quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A LETRA QUE MATA E O ESPÍRITO QUE DÁ VIDA-III

III-NOVOS APÓSTOLOS PARA OS PAGÃOS

Para São Lucas, o Pentecostes acontece em Jerusalém. Aí, o Espírito Santo fortalece os discípulos e envia-os para a grande tarefa da missão.

No capítulo sexto dos Actos, São Lucas fala de um conflito que surge no interior da comunidade de Jerusalém e que ele apresenta como coisa secundária, a fim de não chocar os pagãos.

Segundo ele, tratou-se de um conflito devido ao desentendimento entre os cristãos de origem grega e os cristãos de origem hebraica.

Os cristãos de origem judaica cuidavam das suas viúvas e descuidam as viúvas dos gregos (Act 6, 1).

Com a sua preocupação de apresentar a Igreja como uma realidade harmoniosa, São Lucas disfarça a questão central do conflito existente na comunidade de Jerusalém.

Na realidade o conflito era grave, pois envolvia uma questão central: a incorporação dos pagãos na Igreja.

Para não chocar os pagãos, São Lucas diz que se trata apenas de um mal-estar nascido do facto de os cristãos judeus desprezarem as viúvas de origem pagã.

Para fazer frente a este conflito, os Doze tomam a iniciativa de eleger os diáconos (Act 6, 2). O problema era, na verdade, muito mais grave: os cristãos da comunidade de Jerusalém opunham-se à entrada dos pagãos na Igreja.

Os nomes dos diáconos são todos de origem grega, isto é, pagã. A eleição dos diáconos foi na realidade a eleição de apóstolos para evangelizar os pagãos.

A prova de que os diáconos não se destinavam a distribuir pães às viúvas pagãs é que nenhum deles permaneceu na comunidade de Jerusalém.

Os primeiros cristãos a serem perseguidos foram os diáconos. O primeiro mártir cristão foi Estêvão, um dos sete diáconos (Act 7, 54-60).

O primeiro pagão a ser baptizado foi convertido pelo diácono Filipe (Act 8, 35-40). Com a eleição dos enviados para os pagãos, está reconhecido o direito de os pagãos entrarem na Igreja em pé de igualdade com os judeus.

Para confirmarmos a importância que São Lucas atribui a este facto, basta ver a importância que ele dá ao relato do martírio de Estêvão.

São Lucas descreve o martírio do Apóstolo São Tiago, o irmão de São João, reduzindo o relato a um simples versículo (Act 12, 2).

O martírio do Diácono Estêvão, pelo contrário, ocupa sessenta e sete versículos (Act 7, 1-60).
São Lucas distingue os helenistas (cristãos judeus de cultura grega) dos gregos (cristãos de origem pagã).

A perseguição dos judeus aos diáconos deve-se ao facto de estes serem muito mais abertos do que os onze.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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