quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O HOMEM A QUEM CHAMAVAM LOUCO-IV


IV-QUANDO AS PESSOAS SÃO ACEITES E RESPEITADAS

Nesta cidade não existem cobardes nem heróis. Não há tarefas nobres e tarefas humildes e desconsideradas. A corrupção é uma prática desconhecida, pois não é preciso mentir ou defraudar para ter o necessário.

As relações entre as pessoas assentam sobre a lealdade e o bem-querer.

Dar as mãos, na Cidade Nova, é um gesto espontâneo e cheio de verdade, pois é o sinal da amizade que alimenta os corações dos habitantes daquela cidade.

Depois de ouvir as palavras deste homem, comecei a observar as reacções das pessoas que passavam.

Em geral via-se um total desinteresse, pois ninguém estava para perder tempo a escutar as palavras de um louco.

Havia pessoas que ao passar, olhavam sorrindo-se como quem faz troça.

Eram poucas as pessoas que admiravam a paixão que dominava o coração do Louco da Vila Grande.

Os ricos e os que detinham o poder detestavam as palavras daquele louco.

Ao acabar de falar, o Louco disse ainda: “Esta noite sonhei que este é o plano de Deus para toda a Humanidade!”

Depois, desapareceu, caminhando por entre as árvores e arbustos dos jardins da Vila Grande.

Retirei-me pensativo e compreendi que os homens chamam loucura à Sabedoria que os podia libertar e ajudar a ser felizes.

Passados uns momento dei comigo a pensar que a loucura, afinal, está no coração e na cabeça dos que edificam as cidades velhas.

Nestas cidades há os que oprimem e machucam, bem como os que são oprimidos e machucados.

As cidades velhas mutilam e distorcem os homens que Deus criou à sua imagem e semelhança.

Pouco tempo depois ouviu-se dizer que o Louco da Vila grande aparecera morto junto aos esgotos da povoação.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias





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