segunda-feira, 27 de abril de 2009

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-I

I-O PLANO DE DEUS É UM PROJECTO DE AMOR

A fé cristã ensina-nos que a História terá um fim e o Homem será incorporado na Família de Deus.

Eis o que diz a primeira carta a Timóteo: Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tim 2, 4).

No evangelho de São João, Jesus diz que ele mesmo é a porta e todo aquele que passar por esta porta entra na salvação (Jo 10, 9).

A vontade do Pai que me enviou é que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu (Jo 6, 39).

Deus chamou-nos para uma vocação santa, não pelas nossas obras, mas em virtude do seu plano de salvação e pela graça (2 Tim 1, 8-9).

Quando chegar o final da História acontecerá a plenitude da Humanidade como um todo orgânico e interactivo.

Os eleitos, isto é, os que têm coração para comungar com Deus e os irmãos, são plenamente incorporados na comunhão da família de Deus.

A Carta aos Efésios diz que fomos eleitos em Cristo antes da criação do mundo (Ef 1, 3-4). Isto quer dizer que Deus nos talhou para comungarmos com ele.

A Segunda Carta a Timóteo diz que as Escrituras nos comunicam a Sabedoria que conduz à Salvação pela fé em Cristo (2 Tim 3, 15).

Estes textos ajudam-nos a olhar a História como um projecto com um sentido salvador. O conteúdo central do Novo Testamento é, de facto, a Boa Nova da Salvação em Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-II

II-A NOVACRIAÇÃO EM CRISTO

Graças a Cristo e ao Espírito Santo que ele nos envia os seres humanos já são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

O evangelho de São João diz que Jesus não veio para julgar o mundo mas para o salvar (Jo 12, 47).

Ainda que o homem exterior se vá degradando e envelhecendo, o interior vai-se renovando diariamente pala acção do Espírito Santo (2 Cor 4, 16).

Assim como a morte veio por um homem, por um homem veio a salvação que é a vida eterna (Rm 5, 12-21).

Se alguém está em Cristo é uma nova criação. Passou o que era velho. Tudo isto nos vem de Deus Pai que, em Cristo, reconciliou a Humanidade consigo não levando mais em conta os pecados dos homens (2 Cor 5, 17-19).

Na verdade Deus destinou-nos para sermos seus filhos adoptivos em Cristo (Ef 1, 5). Com Cristo, portanto, seremos herdeiros (Ef 1, 9-11).

Este mistério esteve oculto durante milénios, mas foi-nos revelado através do seu Filho nestes tempos que são os da plenitude (Col 1, 26).

Ao chamar-nos à fé, Cristo incorporou-nos no grupo do resto fiel, o qual está livre da ira que está para vir (1 Ts 1, 10).

A nossa plenitude é a comunhão universal do Reino de Deus. Ninguém é filho de Deus de modo individual ou a título pessoal.

Somos filhos porque fazemos um todo orgânico com Cristo. Somos convidados a dizer Pai-Nosso, a fim de compreendermos que Deus é nosso Pai na medida em que formos irmãos dos outros.

É este o modo de ser irmão de Deus Filho e filho de Deus Pai.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-III


III-ASSUMIDOS NA COMUNHÃO FAMILIAR DE DEUS

Fomos chamados a unir-nos ao Filho, a fim de fazermos uma unidade orgânica com o Pai mediante o Espírito Santo (Jo 17, 21-23).

Vista à luz da fé, a História está cheia de sentido, pois é um projecto de amor sonhado de Deus.

Ao ressuscitar, Jesus introduziu a História na plenitude, isto é, na fase dos acabamentos. Os Apóstolos associavam o final da História com a Segunda vinda de Cristo.

São Paulo imaginava que o fim dos tempos estava para muito breve. Deus enviou o seu Filho, a fim de se tornar o primogénito de muitos irmãos e, deste modo, nos integrar na plenitude do Reino (Rm 8, 29).

E porque Cristo ressuscitado nos introduziu na Família de Deus, todos nós já podemos proclamar “Abba”, ó Pai! (Gal 4, 4-7).

As primeiras comunidades cristãs julgavam que a História estava precisamente a atingir o seu fim.

Os Apóstolos pensavam que ainda estariam vivos no dia da segunda vinda de Cristo (Lc 21, 20-30).


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-IV

IV-O DIA DO JUÍZO

Influenciados pela visão trágica dos apocalipses judeus, os apóstolos, após a ressurreição de Jesus, começam a associar a segunda vinda de Cristo com o dia da ira.

O dia da ira significava para o judaísmo do tempo de Jesus, o dia em que Deus enviaria os seus anjos para destruir os pecadores.

Pouco a pouco começam a associar o dia da ira com a vinda do Messias. Nesse dia apenas um pequeno resto, o chamado resto fiel, escaparia à destruição.

São Paulo interpretava a segunda vinda de Cristo na linha do dia da ira. Ele julgava que as comunidades cristãs como o pequeno resto fiel que escaparia à punição final ele diz o seguinte aos Tessalonicenses:

“Deus não nos destinou para a ira mas para a salvação em nosso Senhor Jesus Cristo (1 Ts 5, 9).

O livro do Apocalipse vê o resto fiel constituído pelos justos do Antigo Testamento. O número dos justos da Antiga Aliança é de cento e quarenta e quatro mil.

Trata-se de um múltiplo de doze que simboliza os doze patriarcas multiplicados pelos doze apóstolos.

Vem depois a multidão dos cristãos vindos do paganismo e oriundos dos diversos quadrantes da terra:

“Não danifiqueis a terra nem o mar nem as árvores até termos marcado com o selo a fronte dos servos do nosso Deus.

Ouvi depois o número dos que foram assinalados: “cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel (…).

Depois disto apareceu uma multidão que ninguém podia contar, a qual provinha de todas as nações, povos e línguas” (Apc 7, 3-9).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-V

V-O DIA DA SALVAÇÃO

Pouco a pouco, o Espírito Santo foi conduzindo as comunidades para a verdade do plano de Deus.

De modo gradual, os crentes começam a compreender que a vinda gloriosa de Jesus Cristo não será uma tragédia, mas sim a plena realização do amor salvador de Deus.

Jesus vai conferir plenitude à História realizando não a destruição dos pecadores, mas a realização do juízo de Deus, o qual é um juízo de salvação, não de condenação.

O juízo de salvação consiste em que Deus não permite que se perca nada daquilo que existe de
salvável na pessoa humana.

Por outras palavras, o juízo final de Deus não se compara com os julgamentos dos tribunais humanos, mas sim com os julgamentos dos pais, os quais são feitos pela lei do amor.

No final da História, e com o juízo final realizado segundo a lei do amor, o Reino de Deus atingirá a sua plenitude.

Nesse dia realizar-se-à a afirmação da Primeira Carta a Timóteo, a qual afirma: “A vontade de Deus é que todas as pessoas se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4).

Eis o que diz a Carta a Tito: Manifestou-se a graça de Deus para salvação de todos os homens (Tt 2, 11).

Quanto à maneira de se realizar este juízo e plenitude humana não devemos imaginar uma multidão homens e mulheres reunidos em qualquer canto da terra.

Na verdade esta plenitude final acontecerá no íntimo do coração das pessoas que estejam em comunhão com Deus.

Eis o que diz São Lucas sobre a plenitude do Reino: “O Reino de Deus não vem de modo aparatoso.

Na verdade trata-se de uma realidade que está dentro de cada um de vós (Lc 17, 20).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-I

I-O FRACASSO DE ADÃO

Adão, na bíblia, significa a Humanidade nos seus primórdios. O Livro do Génesis diz-nos que Adão foi criado para viver em harmonia com o Criador.

Mas logo no princípio, numa bela manhã cheia de sol e aves a chilrear, aconteceu a tragédia da rotura.

Enquanto caminhavam pelo jardim, Adão e Eva deixaram-se vencer pela tentação de serem iguais a Deus.

A tentação não é pecado. Pecado é ceder às sugestões da tentação. A tentação é uma sugestão subtil que pretende convencer o Homem de que é melhor para nós fazer o contrário do que Deus nos propõe.

Podemos dizer que o pecado é sempre uma oposição ao amor. A experiência ensina-nos que opor-se ao amor não é nunca a melhor opção para a pessoa.

A pessoa humana tem sempre a possibilidade de se opor à vontade de Deus. Mas quando isto acontece, a pessoa humana está fazendo uma opção que a conduz para o caminho do malogro e do fracasso.

No interior da nossa consciência, o Espírito Santo inspira-nos e convida-nos no sentido de fazermos a vontade de Deus.

A tentação, pelo contrário, pretende fazer-nos crer que o nosso bem está em fazermos o contrário do que Deus nos propõe.

Adão deixou-se seduzir pela tentação, recusando-se a dar ouvidos às propostas de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos interpelando e convidando a olhar a verdade do projecto de Deus.

Com uma ternura infinita, ele sugere-nos que a vontade de Deus coincide exactamente com o que é melhor para nós.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-II

II-ADÃO FACE À TENTAÇÃO

Associando a vontade de Deus com a Árvore da Vida, podemos dizer que as pessoas que optam pelo fruto da Árvore da Vida têm a vida Eterna, (cf. Gn 3, 22).

A Árvore do conhecimento do bem e do mal, pelo contrário, é a arbitrariedade que gera a morte.
Desvinculada da sabedoria a ciência humana é profundamente ambígua.

Privada da sabedoria que confere o sabor da História, do Homem, e do plano criador de Deus, a ciência humana é perigosa.

Todos conhecemos as tragédias que muitas conquistas da ciência trouxeram para a Humanidade.
Dando ouvidos à tentação, Adão preferiu o fruto da Árvore do conhecimento do bem e do mal.

Mas o ser humano muitas vezes prefere decidir-se pelo fruto da árvore proibida, optando pelo capricho revestidos com a capa da autonomia.

A tentação não é pecado. Pecado é a pessoa ceder às insinuações da tentação, pensando que o mal é bem para nós.

Quando isto acontece, a nossa mente fica baralhada e julgar que o mal é bem para nós. A tentação é uma sugestão que conduz à mentira e ao erro.

Na oração do Pai-Nosso, Jesus ensinou os discípulos a pedir a Deus que não os deixe cair na tentação.

Deus conhece muito bem o que é melhor para nós. Como é fiel e verdadeiro, o seu querer não é um capricho, mas o desejo de que sejamos pessoas realizadas e felizes.

No Livro do Génesis a serpente é apresentada como o símbolo da tentação e da mentira.

Como símbolo da mentira, a serpente tentou destruir a amizade que reinava entre Adão e Deus, servindo-se da mentira.

Eis as suas palavras: “Deus disse-vos que se comêsseis o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, morreríeis.

Mas isso não é verdade. Pelo contrário, se comerdes esse fruto, acabais por ser iguais a Deus”.
A tentação não passava de uma insinuação que viria a culminar no fracasso da morte.

Eva deixou-se conduzir pela mentira, comendo o fruto da morte e dando dele ao seu marido.
O pecado atinge o pecador e, além disso, faz ainda outras vítimas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-III

III-AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE ADÃO

Depois de pecar, Adão descobriu as consequências trágicas do seu pecado. Ao descobrir que estava nu, isto é, incapaz de se humanizar deu-se conta que, afinal, não podia ser Deus por si mesmo.

É verdade que Deus tinha sonhado um plano de divinização para o Homem, mas isso é um dom de Deus e não uma conquista do Homem:

“Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de servidão, mas sim um Espírito de filiação que faz de vós filhos, o qual, no vosso íntimo clama: “Abba” ó Pai” (Rm 8, 14-15).

Ao aperceber-se de que estava nu, Adão sentiu-se numa situação de total malogro e fracasso sem possibilidades de se realizar e ser feliz.

Mas Deus mostrou o seu amor total a Adão e Eva, chamando-os e iniciando com eles uma nova relação de amizade.

Adão conhecia o plano de Deus para ele e, portanto, sabia o que era o melhor para ele. Mas em vez de dar ouvidos a Deus, Adão deu ouvidos à tentação, acabando por entrar no caminho do malogro e do fracasso.

Como era a cabeça da Humanidade, Adão conduziu-a para o fracasso. Mas Deus planeia logo a tarefa da restauração, prometendo a Eva o Messias libertador (Gn 3, 15).

O descendente de Eva que vencerá a serpente, ajudando a Humanidade a caminhar de acordo com a vontade de Deus.

O descendente prometido a Eva é Cristo, o qual, ao ressuscitar, nos põe em comunhão íntima com o Espírito Santo que, no nosso coração, nos fortalece e torna capazes de vencermos a tentação.

Por isso agora, como diz São Paulo, se nos deixarmos conduzir pelo Espírito de Deus somos incorporados na família de Deus (Rm 8, 14-17).

Adão e Eva compreenderam que a infidelidade à vontade de Deus deixa a pessoa incapaz de atingir a sua plena realização.

Esta experiência interpela os seres humanos a abrir o coração e a mente ao plano de Deus que, por ser infinitamente sábio, sabe o que é melhor para nós.

Ao mesmo tempo, como Deus é infinitamente bom, quer sempre o que é melhor para nós.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-IV

IV-ADÃO E O MISTÉRIO DA INIQUIDADE

O Livro do Génesis diz que Deus, à medida que ia fazendo surgir as obras da Criação, exclamava de contentamento, pois achava que a sua obra era boa (Gn 1, 12; 18; 21; 25; 31).

Mas logo a seguir, o Livro do Génesis, diz que Deus ficou desencantado, pois o Homem, com o seu pecado distorceu o plano criador de Deus (Gn 6, 13-22).

Mas Deus insiste e renova a sua Aliança com Noé (Gn 6, 17-18). O relato do dilúvio é um relato alegórico para dizer que o pecado destrói o Homem.

O Livro do Génesis associa a morte com o pecado de Adão: “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3, 19).

É verdade que a morte como acontecimento natural não tem a ver com o pecado. Mas podemos dizer que o pecado é sempre gerador de morte, mas morte não natural.

É neste sentido que devemos entender o relato do fratricídio de Caim ao matar Abel. Também é neste sentido que devemos interpretar os homicídios, isto é, mortes não naturais que têm manchado a História de sangue humano.

Também quando matamos as possibilidades de humanização nos irmãos, estamos a matar o irmão, impedindo-o de emergir.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-V

V-SALVOS PELO NOVO ADÃO

“Portanto, como pela falta de um só veio a morte, para todos, assim também pela fidelidade de um só veio a vida para todos.

De facto, assim como pela desobediência de um só homem todos caíram no fracasso do pecado, assim também pela obediência de um só todos são restaurados (Rm 5, 18-19).

Deus correu o risco de criar o Homem como ser dotado de livre arbítrio, isto é, com a capacidade psíquica de escolher pelo bem ou pelo mal.

O livre arbítrio é a possibilidade de a pessoa humana se tornar livre. A liberdade é sempre um bem, mas a pessoa humana, dotada de livre arbítrio, pode recusar-se a ser livre, optando pelo mal.

A liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.

A liberdade humana é, portanto, o resultado de uma cadeia de opções na linha do amor. Mas o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal, isto é, pelo amor ou contra o amor.

Só a dinâmica do amor humaniza o ser humano, fazendo-o emergir como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Se assim não fosse, a pessoa era fatalmente um ser humanizado e, portanto, livre. Mas a verdade não é esta, pois, a pessoa não nasce livre, mas com a possibilidade de se tornar livre.

Se temos a possibilidade de nos tornarmos livres, isto quer dizer que não somos livres de modo fatal.

A liberdade é uma das dimensões principais do homem humanizado. Um ser humano profundamente desumanizado é uma pessoa muito pouco ou quase nada livre.

Com efeito, temos a possibilidade de dizer não à nossa realização se essa for a nossa preferência.
É precisamente aqui que radica a possibilidade do pecado, isto é, a possibilidade de dizermos não ao amor.

O pecado mutila a pessoa do pecador e bloqueia a humanização das vítimas das suas recusas de amor.

As pessoas não são ilhas. A Humanidade forma uma interacção de tipo orgânico, tanto para o bem como para o mal.

Com a sua capacidade de optar contra o amor, o ser humano é capaz de criar roturas graves no tecido das relações humanas.

As nossas acções, tanto as positivas como as negativas têm consequências pessoais e consequências sociais e históricas.

No sentido do bem podemos dizer que as consequências pessoais do nosso agir são a nossa realização e crescimento pessoal.

No sentido do mal são os bloqueios interiores que resultam das nossas recusas de amor. Do mesmo modo, as consequências sociais e históricas do nosso agir podem ser positivas ou negativas.

As positivas são os ritmos humanizantes que vamos inscrevendo no tecido social através do bem que fazemos.

Estes ritmos formam uma dinâmica que possibilita a marcha humanizante da sociedade. As consequências sociais e históricas de tipo negativo são os ritmos negativos das nossas recusas de amor.

Estas forças de bloqueio dificultam a marcha da humanização. A lei do amor é esta: “Ninguém é capaz de amar, antes de ter sido amado, e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si”.

Isto quer dizer que o sucesso de uma realização humana passa sempre pelo amor. Assim como a componente básica da nossa vida corporal é a água, a componente básica da nossa vida pessoal-espiritual são as relações de amor.

Isto faz-nos compreender a importância do amor para a realização das pessoas e das sociedades, bem como a gravidade fundamental do pecado.

Não exageramos nada se dissermos que o amor é a origem e a plenitude do Universo, pois Deus é Amor (1 Jo 4, 16).

Como obstáculo à humanização do Homem, o pecado atinge o ser humano no seu próprio coração.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 19 de abril de 2009

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-I

I-A FELICIDADE COMO TAREFA

A felicidade tem como alicerce uma vida edificada sobre as propostas do amor. Com efeito, a Palavra de Deus amplia os horizontes da plenitude da vida e seus sentidos.

Em critérios meramente humanos, a base da felicidade parece estar no exterior, naquilo que nos acontece, no tipo de pessoas que encontramos, nos acasos do dia-a-dia ou no dinheiro que temos.

Para a fé cristã, pelo contrário, a felicidade é algo que acontece no interior da pessoa. É sobretudo um dom que Deus concede às pessoas que se abrem à presença e à acção do Espírito Santo.

Para a bíblia, a felicidade acontece no coração do ser humano que se empenha em ser fiel à Aliança de Deus.

Podemos enumerar alguns dos aspectos importantes para acontecer no nosso coração a felicidade:

A paz interior. A serenidade resultante da certeza de que Deus, pelo Espírito Santo, está permanentemente actuando no nosso íntimo.

A fraternidade e a solidariedade são pilares básicos para edificarmos a felicidade. Não podemos esquecer que os dons de Deus nos são dados em forma de possibilidades, a fim de os podermos realizar.

Por outras palavras, aceitar os dons de Deus é realizar o seu leque de possibilidades. A felicidade não é uma simples ausência de sofrimentos, de dificuldades ou problemas.

Podemos dizer que a felicidade é uma experiência de plenitude que se vai reforçando de modo gradual e progressivo a partir de dentro.

Mesmo que a partir do contexto possam surgir contrariedades, obstáculos e oposições, como Jesus sublinhou nas bem-aventuranças (Mt 5, 1-12).

A felicidade acontece sobretudo às pessoas que se esforçam por edificá-la no seu íntimo com a ajuda do Espírito Santo.

São Paulo entendeu muito bem o papel central do Espírito Santo no nosso coração, fonte de alegria e felicidade.

Foi por esta razão que disse que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-II

II-DEUS FAZ-NOS MUITAS PROPOSTAS DE FELICIDADE

Se olharmos para os textos bíblicos nos quais Deus nos foi indicando os caminhos de realização, descobrimos facilmente as suas propostas de felicidade.

Ao mesmo tempo podemos constatar que tomam a sério essas propostas de Deus são realmente pessoas felizes.

Transformado por uma experiência espiritual profunda, São Paulo põe de lado a sua teologia judaica, e converte-se a Cristo.

Após a sua conversão viver para ele era o Evangelho e Cristo ressuscitado como ele mesmo afirma.

O seu compromisso com o Evangelho trouxe-lhe dissabores, perseguições, dias de fome e muitos perigos.

No entanto, como ele confessa, o seu trabalho de evangelizador foi a fonte da sua felicidade:
“Sinto-me profundamente alegre no meio de todas as minhas tribulações” (2 Cor 7, 4).

Podemos concluir que São Paulo é um testemunho do que significa tomar Cristo e o Evangelho a Sério.

Por isso a sua vida, apesar dos seus sofrimentos, foi uma vida feliz. Isto quer dizer que é muito perigoso brincar com Deus. Não porque Deus se vingue, pois ele é amor.

Brincar com Deus significa entrar no caminho do fracasso, pois a vontade de Deus a nosso respeito coincide com o que é melhor para nós.

Por outras palavras, desviar-se da vontade de Deus é desviar-se do caminho da própria realização e da felicidade.

Eis o que diz a Primeira Carta de São a propósito da certeza do amor de Deus, o qual é o fundamento da nossa felicidade:

“Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus. E somo-lo de verdade (1 Jo 3, 1-2).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-III

III-A ARTE DE EDIFICAR A FELICIDADE

Deus dá-nos o dom da felicidade em forma de possibilidades que podemos realizar ou não. Por outras palavras, os dons de Deus são-nos concedidos forma de possibilidade, a fim de os podermos aceitar ou não.

Se assim não fosse, não se tratava de dons, mas sim de imposições. As possibilidades de edificarmos a nossa felicidade concretizam-se através de uma série de atitudes que vamos concretizando na vida.

Podemos enumerar algumas dessas atitudes que são realmente importantes para nos realizarmos e sermos felizes:

Aprender a viver com aquilo que não podemos mudar. É muito importante sabermos aceitar-nos, apesar das nossas limitações.

Cultivar pensamentos construtivos e partilhar com os outros uma visão positiva da vida.
É fundamental ser honesto consigo e com os outros.

É importante enfrentar as dificuldades com confiança, procurando viver unidos a Deus, a fim de resolver as dificuldades do modo mais acertado.

É muito importante não andarmos sempre a comparar-nos com os outros. Não nos devemos deixar esmagar com situações cuja solução não está nas nossas mãos.

Não será feliz quem não aprende a partilhar com os outros o seu tempo, os seus bens e o seu saber.

É importante cultivar o sentido de humor, impedindo que os pensamentos negativos nos dominem.

Não nos devemos esquecer de cuidar de nós. Quem não gosta de si não conseguirá gostar dos outros.

Ajudemos os outros sempre que se nos ofereçam ocasiões de o fazer. Procuremos manter-nos o mais possível calmos, evitando situações de stress.

Procuremos ser moderados na comida e na bebida. Nas relações com os outros procuremos adoptar sempre uma atitude humilde e discreta.

É muito importante aprender a escutar as mensagens que os outros nos querem transmitir.

Procuremos estar sempre actualizados nos assuntos que fazem parte do nosso trabalho ou missão.

Aprendamos desenvolver a capacidade de partir de uma situação para outra. As mudanças trazem com frequência novas possibilidades de crescimento e realização pessoal.

Procuremos viver a vida com paixão. Mantenhamo-nos ocupados com coisas das quais gostamos verdadeiramente.

Respeitemos os outros como gostaríamos de ser respeitados por eles.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-IV

IV-A FELICIDADE E O DINHEIRO

Não queiramos ter como objectivo de vida o simples o amontoar de riquezas. Lembremo-nos de que a fonte da felicidade é o amor, não o dinheiro.

Isto quer dizer que as pessoas que têm muito dinheiro, se quiserem ser felizes, têm de pôr o dinheiro ao serviço do amor.

Procuremos aplicar os nossos bens em favor da nossa realização pessoal e da fraternidade.
Cultivemos o sentido de partilha com os mais pobres.

Se queremos realmente ser felizes, não pretendamos ter muitas coisas, pois não as poderemos usufruir nem dominar completamente.

Ter muitas coisas torna as pessoas ansiosas, preocupadas e muitas vezes desconfiadas.

Procuremos ser gratos para com os outros, aceitando os seus dons e as oportunidades de realização que eles nos oferecem.
Tanto quanto pudermos procuremos assumir compromissos sérios de realização pessoal.

Elaboremos objectivos de vida e procuremos realizá-los, numa linha de fidelidade a nós mesmos.
Não percamos de vista a meta que pretendemos alcançar.

Dentro do possível evitemos endividar-nos, procurando gerir os nossos bens de modo a bastar-nos, evitando o mais possível depender dos outros.

Não corramos riscos incontrolados, sobretudo não nos comprometamos em campos que não conhecemos e não controlamos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-V

V-BEM-AVENTURANÇAS E FELICIDADE

As Bem-aventuranças não são um código moral para cumprirmos à letra. Jesus não foi um moralista.

Na verdade, as Bem-aventuranças são uma proposta para moldarmos o nosso coração segundo os critérios do Evangelho.

Estruturar o nosso interior segundo os horizontes das Bem-aventuranças é moldar o nosso coração de acordo com a felicidade, diz Jesus:

“Felizes os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, pois serão consolados.

Felizes os mansos, pois herdarão a Terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados.

Felizes os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.

Felizes os obreiros da paz, pois serão chamados filhos de Deus. Felizes os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos Céus.

Felizes sereis quando vos odiarem e, mentindo, disserem toda a sorte de males contra vós por minha causa.

Alegrai-vos e exultai, pois grande será a vossa recompensa no Céu. Foi assim que perseguiram os profetas que viveram antes de vós” (Mt 5, 3-12).

As Bem-aventuranças têm mais a ver com um jeito de viver do que com actos a executar de maneira bem delimitada.

Por outras palavras, as Bem-aventuranças não são um código de normas morais, mas um ideal de vida a construir.

À medida que a pessoa procura modelar o coração e a mente segundo a proposta das Bem-aventuranças tornam-se diferentes em relação ao modo de valorizar os acontecimentos, de possuir coisas e de se relacionarem com Deus e os irmãos.

À luz das Bem-aventuranças a pessoa não chega a atingir uma profunda realização humana se não se empenhar na transformação das estruturas e das relações sociais tendo como horizonte os valores do Evangelho.

Temos de reconhecer que o mundo não consegue entender estes critérios. Eis o que diz o Livro dos Actos dos Apóstolos sobre a felicidade dos Apóstolos:

“E os apóstolos partiram da presença do Sinédrio, isto é, o conselho dos chefes, exultando, por terem sido considerados dignos de sofrer humilhações por causa de Jesus Cristo” (Act 5, 41).

São Paulo confessava-se alegre e feliz apesar das perseguições e dificuldades que sofria pelo Evangelho:

“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos” (Flp 4, 4). À luz das Bem-aventuranças a pessoa pode ser pobre e sentir-se rica.

Pode estar a ser perseguida pela sua fé ou pelas suas opções no sentido da paz, da partilha, da fraternidade e sentir-se muito feliz.

À luz das Bem-aventuranças a pessoa pode estar a sofrer por desejar ver certas situações alteradas e, no entanto, sentir-se intimamente feliz.

Pode estar com fome e sede de justiça e não perder a confiança em Deus nem a paz interior.

As pessoas que vão configurando a mente com o padrão das Bem-aventuranças vão moldando um coração capaz de comungar com Deus e os irmãos.

As pessoas que foram configurando a sua vida segundo a propostas das Bem-aventuranças, saboreiam a alegria e a felicidade de ter dado o melhor de si.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 14 de abril de 2009

A SALVAÇÃO COMO OPTIMIZAÇÃO DA PESSOA-I

I-O DINAMISMO DA VIDA ETERNA

O princípio dinâmico que faz emergir ávida Eterna em nós é o Amor. Isto quer dizer que Deus é a fonte e a plenitude da Vida Eterna, pois Deus é amor (1 Jo 4, 7-8).

A Divindade não é uma realidade histórica, mas faz história com o Homem. Na sua ternura infinita e difusiva, Deus quis que o Homem tivesse parte na comunhão da Santíssima Trindade que é o coração da Vida Eterna.

O Novo Testamento usa expressões muito sugestivas para falar da dádiva gratuita da vida Eterna:

“Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de ele dar a vida eterna a todos os que lhe entregaste.

Esta é a vida eterna: Que te conheçam, Pai Santo, como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste” (Jo 17 1-3).

A vida eterna é o grande dom dos últimos tempos que Deus oferece gratuitamente em Cristo.
Eis as palavras de São Paulo:

“O salário do pecado é a morte, mas a vida eterna é o dom gratuito que vem de Deus por Cristo, Senhor nosso” (Rm 6, 23).

Na Carta a Tito São Paulo diz que Deus o chamou a ser apóstolo para ajudar a fé dos eleitos de Deus, a fim de conhecerem o dom da vida eterna:

“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à fé dos eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade.

Assim fica fortalecida a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.

Este mistério tem sido manifestado pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tt 1, 1-3).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SALVAÇÃO COMO OPTIMIZAÇÃO DA PESSOA-II

II-A VIDA ETERNA COMO CONVÍVIO COM DEUS

São Paulo acrescenta que a vida eterna é um dom gratuito que Deus nos proporciona mediante a acção do Espírito Santo:

“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com a Humanidade, ele salvou-nos.

Esta salvação não é devida às obras de justiça que tivéssemos praticado, mas sim à sua misericórdia, através de um novo nascimento mediante o Espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.

Deste modo, uma vez justificados pela sua graça, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tt 3, 4-7).

A vida eterna acontece no coração das pessoas: Como ternura maternal de Deus, o Espírito Santo dinamiza o coração das pessoas e anima as relações de comunhão entre elas e Deus.

O livro do Apocalipse faz uma descrição muito bonita esta comunhão de Deus com a Humanidade, realçando sobretudo a vida plena graças à presença amorosa de Deus que a todos preenche:

“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.

E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.

E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:

“Esta é a morada de deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.

Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.

Então, o que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!” E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são dignas de fé, pois são verdadeiras”.

“É verdade: Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim! Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida.

O que vencer receberá estas coisas como herança. Eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SALVAÇÃO COMO OPTIMIZAÇÃO DA PESSOA-III

III-A VIDA ETERNA COMO REALIDADE COMUNITÁRIA

A vida eterna é uma realidade que se vive em união orgânica. Isto que dizer que não é algo que alguém possa possuir de modo isolado.

Emerge no coração da pessoa à medida que esta se vai humanizando. Por outras palavras, Deus assume e diviniza a pessoa humana na medida em que esta se humaniza.

Humanizar-se é emergir como interioridade espiritual capaz de interacção amorosa. O evangelho de João diz que a Encarnação é o princípio da vida eterna:

“Mas as que o receberam, aos que crêem nele, o Verbo deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram de um impulso da carne nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).

Isto significa que a vida eterna é algo que já está em marcha na vida presente. Viver a vida eterna, diz a Primeira Carta de São João, é viver o amor aos irmãos, o único caminho que conduz à comunhão com Deus:

“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.

Todo o que tem ódio ao seu irmão é um homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a vida eterna” (1 Jo 3, 14-15).

Depois acrescenta que a vida eterna é realmente um dom que Deus nos concede e não algo que nós possamos ter isoladamente.

A Primeira Carta de São João diz que Deus nos concede ávida eterna através de Cristo: “ É este o nosso testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho.

Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o filho não tem a vida” (1 Jo 5, 11-12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SALVAÇÃO COMO OPTIMIZAÇÃO DA PESSOA-IV

IV-A VIDA ETERNA COMO RELAÇÕES DE AMOR

A vida eterna, por ser comunitária, assenta na qualidade das relações entre as pessoas humanas e divinas.

O evangelho de São João diz que a vida eterna consiste em conhecer Deus:

“Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

Conhecer, na bíblia, significa interagir de modo amoroso e fecundo. Eis as palavras de Jesus:

“Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).

O princípio animador desta interacção amorosa é o Espírito Santo. No coração do mistério trinitário está o conhecimento do Pai pelo Filho e deste pelo Pai.

É neste conhecimento mútuo que o Pai se constitui na sua paternidade, gerando o Filho através de um movimento de doação incondicional.

É ainda neste conhecimento mútuo que o Filho assume uma atitude amorosa de tipo filial, aceitando ser pelo Pai que se lhe entrega de modo incondicional.

O conhecimento do Pai e do Filho é animado pela pessoa do Espírito Santo. Conhecer Deus é, como vimos, interagir de modo amoroso e fecundo com o Pai e o Filho pela acção reveladora do Espírito Santo no nosso coração:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:

“Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos.

Sim, Pai, porque foi esta a tua vontade e o teu agrado” (Lc 10, 21). O conhecimento de Deus não é uma questão teórica, mas uma experiência relacional amorosa:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

O que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus á amor” (1 Jo 4, 7-8).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SALVAÇÃO COMO OPTIMIZAÇÃO DA PESSOA-V

V-ESPÍRITO SANTO E VIDA ETERNA

A Primeira Carta de São João diz ainda o seguinte: “A Deus nunca ninguém o viu. Se nos amarmos uns aos outros, ele permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós” (1 Jo 4, 12).

Como Deus é amor, diz São João, quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele (1 Jo 4, 16).

O Espírito Santo é a alma deste conhecimento de Deus, não por nos comunicar muitos conceitos, mas por nos conduzir para atitudes de amor idênticas ás de Cristo:

“Fui-vos dizendo estas coisas enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, recordando-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26).

O Espírito Santo completa a missão de Jesus, conduzindo os discípulos para a Verdade plena, a qual coincide com o conhecimento de Deus:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender por agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a verdade completa” (Jo 16, 12-13).

Não há conhecimento de Deus que não passe pelo amor aos irmãos!

No dia do juízo, algumas pessoas que passaram a vida a amar os irmãos não sabiam que existia Cristo.

Mas o Senhor reconheceu esse amor como conhecimento genuíno de Deus: “Então os justos vão responder a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?

Quando te vimos peregrino e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?

Então o rei responder-lhes-á: “Em verdade em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 37-40).

Tudo isto quer dizer que a vida eterna é algo que já está a emergir no nosso coração!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 11 de abril de 2009

CRISTO SALVA-NOS PELO ESPÍRITO SANTO-I

I-ESPÍRITO SANTO E ENCONTRO COM DEUS

O coração é o ponto de encontro da pessoa com Deus e os irmãos. É o núcleo a partir do qual emergem as decisões, e opções através das quais a pessoa emerge e se estrutura.

É no coração que se elaboram os projectos de interacção e comunhão amorosa. A plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

Eis a razão pela qual Deus é um, não por ser uma pessoa mas uma comunhão amorosa. O Espírito Santo é uma pessoa para os outros. Cativa, mas nunca para si.

Com seu jeito maternal encanta-nos, mas para nos pôr em comunicação com Deus Pai, o Filho Eterno de Deus ou os irmãos, a fim de caminharmos para a única Família de Deus.

O evangelho de São João diz que a Família de Deus é uma comunhão orgânica:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no meu Pai e que e vós em mim e eu em vós (…).
Se alguém me tem amor guardará a minha Palavra e o meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 20-23).

O Espírito Santo caminha no sentido oposto ao sentido em que o mundo caminha. Nunca nos conduz no sentido em que o mundo nos pretende fazer caminhar.

Eis as palavras do evangelho de São João: “Eu vou pedir ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.

Vós, porém, conhecei-lo, pois ele está convosco e habita em vós” (Jo 14, 16-17).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




CRISTO SALVA-NOS PELO ESPÍRITO SANTO-II

II-ESPÍRITO SANTO E REALIZAÇÃO HUMANA

Caminhar segundo a palavra do evangelho implica avançar no sentido oposto ao do mundo.

Esta caminhada não é pacífica, mas é fundamental para ajudar a Humanidade a encontrar o sentido da História e da vida em plenitude:

“Se o mundo vos odeia, lembrai-vos de que antes de vos odiar a vós me odiou a mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu. Mas como não vindes do mundo, pois eu escolhi-vos do meio do mundo, o mundo odeia-vos.

Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim também vos hão-de perseguir a vós.

Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa” (Jo 15, 18-20). O Espírito Santo é o guia que nos conduz na direcção da Verdade plena e da Vida eterna:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender por agora. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará para a verdade completa” (Jo 16, 12-13).

Além disso, o Espírito Santo insere-nos na Família da Santíssima Trindade. A Família da Santíssima Trindade adquire o seu perfeito equilíbrio no jeito maternal de o Espírito Santo actuar nas relações entre as pessoas, criando vínculos de comunhão.

Quando Deus comunica para o exterior da comunhão trinitária, fá-lo sempre através da ternura maternal do Espírito Santo.

É por esta razão que o Espírito Santo nos conduz ao Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8,14-16).

É também pelo Espírito Santo que o Filho de Deus encarna, tornando-se nosso irmão, a fim de se nós nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

É pela mediação do Espírito Santo que Deus Pai nos exprime o seu jeito amoroso e sempre novo de ser Pai.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo lembra-nos o amor incondicional de Deus Pai para connosco.

Também é o Espírito Santo que nos recorda o amor do filho de Deus que se tornou nosso irmão, a fim de sermos incorporados na Família de Deus.

A primeira interacção do pai humano com o seu filho dá-se pela mediação da ternura da mãe.
Esta realidade é apenas um símbolo do mistério do amor de Deus para connosco.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO SALVA-NOS PELO ESPÍRITO SANTO-III

III-ESPÍRITO SANTO E TRINDADE DIVINA

Esta imagem ajuda-nos a compreender a o papel da ternura maternal do Espírito Santo na comunhão da Santíssima Trindade.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo recorda ao Filho os gestos de amor de Deus Pai, inspirando-lhe um jeito de gratidão filial.

Isto significa que o Uno, em Deus, é a comunhão amorosa. Por outras palavras Deus é relações. O plural, na divindade, é a Trindade de Pessoas em relações de comunhão familiar.

Vai neste sentido a afirmação do Concílio de Florença (sec. xv) segundo a qual a unidade divina é constituída por uma união fundamental assente na reciprocidade das relações:

“O Pai está todo no filho e no Espírito Santo. O Filho está todo no Pai e no Espírito Santo. Do mesmo modo, o Espírito Santo está no Pai e no Filho.

Nenhum precede o outro em grandeza. Também nenhum deles possui maior potestade” (Denz. 704).

Estas palavras do Concílio de Florença querem dizer que Deus Pai não é uma precedência genética ou histórica, mas emerge constantemente como jeito paternal de amar:

Este jeito de amar é incondicional e não suscitado por qualquer dom prévio. Do mesmo modo, o Filho não é uma realidade posterior.

Não é uma sequência genética ou histórica. O seu jeito de amar é de tipo eucarístico, isto é, gratidão amorosa simultânea incondicionalmente fiel.

Esta fidelidade incondicional ao Pai manifestou-se de modo muito claro nas atitudes de Jesus:

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34);
“Não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30);

“Desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6, 38).

Os evangelhos afirmam Jesus estava sempre em comunhão com o Pai, pois a sua paixão era fazer a vontade dele:

“O Pai não me deixou só, pois faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8, 29).

A união de Jesus com o Pai acontece pela inspiração e impulso do Espírito Santo:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:
“Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, pois escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos.

Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho a não ser o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Pai o quiser revelar” (Lc 10, 21-22).

Podemos dizer que o Espírito Santo é o princípio animador da comunhão da Santíssima Trindade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO SALVA-NOS PELO ESPÍRITO SANTO-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E FILIAÇÃO DIVINA

O Novo Testamento não deixa dúvidas sobre o papel central do Espírito Santo na graça da adopção que faz de nós membros da Família Divina (Rm 8, 14; Gal 4, 4-6).

A nível humano, nós verificamos que é pela mãe que o Pai acolhe o novo ser como filho. Do mesmo modo, os outros filhos acolhem através da mãe o novo ser como irmão.

É uma imagem para dizer que somos incorporados na família de Deus pela ternura maternal do Espírito Santo.

É pelo Espírito Santo que nós encontramos o amor paternal de Deus Pai e o amor fraternal do Filho de Deus.

São Paulo diz que o Filho Unigénito de Deus se torna nosso irmão, tornando-se assim o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

É nesta perspectiva que devemos entender a afirmação de Jesus segundo a qual nós temos de ser gerados e nascer de novo pela acção do Espírito Santo (Jo 3, 6).

O evangelho de São João que é pelo mistério da Encarnação que nos é concedido o poder de nos tornarmos filhos de Deus.

Isto não acontece, continua São João, pela vontade da carne nem pelos impulsos do Homem, mas pela vontade de Deus (Jo 1, 12-14).

A salvação, portanto, é um dom que nos é comunicado em forma de comunhão familiar. Nos primórdios da aventura humana, Deus Pai comunica-nos a vida pelo Espírito Santo, o hálito da vida que Deus comunica ao barro primordial do qual emergiu Adão (Gn 2, 7).

Por seu lado, na plenitude dos tempos, Deus Filho, através do beijo da encarnação, comunica-nos o Espírito Santo que nos incorpora na Família de Deus:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sob o domínio da lei e,
deste modo, podermos receber a adopção de filhos.

E, porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abba, Pai” (Gal 4, 4-6).

Na verdade, diz São Paulo, o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Foi-nos comunicado por Deus Pai no momento da criação como princípio gerador de vida espiritual humana.

Pelo acontecimento da ressurreição de Cristo nós recebemos o dom da vida plena (Jo 5, 21).
A vida divina, diz o evangelho de São João, é obra do Espírito Santo, e não obra da carne ou do sangue (Jo 1, 12-13; cf. 6, 62-63).

Utilizando uma expressão de São Paulo diríamos que a dinâmica da salvação é fruto da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, do amor de Deus Pai e da comunhão no Espírito Santo (2 Cor 13, 13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO SALVA-NOS PELO ESPÍRITO SANTO-V

V-ESPÍRITO SANTO E COMUNHÃO COM DEUS

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Quando dizemos que o Espírito Santo é um dom de Deus queremos dizer que não actua em nós em nome próprio, mas como membro da comunhão divina.

Quando dizemos que é o dom de Cristo ressuscitado queremos dizer que, com a sua ressurreição, Jesus nos dá acesso a uma interacção especial com o Espírito Santo.

As imagens bíblicas para falar desta interacção acentuam de modo especial a fecundidade da acção do Espírito Santo em nós:

É um vento que circula e nos impele (Jo 3, 8). Conduz as pessoas para a comunhão e a fraternidade (Act 2, 2).

É um manancial de Água viva a jorrar Vida Eterna no nosso íntimo (Jo 7, 37-39; 4, 14). É o Espírito da verdade que está nos discípulos de Jesus.

O mundo não o conhece nem o pode receber, pois os critérios do mundo são opostos aos do Espírito Santo (Jo 14, 17).

Ele é o grande enviado do pai em nome do Filho, o qual nos ensina a verdade e torna explícito para nós o que Jesus ensinou (Jo 14, 26).

É o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm5, 5). É a semente da vida divina implantada no nosso íntimo (1 Jo 3, 9).

Ninguém é capaz de reconhecer a verdade de Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo (1 Cor 12, 3).

As pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus Pai e irmãos e co-herdeiros com Cristo (Rm 8, 14-17).

É o sangue de Cristo a circular em nós (Jo 6, 63). É a ternura maternal de Deus que nos conduz para a comunhão com o Pai, o Filho e os outros seres humanos que são nossos irmãos em Deus.

Quando nos dispomos a orar no Espírito Santo, ele ora por nós e em nós, tornando a nossa oração um diálogo familiar e íntimo com Deus (Rm 8, 26-27).

É pelo Espírito Santo que o Pai e o Filho se nos comunicam e nos acolhem como membros da Família divina (Gal 4, 4-7).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias