domingo, 15 de março de 2009

JESUS CRISTO E O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS-IV

IV-O REINO COMO REALIDADE HUMANA E DIVINA

Por ser o ponto de encontro e interacção do humano com o divino, Jesus Cristo é a fonte a partir da qual emerge a dinâmica do Reino de Deus.

Podemos dizer que o Reino de Deus é o encontro definitivo e indestrutível da Humanidade com a Divindade. Este encontro teve início em Jesus Cristo.

Com efeito, enquanto Jesus de Nazaré viveu na História, ele foi o único homem unido de modo orgânico à divindade.

No momento da sua ressurreição, o manancial da vida eterna que o dinamizava interiormente difundiu-se para todos nós.

Com efeito, podemos dizer que o Reino de Deus constitui o horizonte máximo da Esperança Cristã.

A Igreja é o sinal deste mistério de salvação realizado em Cristo ressuscitado. É verdade que a Igreja não é o Reino de Deus, mas é, de facto, o sacramento que corporiza e explicita o Reino de Deus.

Por outras palavras, a Igreja é uma mediação privilegiada para o Espírito Santo explicitar fazer emergir o Reino de Deus na História.

Isto quer dizer que o Reino de Deus é a Vida Eterna a emergir no tempo. São Paulo tem consciência da importância fundamental da sua condição de Apóstolo para anunciar e explicitar o mistério do Reino de Deus:

“A mim, o menor de todos os santos, foi-me dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo.

Fui incumbido de iluminar os homens sobre a realização do mistério escondido desde todos os séculos em Deus, o Criador de todas as coisas.

E deste modo me foi dada a conhecer a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno que ele planeou em Cristo Jesus” (Ef 3, 8-11).

O Reino de Deus está a emergir na História. A sua plenitude coincide com a Comunhão das pessoas humanas com as três pessoas divinas.

Por ser uma realidade de grandeza humano-divina, Jesus Cristo é a pedra angular sem a qual não podia existir o edifício do Reino de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 12 de março de 2009

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-I

I-CRISTO E A PLENITUDEDOS TEMPOS

O Novo Testamento é a proclamação jubilosa da salvação que Deus nos oferece em Jesus Cristo ressuscitado.

Ele é o ponto culminante do plano amoroso de Deus iniciado com a Criação. A História Humana foi assumida por Jesus Cristo o qual se tornou a Cabeça de uma Nova Criação (2 Cor 5, 17-18).

Ele é a Palavra que realiza o que significa. Logo no princípio ele aparece como o protagonista da génese Criadora.

Ao chegar a plenitude dos tempos o Filho de Deus Encarnou pelo Espírito Santo, tornando-se nosso irmão.

Foi assim que ele nos deu a possibilidade de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14). Ao dizer que Deus nos ama e faz de nós membros da Família Divina ele realiza aquilo que diz (Gal 4, 4-7).

Deste modo, o Filho Unigénito de Deus torna-se o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo (Rm 8, 29).

O Verbo de Deus realizou este mistério da comunhão humano-divina encarnando e vindo a habitar no nosso meio (Jo 1, 14).

Com o mistério da encarnação, o plano de Deus sobre a criação fica consumado e a revelação de Deus atinge a fase da plenitude.

Do mesmo modo, com a divinização do Homem, a Criação atinge a sua plenitude. A Criação está plenamente inserida no projecto salvador de Deus que é o Senhor do Céu e da Terra (Mt11, 25).

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-II

II-PLENITUDE DOS TEMPOS E BONDADE DA CRIAÇÃO

Com a plenitude dos tempos as coisas criadas revelam finalmente a bondade que Deus imprimiu nelas ao criá-las.

O Livro do Génesis proclama a bondade de todas as coisas, pondo na boca de Deus o reconhecimento dessa bondade (cf. Gn 1, 1-2, 7) é reafirmada pelo Novo Testamento agora.

Com o Novo Testamento a bondade da criação vai mais longe, pois agora a Criação é optimizada, pois é vista à luz do acontecimento salvador de Cristo.

O legalismo dos levitas e fariseus dividiam as coisas em boas e más, em puras e impuras.
Jesus opõe-se a estes tabus e reafirma a bondade essencial de todas as coisas.

Os alimentos são todos puros e, portanto, não podem tornar o homem impuro. O que torna o homem impuro é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que lhe entrem pela boca, diz Jesus (cf. Mc 7, 14-20).

O Sábado, sinal da aliança, aparece no livro do Génesis como a consumação e santificação da criação.

O Sábado é um dia santo, não por ser destinado a nada fazer, mas por ser um dia especial para nos comprometermos com a libertação, restauração e salvação do Homem.

Em Cristo Deus realiza a optimização de todas as criaturas, em especial da vida humana.
Na verdade, Deus cuida com ternura de todas as criaturas.

Nem um só pássaro cai por terra sem que Deus o permita, diz Jesus (Mt 10, 29). Foi Deus quem deu beleza aos lírios do campo e agilidade às aves do céu (Mt 6, 25-34).

Do Senhor é a terra e tudo quanto ela contém, diz São Paulo (1 Cor 10, 26). Deus é invisível, mas o invisível de Deus mostra-se-nos de modo analógico através das criaturas (Rm 1, 19; cf. Sb 13).

Jesus Cristo é, pois, a cabeça da Criação em estado de plenitude.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-III


III-UNIDOS A CRISTO ESTAMOS SALVOS

Adão, criado como cabeça da Humanidade, desorientou-a. Jesus Cristo veio como o Novo Adão que veio restaurar os danos causados pelo primeiro Adão.

Ele é o princípio, o centro e o fim da Criação (Col 1, 15-20). Com o acontecimento de Cristo, a História Humana atingiu a fase da plenitude, isto é, a Humanidade entra na fase dos acabamentos.

Em Cristo Jesus todos formamos uma só união orgânica e, portanto, todos temos a mesma dignidade como diz São Paulo:

“Já não há diferença entre judeu ou grego, escravo ou livre. Já não há diferença entre homem ou mulher, pois todos formamos um em Jesus Cristo” (Gal 3, 28).

Jesus Cristo é a condição fundamental da nossa união orgânica à divindade: “Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).

Na sua oração após a ceia pascal, Jesus proclama esta verdade quando fala com Deus Pai:
“Eu neles, tu em mim, Pai, a fim de eles serem perfeitos na unidade.

Deste modo o mundo conhecerá que me enviaste e os amaste a eles, tal como me amaste a mim” (Jo 17, 23).

Graças a esta união orgânica de Cristo connosco, fomos incorporados na Família de Deus, a fim de nos tornarmos filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos ao Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho que nos acolhe como irmãos:

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual chamais “Abba”, ó Pai (…).
Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Somos herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo (Rm 8, 14-17).

E mais à frente, São Paulo acrescenta: “Àqueles que Deus conheceu antecipadamente, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que este é o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-IV

IV-FORMAMOS O CORPO DE CRISTO

A comunidade cristã é o sacramento desta unidade, poisos seus membros formam o Corpo de Cristo:

“Comemos de um só pão para formarmos um só corpo” (1 Cor 10, 17). E ainda: “Vós sois membros do Corpo de Cristo. E cada um de vós é uma parte deste corpo” (1 Cor 12, 27).

Sabemos como o corpo é mediação de encontro e comunicação. A comunidade, como Corpo de Cristo, é mediação de encontro e comunicação do mundo com Cristo ressuscitado.

Nesta mesma linha se situa o seguinte texto da Carta aos Efésios: “Portanto, cada um deite fora a hipocrisia e fale a verdade ao seu irmão, pois somos membros de um só corpo” (Ef 4, 25).

Graças ao facto de formarmos um só Corpo com Cristo, fomos libertos da distorção operada por Adão, diz a Carta aos Romanos:

“De facto, se pela falta de um só e por meio de um só reinou a morte, como muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça (…).

De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se tornam justos” (Rm 5, 17-19).

Graças ao facto de participarmos da fidelidade de Jesus Cristo, Deus concede-nos o dom do perdão universal, não levando mais em conta os nossos pecados diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19).

O mesmo aconteceu no cativeiro de Babilónia: Graças à união orgânica que existe entre o justo e o povo, todo o povo vai ser liberto em conjunto com os justos.

Na verdade, Deus toma sempre partido pelos justos. Ao libertá-los, liberta todos aqueles que estão unidos a eles.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-V

IV-SALVOS NA FIDELIDADE DE CRISTO

Como vemos, o sofrimento do justo não é visto numa linha de sacrifício expiatório, mas sim como uma mediação libertadora para o povo.

A restauração do povo exilado na Babilónia é vista pelo profeta Ezequiel como uma ressurreição.
Esmagados pela escravidão do exílio, o povo é um montão de ossos ressequidos.

Mas Deus vai fazer que o Espírito de Deus entre nesses ossos, diz Ezequiel e de novo voltarão a possuir uma vida plena (Ez 37, 1-14).

A imagem desta vida nova está inspirada no relato do sopro de Deus sobre o barro, aquando da criação do Homem (cf. Ez 37, 14).

A restauração dos pecadores realizada em Cristo é verdadeiramente uma Nova Criação, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17).

Os pecadores, apesar de serem culpados de crimes e iniquidades, serão solidariamente redimidos e salvos, não pelos seus méritos, mas graças à fidelidade e à justiça do justo sofredor (cf. Is 52, 13-53, 12; Sal 21).

São Paulo, e depois dele os evangelistas, procuram defender a autenticidade messiânica de Jesus, fazendo a leitura da sua paixão e morte com as lentes da teologia do justo sofredor.

Deste modo ficam justificados os seus sofrimentos e a sua morte cruel. É esta a leitura que está na base dos muitos textos que nos apresentam a figura de Jesus como vítima de expiação, graças à qual, a humanidade é redimida.

Perante esta leitura, o argumento dos judeus, segundo o qual os sofrimentos e a morte de Jesus eram o sinal de que ele tinha sido amaldiçoado por Deus, não têm fundamento.

A Carta aos Efésios diz que Deus fez um plano para redimir a Humanidade através de Cristo.

Deste modo Deus conduziu os tempos à sua plenitude e fazendo de Cristo a cabeça da Humanidade restaurada (Ef 1, 9-10).

Em Cristo fomos marcados como selo do Espírito Santo, garantia da nossa Redenção e pelo qual tomamos parte na herança da Vida Eterna (Ef 1, 13-14).

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Calmeiro Matias

terça-feira, 10 de março de 2009

ESPÍRITO SANTO E O PODER MESSIÂNICO-I

I-O MESSIAS E O ESPÍRITO SANTO NOS PROFETAS

O profeta Isaías compara o Espírito Santo a uma água refrescante que vai irrigar uma terra árida, isto é, o coração do homem que afastado de Deus:

“Derramarei água cristalina na terra árida e regatos de água fresca no solo árido.
Derramarei o meu Espírito sobre os vossos filhos e as minhas bênçãos sobre os vossos descendentes” (Is 44, 3).

O Redentor vai vir para todos os que se voltam para Deus, tornando-se fiéis à Aliança. Nesses dias, a Palavra de Deus não se afastará da boca dos crentes e o Espírito Santo habitará no seu coração:

“O Redentor virá para Sião, para os filhos de Jacob que se tenham arrependido do seu pecado, oráculo do Senhor.

Então eu renovarei a minha Aliança com eles, diz o Senhor. O meu Espírito estará em ti e porei as minhas palavras na tua boca, fazendo que elas não se afastem nem da tua boca nem da boca dos teus filhos.

Isto acontecerá naqueles dias e para sempre, diz o Senhor” (Is 59, 20-21). Nos tempos messiânicos, diz o profeta Joel, o Espírito Santo será uma presença recriadora de Deus a actuar no coração do povo:

“Derramarei o meu Espírito sobre todo o povo. Os vossos filhos e filhas profetizarão. Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões.

Naqueles dias derramarei o meu Espírito em todos os meus servos, nos homens como nas mulheres” (Jl 2, 28-29).

O Livro dos Actos dos Apóstolos reconhece que o Pentecostes é a realização desta profecia de Joel:

“De pé, com os onze, Pedro ergueu a voz e dirigiu-lhes então estas palavras: “Homens da Judeia e todos vós que residis em Jerusalém, ficai sabendo isto e prestais atenção às minhas palavras.

Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia.

Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: “Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura.

Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar. Os vossos jovens terão sonhos e visões, e os vossos anciãos terão sonhos” (Act 2, 14-17).



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Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E O PODER MESSIÂNICO-II

II-OESPÍRITO SANTO E A NOVA ALIANÇA

O profeta Jeremias vê os tempos messiânicos como os dias em que Deus faz uma Nova Aliança.
Esta Aliança será escrita, não em tábuas de pedra, como foi a aliança de Moisés, mas pelo dom do Espírito que transformará os corações das pessoas:

“Dias virão em que firmarei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, oráculo do Senhor.

Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora eu fosse o seu Deus, oráculo do Senhor.

Esta será a aliança que estabelecerei naqueles dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor:
Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração.

Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Ninguém mais dirá ao seu irmão: “Vem que eu vou ensinar-te o conhecimento do Senhor”.

Nesses dias, diz o Senhor, todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno. A todos perdoarei as suas faltas e não mais lembrarei os meus pecados, oráculo do Senhor” (Jer 31, 31-34).

Também o profeta Ezequiel exilado com o povo na Babilónia sonha com os tempos novos que vão chegar.

Deus vai realizar um Nova Aliança, escrita não em tábuas de pedra como aconteceu com a primeira, mas escrita no coração das pessoas pelo Espírito Santo, o qual passará a habitar no coração das pessoas:

“Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra (tábuas de pedra) e vos darei um coração de carne.

Dentro de vós porei o meu Espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e pratiqueis os meus preceitos” (Ez 36, 26-27).

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Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E O PODER MESSIÂNICO-III


III-JESUS E O PERDÃO DO PECADO

João Baptista foi uma mediação do Espírito Santo para Jesus compreender que tinha chegado o tempo de iniciar a sua missão.

No entanto, a teologia de João sobre a missão do Messias situava-se na linha dos apocalipses trágicos dos profetas.

O Messias vem executar o dia da ira anunciado pelos profetas, isto é, destruir os pecadores, a fim de purificar a terra do pecado.

Quanto mais Jesus ouvia a pregação de João, mais se sentia distante dele, pois não se sentia chamado a destruir os pecadores, mas sim a libertá-los das amarras do pecado.

Depois de algumas dúvidas e hesitações, Jesus descobriu através do profeta Isaías o modo de realizar a sua missão (cf. Is 61, 1-3).

Logo que fez esta descoberta, diz o evangelho de São Lucas, Jesus foi à sinagoga da sua terra, a fim de anunciar o seu plano de acção (Lc 4, 18-21)

A princípio, Jesus limitava-se a interpelar as pessoas no sentido de se converterem, pois o Reino de Deus estava a chegar:

“Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Jesus imaginava a sua missão como a grande tarefa de construir a Família de Deus pela acção do Espírito Santo (cf. Mc 3, 31-35).

Os discípulos, pelo contrário, pensavam que Jesus era o enviado de Deus para construir o reino terreno anunciado a David (2 Sam 7, 14-16).

Como Jesus morreu sem subir ao trono, os discípulos sentiram-se profundamente desorientados.

Após as aparições do Senhor ressuscitado, os discípulos compreenderam finalmente que Jesus era o Messias, mas para realizar os planos de Deus, não os planos do povo judeu.

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Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E O PODER MESSIÂNICO-IV

IV-JESUS E A FORÇA DO ESPÍRITO SANTO

Jesus nunca pôs em causa o facto da sua missão messiânica. Interrogou-se muito seriamente, isso sim, sobre a melhor maneira de a realizar.

Ele tinha consciência de ter sido consagrado pelo Espírito Santo, a fim de reconciliar as pessoas com Deus e nos introduzir na Família divina.

O Evangelho de São Lucas descreve a consciência messiânica de Jesus com as seguintes palavras:

“Jesus veio a Nazaré, onde se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de Sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e conceder a recuperação da vista aos cegos.

Enviou-ma para mandar em liberdade os oprimidos e proclamar um ano favorável da parte do Senhor.

Depois enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos postos nele.

Começou, então, a dizer-lhes: “Cumpriu-se hoje a passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 18-21).

Ao falar de Jesus, João Baptista diz que ele é o Messias que vai difundir o Espírito Santo sobre os seres humanos:

“Eu baptizo-vos com água para o arrependimento. Mas depois de mim virá alguém que é mais poderoso que eu, cujas sandálias eu não sou digno de transportar.

Ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo” (Mt 3, 11). O próprio Jesus anuncia que, após a sua ressurreição, ele vai comunicar a plenitude do Espírito:

“Eu vou partir para vos enviar aquele que o meu Pai prometeu. Permanecei na cidade até ao momento em que sereis revestidos com o poder do Alto” (Lc 24, 49).

No quarto evangelho, João Baptista declara que Deus lhe dera como sinal para o conhecer a descida do Espírito Santo:

“Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a baptizar com água disse-me: “O homem sobre o qual vires o Espírito descer e permanecer é ele que baptizará no Espírito Santo” (Jo 1, 33).

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Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E O PODER MESSIÂNICO-V

V-A DINÂMICA DO ESPÍRITO SANTO APÓS A PÁSCOA

A Comunicação do Espírito Santo começa logo no Domingo de Páscoa com a primeira aparição de Jesus:

“Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. E Jesus disse-lhes: “A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”.

Em seguida soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados.

Àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 20-23). Jesus preveniu os discípulos que o dom do Espírito Santo não é para o mundo, pois este não o conhece:

“Eu pedirei ao pai que vos enviará outro Paráclito, a fim de estar sempre convosco, o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem conhece.

Vós conhecei-lo, pois permanece junto de vós, e habita em vós” (Jo 14, 16-17). O Espírito Santo tem a tarefa de conduzir à plenitude a missão de Jesus Cristo.

Em primeiro lugar vai revelar aos discípulos o projecto salvador de Deus, completando os ensinamentos de Jesus.

Deste modo, os discípulos chegarão à posse da verdade plena: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que vos disse” (Jo 14, 26).

Graças ao dom do Espírito somos incorporados na família de Deus. Já podemos chamar “Abba”, papá a Deus Pai e irmão a Jesus Cristo, pois somos co-herdeiro com ele (cf. Rm 8, 14-17).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 7 de março de 2009

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-I

I-CRISTO E A PLENITUDE DA CRIAÇÃO

O Novo Testamento não se cansa de proclamar que Deus restaurou a Criação em Jesus Cristo ressuscitado.

Por outras palavras, a salvação em Jesus Cristo é o ponto culminante do plano criador de Deus.

A História foi assumida e plenificada por Jesus Cristo, o qual se tornou a Cabeça de uma Nova
Criação (2 Cor 5, 17-18).

No princípio, o Filho Eterno de Deus foi o protagonista da acção criadora de Deus, pois ele é a Palavra que realiza o que significa.

Agora, na plenitude dos tempos, continua a ser a Palavra que realiza o que significa: Proclama e realiza o plano de Deus que nos salva e torna filhos de Deus.

Por outras palavras, Deus Pai ama-nos como filhos e o Filho de Deus ama-nos como irmãos. A Palavra veio habitar no nosso meio, proclamou este plano de Deus e realizou aquilo que anunciou, diz o evangelho de São João (Jo 1, 12-14).

Através da acção de salvadora de Jesus Cristo, a História atingiu a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos, a qual consiste na divinização do Homem.

Com o mistério da Encarnação e da ressurreição de Cristo o projecto da criação, da revelação e da Salvação atinge a sua plenitude.

Como cabeça da Criação, o Homem torna-se membro da Família Divina. A Criação faz parte do plano salvador de Deus que é o Senhor do Céu e da Terra (Mt11, 25).

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Calmeiro Matias

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-II

II-DEUS IMPRIMIU A BONDADE NA CRIAÇÃO

O Livro do Génesis, ao falar da dinâmica da criação diz que Deus imprimiu a bondade em todas as suas obras.

Eis algumas afirmações significativas do relato do Génesis: “Ao solo seco Deus chamou Terra e ao conjunto das águas chamou mares. E Deus viu que isto era bom” (Gn 1, 10).

“Que a Terra germine plantas cada qual com as sementes próprias da sua espécie e árvores que produzam frutos e sementes segundo a sua espécie. E Deus viu que isto era bom” (Gn 1, 12).

“Criou o Sol e a Lua para iluminar o dia e a noite e para separar a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom” (Gn1, 18).

“E Deus criou os grandes monstros marinhos e as criaturas vivas que se movem nas águas, segundo as diversas espécies, bem como as aves, segundo as próprias espécies”. E Deus viu que isto era bom (Gn 1, 21).

“Deus criou os animais selvagens segundo as diversas espécies e os animais domésticos segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom” (Gn 1,25).

“E Deus criou o Homem à sua própria imagem, criou-o à imagem de Deus o criou. Varão e mulher, Deus os criou. Então Deus abençoou-os e disse-lhes:

Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a Terra e dominai-a (…). E Deus viu que tudo o que tinha feito era muito bom. Houve tarde e manhã e foi o sexto dia” (Gn 1, 27-31).

Estes textos sugerem-nos que a Criação é uma mediação privilegiada para encontrarmos a presença e a bondade de Deus.

O relato da Criação, ao insistir sobre a bondade das coisas criadas, quer dizer-nos que Deus entreteceu a bondade nas obras da Criação.

Mas é no coração do Homem que a bondade pode emergir ao jeito de Deus.
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Calmeiro Matias

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-III


III-CRISTO CONFERE SENTIDO PLENO À CRIAÇÃO

A bondade das criaturas tão insistentemente proclamada pelo Génesis (cf. Gn 1, 1-2, 7) é reafirmada de novo pelo Novo Testamento.

Mas o Novo Testamento dá um salto de qualidade em relação ao Antigo, pois passa a olhar a Criação à luz do acontecimento salvador de Cristo.

Os levitas e os fariseus com as suas distorções rabínicas tentaram dividir as coisas entre puras e impuras, boas e más, benditas e malditas.

Jesus opõe-se a estes tabus e reafirma a bondade essencial de todas as coisas: Os alimentos são todos puros. O que mancha o homem é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que possa ingerir (Mc 7, 14-20).

O Sábado, sinal da aliança, aparece no livro do Génesis como a consumação e santificação da criação.

Jesus diz que a santificação do Sábado deve acontecer como um compromisso com a libertação, restauração e salvação do Homem.

A Salvação é uma verdadeira recriação. Deus cuida com ternura de todas as criaturas. Nem um só pássaro cai por terra sem que Deus o permita (Mt 10, 29).

Foi Deus quem imprimiu a beleza nos lírios do campo e concedeu agilidade às aves do céu (Mt 6, 25-34).

Deus é o princípio de todas as coisas. Do Senhor é a terra e tudo quanto ela contém (1 Cor 10, 26).

Deus chama à existência as coisas que não são, a fim de estas poderem existir (Rm 4, 17; cf. Gn 1, 3).

Todas as coisas existem pelo poder criador de Deus (Rm 11, 36). É Deus quem dá vida a todas as coisas (1 Tim 6, 13).

Deus é invisível, mas o invisível de Deus mostra-se-nos de modo analógico através das criaturas (Rm 1, 19; cf. Sb 13).

A plenitude da Criação é a Salvação. Cristo é a cabeça da Criação em estado de plenitude. O mundo foi criado por Cristo e para Cristo (1 Cor 8, 6; Col 1, 15-20; Flp 2, 6-11).

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Calmeiro Matias

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-IV

IV-CRISTO RENOVA TODAS AS COISAS

Adão, criado como cabeça da Humanidade, desorientou-a. Jesus Cristo é o Novo Adão, veio da parte de Deus para restaurar os danos causados por Adão na dinâmica da Criação.

Paulo vê a acção de Cristo na génese da Criação, inspirando-se na acção da Sabedoria que habita em Deus.

Jesus Cristo, diz ele, é a sabedoria de Deus (1 Cor 1, 24; 1, 30). Ele é, de facto, o princípio, o centro e o fim da Criação, diz a Carta aos Colossenses (Col 1, 15-20).

Por ser imagem de Deus, Adão foi constituído medianeiro entre Deus e a Criação. Agora, a imagem perfeita de Deus é Jesus Cristo (Col 1, 15; Flp 2, 6).

Jesus Cristo é o primogénito de toda a Criação e o modelo ou causa exemplar do projecto criador de Deus.

Do mesmo modo ele é a plenitude e a cabeça da Nova Criação: “Todos os que estão em Cristo são uma Nova Criação. Passaram as coisas velhas.

Tudo isto se deve ao facto de Deus ter reconciliado consigo a criação por intermédio de Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (1 Cor 5, 17-19).

Jesus Cristo é a causa exemplar e o padrão do projecto de Deus para a Humanidade (Col 1, 1-16; cf. Sb 9, 1-2, 4; Prov 8, 22).

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Calmeiro Matias

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-V

V-CRISTO COMO CÚPULA DA CRIAÇÃO

Ao iniciar o seu projecto criador, Deus já tinha presente a plenitude da salvação em Cristo. É neste sentido que a Carta aos Colossenses diz que “tudo foi criado nele e para ele “ (Col 1, 16b).

Logo no início da criação, Deus inspira-se na plenitude do plano que projectou: Jesus Cristo ressuscitado (1 Cor 8, 6; Rm 11, 36).

À luz do Novo Testamento Criação é cristocêntrica. Cristo é o princípio, o centro e a cúpula do projecto criador de Deus.

Adquire o seu sentido pleno em Jesus Cristo ressuscitado. No momento em que foi criado, Adão foi constituído cabeça de toda a Criação.

Devido ao seu mau procedimento, Adão introduziu a Criação no caminho do fracasso. Jesus Cristo veio como Novo Adão, o recriador e restaurador da Criação distorcida pelo primeiro Adão (Rm 5, 15-17).

Jesus Cristo reconduz a Criação à sua condição primeira. Todas as coisas são puras, diz São Paulo: “Tudo o que Deus criou é bom.

Não devemos rejeitar qualquer alimento por razões de pureza ou impureza” (1 Tim 4m 2-5).

Recriado em Cristo, o Homem voltou a ter condições para ser a cabeça da Criação. Iluminados pela Palavra de Deus, os cristãos são possuidores de uma sabedoria que os capacita para olhar as coisas e os acontecimentos com os próprios critérios de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS RECRIOU TODAS AS COISAS EM CRISTO-VI

VI-CRISTO E A PLENITUDE DA CRIAÇÃO

O prólogo do evangelho de São João representa o cume da reflexão sobre Cristo. Mas é também um testemunho fundamental de fé na criação.

Na verdade, São João escreveu o seu prólogo com a intenção de conferir sentido pleno ao texto do Génesis sobre a Criação.

É como que um novo Génesis, mas agora elaborado à luz de Cristo ressuscitado. Por isso São João inicia este texto com as mesmas palavras com que o Génesis inicia o relato da criação: “No princípio” (Jo 1,1; cf. Gn 1, 1).

Tal como acontece no Génesis, também no prólogo de São João a criação é obra da Palavra (Jo 1,3).

Tal como acontece no Livro do Génesis, também aqui aparecem referências à luz e às trevas (Jo 1, 4-5).

Mas o prólogo de São João dá um salto de qualidade em relação ao Génesis, passando do tempo para a eternidade.

Enquanto no Livro do Génesis a criação é iniciada em simultâneo com a marcha do tempo, no prólogo de São João ela é sonhada no interior da eternidade.

Os possíveis da criação surgem antes do tempo. Brotam das relações amorosas que existem na Comunidade Divina.

No entanto, apesar de concebida na eternidade, a génese da criação tem início no tempo (Jo 1,12-14).

A estrutura literária do prólogo de São João é a dos hinos sapienciais (cf. Prov 8, 22;Si 24, 3-12; Sb 9, 9-12).

Existe um ser preexistente à criação, que é mediação e causa exemplar da mesma. Foi enviado ao mundo para revelar aos homens o plano de Deus e salvá-los.

Depois de realizar a sua missão, o medianeiro volta a Deus. O Verbo encarnou, realizou a sua missão e voltou para o Pai.

Ao encarnar habitou entre nós e deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

Dá-nos a Vida Nova em forma de Água viva no nosso íntimo, fazendo brotar no nosso íntimo uma nascente de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

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Calmeiro Matias

quarta-feira, 4 de março de 2009

QUANDO DEUS NÃO DESISTE DO HOMEM-I



I-DEUS É A META DO HOMEM

Estamos habitados por uma fome imensa de plenitude, a qual só pode ser saciada mediante o amor.

Em primeiro lugar, precisamos do amor dos outros para sermos capazes de amar. Depois, precisamos de amar para nos realizarmos e podermos crescer em maturidade.

Somo seres talhados para a reciprocidade amorosa: possuímo-nos na medida em que nos damos.
As pessoas são seres talhados para o dom. Isto não acontece para o dom.

A pessoa que se dá não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se. A realidade da pessoa talhada para o dom e a reciprocidade amorosa é um mistério, isto é, uma realidade que não é evidente mas que se revela gradualmente.

A fome de felicidade que levamos connosco tem uma direcção e uma densidade espiritual. É um grito que brota da nossa realidade mais profunda, isto é, a nossa interioridade pessoal-espiritual e tende para a comunhão universal do Reino de Deus.

Estamos talhados para o encontro e a comunhão, tanto com as pessoas humanas como com as divinas.

Pelo mistério da Encarnação, a Divindade enxertou-se na Humanidade, a fim de esta ser assumida e incorporada na Família de Deus.

O grau de plenitude que o ser humano encontra na comunhão com Deus é proporcional à sua capacidade de interagir amorosamente.

A nível espiritual a pessoa situa-se ao nível do ser, não do ter. É por esta razão que a pessoa, quando se dá, não se perde.

O Espírito Santo é uma pessoa cujo jeito de interagir optimiza a nossa capacidade de ser dom e, deste modo, de nos possuirmos de modo mais pleno.

Na verdade, a pessoa possui-se na medida em que se dá.

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Calmeiro Matias

QUANDO DEUS NÃO DESISTE DO HOMEM-II

II-CRISTO COMO IRMÃO MAIS VELHO

Somos incorporados na Família divina pelo Espírito Santo. Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos acolhe como irmãos.

Pela Encarnação, diz São Paulo, o Filho de Deus tornou-se o primogénito de muitos irmãos, diz São Paulo (Rm 8,29).

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

E é assim que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos e herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8, 14-17).

É também o Espírito Santo que alimenta a fraternidade humana universal. O Espírito Santo é o dinamismo vital de Cristo ressuscitado, pois é ele que dinamiza a interacção que existe entre a interioridade divina do Filho de Deus e a interioridade humana do Filho de Maria.

Ao partilhar connosco este dinamismo humano-divino, o Senhor ressuscitado torna-nos membros da Família de Deus:

Este mistério é explicitado de modo especial no mistério da Eucaristia: “Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também quem me come, viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu” (Jo 6, 57-58).

O Espírito Santo, diz São João, é também a Água viva que o Senhor ressuscitado nos dá a beber, a qual faz emergir em nós a vida eterna (Jo 7, 37-39).

Fomos baptizados num mesmo Espírito, diz São Paulo a fim de formarmos o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13).

Por outras palavras, por estarmos unidos de modo orgânico a Cristo, somos animados pelo mesmo princípio vital que o anima.

O Espírito Santo é o pão espiritual que comemos e faz de nós corpo de Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).

Isto quer dizer que não fomos feitos para estar sós. A morte espiritual é igual a solidão radical. É isto o que, em linguagem cristã, se chama inferno.

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Calmeiro Matias

QUANDO DEUS NÃO DESISTE DO HOMEM-III


III-ESPÍRITO SANTO E FILIAÇÃO DIVINA

Ao ressuscitar, Jesus Cristo comunica-nos o Espírito Santo, não como algo que lhe é exterior, mas como uma realidade intrínseca.

Como vínculo orgânico de comunhão, o Espírito Santo faz de Jesus de Nazaré e da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade um só Cristo, homem connosco e Deus com o Pai e o Espírito Santo.

No evangelho de São João, Jesus explica este mistério usando uma imagem muito bonita: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, a fim de dar mais fruto (…).

Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim” (Jo 15, 1-4).

Podemos dizer que o Espírito Santo é a seiva que vem da cepa que é Cristo, para os ramos que somos nós.

Com Jesus Cristo a história humana deu um salto de qualidade: O Homem passou do estado de ser não divino, para a condição de ser divinizado.

É este o Homem Novo como diz São Paulo:”Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. Passou o que era velho.

Tudo isto vem de Deus que em Jesus Cristo nos reconciliou consigo não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).


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Calmeiro Matias
















QUANDO DEUS NÃO DESISTE DO HOMEM-IV

IV-PARTICIPANTES DA VIDA DE CRISTO

O mistério da Encarnação significa a plenitude dos tempos, isto é. A fase da divinização do Homem.

Durante cerca de trinta anos só um homem, Jesus de Nazaré, era divino, isto é, organicamente incorporado na comunhão da Família de Deus.

Com a morte e ressurreição de Jesus, a sua dinâmica vital humano-divina difunde-se para a Humanidade.

Esta difusão universal deve-se ao facto de o Senhor ressuscitado entrar em coordenadas de universalidade.

Isto aconteceu assim porque Jesus de Nazaré faz um todo orgânico com a Humanidade, como o Filho eterno de Deus faz um todo orgânico com o Pai e o Espírito Santo.

Isto quer dizer que, com Jesus Cristo, a Humanidade entrou na fase dos acabamentos!
Podemos dizer com toda a verdade que Deus não desiste do Homem.

Antes de Jesus Cristo, o Homem estava apenas em processo de humanização. Com a sua ressurreição, a Humanidade entra na fase da sua divinização, isto é, é incorporada na comunhão orgânica da Santíssima Trindade.

Esta incorporação acontece pela acção do Espírito Santo que nos é comunicada de modo orgânico por Cristo Ressuscitado (1 Cor 12, 13).

Somos o resultado personalizado da história que construímos com os talentos que recebemos dos outros, o qual vai ser divinizado ao sermos incorporados em Deus.

Deus está connosco, mas não em nosso lugar, pois nunca nos substitui. A maneira de sermos fiéis aos dons de Deus é esta: agir como se tudo dependesse de nós, sabendo que o essencial é obra desse Deus que nunca desiste de nós.

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Calmeiro Matias

segunda-feira, 2 de março de 2009

CRISTO COMO FILHO ETERNO DE DEUS-I

I-O FILHO ESTAVA JUNTO DO PAI

O evangelho de São João começa com a proclamação solene de Cristo como Filho eterno de Deus:
“No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus. No princípio, o Verbo estava com Deus e era Deus (Jo 1, 1-2).

O evangelho de São João não diz apenas que Cristo é o Filho eterno de Deus, mas tenta descreve também o tipo de relação que existe entre Deus Pai e o Filho Eterno de Deus.

O Pai e o Filho fazem um (Jo 10, 30). Não por se confundirem ou fundirem, mas porque vivem uma união de tipo orgânico, onde o Espírito Santo aparece como vínculo orgânico de comunhão entre o Pai e o Filho:

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

O modo de agir de Jesus está em perfeita conformidade com a vontade do Pai. Por isso olhar para Jesus é descobrir o rosto de Deus Pai, como o próprio Jesus afirma:

“Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheces Filipe? Quem me vê, vê o Pai.
Como é que tu ainda me dizes: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 9).

Há filhos humanos que, a nível genético, são quase uma cópia do pai ou da mãe. Cristo, como Filho de Deus, é uma cópia perfeita de Deus Pai, não ao nível do genético, como é evidente, mas ao nível do seu jeito de amar.

Jesus realiza a sua missão em total sintonia com o Pai: “O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho o poder de julgar, a fim de os homens honrarem o Filho como honram o Pai.

Aquele que não honra o Filho também não honra o Pai, pois o filho foi enviado pelo Pai” (Jo 5, 22- 23).

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Calmeiro Matias

CRISTO COMO FILHO ETERNO DE DEUS-II

II-O FILHO VEIO REVELAR O PAI

Depois da Encarnação, a fé no Filho é uma componente fundamental da fé no Pai: “Aquele que acredita em mim, não só acredita em mim, mas também naquele que me enviou” (Jo 12, 44).

O evangelho de São João diz que o Filho actua em perfeita sintonia com o Pai que o enviou.
O Pai entregou nas mãos do Filho a realização do seu plano de salvação:

“O pai ama o filho e colocou todas as coisas nas suas mãos” (Jo 3, 35). Por isso Jesus Cristo está sempre unido ao Pai: “E aquele que me enviou está comigo e em mim.

Com efeito, o Pai não me deixou sozinho, pois eu faço constantemente as coisas que lhe agradam” (Jo 8, 29).

Pelo mistério da Encarnação, o Filho de Deus tornou-se irmão dos homens, dando-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12-14)

Jesus Cristo diz expressamente que se considera irmão dos homens, pois estes são filhos do mesmo Pai:

“Eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai. Vou para o meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17).
Este texto é muito significativo, pois demonstra que João, apesar de insistir no facto de Jesus ser Deus, tal como o Pai, não ignora que ele é homem como nós.

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Calmeiro Matias

CRISTO COMO FILHO ETERNO DE DEUS-III


III-O FILHO CONDUZ-NOS À FAMÍLIA DE DEUS

Nós somos incorporados na família de Deus, não como seres isolados, mas na medida em que formamos uma união com Cristo.

Estamos em dinâmica de salvação na medida em que estamos unidos a Jesus Cristo. O evangelho de São João diz que esta união é de tipo orgânico, semelhante à união que existe entre os ramos da videira e a cepa da qual lhes vem a seiva vivificante (Jo 15, 1-8).

A seiva que alimente esta união vital é o Espírito Santo. É por isso que São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

São João começa o seu evangelho afirmando que Cristo é a Palavra. O Filho de Deus é o grito criador e salvador de Deus em favor da Humanidade.

A bíblia diz que a Palavra de Deus é eficaz, ou seja, realiza sempre o que significa. Por isso Jesus Cristo vem como o grito amoroso do Pai que diz aos seres humanos: sois meus filhos.

Eis a razão pela qual o Verbo Encarnou e habitou entre nós. E deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).

Depois de ter realizado esta missão, o Filho volta para Deus afirmando que, agora, já somos membros da família divina.

Depois de ter realizado a missão que Deus lhe confiou, o Filho vai par junto do Pai, a fim de nos introduzir na Família Divina:

“Eu Saí do Pai e vim para o mundo. Agora deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16, 28). E acrescenta:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).

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Calmeiro Matias

CRISTO COMO FILHO ETERNO DE DEUS-IV

IV-JESUS É O ROSTO HUMANO DE DEUS PAI

O evangelho de São João mantém um perfeito equilíbrio entre a afirmação de Cristo como filho eterno de Deus e a sua condição de homem em tudo igual a nós excepto no pecado.

Como filho eterno de Deus, Cristo e o Pai fazem um diz o evangelho de São João (Jo 10, 30). Por isso, quem vê o seu modo de actuar de Jesus, está a ver o próprio jeito de ser de Deus Pai (Jo 14, 9).

Tomé, depois de ver o Jesus Cristo ressuscitado declara: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).

O próprio Jesus se declara Deus, usando a mesma expressão que Yahvé usou no Monte Sinai: “Agora digo-vos estas coisas antes que aconteçam, a fim de que, quando elas acontecerem, acrediteis que EU SOU” (Jo 13, 19).

Por outro lado, como homem, Jesus reconhece que vai para junto do seu e nosso Pai, do seu e nosso Deus” (Jo 20, 17).

Devido à sua condição divina o Filho é igual ao Pai. Mas devido à sua condição de homem, o Pai é maior do que o Filho:

“Ouvistes o que eu vos disse: “Eu vou mas voltarei para vós”. Se me tivésseis amor, devíeis alegrar-vos por eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que eu” (Jo 14, 28).

Os fariseus e os doutores da Lei, ao notarem que Jesus se fazia igual a Deus, mais se acendeu neles o desejo de matarem Jesus, diz o evangelho de São João:

“Devido ao facto de Jesus realizar estes prodígios em dia de sábado, os judeus começaram a perseguí-lo.

Em resposta, Jesus disse aos judeus: “O meu Pai continua a realizar obras até agora, e eu também continuo!”

Perante estas afirmações cresceu mais nos judeus a vontade de matar Jesus, pois não só anulava o sábado, mas também chamava a Deus seu Pai, fazendo-se, deste modo, igual a Deus” (Jo 5, 16-18).

A compreensão de Cristo como Filho Eterno de Deus não foi o ponto de partida, mas sim o ponto de chegada da revelação de Deus.

Compreender o mistério de Cristo com este alcance supõe um salto de qualidade muito teológico muito profundo.

Este salto de qualidade implica a reformulação do mistério central da fé judaica. Com efeito, reconhecer que Cristo é o Filho eterno de Deus implica afirmar que Deus não é apenas o Yahvé do Antigo testamento mas uma comunidade familiar de três pessoas:
“Não acreditais que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?

As palavras que eu vos digo não são ditas por minha própria iniciativa. O Pai que habita em mim é que faz as obras. Acreditai que eu estou no Pai e o Pai está em mim.

Acreditai ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14, 10-11).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias