quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

APRENDER A EDIFICAR SOBRE A ESPERANÇA-III

III-ESPERANÇA E COMPROMISSO HISTÓRICO

Pela Esperança, o cristão sabe que o projecto sonhado por Deus para nós vai acontecer. A esperança não se confunde com uma forma vaga de utopia.

Pelo contrário, o conhecimento do plano de Deus leva consigo uma vocação, isto é, um apelo a trabalhar na vinha do Senhor.

É verdade que a divinização do Homem é um dom totalmente gratuito, mas Deus só pode divinizar o que a pessoa foi humanizando ao longo da sua realização histórica.

Eu costumo afirmar que, na festa do Reino de Deus, todos dançam o ritmo do amor, mas cada um com o jeito que treinou enquanto viveu na história.

Na verdade, a pessoa humana é um ser em realização histórica: Só se faz, fazendo. Apenas se Realiza, realizando.

A humanização do homem é uma tarefa que cada pessoa tem de realizar. Ninguém nos pode substituir nesta missão, embora precisemos dos outros para a conseguirmos realizar com sucesso.

A plenitude dos tempos significa um salto de qualidade que a Humanidade deu, graças ao acontecimento de Jesus Cristo.

Eis o que o evangelho de São João diz sobre isto: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, exclamou:

“Se alguém tem sede venha a mim. Quem acredita em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, do seu íntimo hão-de surgir nascentes de Água viva.”

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iriam receber os que acreditassem nele.
Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

Esta passagem revela bem como os horizontes da esperança cristã vai muito para além de um projecto intra-histórico, como é o caso das utopias.

Graças à sua esperança, os cristãos não se sentem confinados aos horizontes de uma vida a caminhar para a morte, como diz a Carta aos Filipenses:

“Para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde esperamos o Jesus Cristo o nosso Salvador.

Com a força que o habita e capacita para sujeitar todas as coisas, ele transfigurará o nosso corpo, configurando-o ao seu corpo glorioso” (Flp 3, 20-21).

O horizonte máximo da esperança cristã, portanto, é Jesus Cristo ressuscitado. A Carta aos Hebreus diz que a esperança é a expectativa confiante dos bens que estão para vir (Heb 6, 11).

A Segunda Carta aos Coríntios tente reavivar e fortalecer a esperança daquela comunidade dizendo que não estamos a edificar para a morte, mas para a Vida Eterna:

“Por isso não desfalecemos. E mesmo que em nós o homem exterior vá caminhando para a ruína, o homem interior renova-se dia após dia.

Com efeito, as nossas tribulações momentâneas proporcionam-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Na verdade, olhamos mais para as coisas invisíveis do que para aquelas que se vêem. De facto, as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Estruturada com os horizontes deste texto e outros parecidos, a esperança possibilita ao cristão saborear as coisas com um sentido novo.

Os horizontes da esperança cristã provocam no coração dos crentes um apelo convidando-o a empenhar-se na sua realização.

À luz da esperança cristã a vocação fundamental do Homem é a sua humanização, condição para ser divinizado.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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