segunda-feira, 16 de junho de 2008

A BÍBLIA E O ESPÍRITO SANTO-I


I-O ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DE ISRAEL

Para a bíblia, o Espírito Santo é, por vezes, o sopro da vida que faz do homem um ser vivente, isto é, espiritualmente dinâmico (Gn 2, 7).

Outras vezes, o Espírito Santo é o sopro que consagra e dinamiza os homens de Deus. Além disso, o Espírito Santo é a força que activa o processo criador.

Para realizar a obra de Deus, os seres humanos precisam da presença do Espírito de Deus: O Livro dos Juízes diz que os Juízes de Israel são homens suscitados pelo Espírito Santo.

Estes homens são chefes carismáticos suscitados pelo Espírito de Deus, a fim de poderem defender o povo no concreto de situações muito difíceis (Jz 2, 16; 3, 9).

O Espírito irrompe sobre o juiz escolhido para uma missão concreta:

E veio o Espírito de Deus sobre Otoniel (Jz 3, 10). E veio sobre Jefté o Espírito de Deus (Jz 11, 29).

O Espírito de Deus investiu Gedeão (Jz 6, 34). O Espírito de Deus impeliu Sansão (Jz 13, 25).
E o Espírito de Deus penetrou a mente e o coração de Sansão (Jz 14, 6; 14, 19; 15, 14).

Os filhos de Israel clamam pelo Senhor e ele suscita-lhes salvadores, investindo-os com a sua energia, diz o Livro dos Juízes (Jz 2, 11s).

Na tradição do Reino do Sul os medianeiros da acção salvadora de Deus eram os reis, filhos de David.

No Reino do Norte, como os reis não eram da casa de David, os medianeiros de Deus eram os profetas (1 Rs 18,12; 2 Rs 2, 16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A BÍBLIA E O ESPÍRITO SANTO-II


II-O ESPÍRITO SANTO NOS TEMPOS MESSIÂNICOS

No Novo Testamento, Jesus assume as dimensões de rei, profeta e sacerdote. O Espírito é uma força que age sempre em harmonia com o querer de Deus (Sal 104, 4).

O Espírito de Deus é no interior do Homem uma espécie de interacção entre o homem e o Criador que o anima e mantém vivo.

O Espírito é sempre a Rua de Yahvé (Gn 6, 3). É a energia vital que Deus retira do interior da pessoa quando decide a morte desta (Sal 104, 29).

Quando Deus envia o seu Espírito, as coisas são criadas e a face da Terra é renovada (Sal 104, 30).

O homem apenas se mantém vivo respirando. Isto quer dizer que o Espírito é o princípio vital dos seres humanos.

A Primeira Aliança foi escrita num coração de pedra, isto é, nas pedras da Lei. A Nova Aliança, pelo contrário, é escrita pelo Espírito Santo no coração das pessoas.

A primeira Aliança atingia as pessoas sobretudo na exterioridade das normas leis e preceitos.
Mas o Senhor Deus vai fazer uma Nova Aliança, diz o profeta Jeremias, pois vai escrever a sua vontade não numa pedra mas num coração de carne (Jer 31, 31-33).

Na visão bíblica, o coração é a interioridade pessoal onde se joga a decisão de optar por Deus ou pelo pecado, o qual é sempre uma forma de idolatria.

O profeta Ezequiel é muito duro para com a idolatria. Israel, dizia ele, parece uma prostituta nua e envolvida na lama.

Deus tinha-o vestido com carinho, fazendo de Israel uma princesa, isto é, a sua esposa bem-amada e adornada com belas jóias (Ez 16, 6-14).

O Livro dos Números diz que Moisés gostaria que Deus difundisse o seu Espírito sobre todo o povo, a fim de todos poderem profetizar (Num 11, 29).

Alguns séculos mais tarde, o profeta Joel viria a dizer que a realização do sonho de Moisés se vai realizar ao chegarem os tempos messiânicos.

O Espírito de Deus, diz Joel, virá sobre todo o povo e todos profetizarão. (Jl 3, 1-2). Por outras palavras, o reino messiânico será o reino de profetas animados pelo Espírito de Deus.

Os falsos profetas seguem o seu espírito e não o Espírito de Deus. O espírito do Homem é apenas um dinamismo psíquico, o qual está sempre a mudar e a alterar-se, segundo os próprios humores e as condições externas em que vive.

Os que apenas se deixam conduzir pelo seu espírito são falsos profetas, pois são conduzidos por um espírito de mentira.

São cegos que não vêem e por isso não podem compreender o projecto de Deus (Ez 13, 3). Estão constantemente a mudar segundo os impulsos e emoções do seu espírito instável.

Como dependem das condições exteriores, os seus pronunciamentos são feitos para agradar aos homens.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A BÍBLIA E O ESPÍRITO SANTO-III

III-ESPÍRITO SANTO E A NOVA ALIANÇA

O Espírito de Deus, pelo contrário, é fiel e verdadeiro. Quando Deus promete o seu Espírito a uma pessoa ou ao seu povo está a dar-lhes a garantia de que virá a habitar no seu meio:

“Dar-vos-ei um Espírito novo”, diz Deus através do profeta Ezequiel (Ez 36, 26). “Porei o meu Espírito dentro de vós” (Ez 36, 27). “Vós vivereis, pois vou dar-vos o meu Espírito” (Ez 37, 6; 37, 14).

“Vou derramar o meu Espírito sobre a Casa de Israel” (Ez 39, 29). O profeta vê o povo pecador semelhante a um montão de esqueletos e ossos ressequidos.

Mas Deus decidiu enviar i seu Espírito sobre estes ossos, a fim de eles poderem ressuscitar.
Depois acrescenta: “Entrou neles o Espírito de Deus e eles viveram” (Ez 37, 10).

Deus vai realizar uma Nova Aliança com o seu povo. Esta será uma aliança eterna. A presença do Espírito de Deus no meio do povo é o sinal da Nova Aliança que Deus vai realizar (Jer 31, 31-33).

Nos tempos messiânicos o povo viverá a plenitude do Espírito. Por isso são tempos de salvação:
“Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. Os vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões.

Naqueles dias também os vossos escravos e escravas terão visões, pois eu derramarei o meu Espírito sobre todos” (Jl 3, 1-2).

São Lucas, ao elaborar o relato do Pentecostes, pretende dizer que a Ressurreição de Jesus iniciou o dom universal do Espírito, tal como fora anunciado por Joel.

Com a comunicação universal do Espírito começa a era da comunicação e da comunhão universal, superando os muros linguísticos provocado pelo pecado da construção da Torre de Babel (Act 2, 17-18).

O Espírito de Deus é um Espírito da profecia, pois o profeta não fala em nome próprio. O facto de não haver profetas no povo de Deus é considerado como uma tragédia, pois significa que o Espírito Santo se afastou do Povo:

“Já não vemos sinais, já não há profetas e ninguém, entre nós, sabe até quando (Sal 74, 9).
Perseguido e martirizado pelos Selêucidas, o povo judeu esperava ansiosamente o aparecimento de algum profeta (1Mac 4, 46; 14, 41).

Para lá de o profeta ser o portador da esperança, ele é sobretudo o sinal de que o Espírito de Deus está presente e activo no meio do Povo de Deus.

Sem a presença do Espírito no seu meio, o Povo deixa de ser o Povo de Deus. Quando isto acontece, extinguem-se os profetas.

O modo de Deus abandonar povo é retirar o seu Espírito, fechando os céus em seguida. A ausência de profetas é sinal da ausência de Deus e, portanto, tempo de tragédia e desgraça para o povo.

Quando Deus perdoa ao Povo, os Céus voltam a abrir-se. Eis a razão pela qual os tempos do Messias são os tempos do Deus connosco (Is 7, 14).

O Messias terá a plenitude do Espírito, diz o profeta Isaías ao falar dos sete dons concedidos pelo Espírito ao Messias (Is 11, 1-3).

O Novo Testamento proclama a plenitude da Palavra e do Espírito, tal como tinha sido anunciado pelos profetas.

No baptismo de Jesus, os céus abriram-se e o Espírito desceu sobre Jesus. Com esta imagem, os evangelistas querem dizer que o Espírito já está no meio do Povo e, portanto, os tempos messiânicos estão inaugurados (Mt 3, 16; Mc 1, 10; Lc 3, 21).

No momento do seu martírio, o diácono Estêvão exclama dizendo que está a ver o Céu aberto e o Filho e Jesus ressuscitado de pé à direita de Deus (Act 7, 56).

O Espírito Santo foi difundido como previam os profetas, fazendo do Novo povo de Deus, um povo de profetas que conhecem e anunciam a Palavra de Deus.

Eis o que diz São Paulo a este respeito: “Com efeito, quem, entre os homens, conhece o que vai no coração de uma pessoa pessoa, a não ser o próprio espírito dessa pessoa.

Assim, também, ninguém conhece o pensar de Deus, a não o Espírito Santo que nos faz compreender o que Deus amorosamente nos concedeu” (1 Cor 2, 11-12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A BÍBLIA E O ESPÍRITO SANTO-IV

IV- ESPÍRITO SANTO E SALVAÇÃO

O Espírito Santo é o vínculo orgânico que sustenta e dinamiza a nossa união com Cristo, diz a Carta aos Romanos:

“Se alguém não tem o Espírito de Cristo não pertence a Jesus Cristo” (Rm 8, 9). Depois acrescenta que o Espírito Santo é o Amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Com a ressurreição de Jesus, o Espírito Santo é comunicado aos homens em forma de uma Água Viva que faz brotar em nós uma nascente de vida eterna (Jo 7, 37-39).

O evangelho de São João diz que o Espírito Santo nos é comunicado como a luz que nos conduz à verdade plena:

“Mas quando vier o Espírito de Verdade, Ele vos guiará para a verdade total. Ele não fala de si mesmo, pois apenas diz o que ouve e dir-vos-á o que está para vir” (Jo 16, 13).

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo nos introduz na Família de Divina como filhos e herdeiro de Deus e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

É pelo Espírito Santo que se vai robustecendo em nós o homem interior, cuja densidade é espiritual.

O evangelho de São João diz que o homem interior tem de nascer de novo pela acção do Espírito Santo (Jo 3, 6).

Podemos dizer que a missão histórica do Espírito Santo se situa no coração do processo histórico da Salvação.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 14 de junho de 2008

A ARTE DE SER E CRESCER COMO PESSOA-I

I-CHAMADOS A SER E A CRESCER

Como pessoas em construção, os seres humanos foram criados para se criarem. A nossa vocação fundamental na História não se reduz apenas prolongar a vida mortal, mas construir a vida imortal.

Nascem os como seres hominizados, isto é, estruturados e capacitados para nos construirmos como pessoas.

O processo histórico da nossa estruturação pessoal é precisamente a tarefa da humanização. A humanização do ser humano é a condição para podermos tomar parte na Comunhão Universal da Família de Deus.

A Lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal”.

Isto quer dizer que a nossa humanização é, de facto, a primeira de todas as vocações. Falhar neste projecto é malograr a nossa razão de ser na História.

Jesus interpelava as pessoas no sentido de estas serem fieis aos seus talentos, pois a participação na plenitude da vida depende da fidelidade aos talentos.

Ser fiel aos talentos, portanto, significa realizar o melhor das suas possibilidades de humanização (Mt 25, 14-30; cf. Lc 19, 12-27).

Na verdade, a base da divinização do homem é a sua própria humanização. Por outras palavras, as pessoas humanas terão uma interacção orgânica tanto mais profunda com as pessoas divinas quanto mais longe chegarem na tarefa histórica da sua humanização.

Podemos dizer que o processo da humanização capacita a pessoa para acolher os outros como irmãos, condição essencial para comungar na Família Divina.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ARTE DE SER E CRESCER COMO PESSOA-II

II-TRANSFIGURADOS COM CRISTO

Jesus é o alicerce da Nova Humanidade. Ele é o fundamento da Nova Criação. Nele a Humanidade foi reconciliada com Deus, pois Deus já não leva mais em conta os pecados dos homens (2 Cor 5, 17-19).

A Carta aos Efésios, diz que Jesus destruiu os muros estreitos do moralismo e do dogmatismo, a fim de poder acontecer a verdadeira humanização do Homem.

A plena humanização do Homem só pode acontecer na medida que os seres humanos aprendam a criar condições para a fraternidade e a comunhão entre os homens de todas as raças, línguas, povos e nações.

É este o caminho para construir o Homem Novo, diz a Carta aos Efésios (Ef 2, 14-16). O processo de amadurecimento e humanização do Homem não pode acontecer sem a intervenção sempre presente do Espírito Santo na vida das pessoas.

Mas isto não é problema, pois o Espírito Santo faz do coração das pessoas, diz a Primeira Carta aos Coríntios um templo onde habita de modo permanente (1 Cor 3, 16-17).

Eis alguns sinais que indicam que está a acontecer crescimento e humanização da pessoa: À medida que se humaniza, a pessoa torna-se humilde e verdadeira.

A humildade é a capacidade de se relacionar com os outros numa linha de verdade, sabendo situar-se no convívio com os demais de modo correcto e adequado.

Ser humilde é ser verdadeiro em relação a si e aos outros, aceitando que a pessoa, para se realizar, precisa dos outros.

Com efeito, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão. A pessoa que se humaniza começa a comunicar cada vez mais numa linha de verdade e amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ARTE DE SER E CRESCER COMO PESSOA-III

III-A ARTE DE CRESCER COMO PESSOA

O Ser humano não pode humanizar-se sem os outros. É verdade que os demais não nos podem, substituir na tarefa da nossa realização, mas a pessoa só pode personalizar-se em dinâmica de relações fraternas.

As pessoas demasiado enredadas no seu egoísmo tornam-se incapazes de sintonizar e comungar com os outros.

À medida que se humaniza, a pessoa torna-se capaz de reconhecer os seus erros. Além disso, sabe que apenas o amor pode curar as feridas que o pecado abriu no seu coração e no coração dos irmãos.

À medida que cresce na capacidade de se relacionar de modo fraterno, a pessoa deixa de estar sempre a deitar para cima dos outros as culpas dos seus erros e fracassos.

A pessoa que está sempre a criticar não cresceu muito em humanização. Estas pessoas, no fundo, estão a fugir de si e, muitas vezes, a projectar os próprios defeitos nos irmãos.

À medida que se humaniza, a pessoa procura fazer da amabilidade e da serenidade o modo de se aproximar dos demais.

Mas isto não significa que não seja forte e firme quando estão em causa valores fundamentais.
Procedendo assim, a pessoa está a preparar o seu coração para receber a bênção prometida por Jesus aos mansos, quando disse que estes possuirão a terra (Mt 5, 5).

Podemos dizer que a amabilidade é a arte de desmontar as setas da agressividade com que os outros pretendem magoar-nos ou destruir-nos.

À medida que cresce como pessoa, o ser humano adquire a sabedoria que o capacita para dar a primazia ao outro, evitando relacionar-se sempre numa atitude de competição.

A pessoa amadurecida tem a sabedoria necessária para discernir sobre os momentos oportunos para falar e as ocasiões em que é melhor calar e escutar.

É um excelente sinal de maturidade e crescimento humano evitar discussões inúteis que só servem para exaltar os ânimos.

É um excelente sinal de sabedoria e humanização saber reconhecer quando o outro tem razão.
A pessoa sábia procura pôr a sua inteligência e vontade ao serviço do amor.

Além disso, tem consciência de que, ao romper com o amor, está a romper com Deus, pois Deus é amor, como diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4, 7-8; 16).

É verdade que, ao romper com Deus, não estamos a impedir que ele continue a amar-nos, pois o amor de Deus é incondicional.

Mas temos de ter consciência de que, apesar de não conseguirmos impedir que Deus nos ame, podemos impedir a comunhão ele.

De facto, a comunhão assenta na reciprocidade amorosa e não num amor unidireccional. Por outras palavras, o amor pode ter uma só direcção, mas a comunhão só pode acontecer quando o amor acontece em dinâmica de reciprocidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ARTE DE SER E CRESCER COMO PESSOA-IV

IV-A CAMINHO DO ENCONTRO EM PLENITUDE

A pessoa humana só pode crescer e no processo da sua humanização na medida que faça do amor a rocha firme para edificar a sua casa.

Por outras palavras, a humanização não acontece quando a pessoa falseia a realidade do amor pretendendo, por exemplo, amar a Deus, mas ignorando o amor aos irmãos.

A bíblia une sempre o amor a Deus com o amor aos irmãos. À medida que se humaniza, a pessoa começa a aceitar que a pessoa do outro possa emergir na sua condição de pessoa única, original e irrepetível.

Isto significa que a pessoa amadurecida sabe aceitar a novidade e a diferença que constitui a identidade dos outros.

Começa a ser capaz de aceitar as pessoas por elas serem o que são e não por fazerem o que ela gostaria que eles fizessem.

Quanto mais a pessoa se humaniza mais procura comunicar numa linha de verdade e autenticidade.

No trato com os irmãos, a pessoa amadurecida não está com a seta dos interesses sempre virada para si.

Além disso cultiva a arte da partilha, procurando ajudar os outros não apenas com os seus teres, mas também com o seu ser e o seu saber.

Quanto maior é a maturidade de uma pessoa, mais esta sabe valorizar os demais, vendo neles uma dádiva que lhe possibilitam uma melhor realização.

Com efeito, as outras pessoas são mediações que Deus nos concede para nos podermos realizar.
A pessoa amadurecida tem consciência de que a sua realização e felicidade, depende do modo como vive as relações com os outros.

A nossa fé ensina-nos que a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

É esta a razão pela qual Deus é um só por ser uma só comunhão de três pessoas. Por outras palavras, o Uno em Deus é a Comunhão.

O plural, em Deus, é constituído por três pessoas, as quais encontram a sua plenitude na Comunhão Trinitária.

A Salvação acontece como dinâmica comunitária, não individual. Na verdade, nós somos incorporados na Família de Deus enquanto membros de uma união orgânica e dinâmica cujo coração é Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ARTE DE SER E CRESCER COMO PESSOA-V

V-A CONVERGÊNCIA UNIVERSAL

Isto quer dizer que o ser humano não é incorporado de modo isolado na Família Divina. Jesus explicou isto de modo muito claro com a imagem da videira, dizendo que ele é a cepa da videira da qual nós somos os ramos.

Nós apenas participamos da comunhão familiar de Deus na medida em que estejamos organicamente unidos à cepa.

Quanto mais humanizada estiver uma pessoa menos trem a pretensão de ser a medida dos outros.

Por isso também se sente agradecida para com os demais sempre que estes a aceitam na sua originalidade e diferença.

A pessoa que passa a vida a tentar manipular e controlar os outros nunca conseguirá atingir uma grande maturidade e uma verdadeira profundidade pessoal.

A pessoa que tenta impedir a originalidade dos outros está a impedir que a Humanidade possa emergir nessas pessoas com a sua novidade.

Na verdade, a Humanidade não existe em abstracto, mas está a emergir de modo único, original e irrepetível no concreto da cada ser humano.

Por outras palavras, o núcleo da emergência histórica da Humanidade é o coração de cada ser humano e emergir de modo livre, consciente e responsável.

As pessoas que põem o amor e a fraternidade em primeiro plano são realmente, grandes arquitectos da emergência histórica da Humanidade.

Isto quer dizer que a pessoa que aceita o outro, apesar dos seus defeitos e limitações está a dar passos largos na tarefa da sua humanização.

Quanto mais adulta a pessoa se torna mais compreende que é desumano alimentar ressentimentos ou planos de vingança em relação aos outros.

A pessoa humanizada é uma habitação privilegiada da Sabedoria do Espírito Santo.
Por isso nunca cai na tentação vil de dar coisas aos outros para os amarrar.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Noutra passagem diz que onde está o Espírito Santo aí está a liberdade:

“Por nós mesmos não somos capazes de nada. A nossa capacidade vem de Deus. É Deus quem nos capacita para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito Santo.

Na verdade, a letra mata, mas o Espírito Santo dá-nos a vida” (2 Cor 3, 5-6). O Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar ajuda-nos a avançar de modo seguro na arte delicada da nossa humanização, condição essencial para sermos divinizados com Cristo.

Em Comunão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-I

I-VIVER A PRESENÇA DE DEUS EM CADA DIA

A presença de Deus em nós não é uma questão meramente teórica, pois a sua presença optimiza as nossas capacidades e energias espirituais.

Na alegoria da videira, Jesus afirma esta verdade fundamental: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o Agricultor.

Ele corta os ramos que não dão fruto e poda os ramos fecundos, a fim de darem mais fruto (…).
Tal como os ramos não podem dar fruto por si mesmos, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá convosco se não permanecerdes em mim (…).

Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e assim acontecerá” (Jo.15,1-7).

Jesus é a cepa da videira da qual nós somos os ramos. A seiva que vem cepa para os ramos é o Espírito Santo.

Esta seiva alimenta em nós uma vida nova e optimiza a nossas capacidades de darmos bons frutos.

Isto quer dizer que temos ao nosso dispor a força vivificante do Espírito Santo, a qual é para nós uma garantia de segurança.

O grande segredo para esta dinâmica acontecer é confiar, sabendo que Deus é fiel e verdadeiro.
Em primeiro lugar confiar em Deus e depois em nós mesmos, pois na medida em que estamos unidos a Deus somos capazes de realizar maravilhas como disse Jesus aos discípulos.

Na verdade, Deus optimiza as nossas capacidades fazendo que, sem deixarmos de ser os mesmos, possamos ser e fazer coisas totalmente novas.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-II

II-OPTIMIZADOS PELA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO

Na medida em que permitimos ao Espírito Santo actuar em nós, a força e o poder de Deus passam a circular em nós.

No evangelho de São João, Jesus diz que ele e o Pai são um, não por se confundirem ou fundirem, mas porque vivem em comunhão orgânica animada pelo Espírito Santo (Jo 10,30).

Assim acontece connosco se deixarmos que o Espírito Santo alimente uma comunhão orgânica com Deus Pai e com o Filho de Deus.

Podemos dizer que esta é a raiz da confiança cristã. Por estar fundamentada em Cristo (a cepa da videira) e no Espírito Santo que é a seiva da mesma videira, esta confiança não é de modo nenhum presunção ou vaidade.

Por outras palavras, através da nossa união a Cristo o poder criador de Deus flui para nós.
Agora podemos compreender melhor a seguinte afirmação de São Paulo:

“O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações” (Rm 5, 5). Estar em sintonia com o Espírito Santo que nos habita é estar em sintonia com a força criadora e salvadora de Deus.

Esta certeza gera em nós uma auto confiança enorme, capacitando-nos para realizações cheias de sucesso.

Mas não pensemos que esta realidade acontece de modo mágico.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-III

III-DINAMIZADOS PELO AMOR CRIADOR

Sem uma abertura da nossa parte à presença do Espírito Santo, este não tem condições para agir em nós.

Como sabemos, Deus é amor e o amor propõe-se, mas nunca se impõe. Possuímos um feixe enorme de energias no nosso íntimo.

Mas estas energias só podem ser dinamizadas e orientadas de modo libertador na medida em que estejamos em sintonia com a acção de Deus em nós.

Quando activadas por traumas e experiências dolorosas, as energias do nosso ser profundo são activadas de modo descontrolado, dando origem a situações de sofrimento pessoal e distúrbio social.

É muito frequente encontrarmos pessoas infelizes por se sentirem inseguras e sempre com medo do que lhes possa vir a acontecer.

Há muitas pessoas que passa a vida inteira angustiadas e com medo da tragédia que nunca lhes aconteceu.

Estas pessoas têm de libertar a mente de pensamentos negativos, ocupando-a com outros pensamentos positivos.

Se o não puder fazer sozinha pode recorrer a uma ajuda técnica. Vale a pena meditar na seguinte sentença da Carta aos Filipenses:

“Tudo posso através de Cristo, o qual me fortalece e capacita” (Flp 4,13). É importante saber interiorizar esta e outras sentenças da sabedoria bíblica, a fim de crescer a nossa confiança em Deus e na vida.

Quanto mais difícil for a situação de uma pessoa maior deve ser o seu esforço para libertar a mente e o coração de medos e ansiedades.

Quanto mais a Palavra de Deus marcar a nossa mente e o nosso coração, mais seguros nos sentiremos.

Deus é amor, dizem as Escrituras (1 Jo 4, 7; 4, 16). Se isto é verdade, então as forças criadoras do Universo têm como origem o Amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-IV

IV-A FORÇA DA FÉ

Se for cuidada, a fé cristã é uma força poderosa, capaz de vencer as forças negativas do medo e da ansiedade. Com esta força, disse Jesus, podemos fazer maravilhas.

Podemos dizer que as atitudes das pessoas face aos acontecimentos são mais importantes do que os factos em si mesmos.

Por outras palavras, seja qual for o acontecimento, a atitude que tomamos face a ele é mais importante do que o próprio acontecimento.

O modo de pensar sobre um acontecimento pode derrotar a pessoa ainda mesmo antes de fazer algo.

As pessoas dominadas por um complexo de inferioridade vêem os factos através de uma lente sombria e triste.

Deixando-se transformar pela força de Deus, a pessoa vai passando pouco a pouco do sentimento de derrota para a sensação de vitória.

É muito importante tomarmos consciência de que a vontade de Deus a nosso respeito coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Não tenhamos medo de repetir com frequência: “Sinto-me seguro, pois sei que Deus está comigo e me ama mais que qualquer outra pessoa.

Ou então, dizer coisas semelhantes a estas: “Deus está no meu interior ajudando-me e guiando-me”.

Eis o que a este propósito diz a segunda Carta aos Coríntios: “Por isso não desfalecemos, pois ainda que o homem exterior se vá degradando, o interior renova-se e fortalece-se mais e mais em cada dia que passa” (2 Cor.4,16).

Procedendo deste modo podemos verificar com alegria como a presença de Deus em nós é libertadora.

À medida que a nossa mente comece a ser habitada com os conteúdos da Palavra de Deus, começam a surgir em nós sentimentos de confiança e auto estima.

Como resultado desta mudança, começamos a ser capazes de minimizar e ultrapassar os obstáculos, dizendo com São Paulo:

“Se Deus está por nós quem pode estar contra nós?” (Rm 8,31).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-V

V-CRISTO É A ÁRVORE DA VIDA

O Livro do Génesis, querendo afirmar que Deus não nos criou para a morte diz que no centro do Paraíso estava a árvore da Vida.

Os frutos desta árvore, conferiam a vida eterna às pessoas que os comessem (Gn.2,9). Ao ser expulso do Paraíso, Adão ficou sem a possibilidade da vida eterna (Gn 3,22).

Deus enviou o Seu Filho que nos comunicou a Vida Eterna. Isto quer dizer que o Filho de Deus é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.

Todos os que comem deste fruto são ressuscitados com Cristo (Jo.6,55-58). O fruto da Árvore da Vida Eterna enche o nosso coração e a nossa mente com a força de Deus, activando o melhor das nossas energias e optimizando as nossas capacidades.

No nosso íntimo, diz o evangelho de São João, o Espírito Santo é uma nascente de Água Viva, a qual faz jorrar no nosso coração torrentes de Vida Eterna (Jo.4,14; 7,37-39).

O Espírito Santo é princípio animador de relações de amor e vínculo de comunhão orgânica. Ele é a ternura maternal de Deus.

Esta atenção à presença de Deus vai transformando a nossa mente e o nosso coração, ajudando-nos a ser positivos na nossa maneira de pensar e agir.

Vale a pena meditar no seguinte ensinamento da Carta aos Efésios: “Foi em Cristo que ouvistes a Palavra da Verdade, o Evangelho que vos salva.

Foi também em Cristo que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da nossa herança no dia da salvação” (Ef 1, 13-14).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 10 de junho de 2008

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-I

I-A PESSOA É UM SER ÚNICO E IRREPETÍVEL

A realidade humana não se esgota no somatório das pessoas isoladas. Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunidade social.

Podemos dizer que a realidade humana assenta em dois pilares complementares: a pessoa e a sociedade.

Na pessoa acontece a Humanidade como processo de emergência única, original e irrepetível.
À medida que emerge, a pessoa constitui-se como ser livre, consciente e responsável.

A plenitude da Humanidade, no entanto, não está nas pessoas isoladas, mas na Comunhão Universal, a qual acontece como união orgânica e dinâmica.

A Humanidade é, realmente, uma realidade concebida à imagem e semelhança de Deus. Se quisermos utilizar a imagem bíblica do barro, diríamos que o Homem é uma obra-prima feita de barro, em cuja interioridade está a emergir outra obra-prima feita de espírito.

Podemos dizer que o nosso ser interior está a emergir de modo gradual e progressivo como interioridade pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar.

O nosso ser exterior ou individual é a matriz. O nosso ser interior ou pessoal emerge dentro do nosso exterior como o pintainho dentro do ovo.

Começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Não escolhemos a raça, a nacionalidade, a língua ou o século em que queríamos viver.

Tudo isto nos foi dado e constitui a matéria-prima de que dispomos para nos construirmos.
O evangelho de São Mateus chama a esta matéria-prima os talentos.

Em relação aos talentos os seres humanos são todos diferentes. É por esta razão que cada pessoa emerge e se estrutura de modo único, original e irrepetível.

A pessoa humana é um ser alicerçado na sua unicidade, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.

Com efeito, as pessoas humanas estão talhadas para convergirem num ponto comum com todas as outras: o amor.

Emergir como pessoa significa, portanto crescer em densidade espiritual e capacidade de interagir amorosamente. A plenitude da pessoa, portanto, não está em si, mas na comunhão amorosa.

A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-II


II-AMOR E ESTRUTURAÇÃO PESSOAL

Como vimos, a pessoa é um ser em construção histórica. Podemos dizer que a pessoa humana é uma realidade emergente e progressiva.

Todos nascemos como seres inacabados. A humanização do homem é um processo de espiritualização possibilitado pela dinâmica do amor.

Amar é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.
O amor só pode acontecer em contexto de relações livres, conscientes e responsáveis.

Por outras palavras, o amor nunca se impõe. Ninguém pode exigir ao outro que o ame. Como dinâmica de bem-querer, o amor nunca amadurece sob uma situação de dominação.

A liberdade cresce em contexto de amor e o amor fortalece-se em contexto de liberdade. A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e de interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

A liberdade emerge a partir do amor, o qual facilita a emergência do melhor que existe em nós e naqueles com quem nos relacionamos.

A pessoa não nasce livre, mas com a possibilidade de o ser. É importante não confundir liberdade com livre arbítrio.

Este não é a liberdade, mas a possibilidade de a pessoa ser livre. Na verdade, o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar, condição para a pessoa se tornar livre.

Como capacidade psíquica de optar, o livre arbítrio pode orientar-se no sentido do bem ou do mal.

A pessoa torna-se livre na medida em que opta pelo bem. A liberdade, portanto, está para lá do livre arbítrio. De facto, Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não pode optar pelo mal.

Não cresce como pessoa quem decide agir contra o amor. Deus não pode optar contra o amor, pois como diz a Primeira Carta de São João, “Deus é Amor” (1 Jo 4, 7).

A pessoa que se abre ao amor torna-se ponto de encontro único, original e irrepetível na Comunhão Universal da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-III

III-A PESSOA COMO SER HISTÓRICO

Por se tratar de um ser em realização histórica, a pessoa humana, para se dizer, tem de contar uma história.

Sem deixar de ser quem é, a pessoa humana, à medida que se realiza, vai sendo sempre de maneira nova.

No processo da realização pessoal o passado não desaparece nem deixa em paz e sossego. Por outras palavras, o passado de uma pessoa está sempre a vir ao de cima, tanto para facilitar a sua realização pessoal, como para a dificultar.

Se nos estamos a construir na história, isso significa que estamos a realizar no tempo o que seremos eternamente.

Por outras palavras, o que fazemos hoje está relacionado com o resto da nossa história e até com a nossa vida eterna.

Com efeito, o que fazemos hoje está mais ou menos condicionado pelo que fizemos no passado.
Mas o que fazemos hoje de modo consciente, livre e responsável torna diferente a nossa vida de amanhã.

Mais uma vez nos surge o amor aparece como critério fundamental para a realização humana.
A nossa identidade no Reino de Deus é igual ao jeito que tivermos de nos relacionar e comungar com os outros.

Na comunhão universal do Reino de Deus todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que tiver treinado enquanto viveu na história.

É agora o tempo de construirmos aquilo que seremos para sempre. Na verdade, a Vida eterna emerge na História.

Amar ou não amar é uma decisão que tem a ver com o sucesso ou o fracasso da realização pessoal.

Agora já podemos compreender a razão pela qual Jesus apenas nos deixou o mandamento do amor:

“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos ameis. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15, 12-13).

A nossa identidade na comunhão do Reino de Deus é, portanto, o nosso jeito de amar. Por outras palavras, no Céu não há diferença de classes, pois a pessoa vale pelo que é e não pelo que tem.

Mas há diferenças pessoais no que se refere à densidade espiritual e capacidade de interagir amorosamente com os outros.

Isto quer dizer, como já vimos, que a pessoa tem nas suas mãos a possibilidade de decidir e realizar o que quer ser eternamente.

Como podemos ver, a finalidade da nossa existência na História não é apenas prolongar o mais possível a nossa vida mortal, mas edificar a Vida Eterna.

É por esta razão que a vida de uma pessoa se torna tanto mais pesada quanto mais vazia estiver de amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-IV

IV-AMAR OU NÃO AMAR É A QUESTÃO

Eis o retrato da pessoa que passou a vida dizendo não ao amor: Nada, no seu íntimo, está verdadeiramente estruturado.

Nada é autêntico ou genuíno. Tudo o que comunica está desfocado. Nada é firme e sólido. Nada do que fez valeu a pena ter sido feito.

Nada de verdadeiramente belo aconteceu naquela existência. Não existe no seu íntimo uma capacidade de amar solidamente edificada.

Podemos perguntar-nos: será que valeu a pena ter vivido se, de facto, viveu uma existência vazia de amor?

Pelo contrário, a pessoa que foi gastando a sua vida pelas causas do amor, não a perdeu. Pelo contrário, emergiu como pessoa livres, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Esta pessoa está a preparar uma participação magnífica na plenitude da comunhão da Família de Deus.

O coração desta comunhão é Cristo. Nele, o divino enxertou-se no humano para que este fosse divinizado.

A divinização da pessoa humana consiste, pois, na sua incorporação na comunhão da família divina.

A plenitude do Reino de Deus é para os cristãos uma promessa que Deus cumprirá como cumpriu todas as outras que foi fazendo ao longo da História.

Isto quer dizer que Deus é a plenitude do Homem enquanto comunhão orgânica universal.
Como sabemos, a Divindade é uma comunhão orgânica infinitamente perfeita.

Por seu lado, a Humanidade está também a construir-se como comunhão orgânica. Graças ao mistério da Encarnação, Cristo tornou-se o ponto de encontro da comunhão humano-divina do Reino de Deus.

A pessoa só está inteira se estiver em comunhão. Reduzida a si, está em estado de fracasso.
Nascemos talhados para a relação amorosa. Somos, de facto, imagens de Deus e apenas na comunhão com Deus podemos atingir a nossa plenitude.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-V

V-A DIGNIDADE DA PESSOA

A dignidade da pessoa começa no facto de não nascer determinada. Nasce com um leque de talentos que lhe possibilitam uma diversidade enorme de opções, escolhas, decisões e compromissos de vida.

Podemos dizer que a dignidade da pessoa está no facto de estar chamada a ser autora de si própria.

Radica, também, no facto de ser semelhante ao próprio Deus. Situada em contexto de comunhão amorosa, a pessoa humana, é proporcional à Divindade.

Pela sua condição pessoal, o ser humano liga-se à transcendência Divina. A vida pessoal foi primeiro. Com efeito, no princípio, Só existia Deus, três pessoas em Comunhão amorosa.

O Universo ainda não era. Não se tinha iniciado ainda a génese, Das galáxias, das estrelas, dos planetas, dos asteróides ou dos cometas e já existia uma comunhão familiar amorosa.

A vida pessoal tem densidade espiritual. Isto quer dizer que o Espírito e o Amor estão primeiro.
A génese cósmica foi iniciada pelo desejo criador de Deus.

A Divindade é Amor. Por isso é vida em plenitude. Antes da explosão primordial dar início à gestação do Universo, já existia o Amor.

Ainda a Terra não girava à volta do Sol. O Céu não era azul e a luz do dia ainda não existia. Mas já existiam pessoas em comunhão amorosa.

A vida pessoal está primeiro. E nunca há-de terminar, pois tem densidade espiritual. Ainda não havia pios, urros, balidos, guinchos ou uivos sonoros.

Não existia o espaço faminto de tempo, mas já existiam pessoas em relações. A comunhão de pessoas é o começo e o fim, o Alfa e 0 Ómega ou plenitude da Criação.

Sem densidade pessoal não existe vida imortal. Só a vida pessoal tem densidade de vida eterna.
A vida pessoal ou é divina ou é proporcional à Divindade.

Com o aparecimento de seres pessoais a nível da Criação, esta atinge o limiar da vida irreversível. De facto, a pessoa situa-se na cúpula da Criação.

O crescimento da vida pessoal não é uma questão de quantidade. Não se mede ao quilo, nem é questão de volume.

Não se mede ao metro, nem se analisa pelo método das superfícies. Só se pode valorizar pela qualidade do seu jeito de se relacionar.

A pessoa em realização caminha para a perfeita reciprocidade. Possui-se na medida em que se dá.

A plenitude de uma pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa. Ao dar-se não se perde. Pelo contrário, encontra-se mais plenamente.

O eu pessoal-espiritual, por ser livre, não emerge necessariamente. Não é uma fatalidade ou destino. Não acontece de modo espontâneo.

A realização pessoal é uma tarefa de amor. É um processo histórico. Emerge como novidade constante.

Deus é novidade constante no interior de Si mesmo. A Divindade nunca se repete no jeito de ser Pai e Filho no Espírito Santo.

O Amor é sempre novo. Eis a razão pela qual Deus nunca é repetição. O Pai e o Filho, encontram-se como novidade permanente no Espírito Santo:

“ O que estava sentado no trono disse: ‘Eu renovo todas as coisas (...). Disse ainda: ‘Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim (Apc 21, 5-6).

Os seres pessoais pertencem à cúpula da Vida. Na verdade, o nosso ser pessoal, não vem de fora para dentro. Emerge no interior do nosso ser exterior ou individual.

Não nascemos como almas feitas, mas como pessoas em processo de espiritualização. Ao entrar no limiar da densidade pessoal-espiritual, a vida atinge a imortalidade.

Mas só se torna sucesso eterno, mediante a assunção e incorporação na Comunhão Universal cujo coração é Cristo.

O crescimento pessoal só acontece através de opções, escolhas, decisões e compromissos.
A pessoa faz-se, fazendo. Realiza-se, realizando. Constrói-se, construindo.

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Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-VI

VI-DEUS COMO PLENITUDE DO HOMEM

A emergência pessoal é o coração do processo de humanização cuja lei é: Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.

O estado de perdição, isto é, o malogro total é a pessoa enroscada sobre si sem possibilidades de encontro e comunhão com as outras pessoas.

No estado de perdição, a pessoa, não consegue de perceber um movimento de amor e bem-querer.

Não tem sabedoria para saborear, um gesto de partilha ou reciprocidade amorosa. O egoísmo é uma força capaz de enroscar a pessoa sobre si mesma, como se de um parafuso se tratasse.

Este auto enroscamento acontece de modo gradual e progressivo, destruindo todos os elos de relação amorosa.

A pessoa é autora da sua realização pessoal. Ninguém a pode substituir ou colocar-se em seu lugar.

Eis a raiz do mistério da dignidade pessoal. A transcendência humana encontra-se em plenitude na transcendência Divina. A pessoa humana é assumida na intimidade familiar de Deus.

O Criador imprimiu na génese do Universo a semente da vida pessoal. O barro amassado, recebe o beijo do criador.

Nesse mopmento o hálito da vida passa de Deus para o Homem e este torna-se barro com coração.

Barro com coração é o Homem como ser capaz de ser autor de si a partir do que recebe de Deus e dos outros.

A dignidade do Homem em construção consiste em ser autor de si mesmo. Não pode ser substituído por Deus nem pelos outros seres humanos.

Pela fidelidade aos chamamentos do Amor, a vida pessoal-espiritual dilata-se na nossa interioridade, capacitando-nos para a Comunhão Universal.

Para isso nos vai dotando de novos elos e possibilidades de participação no mistério do Reino de Deus, que é a festa da vida plena.

Deste modo a génese da humanização culmina no dom da divinização. É este o mistério da salvação em Cristo.
Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 8 de junho de 2008

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-I

I-REALIZAÇÃO PESSOAL E VIDA REGRADA

A vida cristã edifica-se sobre a vida humana. Por outras palavras, não pode haver maturidade cristã sem maturidade humana.

A vida cristã é uma optimização da vida humana. Esta optimização acontece graças à acção do Espírito Santo em nós.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo o Espírito Santo actua em nós sem se impor.
Na verdade, o amor nunca se impõe, mas propõe-se sempre.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Isto que dizer que a força amorosa e criadora e renovadora de Deus actuam e circula em nós na medida em que nos habituamos a contar com ele e a programar a vida com ele.

Eis as palavras de Jesus: “Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é comparado a um homem sábio que construiu a sua casa sobre a rocha” (Mt.7,24; Lc.6,47-49).

É importante termos presente que o crescimento da vida cristã não acontece por acidente. Pelo contrário, pressupõe o bom uso do tempo, das energias, a meditação da Palavra de Deus e a abertura ao Espírito Santo que nos habita.

À medida que cresce na vida cristã, o crente começa a eliminar tarefas e actividades supérfluas.
Ao centrar-se na simplificação da própria vida, a pessoa começa a poupar tempo e energia para o poder aplicar no trabalho de que gosta e o objectivo que quer atingir.

Jesus faz propostas neste sentido. Eis o que ele diz no evangelho de São Marcos: “Vigiai, pois não sabeis quando o Senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo” (Mc.13,35-36).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-II

II-A SABEDORIA DO ESSENCIAL

A realização pessoal é tanto mais plena quanto mais resultar de uma vida programada em função de um objectivo bem elaborado e decidido.

Esta simplificação em função de uma melhor qualidade de vida implica rever o modo como ocupamos o tempo, o modo de gastar o dinheiro e olhar o modo como estamos a utilizar as nossas forças e capacidades pessoais.

A pessoa é sempre compensada pelos esforços que faz no sentido orientar as suas decisões e planos.

Na verdade, uma boa realização pressupõe a criação e programação de prioridades. É fácil viver deixando-se levar pelo que vier a seguir.

Mas já não é tão simples fazer uma programação do tempo e actividades. Devemos remover os obstáculos que se colocam no caminho das prioridades por nós decididas.

É importante saber gerir de modo sensato a nossa vida, a fim de não andarmos ansiosos e inseguros.

Devemos treinar-nos no sentido de eliminar tudo o que nos distrai e desvia dos objectivos que nos propomos atingir.

Se ainda não demos o primeiro passo neste sentido, devemos tomar consciência de que hoje é o melhor dia para começar.

Eis a chamada de atenção que Jesus nos faz no evangelho de São Lucas: “Muito bem, servo fiel. Uma vez que te apresentaste fiel no pouco, vai receber o governo de dez cidades” (cf. Lc.19,18-19).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-III

III-CRESCIMENTO PESSOAL E CAPACIDADE DE PERDOAR

Enquanto uma pessoa sente ódio ou ira por alguém não consegue ter paz interior. Quando isto acontece, a nossa inteligência fica obscurecida e o nosso coração gera negativismo.

Esta situação gera uma quantidade enorme de bloqueios à circulação do da paz interior e do dinamismo criador de Deus em nós.

Nestas circunstâncias não conseguimos caminhar calmamente nem cultivar uma verdadeira serenidade.

Não nos devemos esquecer de que as emoções negativas fluem e são contagiosas, isto é, as anteriores afectam as seguintes, mesmo que não estejam directamente ligadas entre si.

Quando nos sentirmos agressivos e com raiva devemos fazer-nos algumas perguntas deste tipo:
Qual a razão desta minha agressividade?

Estou irritado contra uma pessoa das minhas relações ou esta agressividade está orientada contra mim? Fui insultado, julgado injustamente ou rebaixado?

Não nos esqueçamos de que, ao odiar ou detestar alguém, os mais prejudicados por isso somos nós.

É esta a razão pela qual Jesus nos mandou rezar pelos inimigos. Fazendo isto, a pessoa começa a sentir-se de modo gradual e progressivo mais liberta do remoinho que a faz girar à volta desse sentimento negativo e a vai desgastando e depauperando as suas capacidades criadoras.

As nuvens de raiva e ódio que escurecem o nosso coração só podem ser diluídas através de um plano de perdoar.

Uma maneira de caminhar de modo seguro em direcção ao perdão é procurar o perdão daqueles a quem fizemos mal.

Esta procura de perdão pode ser feita em casa e em silêncio. Lembremo-nos de algumas das nossas atitudes que tenham magoado outras pessoas.

Este exercício tem a finalidade de nos ajudar um passo na meta que nos propomos: perdoar às pessoas que nos magoaram.

Por vezes acontece que ao fazer este exercício a pessoa exclama: “Perdoo a todos os que me ofenderam, intencionalmente ou não.

Se nesses momentos nos lembrarmos de alguma pessoa que nos tenha magoado muito podemos dizer: “perdoo-te”.

Não nos esquecemos de nos perdoar a nós próprios. É importante que a pessoa perdoe os males que fez a si mesma:

Quantas atitudes erradas. Quantos Comportamentos prejudiciais para nós. Procuremos tomar consciência das consequências nefastas que estes males nos provocaram.

Depois, de modo sereno e saboreando a alegria da paz interior digamos: perdoo os males que me fiz a mim mesmo.

Muitas vezes a dificuldade em pedir perdão às pessoas ou perdoar aos que nos ofenderam, radica no facto de não nos termos perdoado os males que fizemos a nós mesmos.

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Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-IV

IV-BONDADE E CRESCIMENTO HUMANO

As primeiras experiências de gentileza que foram registadas na nossa mente são as vivências da ternura que recebemos dos nossos pais.

Estas experiências são arquivadas no nosso inconsciente, mas continuam a funcionar como moldes de dar e receber ternura.

Quando uma mãe acaricia um filho está a dar-lhe a possibilidade de se tornar uma pessoa amável e sensível no trato com os outros.

Não nos esqueçamos de que a criança que foi bem-amada está capacitada para amar bem. A lei do amor é esta:

“Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e a pessoa mal-amada ficará a amar mal, isto é, com bloqueios, tropeções e cabeçadas.

Se tivermos presente este princípio não será difícil entender a importância da ternura e da amabilidade para a realização pessoa humana.

Se em casa, no trabalho ou no convívio social tratarmos os outros com amabilidade, o normal é recebermos uma resposta amável.

O maior obstáculo à bondade e amabilidade nas nossas relações é a história dos nossos traumas e humilhações., os quais estão sempre na base das nossas agressividades e reacções desproporcionadas aos factos que lhe deram origem,

Quando nos descontrolamos tendemos sempre a culpar os outros. É muito possível que os culpados sejam de facto os outros, mas não aqueles contra os quais estamos a enviar setas de raiva e ódio.

Na verdade, o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si. Se tomarmos consciência deste facto, muitas das agressividades armazenadas no nosso inconsciente, acabam por ir perdendo força.

Como acabamos de ver, muitas das nossas reacções desproporcionadas brotam de experiências dolorosas do passado e que ficaram arquivadas no nosso inconsciente.

Se olharmos atentamente para a nossa história passada, não nos será é difícil verificar como a vida foi mais agradável para nós nos momentos em que fomos amáveis com os outros.

Não tenhamos dúvidas de que a vida será mais alegre e feliz se procurarmos ser amáveis nas nossas relações com os outros.

A vida cristã imprime uma dinâmica nova às relações. Viver como cristão é muito mais que passar uma hora por semana na Igreja.

A vida cristã é uma vivência do baptismo no Espírito, isto é, viver a vida em dinâmica de pentecostes.

É um engano pensar que a felicidade chega depois de termos conseguido um bem material, um estatuto profissional ou uma riqueza significativa.

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Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-V

V-A FONTE DA FELICIDADE

A fonte da felicidade humana não é o dinheiro ou as riquezas. Logo que conseguimos uma coisa queremos logo outra a seguir e assim indefinidamente.

Quantas pessoas cheias de dinheiro são profundamente infelizes. A felicidade conseguida através de coisas que vamos obtendo é fugaz.

Ao satisfazermos um desejo logo outro surge a perturbar a nossa paz e felicidade. O amor, pelo contrário, é uma fonte duradoura de felicidade.

O amor elege o outro como alvo de bem-querer, valorizando os seus sucessos e realizações.
Na Carta aos Gálatas, São Paulo aconselha os crentes a fazerem o bem a todos, pois este é o caminho para atingirmos não apenas a maturidade humana como também a perfeição cristã (Gal 6,10).

A bondade verdadeira não é uma atitude espontânea. É fruto de uma opção consciente e livre precedida de uma inspiração e apelo do Espírito Santo.

Os que praticam a bondade são filhos da luz, diz a Carta aos Efésios: “Andai como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste na bondade, justiça e verdade” (Ef 5,8-9).

O amor leva a pessoa a encantar-se pelo outro, apesar das diferenças. Valoriza essas diferenças e entra em comunhão com elas.

Mediante o amor, a pessoa age no sentido de facilitar a realização e felicidade do outro. Como Sabemos, o homem novo ainda está em construção.

Eis a razão pela qual nós experimentamos uma ambiguidade existencial que, por vezes, se torna para nós uma fonte de sofrimento.

Podemos dizer que o homem velho é aquele que ainda está umbilicalmente ligado ao mundo animal.

O homem novo, pelo contrário, é aquele que emerge a partir do processo da humanização, constituindo-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão.

Deus chama-nos a facilitar a emergência do homem novo em nós e nos outros, tentando dominar as tendências do homem velho que ainda está vivo em todos nós.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias