terça-feira, 14 de outubro de 2008

O ESPÍRITO DE DEUS HABITA EN NÓS-II

II-A DINÂMICA RECRIADORA DO ESPÍRITO

O Espírito Santo é, no nosso íntimo uma presença dinâmica, embora discreta. O Espírito Santo nunca se impõe, mas está constantemente a propor-se como guia e luz.

Comunica connosco sugerindo, insinuando ou propondo atitudes e gestos que nos conduzam para opções na linha do amor.

Com o seu jeito maternal de amar vai-nos conduzindo, a fim de fazermos experiências de Deus cada vez mais significativas e profundas.

Graças ao dinamismo do Espírito Santo na vida dos crentes, estes compreendem que Deus não é apenas uma hipótese, mas uma realidade viva que se experimente e revela.

Graças ao seu papel animador no mistério da Encarnação, a Humanidade ficou organicamente ligada à Divindade.

Com efeito, o Divino enxertou-se no Humano, a fim de chegarmos à plenitude da divinização.
Pela dinâmica do Espírito no seu íntimo, o Homem e é assumida e incorporado na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

É este o passo qualitativo que dá origem à Nova Humanidade. Jesus Cristo é o alicerce da comunhão orgânica que nos liga à Divindade.

Do mesmo modo, o Espírito Santo é o Sangue da Nova Aliança que vivifica os membros do corpo de Cristo.

Eis as palavras de São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios: “Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era velho passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação.

Com efeito, foi Deus que reconciliou o mundo consigo, em Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens e pondo em nós a palavra da reconciliação (2 Cor 5, 17-19).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ESPÍRITO DE DEUS HABITA EN NÓS-III

III-A FESTA DO MELHOR VINHO

Como princípio animador de relações, o Espírito Santo é uma pessoa divina que está constantemente inspirando atitudes de amor e comunhão às pessoas humanas.

Do mesmo modo ele vai insinuando atitudes novas de amor incondicional de Deus Pai para com Deus Filho e vice-versa.

Isto quer dizer que a Divindade não é uma realidade estática. Deus não pode ser enunciado como se de um substantivo se tratasse.

Deus é alguém que está sendo de modo constante, pois é uma emergência permanente de pessoas em convergência total de comunhão.

Graças ao dinamismo do Espírito Santo em nós, Deus revela-se como um Deus sempre novo.
Revelando-se e comunicando-se a nós pelo Espírito Santo.

Cristo ressuscitado é a fonte da Vida Nova e o Espírito o sangue vivificante que comunica dinamismo à nossa interacção familiar com Deus.

No relato das Bodas de Caná, Jesus é apresentado como o Noivo que nos introduz na festa da Vida Nova.

Ao dar-nos o Vinho Novo comunica-nos a alegria da Festa que anima o Homem Novo: “O chefe da mesa provou a água transformada em vinho, sem saber donde esta viera, se bem que os serventes que tinham tirado a água o soubessem.

O chefe, então, chamou o noivo e disse-lhe: Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o pior.

Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora” (Jo 2, 9-10). Entre a grande diversidade de símbolos que utiliza para falar de Jesus, o evangelho de São João usa o símbolo do noivo, aquele que está no centro da festa do Reino de Deus:

“João Baptista declarou: “Um homem não pode tomar nada como próprio se isso não lhe for dado do Céu.

Vós sois testemunhas de que eu disse: “Eu não sou o Messias, mas apenas o que foi enviado à sua frente.

O noivo é aquele a quem pertence a noiva. Mas o amigo do noivo, aquele que está a seu lado e o escuta sente muita alegria com a sua voz.

É esta a minha alegria, a qual já atingiu a sua plenitude. Agora ele deve crescer e eu diminuir (Jo 3, 27-30).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ESPÍRITO DE DEUS HABITA EN NÓS-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E A VERDADE

O Espírito Santo é o coração da verdade a emergir no coração das pessoas, de modo especial quando estas a se relacionam em dinâmica de amor.

Na verdade, as relações de amor são o campo fecundo para a verdade emergir. Como princípio animador de relações e vínculo maternal de comunhão orgânica, o Espírito Santo é o coração da verdade.

Podemos dizer que a verdade não é nunca o fruto de uma subjectividade encerrada em si. Deus é a fonte da verdade precisamente por ser uma comunhão amorosa de perfeição infinita.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo ilumina e suscita o melhor de cada pessoa, fazendo que esse melhor possa convergir.

Na verdade, o Espírito Santo Leva as pessoas a partilhar o melhor de si e a receber alegremente o melhor do outro, conduzindo-as à Verdade Plena.

Eis o que Jesus disse aos seus discípulos: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).

Depois, acrescenta noutra passagem: “Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade Plena” (Jo 16, 13).

De facto, o Espírito Santo está no centro da verdade a emergir na mente e no coração das pessoas.

São Paulo entendeu muito bem esta dinâmica do Espírito Santo em nós quando disse que o Espírito Santo habita no nosso coração como num templo (1 Cor 3, 16).

Nunca estamos sós, pois o Espírito Santo é uma presença que nos faz nascer de novo, a fim de nos conduzir à plenitude do Reino (Jo 3, 6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


sábado, 11 de outubro de 2008

QUANDO A VIDA HUMANA TEM SABOR DIVINO-I

I-A ORIGINALIDADE DA VIDA HUMANA

A Palavra de Deus assegura-nos que não nascemos para o vazio da morte e que não estamos a caminhar para uma solidão final.

A pessoa humana está talhada para o face a face do amor, pois levamos em nós as impressões digitais do Criador que é uma comunhão amorosa de três pessoas.

Isto significa que a nossa vocação fundamental é a nossa realização como pessoas capazes de encontro e comunhão amorosa.

É verdade que a nossa vida, na sua vertente exterior é tocada pela experiência morte.
Mas a pessoa humana não se esgota na sua dimensão exterior.

O nosso ser exterior esgota-se no nível biológico e psíquico. Este é o nível onde a morte tem domínio. O nosso ser interior tem densidade pessoal e espiritual, nível no qual a morte não pode tocar.

A nível do ser espiritual fazemos parte da galáxia da vida personalizada cujo núcleo é a comunhão das três pessoas divinas.

No início da criação do Homem, Deus insuflou o hálito da vida nesse barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7).

Este hálito primordial é o Espírito Santo que dá o impulso inicial da marcha da espiritualização do Homem.

Por ser o autor da Criação inteira, Deus entende a linguagem e a finalidade de todas as coisas criadas.

Como Deus é a interioridade máxima do Universo, ele vem ao nosso encontro a partir de dentro.
Na verdade, Deus é mais interior a nós que nós mesmos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO A VIDA HUMANA TEM SABOR DIVINO-II

II-O PROCESSO DE ESPIRITUALIZAÇÃO DO HOMEM

Ao encontrar-se com o Homem, Deus realiza uma aliança familiar, acolhendo-nos como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho de Deus.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo é quem nos introduz nesta comunhão orgânica da Família de Deus.

São Paulo intuiu muito bem este papel central do Espírito Santo na dinâmica da nossa divinização dizendo que ele é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Numa outra passagem da Carta aos Romanos, São Paulo diz que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Esta dinâmica de divinização acontece no coração da pessoa humana onde o Espírito Santo habita como num templo, diz a Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 3, 16).

Por ser a interioridade máxima do Universo, Deus está presente a todas as coisas, mas transcende-as infinitamente.

Mas os seres humanos, por estarem a construir-se como pessoas, são o interlocutor adequado para acolher a comunicação amorosa de Deus.

Por outras palavras, por estarmos em processo de realização pessoal somos seres proporcionais ao Deus de Jesus Cristo que é uma comunhão de três pessoas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO A VIDA HUMANA TEM SABOR DIVINO-III

III-QUANDO DEUS SINTONIZA COM O HOMEM

Deus sente os sons e as vibrações harmoniosas da génese criadora do Universo. Conhece também a multidão dos mistérios ocultos à inteligência dos homens.

E por ser um Deus comunicação e diálogo, dele emerge a verdade na aridez desumana onde ainda existe muita falsidade.

Se tivermos presente a natureza e a amplitude da Verdade, compreendemos a razão pela qual esta só pode habitar de modo pleno no coração de Deus.

De facto, a Verdade é a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade: Deus, o Homem, a História e o Universo.

Jesus tinha toda a razão quando afirmou: “Eu sou a o Caminho a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).

No evangelho de São João, Sempre que Jesus utiliza a expressão “EU SOU” está a afirmar a sua condição Divina.

Foi com a expressão “EU SOU” que Deus se revelou a Moisés no Monte Horeb, diz o Livro do Êxodo: “Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou.

Assim dirás aos filhos de Israel: “Eu Sou, enviou-me a vós!” (Ex 3, 14). Esta expressão é usada por Jesus com uma claridade indiscutível quando, no templo, ele afirma aos judeus:

“Jesus respondeu-lhes: “Em verdade em verdade vos digo: antes de Abraão existir “EU SOU” (Jo 8, 58).

Graças ao Espírito Santo que consagra profetas e apóstolos, não faltam vozes de denúncia neste mundo onde há tanta falta de critérios para edificar uma História com critérios humanizantes.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO A VIDA HUMANA TEM SABOR DIVINO-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E A HISTÓRIA HUMANA

Jesus garantiu aos discípulos que o Espírito Santo ficaria com eles conduzindo-os à Verdade Plena, a fim de inscreverem na marcha da História critérios de humanização:

“Quando o Espírito da Verdade vier, ele guiar-vos-á para a Verdade Plena” (Jo 16, 13). A dinâmica do Pentecostes continua a gerar forças de comunhão e renovação espiritual, fazendo jorrar a Água Viva no nosso coração (Jo 7, 37-39).

A presença do Espírito Santo no nosso íntimo continua a murmurar a Palavra da Verdade e a gritar o amor incondicional de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo continua a assegurar-nos que Cristo é o Senhor da Vida, pois Deus tomou partido por ele, ressuscitando-o.

A ressurreição de Cristo assegura-nos que Deus toma partido por aqueles que se comprometem pelas causas do amor.

A ressurreição de Jesus dá-nos a certeza de que o amor é uma razão que tanto vale para viver como para morrer.

Na verdade o amor é o único caminho que conduz à comunhão com o Deus Amor (1 Jo 4, 7-8).
Felizes dos seres humanos que se deixaram conduzir pelos convites do amor, pois estão a caminhar para a Comunhão Universal onde cada pessoa é um ponto de encontro e uma possibilidade de comunhão amorosa.

É este o sabor da vida que vai emergindo no coração das pessoas que passaram a vida a eleger os outros como alvo de bem-querer.

Na verdade, amar é eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitá-lo assim como é e agir de modo a facilitar a sua realização e felicidade.

Podemos dizer que o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Isto significa que a meta para a qual caminham as pessoas que tomam o amor a sério é a Comunhão Familiar da Santíssima Trindade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A NATUREZA HUMANA É IMAGEM DA DIVINA-I

I-A PERFEIÇÃO DA NATUREZA HUMANA

A natureza humana é um princípio de acção e estruturação pessoal. A natureza humana é imagem perfeita da divina. Com efeito, a natureza divina concretiza-se em pessoas e a humana também.

Ao mesmo tempo é o conjunto dos possíveis para edificação da humanidade como Comunhão Universal.

Podemos dizer que a natureza humana começa a surgir com os seres humanos, mas só se realiza de modo perfeito no concreto das pessoas em relações de amor.

Na verdade, Os seres humanos têm uma estrutura relacional talhada para o amor. Isto quer dizer que a meta da natureza humana é o amor.

Por outras palavras, a natureza humana começa por ser um dado biológico, mas está programada para atingir o nível espiritual.

Até atingir esta meta, a natureza humana passa por uma série de passos de estruturação os quais, por seu lado, possibilitam os saltos de qualidade que vão dar à vida pessoal.

Como vemos, a natureza humana é uma realidade dinâmica e só atinge o seu topo ao atingir a interioridade pessoal-espiritual em contexto de relações.

Não se trata, portanto, de uma essência, mas de um projecto. A nossa natureza tem duas faces interactivas: a face pessoal e a face social ou comunitária.

Nada é estático nesta realidade em estruturação. Isto quer dizer que a pessoa humana não encontra a sua plenitude em si, mas na reciprocidade das relações de amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NATUREZA HUMANA É IMAGEM DA DIVINA-II

II-A NATUREZA HUMANA FACE À DIVINA

A matriz a partir da qual emerge a realidade pessoal e espiritual é a natureza humana na sua vertente biológica e psíquica, de modo particular o cérebro.

É verdade que a nossa interioridade pessoal espiritual não se confunde com o nosso cérebro. Mas o cérebro é a matriz da nossa vida psíquica como também da nossa interioridade pessoal e espiritual.

Como princípio de acção estruturante a natureza humana culmina na capacidade de amar. O amor, portanto, pertence à cúpula da acção criadora da natureza humana.

Isto quer dizer que as recusas de amor implicam um dizer não às possibilidades mais nobres da natureza Humana.

Isto ajuda-nos a entender melhor o que significa dizer que a natureza divina é amor, isto é, pessoas em relações de comunhão amorosa.

Do mesmo modo, também a natureza humana é algo a emergir e a estruturar-se para a meta da comunhão amorosa.

Somos verdadeiramente imagem e semelhança de Deus. Os filósofos pagãos da antiguidade grega e mais tarde os filósofos cristãos medievais, pensavam erradamente que a natureza divina era uma essência estática.

Ao contrário do que pensavam estes filósofos, Deus é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita, em total convergência de comunhão amorosa.

Podemos dizer que a natureza divina é imutável no sentido de não poder deixar de ser uma novidade a emergir de modo sempre novo.

Deus é novidade permanente no modo de se exprimir como ternura paternal na Primeira pessoa, a Segunda como ternura filial e a terceira como ternura maternal divina.

Estamos muito longe de Aristóteles que definia Deus como o primeiro motor imóvel.
Esta afirmação é totalmente contrária à noção bíblica de Deus.

Segundo a bíblia, Deus está constantemente a fazer história com o seu povo errante e nómada.
O Deus da bíblia acompanha o povo e muda de sentimentos de acordo com a diversidade das situações.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NATUREZA HUMANA É IMAGEM DA DIVINA-III

III-POSSIBILIDADES E LIMITES DA NATUREZA HUMANA

Sem tomarmos os relatos bíblicos à letra, devemos ter presente que eles transmitem uma verdade importante: Deus não é uma realidade estática.

O mesmo acontece com a natureza humana. Começa por ser uma realidade biológica, a qual contém em si um leque imenso de possibilidades de realização pessoal e espiritual.

A vertente biológica da natureza, interagindo com a vertente social e cultural constituem o leque primordial dos nossos talentos ou possibilidades de realização.

Com efeito, o ser humano começa por ser o que os outros fizeram dele. Cada pessoa recebe o seu leque próprio de talentos.

No evangelho de São Mateus, Jesus diz que uns recebem cinco talentos, outros três, dois ou um (Mt 25, 14-30).

Ninguém é herói por receber cinco, como ninguém é culpado por receber um. Com efeito, a heroicidade radica na fidelidade. A pessoa realiza-se de modo pessoal e espiritual na medida em que procura realizar os talentos que recebeu como possíveis.

À medida que se realiza como pessoa, o ser humano está a edificar aquilo que vai ser por toda a eternidade.

A luta das ciências contra o envelhecimento e a morte pode conseguir maravilhas. Mas não será nunca uma vitória total no sentido de atingir a a-mortalidade, isto é, não passar pela situação da morte.

A verdadeira a-mortalidade é a imortalidade, o que não significa o continuação indefinida da vida biológica.

O sentido mais profundo da nossa existência não é manter a qualquer preço a vida mortal, mas edificar a vida imortal.

A razão de ser da nossa vida na história é edificar a vida imortal, isto é, a vida pessoal-espiritual, a qual encontra a sua plenitude na comunhão com as pessoas divinas.

É esta a verdadeira vitória sobre o envelhecimento e a morte, como diz São Paulo: “Por isso não desfalecemos.

E apesar de em nós, o homem exterior caminhar progressivamente para a ruína e a morte, o homem interior renova-se e robustece-se dia a pós dia.

De facto, a nossa tribulação momentânea proporciona-nos um peso eterno de glória, muito além do que possamos calcular.

Por isso não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, pois as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

A NATUREZA HUMANA É IMAGEM DA DIVINA-IV

IV-A COMUNHÃO ORGÂNICA COM DEUS

O evangelho de São João diz que a vida eterna se conquista através de um segundo nascimento através do Espírito Santo (Jo 3, 6).

Isto quer dizer que crescer espiritualmente é um processo e uma tarefa. Graças ao acontecimento da Encarnação, a comunhão humana universal está já divinizada, pois o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado.

A natureza humana, tal como a divina concretiza-se em pessoas.A plenitude da pessoa não está em si, mas na plenitude da comunhão.

A Divindade é uma família de três pessoas, onde cada pessoa encontra a sua plenitude na reciprocidade da comunhão com as outras.

É por esta razão que a Santíssima Trindade não é um conjunto de três deuses, mas uma divindade constituída pela comunhão de três pessoas.

Do mesmo modo, a Humanidade é apenas uma, apesar de estar a edificar-se como uma comunhão universal constituída por biliões de pessoas.

As pessoas humanas estão a realizar-se à imagem e semelhança de Deus. Por outras palavras, as pessoas humanas não são iguais às divinas, mas são-lhe proporcionais e por isso foi possível acontecer a Encarnação, isto é, a união orgânica e interactiva do divino com o humano.

Segundo o plano criador de Deus, a plenitude da natureza humana acontece na interacção amorosa com a Divindade.

Este plano de Deus concretizou-se no mistério da Encarnação essa interacção dinâmica que une de modo orgânico a pessoa do Filho Eterno de Deus com a pessoa de Jesus de Nazaré.

Do mesmo modo, a pessoa de Deus Pai e a pessoa de Deus Filho formam uma interacção orgânica e dinâmica que levou Jesus a declarar: “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10, 30).

Ao falar da comunhão eucarística, Jesus disse que nós fazemos uma união com ele em tudo semelhante à união orgânica que existe entre ele e o seu Pai:

“Quem come a minha carne bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também, quem me come viverá por mim” (Jo 6, 57-58).

O mistério da Encarnação realiza uma união orgânica em tudo idêntica à união que existe entre Deus Pai e o Filho eterno de Deus.

No evangelho de São João, Jesus explica de modo genial o carácter orgânico da união que nos liga a ele:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer (Jo 15, 4-5).

A salvação das pessoas humanas, portanto, consiste na sua incorporação e assunção na comunhão com as pessoas divinas.

A plenitude da natureza humana é, pois, a sua divinização, a qual acontece como incorporação na comunhão orgânica da Santíssima Trindade.

Como podemos ver, os mistérios de Deus e de Cristo são como que dois faróis que fazem ver o sentido mais profundo da natureza e da vida humana.

No evangelho de São João, Jesus explicita de modo perfeito a união orgânica que liga humanidade com a Divindade:

“Pai, não rogo apenas por estes mas por todos os que hão-de crer em mim, por meio da sua Palavra, a fim de todos serem um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Faz que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que tu me deste, de modo que eles sejam um, como nós somos um:

Eu neles e tu em mim, a fim de poderem chegar á plenitude da unidade e assim o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste a eles como me amaste a mim”. (Jo 17, 20-23).

É nesta interacção orgânica e dinâmica que a natureza humana atinge a sua plenitude divina.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

sábado, 4 de outubro de 2008

A SABEDORIA QUE EMANA DA CRUZ DE CRISTO-I

I-A CRUZ E A FORÇA DA SALVAÇÃO

A cruz de Jesus Cristo é uma fonte de Sabedoria que ilumina o mistério de Deus, de Jesus Cristo e do Homem.

No alto da cruz, Jesus garantiu ao Bom Ladrão que nesse mesmo momento ia abrir o Paraíso fechado pelo pecado de Adão (Lc 23, 43).

A cruz de Jesus fala-nos do acontecimento da morte e ressurreição de Jesus graças ao qual a Humanidade deu um salto de qualidade:

O véu do templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27, 51). Com este relato, os evangelistas querem dizer que a Humanidade tem acesso directo a Deus.

Na verdade, o véu do templo era um cortinado que separava o Santo dos Santos, isto é, o lugar da presença de Deus, da parte onde estavam os fiéis.

Só o sumo-sacerdote entrava no Santos dos Santos para comunicar com Deus. Agora todos têm acesso a Deus como membros da família divina: Filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Foi na cruz que teve início a divinização do homem. Este acontecimento, diz São Paulo, representa a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos o ser humano é incorporado na Família de Deus e clamar: “Abba ó papá” (Gal 4, 4-7).

Foi no momento da morte e ressurreição de Jesus sobre a cruz que os túmulos começam a abrir-se e os justos a ressuscitar com Cristo (Mt 27, 52).

Este relato quer dizer que foi na da cruz de Cristo que teve início a ressurreição da Humanidade.
Se Cristo é o Novo Adão, isto é, a cabeça da Nova Humanidade, não tinha sentido ressuscitar a cabeça e o corpo não.

De facto, diz São Paulo, nós somos corpo de Jesus Cristo e seus membros, cada qual com sua função (1 Cor 12, 27).

EmComunhão convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA QUE EMANA DA CRUZ DE CRISTO-II

II-A CRUZ E A DIFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO

Foi a partir da cruz que comunicou a difusão do Espírito Santo. De facto, no momento em que o soldado espeta a lança no coração de Jesus sai sangue e Água (Jo 19, 34).

A água é a Água Viva como Jesus tinha ensinado aos Apóstolos, a qual provoca uma nascente de Vida Eterna no coração da pessoa humana (Jo 7, 37-39).

As pessoas que beberem desta Água, disse Jesus à Samaritana, nunca mais terá sede (Jo 4, 14).
O sangue é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo enquanto princípio que nos comunica a Vida de Jesus ressuscitado.

Foi isto que Jesus disse aos judeus quando lhes explicou que a carne e sangue que nos alimenta são a dinâmica amorosa do Espírito Santo e não uma realidade de ordem biológica (Jo 6, 63)

O Espírito Santo é o sangue de Cristo ressuscitado, o qual é uma realidade de oram espiritual (Jo 6, 62).

Os que são vivificados por este sangue recebem a vida eterna e ressuscitam com Jesus Cristo, como ele mesmo disse (Jo 6, 54-55).

Foi a partir da cruz que o Espírito Santo rompe com as fronteiras estreitas da fé judaica.
Na verdade, no momento em que Jesus morre e ressuscita no alto da cruz, o primeiro a reconhecê-lo como Filho de Deus foi o centurião romano, um pagão e não um judeu.

Mas a cruz de Jesus Cristo não nos fala de um Deus Pai cruel, capaz de exigir a morte violenta do seu próprio Filho Unigénito.

Um Deus vingativo, incapaz de perdoar sem exigir tormentos e maus tratos. As pessoas que desfiguraram assim o rosto de Deus Pai não se davam conta que Deus é uma Família Trinitária cuja dinâmica é o amor e a reciprocidade.

O que Deus Pai sente em relação a nós também o sente o seu Filho Unigénito, bem como o Espírito Santo.

Jesus curava os doentes e perdoava os pecados, afirmando que era esta a vontade de Deus Pai.
Justificava o seu procedimento, dizendo que estava a proceder de Acordo com a missão que o Pai lhe tinha confiado:

“O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

Noutra passagem ainda mais explícita, afirmou: “Eu não desci do Céu para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6, 38-39).

Se é este o jeito de Deus amar e perdoar, como é que ele podia ter exigido a morte cruel de Jesus Cristo?

Deus não ama o pecado, e a morte de Jesus foi um pecado, pois ele era o mais inocente dos homens.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA QUE EMANA DA CRUZ DE CRISTO-III

III-OS APÓSTOLOS E A MORTE DE JESUS NA CRUZ

Perante a dificuldade de justificar o facto de Jesus ter morrido como um criminoso ou um malfeitor, os Apóstolos recorrem ao texto do Justo Sofredor do profeta Isaías (cf. Is 52,13-53-12).

Este texto e o Salmo 21 são duas reflexões profundas sobre um tema chocante para a mentalidade bíblica:

Como é possível haver justos que sofrem? Os dois textos tentam encontrar um sentido e responder a este facto chocante para a razão.

A resposta encontrada é a de que o sofrimento do justo tem valor redentor para os pecadores.
Os dois textos afirmam que Deus toma partido pelos justos que sofrem.

Deus vem em socorro do justo que sofre, conduzindo-o ao sucesso derradeiro que é a vitória sobre a morte.

Ao tomar partido pelo justo sofredor, Deus liberta-o a ele e ao povo com o qual ele forma uma união orgânica, interactiva e dinâmica.

O povo que sofria no exílio da Babilónia foi liberto, pois aí havia justo a sofrer. Podemos encontrar muitos ecos destes textos ao longo do Novo Testamento.

Os discípulos de Jesus, ao anunciarem aos judeus que ele é Messias dizem que a morte de Jesus tinha de ser aquela, pois já estava anunciada pelos textos do Servo Sofredor.

Graças ao sofrimento deste justo os pecadores foram redimidos. A Primeira Carta de São Pedro diz que Jesus foi o justo Sofredor que carregou com os nossos pecados, citando o profeta Isaías:

“Carregou sobre si os nossos pecados sobre o madeiro da Cruz, a fim de que nós, estando mortos para o pecado, possamos viver na justiça. Fomos curados nas suas feridas” (1 Pd 2, 24).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SABEDORIA QUE EMANA DA CRUZ DE CRISTO-IV

IV-O AMOR TUDO DESCULPA

A bíblia diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7; 16). Isto quer dizer que as pessoas divinas nada podem contra ao mor, de contrário, Deus estava a negar-se a si mesmo.

A nossa fé diz-nos que Deus é amor incondicional, isto é, perdoa sempre sem necessidade de qualquer reparação ou desagravo.

Falar da justiça de Deus não significa falar de um acto forense, isto é, um julgamento de tribunal.
Se Deus é amor, a sua justiça não pode ser outra senão a justiça do amor e o amor nunca se vinga, diz São Paulo:

“O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 7-8).

Se Deus é amor, então temos de reconhecer que Deus é assim, quer se trate do pai, do filho ou do Espírito Santo.

Esta é a luz que nos vem da Sabedoria da cruz de Jesus Cristo, a qual nos fala da plena fidelidade de Jesus à missão que Deus lhe confiou.

A sabedoria da cruz de Cristo convida-nos a sermos fieis como Jesus foi. Na verdade, da nossa fidelidade à vontade de Deus pode depender a felicidade de muitos irmãos nossos.

A morte violenta de Jesus foi o resultado abominável da ingratidão humana. Mas a sabedoria que emerge da cruz confirma-nos de que Deus toma partido pelos que gastam a vida pelas causas do amor.

O amor de Jesus Cristo por nós é o reflexo do amor que Deus Pai nos tem. São Paulo entendeu muito bem a união que existe entre o amor de Deus Pai e o amor de Cristo. Eis as suas palavras:

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que em Jesus Cristo nos reconciliou com Deus, não levando mais em conta o pecado dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

A Primeira Carta a Timóteo diz que Jesus Cristo é o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tim 2, 15).

A Carta aos Colossenses descreve o projecto salvador que Deus sonhou para nós e realizou em Jesus Cristo:

“Jesus Cristo é a imagem perfeita do Deus invisível, o primogénito de toda a Criação. Foi de acordo com ele que as coisas do Céu e da Terra foram criadas, tanto as visíveis como as invisíveis.

Tanto as do Céu como as da Terra (…). Tudo foi criado nele e por ele. Ele é anterior a todas as coisas e todas subsistem por ele.

Ele é a cabeça da Igreja e o princípio, o primogénito de entre os mortos, a fim de ter a primazia em todas as coisas.

Aprouve a Deus que habitasse nele toda a plenitude, a fim reconciliar consigo todas as coisas em Cristo e por Cristo” (Col 1, 15-20).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-I

I-A NOVA CRIAÇÃO COMO PROJECTO DE DEUS

O Livro do Génesis diz que Adão, com o seu pecado, colocou a Humanidade em processo de fracasso (Gn 3, 17-19).

Deus tinha sonhado uma convivência com o Homem em clima de aliança, a qual viria a culminar na Encarnação, condição para o Homem ser incorporado na Família de Deus.

Na verdade, a Encarnação acontece como enxerto do divino no humano, condição para este ser divinizado.

Devido à distorção introduzida por Adão nas relações com Deus, a Aliança fora interrompida e o projecto de Deus tinha de ser recriado.

De facto, o projecto de Deus levava consigo a possibilidade de ser recriado através de uma Nova Criação.

O mistério da Encarnação sonhado por Deus, houvesse ou não pecado, tornou-se um processo de redenção.

Através desta redenção, o Filho de Deus assumiu a condição do justo sofredor, realizando deste modo a reconciliação da Humanidade com Deus.

Esta reconciliação em Cristo, diz São Paulo, faz da Humanidade uma Nova Criação (2 Cor 5, 17-19).

Já o profeta Jeremias tinha anunciado que Deus ia realizar uma Nova e Eterna Aliança mediante a criação de um coração novo para o Homem:

“Dias virão em que firmarei uma Nova Aliança com a Casa de Israel – oráculo do Senhor. Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão, a fim de os fazer sair da terra do Egipto.

Eles não cumpriram a aliança que fiz com eles, apesar de eu ser o seu Deus e libertador, oráculo do Senhor.

Esta é a aliança que eu vou estabelecer com eles quando chegarem esses dias, oráculo do Senhor:
Imprimirei a minha lei no seu íntimo e escrevê-la-ei no seu coração.

Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jer 31, 31-33).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-II

II-JESUS CRISTO E A NOVA CRIAÇÃO

Esta Nova Criação Deus a realizou através de Jesus Cristo. O evangelho de São João diz que Jesus, ao ressuscitar, introduziu em nós a dinâmica restauradora do Espírito Santo que faz brotar em nós um manancial de vida Eterna (Jo 7, 37-39).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Pelo facto de estarmos unido a Cristo de modo orgânico, a Nova Criação aconteceu no nosso coração em forma de reconciliação.

Graças ao facto de fazermos um com Cristo, Deus já não leva em conta os nossos pecados. Eis as suas palavras:

“Se alguém este em Cristo é uma Nova Criação. Passou o que era velho e eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que nos reconciliou consigo em Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

Segundo o evangelho de são João, a Nova Criação acontece através de um novo nascimento.
Este nascimento dá-se mediante o Espírito Santo (Jo 3, 3-6).

A primeira Carta de São João diz que Deus colocou em nós a sua semente, isto é, o Espírito Santo, a fim de não nos tornarmos escravos do mal (1 Jo 3, 9).

A primeira carta aos Coríntios diz que tal como o homem e a mulher fazem uma só carne, o que se unem a Cristo formam com ele um só espírito (1 Cor 6, 17).

Referindo-se à comunhão Eucarística, o evangelho de o evangelho de São João diz que o Espírito Santo é a Carne e o Sangue de Cristo ressuscitado a comunicar-nos a vida do próprio Cristo (Jo 6, 62-63).

É esta a dinâmica da Nova Criação, a qual implica uma Vida Nova glorificada com Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia” (Jo 6, 54).

Depois especifica dizendo que esta vida eterna acontece como comunhão orgânica: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo, aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

Como vemos, Jesus afirma de modo muito claro que a sua união ao Pai é de tipo orgânico. Ele explicita isto muito melhor noutra passagem em que afirma: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30).

Num outro ensinamento importante, Jesus diz que a união orgânica que nos une a ele faz-nos participantes da sua própria dinâmica vital:

“Permanecei em mim que permaneço em vós. Tal como os ramos não podem dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

É esta, na verdade, a dinâmica vital da Nova Criação. É este o Homem Novo recriado em Cristo.

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Calmeiro Matias

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-III

III-ESPÍRITO SANTO E A NOVA CRIAÇÃO

A seiva que alimenta os ramos, isto é, o Espírito Santo, vem da cepa para os ramos. A Carta aos efésios diz que a presença do Espírito Santo em nós é o selo que nos dá a garantia de que temos um lugar assegurado na Festa da Salvação:

“Foi em Cristo que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido. Ele é a garantia da nossa herança eterna e nos capacita para dela tomarmos posse, no dia da Salvação” (Ef 1, 13-14).

A Carta soa Romanos diz que aqueles que vivem unidos já não correm qualquer perigo de caminharem para o fracasso:

“Agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus. Com efeito, a lei do Espírito da Vida libertou-nos do pecado e da morte em Cristo Jesus (Rm 8, 1-2).

A Nova Criação, portanto, já é possuidora da Vida Eterna em Cristo ressuscitado. Ao ressuscitar Jesus, Deus fez-nos sentar com ele nos Céus, diz a Carta aos Efésios (Ef 2, 6).

A Primeira Carta aos Coríntios diz que nós somos o Corpo de Cristo e seus membros (1 Cor 12,27).

É normal que onde esteja a cabeça estejam também os outros membros do corpo. Por outras palavras, através da ressurreição de Cristo, Deus restaurou a Humanidade, fazendo dela uma Nova Criação.

Esta restauração, diz São Paulo, é um dom totalmente gratuito: “Deus chamou-nos e salvou-nos através de um chamamento santo.

Não em atenção às nossas obras, mas de acordo com o seu próprio desígnio e a graça que nos concedeu em Cristo Jesus antes de todos os séculos.

Esta graça foi agora revelada pela manifestação do nosso salvador, Jesus Cristo, o qual veio destruir a morte e a difundir a Vida Nova por meio do Evangelho” (2 Tm 1, 9-10).

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Calmeiro Matias

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-IV

IV-A NOVA CRIAÇÃO COMO GRAÇA DE DEUS

Este projecto foi sonhado por Deus desde toda a Eternidade, diz São Paulo: “Porque àqueles que Deus de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem de seu Filho.

Deste modo, o Filho de Deus tornou-se o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29). O Filho de Deus foi desde toda a eternidade o Filho Unigénito.

Mas pela Encarnação tornou-se o primogénito de muitos irmãos. Pela dinâmica da Encarnação, o nosso Deus descentrou-se, abriu as portas da Família divina para acolher a multidão das pessoas humanas.

Isto é um dom, é obra da graça de Deus que emerge no nosso coração pela acção do Espírito Santo.

Não é uma divindade egocêntrica a girar incessantemente à volta de si mesmo. Na Carta aos Filipenses, São Paulo aconselha os crentes a viverem com plena confiança, pois Deus realizará em nós a obra da Nova Criação.

“Estou certo de que o Deus que em vós deu início a uma obra excelente, há-de conclui-la para o dia de Cristo Jesus” (Flp 1, 6).

A salvação é uma dinâmica a acontecer no coração do Homem, através do Espírito Santo. Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Eis o que diz a Carta aos romanos: “De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravos, mas um Espírito de adopção graças ao qual clamamos: “Abba”, Papá.

O mesmo Espírito Santo dá testemunho no interior do nosso espírito de que realmente somos filhos de Deus.

Ora se somos filhos somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

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Calmeiro Matias

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-V

V-NOVA CRIAÇÃO E LIBERDADE

Para poder comprometer-se com a Nova Aliança e ser fiel a esse compromisso, o Homem não pode ser escravo.

Ao proporcionar-nos a Nova Aliança, Deus realizou a obra da libertação através de Jesus. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Lucas:

“O Espírito de Deus está sobre mim porque me ungiu. Consagrou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres e realizar a libertação dos cativos.

Enviou-me conceder a vista aos cegos e a mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18). São Paulo entendeu muito bem o alcance libertador da missão de Jesus Cristo.

Para ele a Nova Criação representa um salto de qualidade em relação à Antiga e não apenas de uma simples remodelação.

Por outras palavras, Jesus não veio a colocar apenas um remendo no rasgão provocado por Adão no tecido histórico da humanidade.

Trata-se de um salto de qualidade e não apenas de um remendo colocado na situação do Homem fracassado.

Eis o que São Paulo diz na Carta aos Gálatas: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.
Permanecei, pois, firmes, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Ga 5, 1).

A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e interagir
criativamente com as coisas e os acontecimentos.
As pessoas que fazem parte de Nova Criação são seres profundamente livres.

Não devemos confundir liberdade com o livre arbítrio que é apenas a possibilidade de a pessoa chegara ser livre.

Na verdade, o livre arbítrio é a capacidade psíquica de escolher pelo bem ou pelo mal. Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio.

Com efeito, Deus não pode escolher optar pelo mal. Por outras palavras, Deus, ao contrário do Homem, não é uma liberdade em construção.

O Homem não se pode tornar livre sem exercer o livre arbítrio, mas não lhe basta exercer o livre arbítrio para se tornar livre.

Isto quer dizer que a pessoa humana apenas se torna livre na medida em que opta pelo bem. À medida que opta pelo bem, o ser humano realiza-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Em Deus, a liberdade atinge o nível de perfeição máxima. Na pessoa humana, pelo contrário, a liberdade é um processo de libertação realizado pela dinâmica do amor.

O bebé não é um ser livre, mas nasceu com a possibilidade de o ser. Podemos dizer que a liberdade humana é o resultado de uma cadeia de opções, escolhas, decisões e compromissos na linha do amor e que ninguém pode realizar por nós.

Por outras palavras, os outros não são capazes de nos tornar livres, embora nós, para nos tornarmos livres, tenhamos que nos relacionar com os demais seres humanos.

São Paulo entendeu muito esta dinâmica histórica e amorosa do processo de libertação. Eis o que ele diz na Carta aos Gálatas:

“Irmãos, vós fostes chamados à liberdade. Mas tomai atenção, para que a liberdade vos não sirva de pretexto para servir a carne (a velha Criação).

Pelo contrário, colocai-vos ao serviço uns dos outros através do amor fraterno” (Gal 5, 13).
Os que fazem parte da Nova Criação participam da Vida Nova de Cristo:

“ Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…).

Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus” (Rm 8, 35-39).

As pessoas que pertencem à Nova Criação levam no seu íntimo um impulso libertador novo a que São Paulo chama a Lei do Espírito Santo.

Eis o que ele diz na Carta aos Romanos: “Agora já não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus.

A lei do Espírito que dá a vida libertou-vos da lei do pecado e da morte através de Cristo” (Rm 8, 1-2).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

NOVA CRIAÇÃO PARA UMA NOVA ALIANÇA-VI


VI-NOVA CRIAÇÃO E VITÓRIA SOBRE A MORTE

O Novo Testamento é a proclamação de uma Boa Nova que ultrapassa tudo aquilo que o Homem pudesse sonhar:

Cristo ressuscitou e com ele a Humanidade está em dinâmica de ressurreição. Graças ao mistério da Encarnação passámos da condição de Humanidade organicamente unida a Adão para a condição de uma Nova Humanidade unida organicamente unida a Cristo.

Eis o que diz a Carta aos Romanos: “Assim como pelo pecado de um só veio a condenação para todos os homens, do mesmo modo, pela obra de justiça de um só veio para todos a justificação e a Vida eterna.

Assim como pela desobediência de um só todos se tornaram pecadores, assim, também, pela obediência de só todos foram justificados” (Rm 5, 17-19).

Por outras palavras, a passagem para a condição de uma Nova Criação aconteceu pela ressurreição de Cristo, diz a Primeira Carta aos Coríntios:

“Assim como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos recebem a plenitude da vida” (1 Cor 15, 22).

Passar da velha para a Nova Criação não é apenas uma questão de mudar de fato. A nova Criação implica a passagem do homem carnal para a condição de homem espiritual, diz São Paulo:

“O que vos digo, Irmãos, é que o Homem terreno não pode herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdará a incorruptibilidade (1 Cor 15, 50).

A nossa vitória sobre a morte é, pois a participação na vitória de Cristo ressuscitado. Isto é possível porque somos o corpo de Cristo (1 Cor 12, 27).

A força que venceu a morte em Jesus, isto é, o Espírito Santo, circule em nós como força ressuscitadora:

“Se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos?

Se não há ressurreição dos mortos também Cristo não ressuscitou” (1 Cor 15, 12-13). Depois acrescenta:

“Mas não é assim, pois Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias da ressurreição dos mortos.

De facto, assim como por um homem veio a morte, assim também, por um só homem vem a ressurreição dos mortos” (1 Cor 15, 20-21).

A Nova Criação realizada em Cristo, oferece a Deus condições perfeitas para poder acontecer a Nova e Eterna Aliança!

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Calmeiro Matias

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-I

I-A CONDIÇÃO HISTÓRICADA PESSOA

A pessoa é um mistério, isto é, uma realidade não evidente. Na verdade, as pessoas, na sua realidade mais profunda, não são evidentes.

Mas revelam-se de modo gradual e progressivo através das relações, sobretudo através das relações de amor.

Só o amor consegue desmontar as defesas através das quais a pessoa não se deixa invadir pelo outro.

Por estarmos em realização histórica, ainda não somos seres na sua plenitude. Somos seres históricos, tanto na nossa realidade corporal, como no nosso ser espiritual.

É por esta razão que nós, para nos dizermos, temos de contar uma história. Somos todos diferentes, não apenas a nível genético como também a nível de vivências históricas.

Eis a razão pela qual cada pessoa é única, original e irrepetível. Devido à nossa condição de seres históricos, o nosso presente interage com o passado e prepara as possibilidades de futuro.

O nosso passado condiciona-nos, mas não anula as nossas possibilidades de realização. Na verdade, as outras pessoas possibilitaram-nos, mas também nos condicionaram.

Com efeito, começamos por ser o que os outros fizeram de nós, mas o mais importante é o que agora fazemos com as possibilidades que re4cebemos dos demais.

Quanto melhor conhecermos a nossa história pessoal, melhor nos podemos dar conta do leque de possibilidades e também dos condicionamentos que nos limitam.

No fundo é a questão dos talentos de que Jesus falava (Mt 25, 14-30). Ninguém é herói por ter recebido muitos talentos, como ninguém é culpado por ter recebido poucos.

Neste ponto, a heroicidade acontece no modo como nos realizamos, fazendo render os nossos talentos.

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Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-II

II-A CONSCIÊNCIA DAS PRÓPRIAS POSSIBILIDADES

Podemos colocar-nos algumas questões que nos ajudam a tomar consciência da nossa realidade histórica, bem como das nossas possibilidades e condicionamentos:

Como foi a minha infância?
Que coisas positivas recordo com agrado?

Quais os condicionamentos de e traumas que recordo com mais frequência?
O que é que eu valorizava mais nos amigos da infância?

Que pessoas me marcaram mais neste período primordial da minha existência?
Qual o momento mais feliz da minha infância?

Como foram despertando em mim as tendências, tanto as positivas como as negativas, da adolescência?

Quais as razões que me motivaram a decidir-me pelo meu estilo de vida?
Que pessoas me influenciaram mais na adolescência e na fase da juventude?

Que estilo de amigos eu tinha e quais os amigos da minha preferência?
Recordo alguns traumas e experiências dolorosas da minha adolescência?

Qual a maior alegria que me lembro ter tido na adolescência?
Quais as experiências mais dolorosas que me marcaram na infância e na adolescência?

Quais os valores que mais me motivam na presente etapa da minha vida?
Quais as qualidades que mais valorizo em mim?

Qual o estilo de pessoas que mais me cativam?
Quais as qualidades e atitudes que valorizo mais nas pessoas com quem convivo?

Quais as mudanças positivas que me estão a acontecer e a marca nesta fase da minha vida?
Quais as qualidades e talentos que reconheço em mim e que podem ser muito válidas para ajudar os outros?

Sinto-me um membro positivo e cooperante no contexto em que vivo?
Como sinto e aprecio o empenhamento e a colaboração das pessoas com quem vivo?

Tenho consciência de que a pessoa é um ser a construir-se através das suas atitudes e opções?
Tenho consciência de que a pessoa se faz, fazendo, realizando e agindo de acordo com os apelos do amor?

Tenho presente e que a pessoa humana só pode realizar-se em relações.

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Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-III

III-A CONSCIÊNCIA E OS VALORES

Os valores que os outros inscreveram em nós através da educação foram configurando a nossa consciência.

À medida que os valores vão sendo comunicados à criança, esta começa a sentir o chamamento dos valores como um apelo vindo da sua consciência.

Isto não pode acontecer se a pessoa não tiver um contexto de relações com um mínimo de qualidade humanizante.

Quando a criança começa a habitar-se, isto é, a ser consciente, já está habitada por aqueles que lhe foram comunicando os valores.

Mas a pessoa humana não é uma fotocopiadora, isto é, não se limita a receber os dados e a mantê-los como coisas estáticas.

É verdade que os primeiros conteúdos da consciência são o que a pessoa recebeu dos outros.
Mas os dados recebidos são tijolos para construir o edifício da pessoa a emergir e a estruturar-se na história.

Podemos dizer que os valores são apelos ideais que convidam a pessoa a estruturar-se de acordo com eles.

Por se situarem ao nível do ideal, os valores são uma interpelação e um convite a ir mais longe, pois o real humano nunca atinge de modo pleno a meta do seu ideal.

Por outras palavras, existe uma distância entre o ideal proposto pelos valores e o real da pessoa em construção.

À medida que vão sendo inscritos na consciência, os valores tornam-se, pois, uma voz que interpela a pessoa a agir de acordo com eles.

Como a pessoa é um ser que vive e se realiza em sociedade, os valores interpelam tanto no sentido da humanização da pessoa como no sentido da humanização da sociedade.

À medida que a pessoa responde ao chamamento dos valores estes começam a moldar e a estruturar o próprio modo de ser da pessoa.

Eis alguns exemplos que nos ajudam a compreender a interacção entre os valores, a consciência e a estruturação humana:

A pessoa que age em conformidade com o valor “verdade” vai-se tornando verdadeira. À medida que a pessoa age em harmonia com os apelos da liberdade, torna-se livre.

O ser humano que age em conformidade com o valor “Justiça” torna-se uma pessoa justa. Do mesmo modo, a pessoa que age em harmonia com o valor fidelidade, torna-se cada vez mais fiel.

Os valores não são inscritos em todas as pessoas da mesma maneira. É por esta razão que as consciências não são todas iguais.

Recorrendo ao exemplo dos talentos, diríamos que o amor com que os outros nos amaram e os valores que inscreveram em nós, há pessoas que receberam cinco talentos, outras receberam apenas três, dois ou um.

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Calmeiro Matias

A GRANDEZA DO HOMEM SONHADO POR DEUS-IV

IV-A DIMENSÃO ESPIRITUAL DA PESSOA

A pessoa não se esgota na sua dimensão biológica. A nível biológico, a pessoa humana é uma obra-prima feita barro, como diz a bíblia (cf. Gn 2,7a).

Mas o corpo da pessoa é apenas a matriz de uma outra obra-prima feita de espírito, cujo princípio animador é o hálito da vida divina (Gn 2, 7b).

Por outras palavras, a pessoa humana é uma obra-prima feita de barro em cujo interior está a emergir e a estruturar-se outra obra-prima feita de espírito.

A pessoa humana é um ser talhado para o amor. Só atinge a sua plenitude na comunhão amorosa.

De facto, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A pessoa é um ser talhado para as relações. Ninguém vê o seu próprio rosto. Estamos talhados para o face a face.

É por esta razão que, de modo directo, só vemos o rosto dos outros, não o nosso. Para se crescer de modo equilibrado, a pessoa deve alimentar a intimidade, sentir-se perto dos outros através do amor, isto é, sentir-se compreendida e aceite.

Esta necessidade de comunicação e intimidade a nível emocional como intelectual, físico e espiritual faz-se sentir ao longo de toda a vida, embora com matizes diferentes.

A fé cristã assegura-nos que Deus não é um sujeito isolado e sozinho. A Divindade é uma família de três pessoas.

Esta necessidade de relações amorosas e de comunhão resultam, afinal, do facto de sermos criados à imagem e semelhança de Deus.

A fé cristã afirma que, após a morte, o ser humano já possui apenas a sua dimensão pessoal-espiritual.

Por outras palavras, na Festa do Reino de Deus, as pessoas humanas são seres plenamente espiritualizados.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Jesus respondeu aos saduceus: “Estais enganados, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.

Na ressurreição nem os homens terão mulheres nem as mulheres maridos, pois serão como anjos de Deus no Céu” (Mt 22, 29-30).

Podemos dizer que o nosso ser espiritual emerge no interior do nosso ser exterior como o pintainho dentro do ovo.

Virá um dia em que o ovo rebenta, e o pintainho nasce para a plenitude da vida que é a comunhão universal da Família de Deus.

Isto quer dizer que a vocação fundamental do ser humano não é apenas prolongar o mais possível a vida mortal, mas edificar, através do amor, a Vida Eterna.

São Paulo diz isto de modo muito feliz, quando afirma: “Por isso não desfalecemos. E mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia pela acção do Espírito Santo.

A nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Por esta razão, não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, pois as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

A pessoa humana está em realização histórica. Manterá eternamente a sua identidade histórica.
A identidade eterna da pessoa é de ordem espiritual e, portanto, definitiva.

A pessoa emerge espiritualmente à medida que se vai humanizando. A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Emergir como interioridade pessoal significa, portanto, atingir uma maior densidade espiritual.

Por outro lado, convergir para a comunhão universal significa ganhar maior capacidade para interagir com as pessoas humanas e as divinas na Comunhão da Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias