III-O SALTO DA IMORTALIDADE
Se a vida pessoal tem densidade espiritual, então podemos concluir que, sem vida pessoal, não existe vida imortal.
Por outras palavras, apenas a vida pessoal tem densidade de vida eterna. Isto quer dizer que a vida pessoal ou é divina ou é proporcional a Deus.
Tudo isto nos mostra como o aparecimento de seres pessoais na marcha da criação, esta deu um salto de qualidade, atingindo o limiar da vida irreversível ou imortal.
Como podemos ver, a pessoa humana pertence à cúpula da Criação. O crescimento da vida pessoal não é uma questão de quantidade. Não se avalia ao quilo, nem é questão de volume.
Não se mede ao metro, nem se analisa pelo método das superfícies. Só se pode valorizar pelo seu jeito de se relacionar. As pessoas divinas são infinitamente perfeitas.
As pessoas humanas são seres em realização gradual e progressiva. Cada pessoa humana é única, mas talhada para a reciprocidade.
Podemos dizer que cada ser humano está alicerçado na sua unicidade, mas estruturada para a reciprocidade da comunhão amorosa.
Eis a razão pela qual as pessoas só encontram a sua plenitude na comunhão amorosa. Ao dar-se, a pessoa não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se mais plenamente.
Por ser livre, não emerge de modo automático por fatalidade ou destino. A realização pessoal é um processo histórico e uma tarefa de amor.
Não acontece como uma simples emergência espontânea. É por esta razão que à medida em que emerge mediante opções e decisões na linha do amor, emerge como novidade constante.
Nunca encontramos uma pessoa em realização no mesmo ponto em que a deixámos da última vez.
Deus é também uma novidade constante no interior das relações amorosas entre as pessoas divinas.
A Divindade nunca se repete no jeito de ser Pai, Filho e ternura maternal de Deus na pessoa do Espírito Santo.
O Amor é sempre novo. O Pai e o Filho, encontram-se como novidade permanente no Espírito Santo:
“ O que estava sentado no trono disse: ‘Eu renovo todas as coisas (...). Disse ainda: ‘Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim (Apc 21, 5-6).
Os seres pessoais pertencem à cúpula da Vida. A vida pessoal nunca vem de fora para dentro.
O nosso ser pessoal emerge no interior do nosso ser exterior ou individual como o pintainho dentro do ovo.
Por outras palavras, os seres humanos não nascem como almas feitas, mas como pessoas em processo de espiritualização.
Com o salto evolutivo para o nível pessoal a vida atinge a imortalidade. Mas só se torna sucesso eterno, mediante a assunção e incorporação na Comunhão Universal cujo coração é Cristo.
O crescimento pessoal só acontece através de opções, escolhas, decisões e compromissos.
A pessoa faz-se, fazendo. Realiza-se, realizando. Constrói-se, construindo...
A emergência pessoal é o coração do processo de humanização cuja lei é: Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.
O malogro desta dinâmica é a pessoa enroscar-se sobre si sem possibilidades de encontro e comunhão com as outras pessoas. É o estado de perdição ou o inferno.
No estado de perdição, a pessoa, não consegue de perceber qualquer movimento de amor e bem-querer.
Não tem capacidade para saborear qualquer gesto de partilha ou reciprocidade amorosa. O egoísmo é uma força capaz de enroscar a pessoa sobre si mesma, como se de um parafuso se tratasse.
Este auto enroscamento acontece de modo gradual através de uma recusa progressiva e incondicional às propostas do amor.
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