quinta-feira, 12 de junho de 2008

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-IV

IV-A FORÇA DA FÉ

Se for cuidada, a fé cristã é uma força poderosa, capaz de vencer as forças negativas do medo e da ansiedade. Com esta força, disse Jesus, podemos fazer maravilhas.

Podemos dizer que as atitudes das pessoas face aos acontecimentos são mais importantes do que os factos em si mesmos.

Por outras palavras, seja qual for o acontecimento, a atitude que tomamos face a ele é mais importante do que o próprio acontecimento.

O modo de pensar sobre um acontecimento pode derrotar a pessoa ainda mesmo antes de fazer algo.

As pessoas dominadas por um complexo de inferioridade vêem os factos através de uma lente sombria e triste.

Deixando-se transformar pela força de Deus, a pessoa vai passando pouco a pouco do sentimento de derrota para a sensação de vitória.

É muito importante tomarmos consciência de que a vontade de Deus a nosso respeito coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Não tenhamos medo de repetir com frequência: “Sinto-me seguro, pois sei que Deus está comigo e me ama mais que qualquer outra pessoa.

Ou então, dizer coisas semelhantes a estas: “Deus está no meu interior ajudando-me e guiando-me”.

Eis o que a este propósito diz a segunda Carta aos Coríntios: “Por isso não desfalecemos, pois ainda que o homem exterior se vá degradando, o interior renova-se e fortalece-se mais e mais em cada dia que passa” (2 Cor.4,16).

Procedendo deste modo podemos verificar com alegria como a presença de Deus em nós é libertadora.

À medida que a nossa mente comece a ser habitada com os conteúdos da Palavra de Deus, começam a surgir em nós sentimentos de confiança e auto estima.

Como resultado desta mudança, começamos a ser capazes de minimizar e ultrapassar os obstáculos, dizendo com São Paulo:

“Se Deus está por nós quem pode estar contra nós?” (Rm 8,31).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS HABITA E TRABALHA EM NÓS-V

V-CRISTO É A ÁRVORE DA VIDA

O Livro do Génesis, querendo afirmar que Deus não nos criou para a morte diz que no centro do Paraíso estava a árvore da Vida.

Os frutos desta árvore, conferiam a vida eterna às pessoas que os comessem (Gn.2,9). Ao ser expulso do Paraíso, Adão ficou sem a possibilidade da vida eterna (Gn 3,22).

Deus enviou o Seu Filho que nos comunicou a Vida Eterna. Isto quer dizer que o Filho de Deus é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.

Todos os que comem deste fruto são ressuscitados com Cristo (Jo.6,55-58). O fruto da Árvore da Vida Eterna enche o nosso coração e a nossa mente com a força de Deus, activando o melhor das nossas energias e optimizando as nossas capacidades.

No nosso íntimo, diz o evangelho de São João, o Espírito Santo é uma nascente de Água Viva, a qual faz jorrar no nosso coração torrentes de Vida Eterna (Jo.4,14; 7,37-39).

O Espírito Santo é princípio animador de relações de amor e vínculo de comunhão orgânica. Ele é a ternura maternal de Deus.

Esta atenção à presença de Deus vai transformando a nossa mente e o nosso coração, ajudando-nos a ser positivos na nossa maneira de pensar e agir.

Vale a pena meditar no seguinte ensinamento da Carta aos Efésios: “Foi em Cristo que ouvistes a Palavra da Verdade, o Evangelho que vos salva.

Foi também em Cristo que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da nossa herança no dia da salvação” (Ef 1, 13-14).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 10 de junho de 2008

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-I

I-A PESSOA É UM SER ÚNICO E IRREPETÍVEL

A realidade humana não se esgota no somatório das pessoas isoladas. Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunidade social.

Podemos dizer que a realidade humana assenta em dois pilares complementares: a pessoa e a sociedade.

Na pessoa acontece a Humanidade como processo de emergência única, original e irrepetível.
À medida que emerge, a pessoa constitui-se como ser livre, consciente e responsável.

A plenitude da Humanidade, no entanto, não está nas pessoas isoladas, mas na Comunhão Universal, a qual acontece como união orgânica e dinâmica.

A Humanidade é, realmente, uma realidade concebida à imagem e semelhança de Deus. Se quisermos utilizar a imagem bíblica do barro, diríamos que o Homem é uma obra-prima feita de barro, em cuja interioridade está a emergir outra obra-prima feita de espírito.

Podemos dizer que o nosso ser interior está a emergir de modo gradual e progressivo como interioridade pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar.

O nosso ser exterior ou individual é a matriz. O nosso ser interior ou pessoal emerge dentro do nosso exterior como o pintainho dentro do ovo.

Começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Não escolhemos a raça, a nacionalidade, a língua ou o século em que queríamos viver.

Tudo isto nos foi dado e constitui a matéria-prima de que dispomos para nos construirmos.
O evangelho de São Mateus chama a esta matéria-prima os talentos.

Em relação aos talentos os seres humanos são todos diferentes. É por esta razão que cada pessoa emerge e se estrutura de modo único, original e irrepetível.

A pessoa humana é um ser alicerçado na sua unicidade, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.

Com efeito, as pessoas humanas estão talhadas para convergirem num ponto comum com todas as outras: o amor.

Emergir como pessoa significa, portanto crescer em densidade espiritual e capacidade de interagir amorosamente. A plenitude da pessoa, portanto, não está em si, mas na comunhão amorosa.

A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-II


II-AMOR E ESTRUTURAÇÃO PESSOAL

Como vimos, a pessoa é um ser em construção histórica. Podemos dizer que a pessoa humana é uma realidade emergente e progressiva.

Todos nascemos como seres inacabados. A humanização do homem é um processo de espiritualização possibilitado pela dinâmica do amor.

Amar é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.
O amor só pode acontecer em contexto de relações livres, conscientes e responsáveis.

Por outras palavras, o amor nunca se impõe. Ninguém pode exigir ao outro que o ame. Como dinâmica de bem-querer, o amor nunca amadurece sob uma situação de dominação.

A liberdade cresce em contexto de amor e o amor fortalece-se em contexto de liberdade. A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e de interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

A liberdade emerge a partir do amor, o qual facilita a emergência do melhor que existe em nós e naqueles com quem nos relacionamos.

A pessoa não nasce livre, mas com a possibilidade de o ser. É importante não confundir liberdade com livre arbítrio.

Este não é a liberdade, mas a possibilidade de a pessoa ser livre. Na verdade, o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar, condição para a pessoa se tornar livre.

Como capacidade psíquica de optar, o livre arbítrio pode orientar-se no sentido do bem ou do mal.

A pessoa torna-se livre na medida em que opta pelo bem. A liberdade, portanto, está para lá do livre arbítrio. De facto, Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não pode optar pelo mal.

Não cresce como pessoa quem decide agir contra o amor. Deus não pode optar contra o amor, pois como diz a Primeira Carta de São João, “Deus é Amor” (1 Jo 4, 7).

A pessoa que se abre ao amor torna-se ponto de encontro único, original e irrepetível na Comunhão Universal da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-III

III-A PESSOA COMO SER HISTÓRICO

Por se tratar de um ser em realização histórica, a pessoa humana, para se dizer, tem de contar uma história.

Sem deixar de ser quem é, a pessoa humana, à medida que se realiza, vai sendo sempre de maneira nova.

No processo da realização pessoal o passado não desaparece nem deixa em paz e sossego. Por outras palavras, o passado de uma pessoa está sempre a vir ao de cima, tanto para facilitar a sua realização pessoal, como para a dificultar.

Se nos estamos a construir na história, isso significa que estamos a realizar no tempo o que seremos eternamente.

Por outras palavras, o que fazemos hoje está relacionado com o resto da nossa história e até com a nossa vida eterna.

Com efeito, o que fazemos hoje está mais ou menos condicionado pelo que fizemos no passado.
Mas o que fazemos hoje de modo consciente, livre e responsável torna diferente a nossa vida de amanhã.

Mais uma vez nos surge o amor aparece como critério fundamental para a realização humana.
A nossa identidade no Reino de Deus é igual ao jeito que tivermos de nos relacionar e comungar com os outros.

Na comunhão universal do Reino de Deus todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que tiver treinado enquanto viveu na história.

É agora o tempo de construirmos aquilo que seremos para sempre. Na verdade, a Vida eterna emerge na História.

Amar ou não amar é uma decisão que tem a ver com o sucesso ou o fracasso da realização pessoal.

Agora já podemos compreender a razão pela qual Jesus apenas nos deixou o mandamento do amor:

“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos ameis. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15, 12-13).

A nossa identidade na comunhão do Reino de Deus é, portanto, o nosso jeito de amar. Por outras palavras, no Céu não há diferença de classes, pois a pessoa vale pelo que é e não pelo que tem.

Mas há diferenças pessoais no que se refere à densidade espiritual e capacidade de interagir amorosamente com os outros.

Isto quer dizer, como já vimos, que a pessoa tem nas suas mãos a possibilidade de decidir e realizar o que quer ser eternamente.

Como podemos ver, a finalidade da nossa existência na História não é apenas prolongar o mais possível a nossa vida mortal, mas edificar a Vida Eterna.

É por esta razão que a vida de uma pessoa se torna tanto mais pesada quanto mais vazia estiver de amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-IV

IV-AMAR OU NÃO AMAR É A QUESTÃO

Eis o retrato da pessoa que passou a vida dizendo não ao amor: Nada, no seu íntimo, está verdadeiramente estruturado.

Nada é autêntico ou genuíno. Tudo o que comunica está desfocado. Nada é firme e sólido. Nada do que fez valeu a pena ter sido feito.

Nada de verdadeiramente belo aconteceu naquela existência. Não existe no seu íntimo uma capacidade de amar solidamente edificada.

Podemos perguntar-nos: será que valeu a pena ter vivido se, de facto, viveu uma existência vazia de amor?

Pelo contrário, a pessoa que foi gastando a sua vida pelas causas do amor, não a perdeu. Pelo contrário, emergiu como pessoa livres, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Esta pessoa está a preparar uma participação magnífica na plenitude da comunhão da Família de Deus.

O coração desta comunhão é Cristo. Nele, o divino enxertou-se no humano para que este fosse divinizado.

A divinização da pessoa humana consiste, pois, na sua incorporação na comunhão da família divina.

A plenitude do Reino de Deus é para os cristãos uma promessa que Deus cumprirá como cumpriu todas as outras que foi fazendo ao longo da História.

Isto quer dizer que Deus é a plenitude do Homem enquanto comunhão orgânica universal.
Como sabemos, a Divindade é uma comunhão orgânica infinitamente perfeita.

Por seu lado, a Humanidade está também a construir-se como comunhão orgânica. Graças ao mistério da Encarnação, Cristo tornou-se o ponto de encontro da comunhão humano-divina do Reino de Deus.

A pessoa só está inteira se estiver em comunhão. Reduzida a si, está em estado de fracasso.
Nascemos talhados para a relação amorosa. Somos, de facto, imagens de Deus e apenas na comunhão com Deus podemos atingir a nossa plenitude.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-V

V-A DIGNIDADE DA PESSOA

A dignidade da pessoa começa no facto de não nascer determinada. Nasce com um leque de talentos que lhe possibilitam uma diversidade enorme de opções, escolhas, decisões e compromissos de vida.

Podemos dizer que a dignidade da pessoa está no facto de estar chamada a ser autora de si própria.

Radica, também, no facto de ser semelhante ao próprio Deus. Situada em contexto de comunhão amorosa, a pessoa humana, é proporcional à Divindade.

Pela sua condição pessoal, o ser humano liga-se à transcendência Divina. A vida pessoal foi primeiro. Com efeito, no princípio, Só existia Deus, três pessoas em Comunhão amorosa.

O Universo ainda não era. Não se tinha iniciado ainda a génese, Das galáxias, das estrelas, dos planetas, dos asteróides ou dos cometas e já existia uma comunhão familiar amorosa.

A vida pessoal tem densidade espiritual. Isto quer dizer que o Espírito e o Amor estão primeiro.
A génese cósmica foi iniciada pelo desejo criador de Deus.

A Divindade é Amor. Por isso é vida em plenitude. Antes da explosão primordial dar início à gestação do Universo, já existia o Amor.

Ainda a Terra não girava à volta do Sol. O Céu não era azul e a luz do dia ainda não existia. Mas já existiam pessoas em comunhão amorosa.

A vida pessoal está primeiro. E nunca há-de terminar, pois tem densidade espiritual. Ainda não havia pios, urros, balidos, guinchos ou uivos sonoros.

Não existia o espaço faminto de tempo, mas já existiam pessoas em relações. A comunhão de pessoas é o começo e o fim, o Alfa e 0 Ómega ou plenitude da Criação.

Sem densidade pessoal não existe vida imortal. Só a vida pessoal tem densidade de vida eterna.
A vida pessoal ou é divina ou é proporcional à Divindade.

Com o aparecimento de seres pessoais a nível da Criação, esta atinge o limiar da vida irreversível. De facto, a pessoa situa-se na cúpula da Criação.

O crescimento da vida pessoal não é uma questão de quantidade. Não se mede ao quilo, nem é questão de volume.

Não se mede ao metro, nem se analisa pelo método das superfícies. Só se pode valorizar pela qualidade do seu jeito de se relacionar.

A pessoa em realização caminha para a perfeita reciprocidade. Possui-se na medida em que se dá.

A plenitude de uma pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa. Ao dar-se não se perde. Pelo contrário, encontra-se mais plenamente.

O eu pessoal-espiritual, por ser livre, não emerge necessariamente. Não é uma fatalidade ou destino. Não acontece de modo espontâneo.

A realização pessoal é uma tarefa de amor. É um processo histórico. Emerge como novidade constante.

Deus é novidade constante no interior de Si mesmo. A Divindade nunca se repete no jeito de ser Pai e Filho no Espírito Santo.

O Amor é sempre novo. Eis a razão pela qual Deus nunca é repetição. O Pai e o Filho, encontram-se como novidade permanente no Espírito Santo:

“ O que estava sentado no trono disse: ‘Eu renovo todas as coisas (...). Disse ainda: ‘Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim (Apc 21, 5-6).

Os seres pessoais pertencem à cúpula da Vida. Na verdade, o nosso ser pessoal, não vem de fora para dentro. Emerge no interior do nosso ser exterior ou individual.

Não nascemos como almas feitas, mas como pessoas em processo de espiritualização. Ao entrar no limiar da densidade pessoal-espiritual, a vida atinge a imortalidade.

Mas só se torna sucesso eterno, mediante a assunção e incorporação na Comunhão Universal cujo coração é Cristo.

O crescimento pessoal só acontece através de opções, escolhas, decisões e compromissos.
A pessoa faz-se, fazendo. Realiza-se, realizando. Constrói-se, construindo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MISTÉRIO DA PESSOA HUMANA-VI

VI-DEUS COMO PLENITUDE DO HOMEM

A emergência pessoal é o coração do processo de humanização cuja lei é: Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.

O estado de perdição, isto é, o malogro total é a pessoa enroscada sobre si sem possibilidades de encontro e comunhão com as outras pessoas.

No estado de perdição, a pessoa, não consegue de perceber um movimento de amor e bem-querer.

Não tem sabedoria para saborear, um gesto de partilha ou reciprocidade amorosa. O egoísmo é uma força capaz de enroscar a pessoa sobre si mesma, como se de um parafuso se tratasse.

Este auto enroscamento acontece de modo gradual e progressivo, destruindo todos os elos de relação amorosa.

A pessoa é autora da sua realização pessoal. Ninguém a pode substituir ou colocar-se em seu lugar.

Eis a raiz do mistério da dignidade pessoal. A transcendência humana encontra-se em plenitude na transcendência Divina. A pessoa humana é assumida na intimidade familiar de Deus.

O Criador imprimiu na génese do Universo a semente da vida pessoal. O barro amassado, recebe o beijo do criador.

Nesse mopmento o hálito da vida passa de Deus para o Homem e este torna-se barro com coração.

Barro com coração é o Homem como ser capaz de ser autor de si a partir do que recebe de Deus e dos outros.

A dignidade do Homem em construção consiste em ser autor de si mesmo. Não pode ser substituído por Deus nem pelos outros seres humanos.

Pela fidelidade aos chamamentos do Amor, a vida pessoal-espiritual dilata-se na nossa interioridade, capacitando-nos para a Comunhão Universal.

Para isso nos vai dotando de novos elos e possibilidades de participação no mistério do Reino de Deus, que é a festa da vida plena.

Deste modo a génese da humanização culmina no dom da divinização. É este o mistério da salvação em Cristo.
Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 8 de junho de 2008

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-I

I-REALIZAÇÃO PESSOAL E VIDA REGRADA

A vida cristã edifica-se sobre a vida humana. Por outras palavras, não pode haver maturidade cristã sem maturidade humana.

A vida cristã é uma optimização da vida humana. Esta optimização acontece graças à acção do Espírito Santo em nós.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo o Espírito Santo actua em nós sem se impor.
Na verdade, o amor nunca se impõe, mas propõe-se sempre.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Isto que dizer que a força amorosa e criadora e renovadora de Deus actuam e circula em nós na medida em que nos habituamos a contar com ele e a programar a vida com ele.

Eis as palavras de Jesus: “Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é comparado a um homem sábio que construiu a sua casa sobre a rocha” (Mt.7,24; Lc.6,47-49).

É importante termos presente que o crescimento da vida cristã não acontece por acidente. Pelo contrário, pressupõe o bom uso do tempo, das energias, a meditação da Palavra de Deus e a abertura ao Espírito Santo que nos habita.

À medida que cresce na vida cristã, o crente começa a eliminar tarefas e actividades supérfluas.
Ao centrar-se na simplificação da própria vida, a pessoa começa a poupar tempo e energia para o poder aplicar no trabalho de que gosta e o objectivo que quer atingir.

Jesus faz propostas neste sentido. Eis o que ele diz no evangelho de São Marcos: “Vigiai, pois não sabeis quando o Senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo” (Mc.13,35-36).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-II

II-A SABEDORIA DO ESSENCIAL

A realização pessoal é tanto mais plena quanto mais resultar de uma vida programada em função de um objectivo bem elaborado e decidido.

Esta simplificação em função de uma melhor qualidade de vida implica rever o modo como ocupamos o tempo, o modo de gastar o dinheiro e olhar o modo como estamos a utilizar as nossas forças e capacidades pessoais.

A pessoa é sempre compensada pelos esforços que faz no sentido orientar as suas decisões e planos.

Na verdade, uma boa realização pressupõe a criação e programação de prioridades. É fácil viver deixando-se levar pelo que vier a seguir.

Mas já não é tão simples fazer uma programação do tempo e actividades. Devemos remover os obstáculos que se colocam no caminho das prioridades por nós decididas.

É importante saber gerir de modo sensato a nossa vida, a fim de não andarmos ansiosos e inseguros.

Devemos treinar-nos no sentido de eliminar tudo o que nos distrai e desvia dos objectivos que nos propomos atingir.

Se ainda não demos o primeiro passo neste sentido, devemos tomar consciência de que hoje é o melhor dia para começar.

Eis a chamada de atenção que Jesus nos faz no evangelho de São Lucas: “Muito bem, servo fiel. Uma vez que te apresentaste fiel no pouco, vai receber o governo de dez cidades” (cf. Lc.19,18-19).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-III

III-CRESCIMENTO PESSOAL E CAPACIDADE DE PERDOAR

Enquanto uma pessoa sente ódio ou ira por alguém não consegue ter paz interior. Quando isto acontece, a nossa inteligência fica obscurecida e o nosso coração gera negativismo.

Esta situação gera uma quantidade enorme de bloqueios à circulação do da paz interior e do dinamismo criador de Deus em nós.

Nestas circunstâncias não conseguimos caminhar calmamente nem cultivar uma verdadeira serenidade.

Não nos devemos esquecer de que as emoções negativas fluem e são contagiosas, isto é, as anteriores afectam as seguintes, mesmo que não estejam directamente ligadas entre si.

Quando nos sentirmos agressivos e com raiva devemos fazer-nos algumas perguntas deste tipo:
Qual a razão desta minha agressividade?

Estou irritado contra uma pessoa das minhas relações ou esta agressividade está orientada contra mim? Fui insultado, julgado injustamente ou rebaixado?

Não nos esqueçamos de que, ao odiar ou detestar alguém, os mais prejudicados por isso somos nós.

É esta a razão pela qual Jesus nos mandou rezar pelos inimigos. Fazendo isto, a pessoa começa a sentir-se de modo gradual e progressivo mais liberta do remoinho que a faz girar à volta desse sentimento negativo e a vai desgastando e depauperando as suas capacidades criadoras.

As nuvens de raiva e ódio que escurecem o nosso coração só podem ser diluídas através de um plano de perdoar.

Uma maneira de caminhar de modo seguro em direcção ao perdão é procurar o perdão daqueles a quem fizemos mal.

Esta procura de perdão pode ser feita em casa e em silêncio. Lembremo-nos de algumas das nossas atitudes que tenham magoado outras pessoas.

Este exercício tem a finalidade de nos ajudar um passo na meta que nos propomos: perdoar às pessoas que nos magoaram.

Por vezes acontece que ao fazer este exercício a pessoa exclama: “Perdoo a todos os que me ofenderam, intencionalmente ou não.

Se nesses momentos nos lembrarmos de alguma pessoa que nos tenha magoado muito podemos dizer: “perdoo-te”.

Não nos esquecemos de nos perdoar a nós próprios. É importante que a pessoa perdoe os males que fez a si mesma:

Quantas atitudes erradas. Quantos Comportamentos prejudiciais para nós. Procuremos tomar consciência das consequências nefastas que estes males nos provocaram.

Depois, de modo sereno e saboreando a alegria da paz interior digamos: perdoo os males que me fiz a mim mesmo.

Muitas vezes a dificuldade em pedir perdão às pessoas ou perdoar aos que nos ofenderam, radica no facto de não nos termos perdoado os males que fizemos a nós mesmos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-IV

IV-BONDADE E CRESCIMENTO HUMANO

As primeiras experiências de gentileza que foram registadas na nossa mente são as vivências da ternura que recebemos dos nossos pais.

Estas experiências são arquivadas no nosso inconsciente, mas continuam a funcionar como moldes de dar e receber ternura.

Quando uma mãe acaricia um filho está a dar-lhe a possibilidade de se tornar uma pessoa amável e sensível no trato com os outros.

Não nos esqueçamos de que a criança que foi bem-amada está capacitada para amar bem. A lei do amor é esta:

“Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e a pessoa mal-amada ficará a amar mal, isto é, com bloqueios, tropeções e cabeçadas.

Se tivermos presente este princípio não será difícil entender a importância da ternura e da amabilidade para a realização pessoa humana.

Se em casa, no trabalho ou no convívio social tratarmos os outros com amabilidade, o normal é recebermos uma resposta amável.

O maior obstáculo à bondade e amabilidade nas nossas relações é a história dos nossos traumas e humilhações., os quais estão sempre na base das nossas agressividades e reacções desproporcionadas aos factos que lhe deram origem,

Quando nos descontrolamos tendemos sempre a culpar os outros. É muito possível que os culpados sejam de facto os outros, mas não aqueles contra os quais estamos a enviar setas de raiva e ódio.

Na verdade, o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si. Se tomarmos consciência deste facto, muitas das agressividades armazenadas no nosso inconsciente, acabam por ir perdendo força.

Como acabamos de ver, muitas das nossas reacções desproporcionadas brotam de experiências dolorosas do passado e que ficaram arquivadas no nosso inconsciente.

Se olharmos atentamente para a nossa história passada, não nos será é difícil verificar como a vida foi mais agradável para nós nos momentos em que fomos amáveis com os outros.

Não tenhamos dúvidas de que a vida será mais alegre e feliz se procurarmos ser amáveis nas nossas relações com os outros.

A vida cristã imprime uma dinâmica nova às relações. Viver como cristão é muito mais que passar uma hora por semana na Igreja.

A vida cristã é uma vivência do baptismo no Espírito, isto é, viver a vida em dinâmica de pentecostes.

É um engano pensar que a felicidade chega depois de termos conseguido um bem material, um estatuto profissional ou uma riqueza significativa.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SENSATEZ E MATURIDADE PESSOAL-V

V-A FONTE DA FELICIDADE

A fonte da felicidade humana não é o dinheiro ou as riquezas. Logo que conseguimos uma coisa queremos logo outra a seguir e assim indefinidamente.

Quantas pessoas cheias de dinheiro são profundamente infelizes. A felicidade conseguida através de coisas que vamos obtendo é fugaz.

Ao satisfazermos um desejo logo outro surge a perturbar a nossa paz e felicidade. O amor, pelo contrário, é uma fonte duradoura de felicidade.

O amor elege o outro como alvo de bem-querer, valorizando os seus sucessos e realizações.
Na Carta aos Gálatas, São Paulo aconselha os crentes a fazerem o bem a todos, pois este é o caminho para atingirmos não apenas a maturidade humana como também a perfeição cristã (Gal 6,10).

A bondade verdadeira não é uma atitude espontânea. É fruto de uma opção consciente e livre precedida de uma inspiração e apelo do Espírito Santo.

Os que praticam a bondade são filhos da luz, diz a Carta aos Efésios: “Andai como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste na bondade, justiça e verdade” (Ef 5,8-9).

O amor leva a pessoa a encantar-se pelo outro, apesar das diferenças. Valoriza essas diferenças e entra em comunhão com elas.

Mediante o amor, a pessoa age no sentido de facilitar a realização e felicidade do outro. Como Sabemos, o homem novo ainda está em construção.

Eis a razão pela qual nós experimentamos uma ambiguidade existencial que, por vezes, se torna para nós uma fonte de sofrimento.

Podemos dizer que o homem velho é aquele que ainda está umbilicalmente ligado ao mundo animal.

O homem novo, pelo contrário, é aquele que emerge a partir do processo da humanização, constituindo-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão.

Deus chama-nos a facilitar a emergência do homem novo em nós e nos outros, tentando dominar as tendências do homem velho que ainda está vivo em todos nós.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 6 de junho de 2008

DEUS, O DINHEIRO E A FOME NO MUNDO-I

I-SOCIEDADES INSENSÍVEIS

Apesar dos progressos científicos e dos avanços no domínio da técnica, a fome no mundo está a aumentar.

Surgem novos surtos de antigas epidemias, além das novas que eliminam milhares de seres humanos.

Enquanto os pobres estão cada vez mais pobres, os ricos exibem luxos e caprichos cada vez mais dispendiosos.

Vivemos em sociedades edificadas sobre critérios egoístas onde cresce de modo assustador a indiferença e a solidão.

Podemos dizer que as sociedades de hoje estão e estruturar-se sobre critérios diametralmente opostos ao Evangelho.

Ao entregar a terra aos homens, Deus sonhava com um plano de paz e solidariedade, onde os bens da terra circulassem por todos os seres humanos.

Gerir bem as riquezas da nossa terra é orientá-las no sentido do bem de todos. É verdade que as pessoas não são todas iguais. Mas todas nascem iguais em dignidade e direitos.

Os direitos e deveres vêm com o surgimento da consciência, da liberdade e da responsabilidade.
As pessoas que possuem bens têm uma vocação distinta daquelas que não possuem. A fidelidade à própria vocação é uma dimensão essencial para a realização e a felicidade da pessoa.

A vocação das pessoas que possuem bens é partilhar com os mais pobres, tornando-se mediação do amor de Deus por todos.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O DINHEIRO E A FOME NO MUNDO-II

II-OS POBRES E O DINHEIRO

Com efeito, as pessoas que sabem partilhar são uma parábola viva do amor de Deus. Por outras palavras, a vocação dos que possuem bens é ser um sinal da providência divina.

É esta a revelação que a Bíblia transmite sobre os bens como caminho para o amor. Assente sobre uma mentalidade agrária, o Antigo Testamento ordenava que os donos das terras não deviam ceifar e recolher todos os cereais.

Deviam deixar pequenas porções para os pobres rebuscarem. O mesmo devia ser feito pelos donos das vinhas e dos pomares, diz o Livro do Levítico (Lv 19, 9-10).

Em cada três anos, um décimo dos produtos da sementeira ou das vinhas e pomares devia reverter em favor dos que não têm terras (Dt 26, 12).

Nos nossos dias esta questão apresenta-se de modo diferente:

Mais que falar do problema de deixar frutos para os pobres virem a apanhar atrás dos ceifeiros, hoje põe-se sobretudo a questão dos salários justos dos que trabalham, no drama do trabalho precário ou no direito dos pobres à saúde.

Põe-se ainda a questão do direito a uma habitação condigna, à escolaridade e uma boa formação profissional.

À luz da fé, não podemos dizer que, em si mesmo seja um mal. Na verdade, o dinheiro é uma ferramenta para facilitar a vida das pessoas.

O problema moral associado ao dinheiro é que este pode ser usado para bem e para mal. Como sabemos, há muitas pessoas que estão impedidas de se humanizar por falta de dinheiro.

Também não é segredo para ninguém, que muitas pessoas se desumanizam por usarem o dinheiro contra os seus irmãos.

O que as pessoas fazem com o dinheiro mostra realmente o que pensam e são em relação a si e aos outros.

Onde estiver o tesouro de uma pessoa, disse Jesus aos discípulos, aí estará o seu coração (Mt 6, 21).

Se os seres humanos que têm dinheiro decidirem geri-lo na linha do amor e não do egoísmo, serão abençoadas por Deus e por todos aqueles que foram beneficiados por eles.

De facto, sempre que pomos o nosso dinheiro ao serviço do amor estamos a sintonizar com o coração de Deus.

Como sabemos, a pobreza está a aumentar no mundo, mas isto não é uma fatalidade. Jesus ensinou-nos a entrar na dinâmica da partilha, o único caminho que nos conduz até à abundância.

Com o milagre da multiplicação dos pães, Jesus ensina-nos que o pouco partilhado chega para muitos e ainda sobra (Mt 14, 13-21; Mc 6, 34-44; Lc 9, 10-17).

Jesus disse que as pessoas que se enredam na posse do dinheiro e das riquezas dificilmente entrarão no Reino de Deus.

O projecto de Deus, diz a mãe de Jesus no evangelho de São Lucas é encher de bens os famintos e despedir sem nada os que se recusam a partilhar (Lc 1, 53).

É importante dizia João Baptista, que aqueles que têm duas túnicas repartam com os que não têm nenhuma.

Os que têm de comer devem fazer o mesmo (Lc 3, 10-11). O plano de Deus, acrescentou Nossa Senhora, é que os famintos sejam saciados (Lc 6, 20-21; Mt 5, 3-12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O DINHEIRO E A FOME NO MUNDO-III

III-PARTILHA E SALVAÇÃO

Além de uma tarefa inglória, a pessoa que passa a vida a amontoar tesouros está a ser infiel à sua vocação fundamental que é amar os irmãos, partilhando, o modo seguro para atingir a plenitude na comunhão da Família de Deus.

Na verdade, passar a vida a amontoar tesouros na terra é estar a amontoar coisas corruptíveis que a traça e o caruncho destroem e os ladrões desejam roubar (Mt 6, 19-20; Lc12, 33-34).

O amor, pelo contrário nunca será destruído. A experiência ensina que o dinheiro não é a fonte da felicidade.

Não é difícil descobrir gente possuidora de grandes quantidades de dinheiro e que é profundamente infeliz.

Mas não é possível encontrar uma pessoa que esteja a gastar a vida pelas causas do amor e se sinta profundamente infeliz.

Isto significa que a fonte da felicidade é o amor e não o dinheiro. Nos seus ensinamentos, Jesus foi muito claro dizendo que não é possível servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro.

O dinheiro deve ser posto ao serviço do amor. No evangelho de São Lucas Jesus insiste na necessidade de termos o coração liberto em relação ao dinheiro (Lc 16, 13 -14).

O insensato, acrescenta o mesmo evangelho, passa a vida a amontoar riquezas. Depois de encher o celeiro faz obras e aumenta-o, a fim de este levar mais cereais.

Quem vive como insensato, morre insensatamente. Foi o que aconteceu: Quando menos pensava, veio a morte e os seus bens ficaram para outros.

Tudo o que tinha amontoado de nada lhe serviu (Lc 12, 13-21). Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se acabar por entrar no caminho do malogro e fracasso definitivo? (Mt 16, 26; Mc 8, 36; Lc 9, 25).

A coragem de partilhar insere as pessoas na dinâmica da salvação, disse Jesus: “Vinde benditos de meu Pai, pois tive fome e sede, estava nu, preso e doente e vós atendestes-me (Mt 25, 34-45).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS, O DINHEIRO E A FOME NO MUNDO-IV

IV-CONVERSÃO E PARTILHA FRATERNA

A conversão a Cristo, dizem os evangelhos, passa pela mudança de atitude face às riquezas:

“Senhor, eis que vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, restituo-lhe o quatro vezes mais” (Lc 19, 8).

Apesar de se tratar de um relato elaborado de modo idealista, os Actos dos Apóstolos apresentam a comunidade cristã de Jerusalém como a realização das propostas de Jesus face às riquezas:

“A multidão dos fiéis tinha um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum (...).

Por isso não havia entre eles qualquer indigente. Os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e colocavam o dinheiro aos pés dos apóstolos.

Em seguida distribuía-se a cada um conforma as suas necessidades (Act 4, 32-35). O pecado dos ricos que se recusam a partilhar radica no facto de estes impedirem a humanização dos pobres, esvaziando-os da sua dignidade.

Por isso estão a caminhar no sentido do malogro e do fracasso humano (Lc 1, 46-53). É bem verdade que as pessoas não valem pelo que têm, mas sim pelo que são (Lc 12, 15).

Valorizar as pessoas pelo ter é colocar-se numa perspectiva errada, diz a Carta de São Tiago (Tg 2, 1-4).

O Evangelho não nos fornece leis sobre a partilha. Esta, para eficácia humanizante, deve nascer do amor.

A generosidade é um impulso que brota do coração e não dos cálculos das contas bancárias. A generosidade é uma atitude que brotado do íntimo da pessoa e a põe em sintonia com o coração de Deus.

No entanto, não podemos esquecer o alerta de Jesus: as riquezas são perigosas, pois podem ser um obstáculo ao conhecimento de Deus e à comunhão da Felicidade Eterna (Lc 12, 16-21).

O problema não é ter dinheiro, mas deixar-se enredar nele, caindo na indiferença e ignorando o sofrimento dos que estão em penúria.

O dinheiro, se não houver cuidado, obscurece a visão da pessoa face ao sofrimento e à carência dos pobres diz o evangelho de são Lucas (Lc 16, 19-31).

Os cristãos estão chamados a ser no mundo uma parábola viva no jeito de se relacionar com as riquezas.

No evangelho de São Lucas, Jesus convida-nos a fazer melhor do que fazem os pagãos, que apenas emprestam aos que têm riquezas bens e possibilidades de nos pagar (Lc 6, 27-28).

No tocante às riquezas como em relação a muitos outros pontos, Jesus convida os cristãos a não se conformarem com os critérios do mundo.

Por outras palavras, Jesus chama-nos a viver uma vida profética no que se refere ao modo de usar o dinheiro e as riquezas.

A partilha e a generosidade podem não ser atitudes politicamente correctas, mas são certamente atitudes fundamentais para a humanização da pessoa.

Também no que se refere às riquezas, Jesus convida-nos a ser sal, luz e fermento profético no mundo (cf. Mt 5, 13-16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 4 de junho de 2008

JESUS É A CONFIRMAÇÃO DA VERDADE DE DEUS-I

I-JESUS CRISTO REALIZA AS PROFECIAS

Os escritores do Novo Testamento têm a preocupação de acentuar constantemente que Jesus de Nazaré é o Cristo, isto é, o Messias anunciado pelos antigos profetas.

Sem Jesus Cristo, o antigo Testamento ficava um projecto falhado.Com efeito, ao longo do Antigo Testamento, Deus está constantemente a prometer vinda do Messias, o qual viria realizar a salvação, conduzindo a Humanidade à sua plena realização.

O acontecimento de Cristo confirmou a fidelidade de Deus, demonstrando que ele realiza aquilo que promete.

Sem o acontecimento de Cristo, o Antigo Testamento ficaria como um projecto inacabado. Na verdade, se Cristo não tivesse vindo, Deus não seria verdadeiro, pois não tinha realizado o que durante séculos anunciou pelos profetas.

A primeira profecia messiânica foi pronunciada pelo profeta Natã cerca de mil anos antes de Cristo.

O rei David acabava de conquistar a cidade de Jerusalém e estava a planear construir um templo para Yahvé.

O profeta Natã dirige-se ao rei dizendo-lhe que não é esse o plano de Deus. Quando morreres, diz o profeta ao rei David, Deus vai suscitar um filho teu, o qual irá construir um templo para Deus.

Deus será um pai para esse teu filho. Através dele a tua casa real permanecerá para sempre (2 Sam 7, 12-16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS É A CONFIRMAÇÃO DA VERDADE DE DEUS-II

II-A PROFECIA DE NATÃ PERDUROU ATÉ CRISTO

Esta profecia marcou toda a tradição bíblica sobre a vinda do Messias. De tal modo as pessoas tomaram esta profecia a sério que o evangelho de São Lucas a coloca na boca do anjo que anuncia o nascimento de Jesus a Maria.

Eis as palavras do evangelho de São Lucas: “Ele será grande e chamar-se-à Filho do Altíssimo, pois vai herdar o trono de seu pai David.

Reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 32-33). Ao falar da Criação, o Livro do Génesis, diz que a serpente venceu a mulher, enganando-a e levando-a a comer o fruto proibido (Gn 3, 4-6).

Logo a seguir, Deus anuncia o castigo que a serpente vai sofrer devido à sua astúcia, dizendo-lhe que ela venceu a mulher, mas o descendente da mulher, vai esmagar-lhe a cabeça e destruir a sua força maléfica:

“Então o Senhor Deus disse à serpente: “Por teres feito isto és maldita entre todos os animais domésticos e entre os animais selvagens.

Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-às de terra, todos os dias da tua vida. Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela.

Esta esmagar-te-à a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar” (Gn 3, 14-15). São Paulo, pensando nesta vitória do descendente da mulher, diz que Cristo nasceu de uma mulher a fim de nos libertar e fazer de nós membros da Família Divina:

“Mas, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontram sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: “Abba” ó Pai!

Deste modo já não és escravo mas filho. E se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

O descendente da mulher obteve-nos, pois, não apenas a vitória sobre a serpente, como também a graça de sermos membros da Família divina.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



JESUS É A CONFIRMAÇÃO DA VERDADE DE DEUS-III

III-FOI ANUNCIADO DURANTE SÉCULOS

Para São Paulo, Jesus Cristo é o restaurador das distorções operadas por Adão (Rm 5, 17-19).
Jesus Cristo é o Novo Adão, a Cabeça da Nova Criação (Rm 5, 17-18).

Graças a Jesus Cristo, o Novo Adão, a Humanidade já está reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).

O Novo Testamento vê em Jesus Cristo o Messias anunciado pelos profetas. Jesus de Nazaré realiza as antigas promessas e, portanto, ele é o coração das Escrituras.

São Mateus leva a genealogia de Jesus até Abraão, a fim de fazer dele o centro e a cúpula do Povo de Deus. Eis como ele inicia a genealogia de Jesus:

“Genealogia de Jesus Cristo, Filho de David, Filho de Abraão” (Mt 1,1). São Lucas, por seu lado, leva a genealogia de Jesus até Adão.

Com este procedimento, São Lucas quer dizer que, graças ao facto de Jesus formar uma unidade orgânica com a Humanidade inteira, Adão também é incorporado na família de Deus.

Jesus não é filho de Deus por estar unido a Adão, mas Adão é que é filho de Deus por estar unido a Cristo. Eis as Palavras do evangelho de São Lucas:

“Quando Jesus começou o seu ministério tinha cerca de trinta anos. Filho de David, Filho de Jacob, Filho de Isaac, Filho de Abraão, Filho de Noé, Filho de Adão, o qual foi filho de Deus (cf. Lc 3, 23-38).

Segundo o livro do Génesis, Abraão é a raiz de uma grande nação através da qual serão abençoadas todas as outras nações da terra (Gn 18, 18).

Noutra passagem diz ainda que todas as famílias da terra serão abençoadas na descendência de Abraão (Gn 12, 3).

O profeta Isaías diz que o Messias será um rebento de Jessé, modo poético para dizer que será filho de David (Is 9, 7).

O anjo da anunciação, segundo o evangelho de São Lucas, diz que Jesus é o filho de David que reinará eternamente sobre o trono de Jacob (Lc 1, 32-33).

O profeta Miqueias, para dizer que o Messias é filho de David, afirma que o Messias nascerá em Belém, pois esta foi terra natal de David:

“Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que vai surgir para mim, aquele que há-de reger Israel” (Miq 5, 1).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

JESUS É A CONFIRMAÇÃO DA VERDADE DE DEUS-IV

IV-JESUS SUPERA O ANUNCIADO PELOS PROFETAS

O Novo Testamento tenta demonstrar como em Jesus se realizam plenamente todas as profecias do Antigo Testamento.

Isto quer dizer que, do mesmo modo como o Antigo Testamento ficava incompleto sem Jesus Cristo, o Novo sem o Antigo ficava privado base histórica. Seria como uma casa sem alicerce.

Não há dúvida de que esta é a razão pela qual os discípulos de Jesus mostram uma tão grande preocupação por fazer coincidir o acontecimento histórico de Jesus com os textos proféticos do Antigo Testamento.

Deus é fiel e verdadeiro, pois realiza sempre o que promete. Além disso, a realidade de Jesus Cristo supera em muito sempre o que os profetas anunciaram e o povo bíblico esperava.

Na sua dimensão humana, Jesus é um homem em tudo igual a nós, excepto no pecado. Mas nenhum profeta intuiu nele a dimensão divina mediante a qual ele é o Filho Eterno de Deus Pai.

Por outras palavras, Jesus Cristo é homem como todos os homens que nasceram de Adão. Mas além disso é Deus com o Pai e o Espírito Santo. No seu interior encontram-se unidos de modo orgânico o melhor de Deus e o melhor da Humanidade.

O Espírito Santo é a seiva que alimenta esta união misteriosa em que o divino e o humano fazem um sem se misturarem ou fundirem.

O evangelho de São João diz que a união do humano com o divino, em Jesus de Nazaré é algo semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos.

No evangelho de São João, o próprio Jesus diz que esta união se difunde, através dele, para todos nós (Jo 15, 1-7).

Eis as das palavras de Jesus: “Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas apenas permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

Eis o mistério sublime que habita no íntimo de Jesus Cristo e que nenhum profeta suspeitou.
Foi com Jesus Cristo que início a plenitude dos tempos, isto é, o salto qualitativo da nossa divinização.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 2 de junho de 2008

RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO EM CRISTO-I

I-A RESSURREIÇÃO É FONTE DE SALVAÇÃO

A ressurreição de Cristo não é apenas uma curiosidade. Também não é apenas um sinal para confirmar a autenticidade messiânica de Jesus.

É muito mais que isso: a condição fundamental da nossa salvação. É por Jesus ressuscitado que somos postos em união intrínseca com o Espírito Santo.

É pelo Senhor ressuscitado, diz o evangelho de São João, que nos é dada a Água Viva que faz emergir no nosso coração a Vida Eterna” (Jo 7, 37-39).

No evangelho de São João, a Hora de Jesus é precisamente o momento da sua morte e ressurreição.

É nesse momento que a possibilidade de sermos filhos de Deus se torna eficaz para todos os seres humanos.

Pelo mistério da Encarnação o divino enxertou-se no Humano em Jesus de Nazaré. É aqui que radica a possibilidade da nossa divinização.

Mas esta possibilidade só se tornou eficaz no momento da ressurreição de Jesus.Por outras palavras, foi nesse momento que o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo, passa a circular no coração dos seres humanos.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO EM CRISTO-II

II-A LINGUAGEM DA EUCARISTIA

O mistério da carne e sangue de Jesus Cristo ressuscitado é a dinâmica ressuscitadora do Espírito Santo a conferir-nos a Vida Eterna, como diz São João:

“Disse-lhes Jesus: “em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia (Jo 6, 53-54).

E para que estas palavras não gerassem confusão na mente das pessoas, São João explica o sentido das suas afirmações: “Que palavras insuportáveis! Quem as pode entender? (...).

Jesus respondeu: “isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?” (Jo 6, 62).

Com esta expressão, São João pretende dizer que este dom tem a ver com Cristo ressuscitado.
A Eucaristia é uma realidade de ordem espiritual, não de grandeza biológica.

Depois acrescenta: “O Espírito é quem dá vida. A carne não serve para nada. As palavras que vos disse são espírito e vida” (Jo 6, 63).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO EM CRISTO-III

III-HOMEM E DEUS UNIDOS DE MODO ORGÂNICO

Deste modo, Humanidade e Divindade passam a estar unidas e dinamizadas pelo mesmo princípio de vida e comunhão, isto é, o Espírito Santo:

“Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim por meio da sua palavra, a fim de que todos sejam um só, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Para que assim eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que tu me deste, de modo que sejam um como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, para que cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste como me amas a mim.

Pai, quero que onde eu estiver estejam também comigo aqueles que me confiaste, a fim de contemplarem a glória que me deste, pois amaste-me antes da criação do mundo.

Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheço-te e estes reconheceram que me enviaste. Dei-lhes a conhecer quem és e continuarei a fazê-lo, a fim de que o teu amor por mim esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17, 20-25).

A confissão do Senhor ressuscitado é condição fundamental para que a nossa fé seja teologal.
Por outras palavras, não é cristão quem não fundamenta a sua fé em Cristo ressuscitado.

Eis o que São Paulo diz a este respeito: Rm 10, 9: “Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10, 9).

E na Primeira Carta aos Coríntios acrescenta: “E Deus que ressuscitou o Senhor Jesus há-de ressuscitar-nos também a nós pelo seu poder” (1 cor 6, 14).

Isto quer dizer que a ressurreição de Cristo é o início da ressurreição universal. Os que precederam o Senhor ressuscitaram com ele. E nós estamos a ser ressuscitados pela acção ressuscitadora do Espírito Santo.

É por esta dinâmica ressuscitadora do Espírito Santo que nós vamos sendo incorporados de modo progressivo na Comunhão da Família de Deus, como diz a Primeira Carta aos Tessalonicenses:

“Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus reunirá com Jesus os que em Jesus adormeceram” (1 Ts 4, 14).

E a Primeira Carta aos Coríntios diz: “Se Cristo não ressuscitou, diz São Paulo, a nossa fé é vã e ainda permanecemos nos nossos pecados.

Mas não é assim. Cristo ressuscitou como primícias dos que morrem. De facto, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos.

Como todos morrem em Adão, todos voltam à vida em Cristo. Cada qual na sua ordem: primeiro Cristo. Depois os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.

Depois segue-se o fim quando Jesus entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés.

O último inimigo a ser destruído será a morte (1 Cor 15, 12-26). São Paulo pensava que a segunda vinda de Jesus Cristo ia acontecer muito em breve.

Ele estava convencido de que ainda estaria vivo no dia da vinda do Senhor. Eis as suas palavras: “Nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final.

Na verdade, a trombeta soará. Então os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados (1 Cor 15, 51).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO EM CRISTO-IV

IV-A RESSURREIÇÃO É ESPIRITUALIZAÇÃO

Partindo da sua experiência pascal, São Paulo tenta descrever para os Coríntios a condição dos ressuscitados:

“Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível. Semeado na desonra é ressuscitado na glória.

Semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força. Semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual.

Com efeito, se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. Assim está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente. O último Adão é um espírito vivificante.

Mas primeiro foi o terreno, não o espiritual. Este vem depois. O primeiro homem, tirado da terra, é terreno. O segundo vem do Céu.

Tal como era o terreno assim são os terrenos. Tal como é o celeste, assim serão os celestes.
Digo-vos, irmãos, a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus.

Do mesmo modo, a corruptibilidade não pode herdar a incorruptibilidade” (1 Cor 15, 42-50).
“Se Cristo não ressuscitou que ganham os que se fazem baptizar pelos mortos? Se de facto os mortos não ressuscitam porque se baptizam eles?” (1 Cor 15, 29).

Trata-se de uma prática existente em algumas comunidades, a fim de sufragar os catecúmenos falecidos.

“Tem sempre presente Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos e nascido da linhagem de David, segundo o meu evangelho” (2 Tim 2,8).

Nesta mesma linha de pensamento, a Carta aos Romanos diz que Jesus, nascido de David segundo a carne, foi constituído filho de Deus, isto é, Messias, o rei ungido com o Espírito Santo e entronizado no momento da sua ressurreição de entre os mortos (Rm 1, 3-5).

Como é que Paulo sabia isto? Pelas escrituras e os profetas (cf. 2 Sam 7, 12-16; Sal 2, 6-7). Em relação à segunda vinda de Cristo, os cristãos estão seguros, pois esse será para os crentes o dia da salvação e não o dia da ira:

“Quem irá acusar os eleitos de Deus, se é o próprio Deus quem nos justifica? Quem irá condená-los? Jesus Cristo que morreu e ainda mais, que ressuscitou e, sentado à direita de Deus intercede por nós?” (Rm 8, 33-34).

E ainda: “Se morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com ele. Sabemos que Cristo ressuscitado de entre os mortos já não morre mais. Na verdade, a morte já não tem mais domínio sobre ele” (Rm 6, 8).

Estamos organicamente unidos a Cristo, como os ramos da videira estão unidos à cepa, diz o evangelho de São João (Jo 15, 1-7).

Isto significa que a nossa ressurreição é uma participação da ressurreição de Cristo.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO EM CRISTO-V


V-RESSUSCITADOS COM CRISTO

Para dizer que a ressurreição da Humanidade se inicia com a ressurreição de Cristo, Mateus afirma que, no momento da sua morte e ressurreição, os túmulos começaram a abrir-se e os mortos a ressuscitar (Mt 27, 52-54).

O véu do templo rasgou-se (Mt 27, 51; Mc 15, 38; Lc 23, 45). Esta afirmação não é histórica, mas tem um grande peso teológico.

Os evangelhos pretendem afirmar que, com a morte de Jesus, todos têm acesso ao Santo dos Santos, isto é, à comunhão com Deus.

Os cultos do templo durante os quais o sumo-sacerdote passava para lá do véu do templo não obtinham qualquer eficácia salvadora.

Ao rasgar o véu do templo, Cristo inaugurou um novo culto, o qual consiste em fazer a vontade do Pai, diz a Carta aos Hebreus (Heb 10, 5-10).

O evangelho de São João sublinha que a Deus agradam-lhe o culto em Espírito e Verdade não os cultos do templo de Jerusalém (Jo 4, 21-23).

O plano salvador de Deus engloba a incorporação da Humanidade na comunhão divina. A Carta aos Efésios descreve de modo bonito o plano que Deus realizou em Cristo.

Eis as suas palavras: “Deus revelou-nos o mistério da sua vontade, o plano generoso que tinha estabelecido, a fim de conduzir os tempos à sua plenitude:

Submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no Céu e na Terra. Foi também em Cristo que fomos escolhidos como herança, predestinados de acordo com o desígnio de Deus que tudo opera, segundo a sua vontade (...).

Foi nele ainda que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da nossa herança, a fim de tomarmos posse dela na redenção” (Ef 1, 9-14).

”Se confessares com a tua boca: ’Jesus é o Senhor’ e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou de entre os mortos, serás salvo” (Rm 10, 9).

Participamos nesta plenitude de modo orgânico, não de modo individual e isolado: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura.

Foi nele que todas as coisas foram criadas nos Céus e na Terra. Tanto as visíveis como as invisíveis: tronos, dominações, poderes e autoridades.

Tudo foi criado por ele e para ele. Ele é anterior a todas as coisas e todas subsistem nele. Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja. É o princípio, o primogénito dos mortos, o primeiro em tudo.

Aprouve a Deus fazer habitar nele a plenitude e, por ele e para ele, reconciliar todas as coisas pacificando pelo sangue da cruz tanto as que estão na Terra como nos Céus” (Col 1, 15-20).

Neste hino cristológico Cristo aparece como cabeça da Criação. Quando Deus sonhou o seu plano criador, projectou-o de modo a que Cristo fosse a sua cúpula.

Deus quis que Jesus ressuscitado fosse a plenitude a plenitude de todas as coisas. No momento da sua morte e ressurreição entrou em comunhão com a Humanidade que o precedeu, introduzindo os seres humanos na comunhão da família divina:

“Cristo padeceu pelos pecados de uma vez para sempre. O justo sofreu pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus.

Morto na carne, foi vivificado no Espírito, indo pregar aos espíritos cativos na morada dos mortos.

Entre estes estão os incrédulos que, no tempo de Noé, Deus interpelou pacientemente enquanto se construía a Arca.

Nessa Arca apenas oito pessoas se salvaram da água, figura do baptismo que vos limpa, não as impurezas do corpo, mas vos confere uma consciência justificada em virtude da ressurreição de Cristo.

Tendo subido ao Céu, está sentado à direita de Deus, submetendo a ele anjos, dominações e potestades” (1 Pd 3, 18-22).

Cristo é o princípio e a plenitude da Criação. Já no princípio ele era a Sabedoria que, junto de Deus, actuava como princípio inspirador.

Esteve presente nos começos como medianeiro da acção criadora de Deus, diz o Livro dos Provérbios (Prov 8, 22-32).

Depois, ao chegar a plenitude dos tempos, O Senhor ressuscitado conduziu a Criação para Deus tornando-se o medianeiro da Salvação (Jo 1, 1-14).
Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias