terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O HOMEM NO PLANO CRIADOR DE DEUS-III

III-DEUS, O HOMEM E A CRIAÇÃO

Como obra saída das mãos de Deus, a Criação leva a bondade inscrita no seu íntimo. O Livro do Génesis repete várias vezes que Deus olhou para as obras que criou e viu que tudo era bom. (cf. Gn 1, 1-2, 7).

O Novo Testamento vai mais longe nesta afirmação da bondade da Criação, pois olha o projecto criador de Deus à luz de Cristo ressuscitado.

Os fariseus com as suas distorções dualistas dividiam as coisas entre puras e impuras, boas e más, benditas e malditas.

Jesus opõe-se a esta distorção, afirmando a bondade essencial de todas as coisas. Os alimentos são todos puros, diz Jesus. O que mancha o homem é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que possa ingerir (Mc 7, 14-20).

São Paulo vai nesta mesma linha quando afirma: Nada é impuro. Podemos comer de tudo sem nos pormos questões de consciência (Rm 14,14; 1 Cor 1 0, 25).

“Tudo o que Deus criou é bom. Não devemos rejeitar qualquer alimento por razões de pureza ou impureza legal (1Tm 4, 2-5).

Deus ama ternamente a Criação e cuida de todas as criaturas. Os evangelhos põem na boca de Jesus uma série de afirmações poéticas de uma grande beleza, a fim de afirmar o amor de Deus pela Criação.

Nem um só pássaro cai por terra sem que Deus o permita (Mt 10, 29). Com o seu jeito amoroso de criar, Deus deu beleza aos lírios do campo e agilidade às aves do céu (Mt 6, 25-34).

Deus chama à existência as coisas que não são, a fim de estas poderem existir, diz São Paulo (Rm 4, 17).

A Carta aos Colossenses diz que Cristo é o princípio, o centro e o fim da Criação (Col 1, 15-20).
“Tudo foi criado em Cristo e para ele, acrescenta ainda a Carta aos Colossenses “ (Col 1, 16b).

Ao criar o Homem, Deus pôs as coisas criadas ao serviço do Homem, para par que este as utilize de modo arbitrário ou caprichoso, mas para orientar de acordo com o plano de Deus.

Procedendo assim, o Homem e realiza-se e torna-se um ser livre. Na verdade, a liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e interagir de modo criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Eis o que São Paulo diz a este propósito: “Cristo libertou-nos, a fim de sermos livres, pois nós fomos chamados à liberdade” (Ga 5, 1; 5, 13).

“Todas as coisas são vossas, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 3, 21-23). O prólogo do evangelho de São João é um testemunho fundamental de fé na criação.

Ao escrever este prólogo, São João tinha a intenção de conferir sentido pleno ao texto do Génesis sobre a Criação.

Por outras palavras, ao escrever o seu prólogo, São João procede como se estivesse a reescrever o relato da Criação do Livro do Génesis.

Por isso ele começa com as mesmas palavras do Livro do Génesis: “ No princípio” (Jo 1,1; cf. Gn 1, 1).

Tal como no Génesis, a criação é obra da Palavra (Jo 1,3). Há várias referências à luz e às trevas (Jo 1, 4-5).

Mas o prólogo de São João dá um salto de qualidade em relação ao Génesis: Enquanto no Livro do Génesis a Criação é iniciada em simultâneo com a marcha do tempo, no prólogo de São João ela emerge a partir da eternidade.

Por outras palavras, no prólogo de São João, os possíveis da Criação surgem antes do tempo.
Na verdade, a Criação emerge como acto amoroso a partir das relações amorosas da Santíssima Trindade.

No entanto, apesar de concebida na eternidade, a Criação só acontece no tempo (Jo 1, 12-14).
A Encarnação representa o ponto de encontro e comunhão do Criador com a Criação.

Graças ao mistério da Encarnação fomos incorporados na Família Divina (Jo 1, 12-14). O Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo e agora comunica-nos o mesmo Espírito em forma de Água Viva, a qual faz brotar no nosso íntimo, uma nascente de Vida Eterna (Jo 4, 14; 7, 37-39).

À luz do acontecimento de Cristo, o Paraíso como ponto de encontro e convívio harmonioso do Homem com Deus, isto é, o Paraíso, está no futuro e não num passado mítico.

O relato do Génesis que nos fala da relação harmoniosa existente entre Deus e Adão deve ser entendido como uma profecia que aponta para a meta do Plano Criador e Salvador de Deus.

Foi isto que Jesus quis dizer ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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