quinta-feira, 20 de março de 2008

FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM-I


I-FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO

A família humana é um espaço fundamental para a humanização dos seres humanos.
Podemos dizer com toda a verdade que a família é a célula mãe da sociedade.

Segundo tenha sido bem ou mal amado, o ser humano ficará bem ou mal amado.
Na verdade a lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ficará a amar mal.

É na família que se inicia a dinâmica básica da humanização que acontece como emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

À luz da fé cristã a comunhão universal para a qual as pessoas humanas convergem à medida em que vão emergindo é o Reino de Deus.

Isto quer dizer que a meta da Família humana é a família de Deus. Por outras palavras, a família humana é uma mediação fundamental para acontecer a edificação da família divina, a qual transcende os laços da carne e do sangue.

Jesus tinha consciência de que a sua missão implicava a incorporação das pessoas humanas na comunhão da Santíssima Trindade mediante o dom do Espírito Santo (Rm 8, 14-17; Ga 4, 4-7).

Eis a razão pela qual Jesus anunciava o Reino de Deus, isto é a Família Universal de Deus, a qual assenta nos laços da Palavra e do Espírito Santo:

“Entretanto chegaram sua mãe e seus irmãos que queriam falar com Jesus. Ficaram do lado de fora, pois a multidão estava sentada à volta dele. Então mandaram chamar Jesus.

Entretanto alguém disse a Jesus: “Está lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram”.
Jesus respondeu: “Quem são minha mãe e meus irmãos?

E percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: “Aí estão minha mãe e meus irmãos, pois aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc3, 31-34).

Mais que um lugar de aprendizagem teórica, a família é um entretecido de relações, onde emerge o amor como dinâmica de bem-querer que tem como origem as pessoas e como meta a comunhão.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM-II

II-FAMÍLIA E AMADURECIMENTO PESSOAL
A família o espaço adequado para acontecer o amadurecimento dos esposos, dos pais e dos filhos.
Primeiro amadurece o marido e a esposa. Depois amadurece o pai e a mãe.

A família é a comunidade de amor mais adequada para o ser humano se estruturar como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Como sabemos, a Humanidade não existe nas nuvens. Pelo contrário, emerge em cada pessoa de modo único, original e irrepetível.

Por outras palavras, é na família que a natureza humana encontra as melhores condições para emergir como vida pessoal e convergir para a comunhão amorosa.

É por esta razão que a família é um contexto humano excepcional para a humanização das pessoas.

Quanto maior for a densidade do amor no entretecido das relações familiares, mais os seus membros crescem como pessoas bem amadas e, portanto, capacitadas para colaborar na criação de uma sociedade mais justa e feliz.

Uma pessoa bem amada está capacitada para amar bem, facilitando a realização das outras pessoas e, portanto, da sociedade.

Como sabemos, a plenitude do ser humano não está em si, mas no encontro e na comunhão com os outros.

Apenas em relações de amor com os outros a pessoa se pode realizar e possuir plenamente.
À medida em que se amam, os membros da família elegem-se mutuamente como alvo de bem-querer e procuram aceitar-se apesar das diferenças.

É no interior de uma família bem amada que a natureza humana encontra condições para emergir na sua perfeição máxima.

De facto, é no coração da pessoa bem amada que a Humanidade nasce de forma única, original e irrepetível.

Na verdade não há duas pessoas iguais. É por esta razão que ninguém está a mais, pois ninguém é uma cópia de alguém que já existe ou existiu.

A família humana é uma imagem perfeita d e Deus. Na verdade, Deus é uma comunhão familiar de três pessoas.

É na família que as pessoas recebem o leque básico dos seus talentos ou possibilidades de humanização.

A fidelidade a estes talentos, como diz o evangelho de São Mateus é a grande tarefa da humanização e, portanto, reunir condições para tomar parte na Família Universal de Deus (cf. Mt 25, 14-30).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM-III

III-A ORIGINALIDADE DA FAMÍLIA CRISTÃ

Quando a família se estrutura com os horizontes da fé cristã, ganha um sentido de vida e uma profundidade de comunhão que vão muito além das famílias que não são cristãs.

A Palavra de Deus e a oração projectam luz nova sobre tantos acontecimentos que parecem tirar sentido à vida.

Na verdade, a Palavra de Deus potencia o sentido daquilo que já o tem e confere sentido àquilo que, à simples luz da razão, parece não ter qualquer sentido.

Por isso podemos falar de um sentido racional e de um sentido teologal da vida, o qual emerge a partir da meditação e do aprofundamento da Palavra e dos conteúdos da fé cristã.

Podemos dizer que o sentido teologal da vida vai emergindo à medida em que a Palavra de Deus vai sendo dita pelo Espírito Santo nos nossos corações.

O que distingue o cristão dos não cristãos é precisamente esta sabedoria teologal que emerge no coração dos crentes à medida em que o Espírito Santo lhes vai dizendo a verdade de Deus, do Homem, da História e do Homem.

O conteúdo da Fé cristã é a revelação, cujo coração é o mistério da Encarnação, esse enxerto do divino no humano, a fim de os seres humanos serem assumidos e incorporados na Família de Deus.

Fomos talhados para Deus. Isto quer dizer que vocação humana fundamental é a nossa plenitude na plenitude de Deus.

À luz da fé cristã, o sentido máximo da vida humana é Jesus Cristo, um homem perfeito com o qual fazemos um todo orgânico.

Jesus Cristo é o ponto de união do humano com o divino, pois pela Encarnação ele faz um todo orgânico com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

É este o sentido profundo da vida humana, quando esta é saboreada à luz da fé cristã.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM-IV


IV-A VOCAÇÃO FUNDAMENTAL DO HOMEM

A vocação primeira do Homem é, pois, a sua humanização. É verdade que começamos por ser aquilo que os outros fizeram de nós.

Daqui a importância de a humanidade emergir a partir de boas famílias. Mas o mais importante não são os talentos que recebemos, mas a maneira como os fazemos render. De facto, somos seres em construção.

Como vimos, a nossa capacidade de amar depende do modo como fomos amados. A maneira de ser fiel aos talentos recebido no contexto familiar é fazê-los render.

Isto quer dizer que a maneira de sermos fieis ao amor com que fomos amados á amar. Fazendo isto, estamos a realizar-nos a nós próprios, a facilitar a realização daqueles que se cruzam connosco na vida e a levar à plenitude o amor das pessoas que nos amaram e possibilitaram.

As pessoas que rejeitam de modo sistemático o chamamento do amor enroscam-se de modo progressivo ficando reduzidos a si.

É esta a situação de inferno, a qual impede a pessoa de se possuir plenamente e ser feliz.
Na verdade a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

No estado de inferno, a pessoa fica totalmente reduzida a si. Fica privada da plenitude familiar do Reino de Deus.

É aquilo a que o Novo Testamento chama de morte eterna, pois a pessoa está incapacitada de receber e comunicar mensagens de comunhão e amor.

Por outras palavras, na situação de inferno, a pessoa está incapacitada para viver a reciprocidade do amor.

Na situação de inferno, a pessoa não tem quem lhe diga: “Gosto muito de ti”. “Dá-me a tua mão e vamos fazer uma festa”.

Como vemos, os dois pólos da humanização são a emergência pessoal e a convergência comunitária.

Quanto mais emergimos como pessoas mais capazes somos de comunhão amorosa. Somos, de facto, imagens perfeitas da Divindade, a qual é uma comunhão perfeita de três pessoas.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FAMÍLIA E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM-V

V-A VIDA ESPITRITUAL DA FAMÍLIA CRISTÃ

A família que vive os horizontes da fé cristã, possui uma riqueza original em relação às famílias não crentes.

A família cristã é uma pequena comunidade de fé. Realiza-se como uma célula viva da Igreja.
É uma verdadeira Igreja doméstica, pois no seu interior pode acontecer a partilha da Palavra de Deus.

Para atingir uma verdadeira maturidade humana, a família deve abrir-se aos de fora, aprendendo a ultrapassar os laços estreito do sangue e aprendendo a olhar os outros com os olhos da fé.

À luz da fé os outros são nossos irmãos, pois fazem parte da grande família de Deus. O amor ao próximo é a proposta que Deus nos faz, a fim de treinarmos o nosso coração para comungarmos eternamente na Família de Deus.

Ninguém é capaz de se nos impor como próximo, pois ninguém é capaz de nos obrigar a amar.
Tornam-se próximo para nós as pessoas que nós formos capazes de eleger como alvo do nosso bem-querer, aceitando-as como são e facilitando a sua realização e felicidade.

É este o caminho da Fraternidade Universal cujo coração é a comunhão da Santíssima Trindade.
Na família bem alicerçada, o amor é a lei. Quando isto acontece, o rosto das crianças exprime alegria e, no seu coração emerge segurança e felicidade.

Não é difícil distinguir o rosto dos meninos bem amados!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 19 de março de 2008

ELEITOS COMO FILHOS POR DEUS PAI-I

I-A EXPERIÊNCIA DA FILIAÇÃO DIVINA

E, porque sois filhos, diz São Paulo, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do Seu Filho que clama: ‘Abba’, Pai (Ga 4, 6; Rm 8, 15).

A nossa condição de filhos de Deus é uma realidade a acontecer para nós na medida em que nos vamos realizando numa linha de amor fraterno.

De facto, para ser filho de Deus Pai é necessário ser irmãos dos outros seres humanos, pois Deus é Pai de todos.

Esta realidade já está, portanto, a acontecer em nós e, apesar de ser de ordem espiritual pode ser sentida como feita no Espírito Santo.

Esta, como qualquer experiência mística é sempre rápida e fugidia. Embora possa acontecer muitas vezes nunca se repete de modo igual, pois tem sempre matizes novos.

Podemos dizer que a experiência da nossa filiação divina acontece em forma de uma sentirmos uma alegria profunda.

O Evangelho de São Lucas descreve este tipo de experiência da paternidade de Deus, relatando o modo como Jesus o sentia:

“ Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: Bendigo-Te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ELEITOS COMO FILHOS POR DEUS PAI-II


II-SABOREAR A CONDIÇÃO DE FILHOS

Nesses momentos é como se a pessoa se sentisse invadida pelo sabor da plenitude. A pessoa tem a sensação de que as coisas se tornam presentes e próximas.

É como se o coração da pessoa, de repente, se abrisse e encontrasse o melhor que podia encontrar.

Por isso a pessoa sente uma paz profunda e uma vontade enorme de acolher e amar todas as pessoas.

A fraternidade universal manifesta-se como desejo de ser compreensivo e tolerante e desejar a felicidade de todos os seres humanos.

Esta experiência acontece sempre a partir do íntimo pessoa e nunca é muito duradoira. Nesses momentos o nosso ser interior fica face a face com o Espírito Santo o qual, com seu jeito maternal de amar, nos conduz ao encontro com o Pai, que nos acolhe como filhos e do Filho que nos acolhe como irmãos.

De facto, é pelo Espírito Santo que somos introduzidos na comunhão familiar de Deus (Rm 8, 14-17).

Esta experiência não pode ser manipulada ou imposta. Acontece quando menos esperamos e sempre como dom gratuito. Apesar de muito rápida deixa marcas profundas que não se esquecem logo a seguir.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ELEITOS COMO FILHOS POR DEUS PAI-III

III-FILIAÇÃO DIVINA E PLENITUDE

O ser humano leva dentro de si uma fome enorme de plenitude amorosa. Todos desejamos ultrapassar o que nos limita e vencer a solidão que nos asfixia, entrando na esfera de uma comunhão sem limites nem ameaças.

Na verdade é esta a meta que nos aguarde devido ao facto de sermos filhos de Deus. Por outras palavras, esta fome profunda que levamos no nosso íntimo corresponde à plenitude que Deus sonhou para nós.

Só a incorporação definitiva na Família Divina preencherá esta fome de plenitude e felicidade.
Graças ao dom do Espírito Santo que nos vem de Cristo ressuscitado, já a estamos a ser incorporados de modo gradual e progressivo na comunhão orgânica da Santíssima Trindade.

Por outras palavras, vamos sendo divinizados à medida em que nos vamos humanizando. Será eternamente mais divino quem mais se humanizar agora.

Humanizar-se é emergir como pessoa mediante relações de amor e convergir para a Comunhão Universal do Reino de Deus.

A nossa divinização é um dom gratuito, mas acontece na proporção da nossa humanização.
A construção da pessoa é a construção de um ser livre.

Deus criou-nos como seres capazes de nos criar, colaborando com a sua plano criador. É esta a raiz da nossa dignidade de pessoas livres, conscientes, responsáveis, únicas, originais e irrepetíveis.

A nossa inserção na Família de Deus é, pois, um caminho que temos de percorrer em união com a acção do Espírito Santo que nos vai fazendo nascer de novo (Jo 3, 3-6).

É verdade que enquanto estivermos em génese histórica não podemos saborear de modo perfeito esta comunhão familiar humano-divina.

Mas graças ao dom da revelação nós sabemos que a aspiração de plenitude que levamos dentro corresponde a uma meta que Deus sonhou para nós.

A consciência desta nossa vocação fundamental é um apelo a não desfalecer na tarefa da humanização que implica morte ao homem velho e nascimento do Homem Novo (2 Cor 5, 17.19).

A meta da nossa realização história é, pois a Comunhão do Reino de Deus cujo coração é a comunhão da Santíssima Trindade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

terça-feira, 18 de março de 2008

EIS UMA RAZÃO VÁLIDA PARA VIVER-I


I-CHAMADOS A AMAR

Inspirado pela sua sabedoria infinita e movido pelo seu amor omnipotente, Deus criou-nos inacabados, a fim de podermos completar em nós a sua obra.

O nosso Criador sabia que, para sermos livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa, tínhamos de ser também autores de nós mesmos.

Na verdade, Deus introduziu-nos na vida como um processo de humanização. Como ternura maternal de Deus, o Espírito Santo ajuda-nos a renascer todos os dias (Jo 3, 6).

O Livro do Génesis fala-nos do hálito da vida que Deus insuflou no barro primordial do qual emergiu Adão (Gn 2,7).

Como sopro primordial da vida espiritual, o Espírito Santo iniciou a dinâmica histórica da amorização, a qual é o motor da humanização do Homem.

Hoje como ontem e amanhã como hoje, é o Espírito Santo que, no concreto das situações, toma a iniciativa de nos iluminar e convidar, a fim de agirmos numa linha de fidelidade ao amor.

O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a omunhão. Os seus apelos surgem na nossa consciência em forma de chamamento ou proposta.

A nossa consciência é como que o altifalante no qual o Espírito Santo se faz ouvir, convidando-nos a agir na linha do amor.

Através do amor a pessoa aceita o outro tal como é, apesar de ser diferente de si. Mediante a atitude eucarística a pessoa dá-se à outra, num movimento de reciprocidade e comunhão.

O amor leva a pessoa a encantar-se pelo outro, apesar das diferenças. Valoriza essas diferenças e entra em comunhão com ele.

Na atitude eucarística cala a sua diferença para se dar totalmente ao outro. Nesta reciprocidade as diferenças não são anuladas mas optimizadas e potenciadas na comunhão amorosa.

Mediante o amor, a pessoa age no sentido de facilitar a realização e felicidade do outro.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

EIS UMA RAZÃO VÁLIDA PARA VIVER-II

II-AMOR E EMERGÊNCIA DO HOMEM NOVO

Como sabemos, o homem novo ainda está em construção. Eis a razão pela qual nós experimentamos uma ambiguidade existencial que, por vezes, se torna para nós uma fonte de sofrimento.

Podemos dizer que o homem velho é aquele que ainda está umbilicalmente ligado ao mundo animal.

O homem novo, pelo contrário, é aquele que emerge a partir do processo da humanização, constituindo-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão.

Deus chama-nos a facilitar a emergência do homem novo em nós e nos outros, tentando dominar as tendências do homem velho que ainda está vivo em todos nós.

O evangelho de São João diz que é preciso nascer de novo pelo Espírito Santo, a fim de poder emergir em nós o homem novo configurado com Cristo (Jo 3, 3-6).

O Espírito Santo ajuda-nos a edificar o Homem Novo cujo coração se vai configurando progressivamente com o jeito de ser e amar de Jesus Cristo.

O amor é a grande razão que vale para viver, pois o amor humano é assumido e divinizado na comunhão com Deus que é Amor (1 Jo 4, -7-8).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 17 de março de 2008

A ORIGINALIDADE DA VIDA CRISTÃ-I

I-A NOVIDADE DA VIDA CRISTÃ

O Cristão distingue-se dos demais seres humanos, não por ser um super-homem, um asceta mais exigente, ou por ter uma religião mais perfeita.

A originalidade cristã radica na vida teologal de Fé, Esperança, Caridade. Isto significa que a essência da fé cristã é uma realidade viva.

Por outras palavras, a essência da fé cristã é uma dinâmica de Vida Nova. Em relação a Deus, a vida cristã acontece como uma interacção entre o crente e as pessoas divinas.

Esta interacção é dinamizada pelo Espírito Santo. A vida cristã é um dom de Deus que emerge no coração dos crentes pela acção do Espírito Santo.

Podemos dizer que a vida cristã radica em Jesus Cristo que, ao ressuscitar, nos comunicou a força renovadora do Espírito Santo.

Em relação aos seres humanos, a vida cristã concretiza-se como uma interacção animada pelo Espírito Santo que leva os crentes a amar os outros seres humanos como irmãos, isto é, membros da única Família de Deus.

Na verdade, a nossa fé garante-nos que o Espírito Santo nos introduz na Família de Deus, a qual não assenta nos laços da carne e do sangue, mas sim nos laços do Espírito Santo.

Eis o que a Carta aos Romanos diz a este propósito: “De facto, todos os que são movidos pelo Espírito Santo, são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos de Deus e graças ao qual chamais “Abba” ó Pai!

É o mesmo Espírito Santo que, no nosso íntimo, dá testemunho de que realmente somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-17).

Graças à dinâmica da Palavra de Deus no coração dos crentes, estes começam a olhar as coisas e os acontecimentos com os critérios de Deus, tornando-se um sal e uma luz no meio do mundo (Mt 5, 13-16).

É, pois, a Palavra de Deus e a acção recriadora do Espírito Santo que nos vai tornando diferentes em relação aos não crentes, a fim de sermos um testemunho da presença e do plano de Deus na marcha da construção humana.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ORIGINALIDADE DA VIDA CRISTÃ-II

II-A ORIGINALIDADE DA ORAÇÃO CRISTÃ

Pela fé os cristãos acreditam num Deus que é uma comunhão de três pessoas. Isto quer dizer que pode acontecer comunhão entre as pessoas humanas e as divinas, pois a Divindade, tal como a Humanidade, é uma união orgânica e dinâmica de pessoas.

Na perspectiva cristã, a oração é um espaço privilegiado para a comunicação do Homem com Deus.

É uma distorção pensar que a oração é uma maneira automática de mudar Deus ou forçar a Divindade a conceder-nos certas coisas.

Esta maneira de pensar é pagã e tem empobrecido enormemente a vida de fé dos cristãos.
Eis o que diz o evangelho de São Mateus a este propósito:

“Nas vossas orações não sejais como os pagãos que usam de muitas repetições, pois pensam que, por muito falarem, serão atendidos.

Não façais como eles, porque o vosso Pai do Céu sabe bem do que necessitais ainda ante4s de lho pedirdes” (Mt 6, 7-8).

É verdade que a oração, por ser uma relação animada pelo Espírito Santo, a qual põe a pessoa humana em comunhão com Deus é sempre eficaz.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ORIGINALIDADE DA VIDA CRISTÃ-III

III-A ORAÇÃO NÃO É UMA FORÇA MÁGICA

No entanto, não devemos ter uma visão mágica sobre a eficácia da oração no sentido de fazer dela um procedimento mágico e automático para mudar o querer e o agir de Deus.

Não nos esqueçamos de que o querer de Deus coincide sempre com o melhor para nós. Não nos esqueçamos de que a Divindade é comunhão de amor e, portanto, o seu modo de querer e agir é sempre o do amor.

Podemos dizer que a oração nos transforma e nos predispõe a agir de acordo com o querer de Deus.

A oração, portanto, predispõe-nos para acolher acção do Espírito Santo que optimiza a nossa capacidade de realização pessoal.

Ao mesmo tempo, a oração predispõe-nos para sintonizar com a vontade de Deus, a qual que coincide sempre com o nosso bem e felicidade.

Isto significa que a oração nos conduz a uma vida comprometida. Se assim não fosse seria uma atitude vazia em relação à vida e ao amor.

A oração é um elemento fundamental para alimentar a fé e crescer na vida cristã. A oração é, de facto, o coração da vida espiritual.

Na medida em que a nossa oração acontece ao jeito da oração de Cristo, podemos falar de oração no Espírito Santo.

A oração no Espírito Santo vai-nos capacitando para agirmos de acordo com o amor a Deus e aos irmãos. No evangelho de São Lucas, Jesus manda-nos orar sem cessar (Lc 18, 1).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ORIGINALIDADE DA VIDA CRISTÃ-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E ORAÇÃO

A fé cristã é uma realidade teologal, isto é, assenta sobre a revelação de Deus. Isto torna a oração cristã um acontecimento original, pois falar a Deus em horizontes teologais é dialogar com Deus com a Sabedoria do Espírito Santo.

Eis a razão pela qual o evangelho de São Mateus nos diz para não sermos como os pagãos que multiplicam palavras, pensando que, desse modo, influenciam o próprio Deus (Mt 6, 7-8).

Deus é Amor. Tudo o que Deus deseja para nós é apenas o que o amor é capaz de querer: o bem incondicional para as pessoas amadas.

Por outras palavras, se Deus é Amor, o poder de Deus é apenas o poder do Amor e o seu querer coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Eis a razão pela qual a oração cristã só tem sentido se for um diálogo de amor e confiante, cujo princípio animador é o Espírito Santo.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
A oração no Espírito Santo é, pois, um diálogo que culmina na comunhão amorosa da Santíssima Trindade.

Pouco a pouco, a oração vai-nos transformando e fazendo que os nossos critérios coincidam com os critérios de Deus.

Na oração o Espírito Santo vai-nos confidenciando o que só ele nos pode confidenciar: a verdade do projecto de Deus que engloba a Encarnação, a ressurreição e, portanto, a nossa divinização.

Eis as palavras de Jesus este respeito: “Eu fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco.

Mas quando eu partir, o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26).

Depois de nos revelar os mistérios da fé, o Espírito Santo envia-nos para a vida, pois a comunhão com o Senhor não nos aliena nem afasta dos nossos compromissos e do amor aos irmãos.

Confiante e fortalecido, o crente que faz oração no Espírito Santo confia e encontra força para actuar, pois sabe que Deus está com ele e para ele.

O crente que confia no Senhor age como se tudo dependesse de si, sabendo que o fundamental é obra de Deus.

Na verdade, Deus está connosco, embora nunca nos substitua. É importante resistir à tentação de querer sentir Deus, pois a sua presença é espiritual e, portanto, não pode ser apreendida pelos sentidos.

Quando tivermos a sensação de estar a sentir Deus devemos saber que não é Deus que estamos a sentir, mas um sentimento nosso.

A oração implica uma atitude de gratuidade. Não te sinto, mas mesmo assim, quero partilhar contigo o meu tempo.

Num mundo onde a gratuidade está a definhar, é importante criarmos espaços e tempos de gratuidade.

Não pode haver fidelidade a Deus sem oração. Não somos capazes de responder de modo perfeito às interpelações do Amor sem oração. Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ORIGINALIDADE DA VIDA CRISTÃ-V

V-ORAÇÃO E VIDA COMPROMETIDA

A fidelidade a Deus leva consigo uma dinâmica que nos capacita para responder às interpelações do Amor.

A oração é um dos principais suportes da sua vida cristã. É um espaço privilegiado, para o cristão fazer a experiência de comunhão com Deus mediante a acção do Espírito Santo.

É sempre no Espírito Santo que fazemos o encontro com a primeira pessoa da Trindade como filhos e, com a Segunda, como irmãos.

A prova de que somos filhos em relação à primeira pessoa da Trindade e irmãos em relação à segunda é que Deus nos dá o Espírito Santo que, no nosso íntimo, clama “Abba”, papá (Ga 4, 6).

Na verdade, nós somos filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus, diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 14-16).

Jesus Cristo foi um homem de oração e insistiu na necessidade que temos de orar. Nos momentos mais difíceis como, por exemplo, nas horas que precederam a sua prisão e morte, Jesus encontro força na oração (Mc 14, 36).

E nós, acrescenta Jesus, somos os ramos da videira que não podem dar fruto se vierem a separar-se da cepa que é Jesus Cristo (Jo 15, 4-5).

Podemos dizer que a oração cristã é um diálogo e um encontro com Deus no nosso íntimo.
O ponto de encontro com Deus é o nosso coração e o princípio que anima este encontro de comunhão amorosa é o Espírito Santo.

Uma das maiores dificuldades que por vezes nos pode acontecer na oração é a sensação de estarmos a falar para o vazio.

Mas se formos fieis à oração, pouco a pouco nos iremos apercebendo da força transformadora da Oração.

Com efeito, a oração não é para mudar Deus, mas para nos deixarmos mudar por ele. Não devemos ter medo de nos apresentar diante de Deus assim como somos e deixar Deus ser quem é.

Depois tenhamos confiança, sabendo que a oração é sempre eficaz. A porta será aberta a todo o que bate, diz o evangelho de São Lucas, referindo-se à eficácia da oração (Lc 11,10).

Jesus deu-nos a certeza de que mediante a oração o fardo da vida se torna muito mais leve.
A oração comunitária é um meio privilegiado para aprendermos a orar.

De facto, a oração dos irmãos é mediação para o Espírito Santo nos ajudar a crescer na capacidade de orar.

A oração pessoal é o modo que temos de optimizar o jeito de orar que recebemos na comunidade. É a esta oração que Mateus se refere quando nos manda entrar no nosso quarto e falar ao Pai (Mt 6, 6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 16 de março de 2008

EMERGÊNCIA ESPIRITUAL E VIDA ETERNA-I

I-A EMERGÊNCIA DO HOMEM ESPIRITUAL

O nosso ser interior é um feixe de energias espirituais a emergir de modo gradual e progressivo.

A calda apropriada para esta emergência espiritual é a dinâmica das relações amorosas.

Este feixe de energias espirituais, à medida em que emerge, sente-se atraído para a presença misteriosa que é a interioridade máxima de toda a realidade.

Isto quer dizer que o nosso espírito é uma realidade dinâmica e em constante crescimento.

As nossas relações de amor são a dinâmica que faz desabrochar a nossa vida pessoal-espiritual em cujo interior o Espírito Santo se torna presente.

Na verdade, o Espírito Santo tem um jeito especial para animar as relações de amor entre as pessoas, tanto humanas como divinas.

O espírito humano, à medida em que emerge cresce no sentido de Deus, isto é, na direcção da interioridade atraído pela força de Deus.

À medida em que se robustece, a nossa interioridade espiritual vai-se configurando com o jeito de pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Quanto maior for a nossa densidade pessoal-espiritual mais forte se torna o nosso face a face com Deus.

Por outras palavras, quanto mais emergimos espiritualmente mais profundamente interagimos com Deus que é mais interior a nós que nós mesmos.

Isto significa que o Céu não está longe. Não há lonjura nem distância entre a nossa interioridade espiritual e a comunhão com Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

EMERGÊNCIA ESPIRITUAL E VIDA ETERNA-II

II-EMERGIR PARA A PLENITUDE DE DEUS

Podemos dizer que o Céu está mesmo à porta da nossa interioridade espiritual, em cuja direcção se orientam as nossas energias espirituais.

É este o sentido das afirmações de Cristo segundo as quais o Reino de Deus é uma realidade próxima e interior:

“Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: “O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva.

Ninguém poderá afirmar: “Ei-lo aqui” ou “Ei-lo ali, pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 20-21).

Eis outro ensinamento importante de Jesus sobre esta questão:

“Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12, 28).

A nossa interioridade espiritual nasce e configura-se como ser pessoal livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias

EMERGÊNCIA ESPIRITUAL E VIDA ETERNA-III

III-IDENTIDADE E ORIGINALIDADE PESSOAL

Como emerge a partir de um leque único de possibilidades ou talentos, cada pessoa se configura de modo único, original e irrepetível.

Por ter densidade pessoal-espiritual, o nosso ser interior tem qualidade e densidade para ser glorificado e assumido na comunhão da Santíssima Trindade com Cristo.

Por outras palavras, só o que em nós é pessoal-espiritual é susceptível de ser ressuscitado e glorificado com Cristo.

O evangelho de São Mateus descreve de modo muito claro a condição espiritual dos ressuscitados. Eis as suas palavras:

“Estais enganados, diz Jesus aos fariseus, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.
Na ressurreição nem os homens têm mulheres, nem as mulheres, maridos. São como anjos no Céu” (Mt 22, 29-30).

Enquanto vivemos na história somos seres com uma interioridade espiritual a emergir e a crescer no nosso íntimo.

Na verdade, a nossa condição histórica é a de pessoas em processo de construção.

O nosso ser interior vai-se formando e robustecendo como o pintainho dentro do ovo.

A morte é o momento em que nasce o pintainho, a fim de ser incorporado e assumido na Família de Deus.

“Semeia-se corpo natural, diz São Paulo, e ressuscita-se corpo espiritual (1 Cor 15, 44).
O corpo espiritual significa esse feixe de energias que tem configuração pessoal e se vai robustecendo no nosso interior.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

EMERGÊNCIA ESPIRITUAL E VIDA ETERNA-IV

IV-JESUS CRISTO E A NOSSA VIDA ETERNA

A nossa incorporação na Família de Deus acontece porque fazemos uma unidade orgânica com Cristo, a qual é dinamizada pelo Espírito Santo.

Servindo-se da linguagem sacramental da Eucaristia, o evangelho de São João descreve de modo muito bonito a vida nova que emerge em nós, graças a esta união orgânica com Cristo:

“Os que comem a minha carne e bebem o meu sangue vivem em mim e eu neles. Depois Jesus acrescentou:

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo por ele, do mesmo modo os que comem a minha carne e bebem o meu sangue viverão por mim” (Jo 6, 56-57).

No mesmo evangelho de São João, Jesus utiliza ainda uma outra imagem muito sugestiva para afirmar esta vida que vivemos em comum com Cristo.

Jesus diz que ele é a cepa da videira e nós os ramos. Os ramos apenas podem dar fruto se estiverem unidos à videira, da qual recebem a seiva da vida e da fecundidade (Jo 15, 1-7).

A seiva da cepa é, naturalmente, o Espírito Santo, o qual faz fluir um regato de Vida Eterna no nosso coração, disse Jesus (Jo 7, 37-39).

A comunhão com Jesus ressuscitado é uma realidade espiritual, tal como nos diz o evangelho de São João:

“O Espírito é que dá vida. A carne não serve para nada. As palavras que vos disse são espírito e vida” (Jo 6, 63).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sexta-feira, 14 de março de 2008

A MORTE E O SENTIDO DA VIDA-I

I-O AMOR VALE PARA VIVER E PARA MORRER

Morrer…
Derradeira possibilidade de voltar a nascer. A consciência da nossa morte ilumina o sentido mais profundo que a vida tem.

Por outras palavras, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual. Eis a razão pela qual sentido máximo da vida acontece na fase terminal.

Há causas que valem para morrer que são exactamente as mesmas que valem para viver: o amor.

Na verdade, quem morre por amor gera comunhão amorosa e nasce para a vida plena. Eis um ensinamento de Jesus sobre esta verdade fundamental:

“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Felizes os que fazem do amor a razão primeira da sua vida, pois a morte surge-lhes como o nascimento que conduz à plenitude.

Felizes dos que sabem ir morrendo para dar vida, pois podem estar seguros de que participarão de modo pleno na ressurreição com Cristo.

A vida dos que se foram gastando ao serviço do amor deixa de ser só deles, pois é uma vida partilhada e assumida na Comunhão Universal da Família de Deus.

Na verdade, os que gastaram a vida dando-se às causas do amor encontram-na e possuem-na de modo pleno na comunhão com Deus.

Dar a vida por amor é a maneira mais perfeita de romper os muros da finitude humana e entrar nas coordenadas da universalidade e da equidistância.

A lei da Comunhão Universal é interacção: “Interacção e plena reciprocidade amorosa entre as pessoas.

Na festa do Reino de Deus cada pessoa é mediação de plenitude e felicidade para as demais. Por isso já não existe solidão, nem luto, nem carências de qualquer espécie.

A Vida Nova está a emergir no interior da pessoa à medida em que esta se vai relacionando amorosamente com os outros.

A Vida Nova, portanto, não emerge sem que a velha se vá gastando por amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A MORTE E O SENTIDO DA VIDA-II

II-A ARTE DE MORRER AO HOMEM VELHO

Felizes dos que sabem ir morrendo, dando vida aos outros, pois estão a renascer para a plenitude da comunhão.

A pessoa só se encontra e possui na reciprocidade da comunhão amorosa. Reduzida a si, a pessoa está em estado de malogro e perdição.

Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão com os outros. Só o ser humano tem consciência de que um dia vai morrer. Esta certeza é um convite a descobrir razões mais profundas para viver.

Felizes dos que descobrem que a grande razão para viver e morrer é o amor. Na verdade, dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito que tivermos treinado agora na história.

Levamos no nosso íntimo um ser espiritual em construção, o qual emerge no nosso íntimo, graças à força das relações de amor.

A morte é o último dos partos que foram possibilitando o nascimento do Homem para a vida plena.

A morte é o rebentar da casca do ovo, a fim de possibilitar a entrada do pintainho na Festa da Vida Plena.

Ao anular o nosso ser exterior, a morte possibilita a libertação definitiva do nosso ser interior, o qual é pessoal e, portanto, espiritual.

Na verdade, a morte não mata a pessoa, mas destrói o exterior que a envolve. Nesse momento Cristo surge como a Árvore da Vida cujo fruto, o Espírito Santo, nos dá a vida eterna.

O Paraíso, fechado por causa do pecado de Adão, foi reaberto para a Humanidade por Jesus Nazaré, diz o evangelho de São Lucas (Lc 23, 43).

Com o acontecimento da ressurreição de Cristo, a nossa vida fica iluminada no seu sentido mais profundo:

De Adão, o homem tirado da terra, veio o nosso ser exterior que é biológico, psíquico e mortal.
De Cristo Ressuscitado, o Novo Adão, veio-nos a Vida Eterna.

Ao ressuscitar, Jesus Cristo comunica-nos a semente da Vida Divina, isto é, o Espírito Santo que nos introduz na Família de Deus (Ga 4, 4-7).

O Espírito Santo é a Água Viva que Jesus nos dá, a qual faz jorrar no nosso íntimo o manancial da Vida Eterna.

Por Cristo ressuscitado a Humanidade foi assumida e incorporada na Família da Santíssima Trindade.

Perante a vitória da ressurreição, a morte é apenas a possibilidade de entrarmos na Comunhão Universal do Reino de Deus.


quinta-feira, 13 de março de 2008

TAMBÉM HOJE É DIA DE SALVAÇÃO-I


I-JESUS E O DOM DA ÁGUA VIVA

O evangelho de São João diz-nos que Cristo Ressuscitado nos dá a Água Viva que faz jorrar no nosso íntimo a Vida Eterna (Jo. 4, 14).

Esta Água viva, acrescenta o mesmo evangelho, é o Espírito Santo que Cristo, ao ressuscitar, nos comunica de maneira nova (Jo 3, 37-39).

Deste modo, ao ressuscitar, Jesus tornou-se o Novo Adão que, através do Espírito Santo, vai corrigindo em nós as distorções operadas pelo pecado do primeiro Adão.

O Livro do Génesis diz que o primeiro Adão, devido ao seu pecado, nos fechou as portas do Paraíso (Gn 3, 23-24).

O Novo Adão abriu-nos de novo as portas do Paraíso, como Jesus diz ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição.

Eis as palavras de Jesus: “Em verdade te digo que, hoje mesmo, estarás comigo no Paraíso (Lc 23, 42-43).

Segundo o evangelho de São Mateus, no momento em que Jesus morre e ressuscita, os justos começam a ressuscitar com Cristo (Mt. 27, 52).

Portanto, ao vencer a morte, Jesus comunicou-nos o Espírito Santo que é o sangue de Cristo ressuscitado a circular no nosso coração.

De facto, o Espírito Santo é o Sangue da Nova e Eterna Aliança que anima e fortalece a Vida Divina a circular em nós.

Por outras palavras, o Espírito Santo é o vínculo maternal que nos incorpora na comunhão da Família de Deus como filhos e herdeiros do Deus Pai e como irmãos e co-herdeiro com o Filho (Rm 8, 14-16).

É também pelo Espírito Santo que Jesus de Nazaré, o Filho de Maria e o Filho Eterno de Deus, sem se confundirem, fazem um e o mesmo Cristo.

Por outras palavras, o Espírito Santo é o vínculo maternal que une e dinamiza a interioridade humana de Jesus com a interioridade divina do Filho Eterno de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TAMBÉM HOJE É DIA DE SALVAÇÃO-II

II-CRISTO E O HOMEM FAZEM UMA UNIÃO

Por ser homem connosco Jesus está organicamente unido a todos os seres humanos a partir do coração de cada ser humano.

Isto quer dizer que a Humanidade, organicamente unida a Jesus, forma o Cristo total. A Humanidade, portanto, forma um todo orgânico com Jesus ressuscitado.

O evangelho de São João diz que nós somos os ramos da videira cuja cepa á Jesus Cristo (Jo 15, 1-8).

Apesar de ser um homem como nós, Jesus Cristo também pertence à esfera de Deus. Na verdade, a sua interioridade espiritual humana interage directamente com a interioridade divina do Filho de Deus, graças ao Espírito Santo, que é o animador desta reciprocidade amorosa humano-divina.

Por estar organicamente unido a nós, Cristo comunica-nos o Espírito Santo de modo intrínseco, isto é, como sangue do Senhor Ressuscitado, graças à interacção orgânica e dinâmica que nos une.

Associando a ressurreição de Jesus à comunicação do Espírito Santo, o evangelho de São João diz que a carne que Cristo nos dá na Eucaristia é uma realidade espiritual, não biológica (Jo 6, 62-63).

Por outras palavras a carne e o sangue que Jesus nos dá a comer é a comunicação do Espírito Santo que nos vivifica e diviniza.

Eis as palavras do evangelho de São João: “E se virdes o Filho do Homem ressuscitar e voltar para onde estava antes. A carne não serve para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62- 63).

Isto quer dizer que a Eucaristia é um sacramento que proclama, visibiliza e corporiza a acção salvadora de Jesus ressuscitado a actuar em nós pelo Espírito Santo.

É esta a dinâmica do Novo Adão o qual é a cabeça da Nova Criação, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TAMBÉM HOJE É DIA DE SALVAÇÃO-III


III-CRISTO DÁ-NOS A VIDA ETERNA

Com Cristo ressuscitado, a Humanidade atingiu a plenitude dos tempos, isto é, o limiar da ressurreição e integração na comunhão da Família divina.

Se Cristo não fosse homem, nós não éramos divinos, pois somos divinizados pelo facto de formarmos uma união orgânica e dinâmica com ele.

Por outras palavras, ao comunicar-nos o dom do Espírito Santo, Jesus Cristo torna-se a fonte da vida eterna para nós. Podemos dizer que Jesus Cristo, ao ressuscitar, colocou a Vida Eterna ao nosso alcance!

Querendo afirmar que Deus não criou a Humanidade para a morte, o Livro do Génesis diz que no centro do Paraíso estava a Árvore da Vida cujo fruto dava a Vida Eterna aos que o comessem (Gn 3, 23).

Isto quer dizer que a Vida Eterna não é inerente à condição natural do ser humano, mas sim uma graça que nos vem da Árvore da Vida.

Depois o Génesis acrescenta que, devido ao seu pecado, Adão ficou impedido de comer o fruto da Árvore da Vida (Gn 3, 24).

Ao ressuscitar, Jesus Cristo abre de novo as portas do Paraíso. Segundo a linguagem da Eucaristia a Carne e o Sangue de Jesus, isto é, o Espírito Santo é o fruto da Árvore da Vida:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia.

Na verdade, a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue uma verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, assim também, quem me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).

Deste modo, a Árvore da Vida renova-nos e liberta-nos do pecado do velho Adão.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TAMBÉM HOJE É DIA DE SALVAÇÃO-IV

IV-TAMBÉM HOJE É UM DIA DE SALVAÇÃO

Podemos dizer que hoje mesmo, Jesus Cristo ressuscitado, o Novo Adão, está a fazer emergir em nós o Homem Novo.

A Primeira Carta aos Coríntios, diz que o primeiro Adão era apenas um ser vivente, enquanto Cristo Ressuscitado, o Novo Adão, é um espírito vivificante, isto é, a fonte da Vida Eterna (1 Cor 15, 45).

Recorrendo à simbologia da Eucaristia, São Paulo diz que estamos organicamente unidos a Cristo, o Novo Adão, pois somos membros do seu corpo (1 Cor 12, 27).

Nós só podemos dar frutos de vida na medida em que estivermos organicamente unidos a Cristo, tal como os ramos da videira estão unidos à cepa (Jo 15, 4-5).

Como sabemos, a seiva que vem da cepa para os ramos e os torna fecundos é o Espírito Santo. É por ele que somos incorporados na comunhão da Santíssima Trindade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias