deve-se ao facto Jesus de Nazaré e o Filho Eterno de Deus fazerem uma união orgânica e dinâmica alimentada pelo Espírito Santo.

Enquanto viveu na História, Jesus era a expressão humana perfeita do amor incondicional de Deus para connosco.

O modo como agia e nos amava estava plenamente em harmonia com a vontade do Pai, dizia Jesus.

Ele exprimiu muitas vezes e de muitos modos esta sua união com a vontade do Pai. Eis algumas das suas afirmações a este respeito: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

“Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30). “O pai não me deixou sozinho, pois eu faço o que lhe agrada” (Jo 8, 29).

“O mundo há-de saber que amo o Pai e que faço como ele me ordenou” (Jo 14, 31). O modo como Jesus actuava em sintonia com a vontade do Pai era expressão da união orgânica que existia o Filho e o Pai.

O evangelho de São João exprime esta verdade pondo na boca de Jesus uma afirmação que exprime de modo perfeito esta união orgânica do Filho com o Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

A paixão que levava Jesus a procurar a libertação e a felicidade das pessoas era a expressão humana do amor do Pai que deseja a nossa salvação.

Eis o que diz o evangelho de São Mateus: “Não é da vontade do vosso Pai que está nos Céus, Que um só destes pequeninos se perca” (Mt 18, 14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-II

II-ANTES DE NOS CRIAR, DEUS FEZ UM PLANO DE AMOR

Podemos dizer que o plano de Deus para o Homem, ainda antes de ter sido iniciado, foi dialogado entre as três pessoas da Santíssima Trindade.

O Espírito Santo recebeu a missão de ser o hálito da vida no interior do barro amassado. Por outras palavras, o Espírito Santo assumiu a missão de ser no interior das pessoas uma presença que dinamiza o processo da humanização.

Esta missão atinge o seu ponto mais alto quando chegou a plenitude, isto é, Jesus Cristo. Graças ao acontecimento da Encarnação o divino enxertou-se no humano, isto é, o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, formam uma união orgânica.

Com o acontecimento da ressurreição de Jesus, a Humanidade é assumida e incorporada na comunhão da Santíssima Trindade.

O Espírito Santo é o vínculo e o princípio animador deste encontro humano-divino realizado em Cristo.

É também o Espírito Santo que com seu jeito maternal de amar nos incorpora na Família Divina, diz São Paulo (Rm 8, 14-17).

Os frutos de vida nova que vamos produzindo são, na verdade, resultado da seiva da videira que vem da cepa da videira, isto é, Jesus Cristo, para nós que somos o seus ramos.

Com a sua ternura maternal, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos.
Do mesmo modo conduz-nos ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Eis a palavras de São Paulo na Carta aos Romanos: “Todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos escraviza e encha de temor (referência ao espírito das normas, leis e preceitos do judaísmo).

Pelo contrário, vós recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos e vos leva aclamar: “Abba, ó Pai”.

É este mesmo Espírito que no íntimo do nosso coração dá testemunho de que realmente somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Deste modo, acrescenta a Carta aos Romanos, o Filho de Deus tornou-se o primogénito, de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O Espírito Santo é, realmente o sangue da Nova Aliança que leva a vida nova ao mais íntimo de todos nós que fazemos um todo orgânico com Cristo.

No nosso íntimo, diz São João, ele é a Água Viva que faz jorrar um regato de Vida Eterna no nosso Coração.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Isto significa que é mo Espírito Santo que o Pai e o Filho nos amam incondicionalmente.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-III


III-O DEUS QUE SE REVELA E SURPREENDE

No mais íntimo do seu ser, Deus é diálogo comunitário. Como vínculo pessoal de comunhão orgânica e princípio animador de relações, o Espírito Santo vai-nos incorporando na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

Quando nos dispomos a orar no Espírito Santo, passamos a participar no próprio diálogo de Deus como Filho de Deus Pai e irmão do Filho de Deus.

Eis as palavras de São a este propósito: “O Espírito Santo socorre a nossa fraqueza, pois não sabemos como orar de modo conveniente.

Mas o Espírito Santo ora por nós com expressões inefáveis e o Deus que perscruta os corações sabe muito bem qual é o desejo do Espírito.

Na verdade, o Espírito Santo ora sempre em sintonia com Deus, intercedendo por nós” (Rm 8, 26-27).

É no mesmo Espírito Santo que Deus Pai comunica connosco revelando-nos o seu coração cheio de ternura paternal:

Revela-se como Pai justo, amoroso, misericordioso e paciente. Revela-se como Pai amável, solícito, acolhedor e sempre disposto a perdoar.

Revela-se como Pai leal e verdadeiro, sempre fiel aos valores da Verdade, da Justiça e do Amor.
Revela-se como Pai protector, atento, dedico e sempre pronto a acolher-nos.

Revela-se como um Pai que ama incondicionalmente e, portanto, agindo connosco em dinâmica de graça, isto é, indo muito além do que nós possamos merecer.

É também no Espírito Santo que o Filho de Deus se comunica connosco e se revela a nós como irmão solidário, bom, e fiel companheiro de viagem.

Revela-se como irmão sempre disposto a partilhar o melhor de si e a dar-nos uma mão para nos fortalecer e ajudar.

Revela-se como irmão generoso, o qual nunca faz alarde do bem que nos quer e das coisas boas que nos dá. Revela-se como irmão sempre atento, sincero e fiel.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS SURPREENDE O HOMEM-IV

IV-O LUGAR CENTRAL DO ESPÍRITO SANTO

No coração deste diálogo revelador está presente o Espírito Santo inspirando, palavras e gestos capazes de reforçar esta interacção humano-divina.

O Espírito Santo é o sangue de Deus a circular no nosso coração, comunicando-nos a vida divina.
É o consolador que dá ânimo e nos consagra para a missão.

Liberta-nos do medo das perseguições e obstáculos, inspirando-nos as palavras certas para anunciarmos o Evangelho do Reino.

É o vínculo que nos liga a Cristo de modo orgânico, à maneira da união que existe entre os membros do corpo e a cabeça, como diz São Paulo (1 Cor 10, 17; 12, 27; 13, 16).

É por ele que nascemos de novo, a fim de podermos tomar parte na festa do Reino de Deus (Jo 3, 3-6).

É o Espírito Santo quem realiza de modo definitivo a reconciliação da Humanidade com Deus, fazendo de nós uma nova criação (2 Cor 5, 17-19).

É ele a semente da vida divina em nós, diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 3, 9). Ele é o Consolador que nos inspira e fortalece nos momentos de perseguição (Mt 10, 20).

Ele é o mestre que explica o sentido da Palavra de Deus no íntimo do nosso coração. É ele que faz cair as escamas da obscuridade dos olhos da nossa mente, a fim de podermos ver a verdade de Deus e do Homem.

Depois de estas escamas caírem dos começamos a saborear a bondade de Deus e o dom da Salvação como aconteceu com São Paulo (Act 9, 18).

É o Espírito Santo quem executa o projecto libertador de Deus no nosso íntimo, actuando em nome do Pai e do Filho.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 17 de agosto de 2008

O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO-I

I-O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO É COMUNICAÇÃO

Por ser comunhão amorosa, Deus interage com os muitos biliões de pessoas humanas que vivem e viveram ao longo dos milénios.

Por outras palavras, Deus é amor que se difunde pelo Universo. O princípio difusivo do amor de Deus para nós é o Espírito Santo.

Ele é a ternura maternal de Deus através da qual as pessoas humanas são inseridas na comunhão familiar da Santíssima Trindade (Rm 8, 14).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Por ser comunhão amorosa, Deus é o fundamento do amor e o alicerce da comunhão universal do Reino.

A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7-8). Ora, o amor é uma realidade dinâmica que circula nas relações entre as pessoas e gera laços de comunhão.

O amor não se esgota nem envelhece, pois é um dinamismo que se auto gera e fortalece. Na verdade, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A natureza do amor é difusiva. A título de exemplo podemos dizer que o amor que a mãe do Pedro lhe tem, não impede que ela tenha um amor igual aos outros dois filhos.

O sol da praia é para todos. Mesmo que haja milhões de pessoas a bronzear-se, ninguém fica menos bronzeado pelo facto de serem muitos.

Mas este exemplo é pobre, pois o sol é uma realidade exterior às pessoas humanas. Com Deus acontece o contrário, pois o Espírito Santo anima-nos e conduz-nos a partir de dentro, pois Deus é a interioridade máxima de todas as coisas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO-II

II-DEUS TORNA-SE PRESENTE A PARTIR DE DENTRO

Isto quer dizer que Deus nunca interage connosco a partir de fora e comunica connosco através da ternura maternal do Espírito Santo.

Como sabemos, a luz e o calor do sol chegam até nós, vindos de muito longe. O Espírito Santo, pelo contrário, faz que Deus seja um Deus connosco.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Seguindo o pensamento de são diríamos que o Espírito Santo nos habita e conduz a partir do nosso íntimo. Eis as palavras de São Paulo:
“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

No evangelho de São João, o Espírito Santo é comparado a uma Água viva que se torna um manancial de vida eterna a jorrar de modo permanente no coração das pessoas (Jo 4, 14; 7,37-39).

No pensamento bíblico o coração é o núcleo mais nobre da nossa interioridade espiritual. Falando em termos espirituais podíamos dizer que o coração é o núcleo a partir do qual emerge e se estrutura o nosso jeito de ser e amar.

O coração é ponto de encontro com Deus e o núcleo no qual a pessoa elabora as suas decisões, escolhas e opções.

É no coração que elegemos o outro como próximo, decidindo fazer-lhe o bem. A presença do Espírito Santo no nosso coração é profundamente dinâmica.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO-III

III-ESPÍRITO SANTO E PRESENÇA DE DEUS

É no íntimo do nosso coração que o Espírito Santo nos vai dinamizando e moldando à imagem de Deus, configurando-nos com Jesus Cristo.

Precisamos do ar para respirar e viver. Por isso Deus providenciou para que o ar se difunda por toda a terra.

Do mesmo modo, o Espírito Santo está em todos nós, pois precisamos dele para renascer e caminhar para a plenitude do Reino de Deus, diz o evangelho de são João (Jo 3, 3-6).

No seu discurso em Atenas, São Paulo disse que Deus é omnipresente, isto é, está presente a tudo e a todos:

“Deus é o Criador do mundo e de tudo quanto nele existe. Ele é o Senhor do Céu da Terra e por isso não habita em templos feitos pela mão dos homens como se precisasse de alguma coisa (…).

É nele que vivemos, nos movemos e existimos (Act 17, 24-28). Deus ama todas as pessoas e por isso não cessa de suscitar mediações para ajudar aqueles que mais precisam.

O mistério de Deus revelou-se em Jesus Cristo como um mistério de relações amorosas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO-IV

IV-DEUS REVELA-SE E INTERPELA-NOS

O facto de Deus se ter revelado como comunhão familiar tem consequências importantes para o ser humano compreender, não apenas o mistério de Deus, mas também o mistério do Homem e do próprio Universo.

Com efeito, se Deus é amor, então temos de reconhecer que o Universo é obra do Amor. Se Deus é uma família de três pessoas, então temos de reconhecer que a primeira realidade a existir é a Família.

Se o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, então temos de reconhecer que a pessoa humana precisa de um calda familiar para se estruturar bem e crescer de modo feliz.

Se a pessoa humana apenas fica capacitada para amar de pois de ter sido amada, então temos de reconhecer que a paternidade, para ser humana, precisa da dinâmica do amor.

Por outras palavras, a paternidade humana é imagem e semelhança da paternidade Deus. Isto quer dizer que não podemos limitar a paternidade humana à mera paternidade biológica como acontece com a paternidade do cão e o gato.

Deus está sempre connosco, mas nunca nos manipula nem se nos impõe. É assim a fragilidade do amor. Só existe um Deus, que é o Deus de todos e ama a todos.

Como é amor, Deus não pode deixar de nos amar e, portanto, de oferecer o dom da salvação a todos os seres humanos.

A Carta aos Romanos diz que graças a Jesus Cristo nós somos filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO DO DEUS DE JESUS CRISTO-V

V-ROMPER COM DEUS É ROMPER COM O AMOR

Deus quer a salvação de todas as pessoas, por isso não condenam ninguém. Mas a salvação de Deus é um dom, não uma imposição.

É esta a razão pela qual o ser humano pode dizer não ao amor de Deus e entrar na lógica do fracasso definitivo.

Podemos dizer que Deus não condena ninguém, mas que é muito perigoso brincar com Deus.
Na verdade, a vontade de Deus a nosso respeito coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Isto quer dizer que as pessoas que brincam com Deus estão a brincar com o seu próprio bem.
Por outras palavras: Deus é amor e, por isso não se vinga de ninguém.

No entanto, brincar com Deus é o sinal de que a pessoa que o faz já entrou no caminho do malogro e do fracasso.

É importante saber que brincar com Deus significa brincar com o amor, pois Deus é amor (1 Jo 4, 7-8).

Podemos ter a certeza de que os seres humanos que tenham terminado no fracasso definitivo não foram condenados por Deus.

Por outras palavras, as pessoas que porventura caminhem para o estado de inferno, não foram condenadas por Deus mas por sua própria decisão.

Deus dá-se de graça. Não é preciso dinheiro para habitar no coração de Deus, isto é, na comunhão da Santíssima Trindade.

Mas os que têm muito dinheiro devem partilhar com os que não têm, a função do dinheiro é possibilitar a realização das pessoas:

Os que têm demasiado não conseguem humanizar-se se não partilham. Do mesmo modo os que estão carenciados também não podem realizar-se sem ter um mínimo de dinheiro que seja suficiente para satisfazer as suas necessidades.

Não é preciso ser muito importante para ter Deus. Mas Deus está especialmente no coração daqueles que emprestam o seu saber e a sua voz para defender os que não sabem defender-se.

É esta a razão pela qual Jesus, em nome de Deus, se colocava sempre do lado dos mais frágeis e desprotegidos.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-II

I-SERES FAMINTOS DE PLENITUDE

Os seres humanos levam consigo uma fome imensa de plenitude. À medida que amadurecemos, vamo-nos dando conta que esta fome de felicidade e plenitude só pode ser saciada através do amor.

Com efeito, o amor é a força que impele o processo de emergência e amadurecimento da pessoa humana.

Em primeiro lugar, precisamos do amor dos outros para sermos capazes de amar. Depois, precisamos de amar para atingirmos a nossa plenitude pessoal.

Na verdade, as pessoas estão telhadas para a reciprocidade amorosa. Isto quer dizer que a pessoa se possui na medida em que se dá.

Estamos, de facto, talhados para o dom. Não é difícil entender como o amor dos outros nos dá segurança.

Ao mesmo tempo sentimos que o nosso amor aos demais ajuda-os a crescer como pessoas e, ao mesmo tempo, faz desabrochar a alegria e a paz no nosso coração.

Estas experiências fazem-nos compreender que a pessoa que se dá não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se.

Não é difícil entender como a realidade mais profunda do ser humano é um mistério, isto é, uma realidade não evidente, mas que se vai revelando de modo gradual e progressivo.

De facto, a verdade mais profunda das pessoas não é evidente, mas vai-se revelando pouco a pouco através das relações.

As pessoas humanas, por vezes, distorcem o sentido da fome profunda de amor que levam dentro.

Uma maneira de iludir esta fome de plenitude que levamos connosco, é a fuga para o mundo exterior, procurando a felicidade no dinheiro, no poder, no álcool, nas drogas ou no sexo sem amor.

Mas a experiência encarrega-se de nos ensinar que estas fugas não só não ajudam a encontrar a felicidade, como bloqueiam a nossa realização pessoal.

É importante termos consciência de que a fome de felicidade que levamos connosco tem uma direcção e um sentido espiritual.

Além da sua dimensão corporal, a pessoa é um ser que se estrutura progressivamente como ser espiritual livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-II

II-TALHADOS PARA DEUS

É verdade que a pessoa começa por ser o que os outros fizeram dela. É dos outros que recebemos o leque inicial dos talentos ou possibilidades de realização.

Mas o verdadeiramente decisivo é o modo como a pessoa se realiza a partir do que recebeu dos outros.

Isto quer dizer que a palavra decisiva de qualquer realização pessoal é, de facto, a da própria pessoa.

É esta a razão pela qual cada pessoa se realiza de modo único, original e irrepetível. Na verdade não há duas pessoas iguais. Isto quer dizer que ninguém está a mais, pois ninguém é uma simples cópia do outro.

Ao sonhar o Homem à sua imagem e semelhança, Deus sonhou para o Homem uma plenitude que consiste na optimização do humano pelo divino.

Pelo mistério da Encarnação, Deus ofereceu-nos a possibilidade de sermos assumidos e incorporados na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

Isto quer dizer que a fome de plenitude que levamos connosco só pode ser plenamente saciada na comunhão com Deus.

Por outras palavras, o Homem está talhado para ser divino. Pela Encarnação, a Divindade enxertou-se na Humanidade, a fim de esta ser assumida e incorporada na Família de Deus.

Ao ressuscitar, Jesus inseriu-nos na comunhão orgânica da Família Divina, possibilitando-nos uma interacção intrínseca com o Espírito Santo, tornando-se o sangue da Nova Aliança que faz circular em nós a vida divina.

O evangelho de São João diz que é este o sentido profundo da comunhão na Eucaristia (Jo 6, 62-63).

São João explicita ainda melhor esta verdade, dizendo que a carne e o sangue de Jesus rsuscitado, isto é, o Espírito Santo, faz germinar em nós a vida eterna:

“Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também quem me come viverá por mim. É este é o pão que desceu do Céu” (Jo 6, 57-58).

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Calmeiro Matias

O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-III

III-JESUS CRISTO E O DOM DO ESPÍRITO

Segundo o evangelho de São João, o Espírito Santo é a Água Viva que faz emergir em nós a vida eterna (Jo 7, 37-39; cf. 4, 14).

O dom do Espírito, afinal, é o grande dom que Jesus tinha reservado para nós quando chegasse a sua hora, isto é o momento da sua morte e ressurreição (Jo 2,4).

Quando chegou a hora de Jesus, acrescenta São João, o dom do Espírito Santo saiu do coração de Jesus para nós em forma de Água Viva e de Sangue da Nova Aliança:

“Ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, os soldados não lhe quebraram as pernas.
Mas um dos soldados abriu-lhe o peito com uma lança e logo brotou Sangue e Água” (Jo 19, 33-35).

O sacramento da Eucaristia exprime este mistério da nossa união orgânica e dinâmica com Cristo ressuscitado pela acção vivificante do Espírito Santo.

São Paulo diz que fomos baptizados num mesmo Espírito, a fim de fazermos um só corpo (1 Cor 12, 13).

O Espírito Santo é, pois, o alimento que nos dá a vida nova e faz de nós corpo de Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).

Vista à luz da fé, a fome de plenitude que levamos connosco é um chamamento ao amor. Na verdade, Deus é amor e só ele pode preencher a fome de felicidade que levamos connosco.

Não fomos feitos para estar sós, pois estamos talhados para a comunhão. Na visão bíblica, a morte espiritual é igual a solidão radical. É isto o que, em linguagem cristã, se chama inferno.

Jesus Cristo, ao ressuscitar, abre-nos as portas para a comunhão intrínseca com o Espírito Santo.
Isto quer dizer que, graças a Cristo ressuscitado, os seres humanos interagem com a pessoa do Espírito Santo no mais íntimo do seu coração.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo gera em nós uma vida nova. O evangelho de São João diz que temos de nascer de novo pela Água e pelo Espírito Santo, pois o nasce da carne é carne e nós estamos chamados a ser membros da Família de Deus (Jo 3,3-6).

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Calmeiro Matias

O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-IV


IV-DEUS E O BEIJO DA VIDA

A incorporação dos seres humanos na Família da Santíssima Trindade acontece porque estamos moldados de modo a encontrar a plenitude em Deus.

Enquanto fazia os preparativos para criar o Homem, Deus deu um beijo no barro primordial do qual ia sair o Homem.

Nesse momento, diz o Livro do Génesis, o hálito da vida divina, isto é, o Espírito Santo, passou para o interior do barro e o Homem torna-se barro com coração (Gn 2, 7).

Animado pela força interior do Espírito Santo, o barro foi-se humanizando de modo gradual e progressivo.

Com o acontecimento de Cristo, a marcha da humanização deu um salto de qualidade, pois atingiu o limiar da divinização.

Com efeito, diz São Paulo, a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos do Homem é iniciada com Cristo e nós somos incorporados na Família de Deus.

Eis as palavras de São Paulo: “Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei de Moisés.

Deste modo, Deus resgatou os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de estes receberem a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que, no nosso interior, clama: “Abba, Papá”.

Deste modo, já não somos escravos mas filhos. Ora, se somos filhos também somos herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Com o acontecimento da Encarnação, Deus deu um segundo beijo ao Homem, possibilitando a sua divinização.

Na verdade, o divino enxertou-se no humano pelo acontecimento da Encarnação, dando-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

Estes dois beijos ao Homem representam os dois momentos decisivos do plano de Deus para o Homem: a criação e a salvação humana.

O beijo de Deus Pai, no princípio da criação, inicia a dinâmica da nossa humanização. O beijo de Deus Filho, na plenitude dos tempos, inicia o processo da nossa divinização (Jo 6, 57-58).

O primeiro beijo significa a intervenção especial de Deus na criação do Homem. O segundo, significa a plenitude do Homem assumido e incorporado na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

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Calmeiro Matias

O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-V

V-RESSURREIÇÃO DE CRISTO E PLENITUDE DOS TEMPOS

Com Jesus Cristo a História deu um salto de qualidade: A Humanidade passou do estado de não divina, para a condição de divinizada através da sua incorporação na comunhão da Família de Deus.

Com Jesus Cristo, a Humanidade entrou na fase dos acabamentos. Antes de Cristo, o Homem estava apenas em processo de humanização.

Como a morte e ressurreição de Cristo, a Humanidade entra na fase da sua divinização. Por divinização quero significar a incorporação na comunhão orgânica da Santíssima Trindade como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus filho.

Esta incorporação acontece pela acção do Espírito Santo que nos é comunicada de modo orgânico por Cristo Ressuscitado.

O Espírito Santo é o princípio vital de Cristo que circula e dá vida à união orgânica que existe entre Jesus de Nazaré e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

O mesmo Espírito Santo é-nos comunicado por Cristo ressuscitado, a fim de alimentar uma união orgânica entre Jesus e a Humanidade.

O ser humano é capaz de comungar na medida em que está humanizado. Na verdade, comungaremos tanto mais com as pessoas divinas quanto mais tivermos crescido na capacidade de comungar com as pessoas humanas.

Por outras palavras, será eternamente mais divino quem mais se tiver humanizado na História.
A identidade espiritual da pessoa é a sua capacidade de se relacionar amorosamente e comungar com os irmãos.

Isto quer dizer que é na História que a pessoa se realiza e edifica a sua identidade eterna.
Utilizando uma imagem de festa, diria que dançaremos eternamente o ritmo do amor e da comunhão com o jeito que tivermos treinado agora, na História.

A festa do Reino é a superação total da solidão e a conquista definitiva da felicidade que só acontece em dinâmica de comunhão.

Como acabamos de ver, a nossa plenitude é proporcional à nossa realização. Com efeito, somos nós que construímos aquilo que será plenificado por Deus.

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Calmeiro Matias

O HOMEM É UM MISTÉRIO QUE SE REVELA-VI

VI-EMERGIR NA HISTÓRIA PARA ATINGIR A ETERNIDADE

Podíamos dizer que a matéria-prima da nossa realização é o nosso futuro é o que nos falta realizar para atingirmos a nossa plena realização.

Esta matéria-prima é o leque de possíveis que ainda temos para realizar. Mas este futuro pode acontecer ou não. Isso depende de nós.

A título de exemplo diríamos que o ovo de galinha, quando está fecundado, está cheio de possíveis para dar um pintainho.

Mas estes possíveis podem realizar-se ou não. Assim, por exemplo, se estrelarmos esse ovo não teremos pintainho.

Isto é para dizer que a nossa humanização não é uma fatalidade, pois depende de nós. A pessoa humana humaniza-se através de um encadeamento de opções, decisões e realizações na linha do amor.

A humanização do ser humano acontece como um processo histórico cuja lei é: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Em perspectivas cristãs esta comunhão universal é humano-divina graças ao acontecimento da Encarnação.

Podíamos dizer que a nossa identidade espiritual é o resultado pessoal da história que construímos com os talentos que recebemos dos outros.

É este o mistério do Homem em construção que se revela na medida em que a pessoa adquire capacidade para saborear a verdade do Homem.

A pessoa humana é um ser histórico. Faz-se, fazendo história. Para nos dizermos temos de contar uma história.

De tal modo esta tarefa é pessoal que ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa realização.
Por outras palavras, a história pessoal que vamos construindo é, de facto, a matriz da nossa identidade espiritual e eterna.

Seremos eternamente seres com uma identidade histórica! Não estamos sozinhos nesta tarefa, pois o Espírito Santo está em nós e trabalha connosco.

Podemos ter a certeza de que Deus está tão interessado no sucesso da nossa realização como nós mesmos.

A maneira correcta de aceitar esta presença fecunda e dinâmica do Espírito Santo em nós implica contar com Deus, mas nunca tentar a Deus.

Tentar a Deus significa não fazer o que depende de nós, pretendendo que Deus nos substitua.
Deus está sempre connosco, mas nunca em nosso lugar.

Podíamos dizer que a atitude correcta neste aspecto é o seguinte: “Agir como se tudo dependesse de nós, sabendo que o essencial é obra de Deus”.

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Calmeiro Matias

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

FÉ CRISTÃ E O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS-I

I-O REINO NO PLANO DE DEUS

Jesus inicia a sua pregação convidando as pessoas a converterem-se porque o Reino de Deus está perto.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Os evangelhos dão a entender que o Reino faz parte de um plano que só Deus conhece. Por outras palavras, o Reino de Deus é um mistério, isto é, um segredo que só Deus conhece, mas que v ai revelar através do seu Filho:

“A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus. Mas aos de fora tudo lhes é proposto em parábolas” (Mc 4, 11).

A carta aos Efésios fala do mistério do Reino que o Espírito Santo revela aos Apóstolos, a fim de estes poderem anunciar aos seres humanos o plano salvador de Deus:

“Deus manifestou-nos o mistério da sua vontade e o plano generoso que tinha estabelecido para conduzir os tempos à sua plenitude:

Submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no Céu e na Terra” (Ef 1, 10). Em seguida, na mesma carta aos Efésios, São Paulo acrescenta:

“Por revelação me foi dado conhecer o mistério, tal como antes o descrevi resumidamente.

Lendo-o podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens em gerações passadas, como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos Apóstolos e Profetas.

Segundo este mistério, os gentios são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa em Cristo Jesus, por meio do Evangelho” (Ef 3, 3-6).

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Calmeiro matias

FÉ CRISTÃ E O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS-II

II-OS SINAIS DO REINO DE DEUS

Enquanto realidade a emergir na História, o Reino de Deus está em gestação na História. Mas a sua plenitude está para lá da História.

No Pai-Nosso, Jesus ensina os discípulos a pedirem ao Pai a vinda do Reino (Mt 6, 10; Lc 11, 2).

Ao mandar os discípulos pregar o Reino de Deus, Jesus indicar-lhes que o Reino coincide com a meta do Plano Salvador de Deus (Lc 9, 2).

Os que forem perseguidos por causa da justiça, isto é, por causa da sua fidelidade à vontade de Deus, devem considerar-se felizes, pois deles é o Reino de Deus (Mt 5, 10).

Procurar o Reino de Deus é procurar o fundamental da salvação: “Procurai o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6, 33).

Procurar a justiça é procurar a vontade de Deus. Na verdade, ser justo é ser fiel à vontade de Deus.

O Reino assenta no poder de Deus que é a força criadora e salvadora do amor. Eis o que diz a Primeira Carta de São João:

“O amor de Deus manifestou-se desta maneira no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por meio de ele, tenhamos a vida” (l Jo 4, 9).

O tema da pregação de João Baptista era a necessidade da conversão para acolher o Reino de Deus que estava para chegar:

“Convertei-vos, dizia ele, pois o Reino de Deus (dos Céus em São Mateus) está próximo” (Mt 3, 1-2).

Os milagres de Jesus significavam que a força libertadora do Espírito Santo estava presente e activa.

Segundo os profetas, o sinal claro da chegada do Reino de Deus era a acção libertadora do Messias a actuar com a plenitude do Espírito Santo:

“Brotará um rebento do tronco de Jessé e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor:

Espírito de sabedoria e entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor” (Is 11, 1-2).

Era com esta lente que Jesus interpretava a sua acção libertadora: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12, 28; Lc 12, 31).

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Calmeiro Matias

FÉ CRISTÃ E O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS-III

III-REINO DE DEUS E REINOS TERRENOS

Os Apóstolos esperavam ser convivas da corte do Messias e ocupar aí os primeiros lugares (Mc 10, 35-45).

Jesus, pelo contrário, nunca confundiu o Reino de Deus com os reinos dos homens. Para ele, o Reino de Deus acontece ao nível da renovação dos corações e da libertação que impede a emergência e o respeito da dignidade humana.

Por isso, diz o evangelho de São João, é preciso nascer de novo para entrar no Reino de Deus:
“Quem não nasce do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 5-6).

O Reino de Deus implica decisão e fidelidade à vontade de Deus, a qual coincide rigorosamente com o que é melhor para nós:

“Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).
Ou então:

“Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).

O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que São Paulo, depois da sua conversão, passou a vida a anunciar o Reino de Deus (Act 28, 31).

Segundo o testemunho dos evangelhos, os Apóstolos só começara a ter uma ideia clara do Reino de Deus depois da ressurreição do Senhor.

Antes, diz Jesus no evangelho de São Mateus, os apóstolos apenas entendiam a realidade do Reino de Deus segundo os critérios da carne (mundo judaico) e não segundo os critérios de Deus (Mt 16, 23).

A acção messiânica de Jesus inicia o Reino. Mas este só atinge a fase da plenitude com o acontecimento da Ressurreição.

O Reino de Deus é constituído pela comunhão universal da Humanidade com a Divindade.
Isto quer dizer que o Reino de Deus é o ponto mais alto do Plano Salvador de Deus para a Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias