sábado, 9 de maio de 2009

O PAI-NOSSO COMO SÍNTESE DO EVANGELHO


Um dia, os Apóstolos disseram a Jesus: “Ensina-nos a rezar”. Jesus respondeu ao seu pedido ensinando-lhes o “Pai-Nosso”.

A partir daquele dia, o “Pai-Nosso” ficou o modelo do que é uma oração à maneira de Jesus. Por isso, os cristãos o aprendem de cor.

O “Pai Nosso” é usado em todos os momentos importantes da vida dos cristãos: celebrações do Baptismo, da Eucaristia, da Confirmação, nos funerais, nos casamentos e muitos outros momentos da vida da fé.

É importante não fazer do “Pai-Nosso” uma fórmula que se aprende de cor para ser repetida de forma mecânica.

Por outras palavras, o “Pai-Nosso” não é uma espécie de tabuada para ser repetida sem pensarmos no que dizemos.

Pelo contrário, é importante fazer do Pai-Nosso uma oração para ser meditada, a fim de aprendermos a orar à maneira de Jesus e, deste modo, crescermos no sentido da fé e na capacidade de dialogar com Deus.

Pela oração do “Pai-Nosso” Jesus ensina-nos a falar com Deus Pai como um filho fala com o seu pai bondoso.

Por esta mesma razão, ao falarmos com o Filho de Deus, devemos dialogar com ele como um irmão dialoga com o seu irmão.

“Pai-Nosso” que estais no Céu, dizemos nós. O Céu é o ponto de encontro com as pessoas da Família de Deus: o Pai, o Filho, o Espírito Santo e os biliões de pessoas humanas que já moram na casa de Deus.
O Pai-Nosso diz que devemos santificar o nome de Deus. Por isso dizemos: “santificado seja o vosso nome”.

Quando Moisés se aproximou de Deus no Monte Sinai, Deus falou-lhe dizendo: “Não te aproximes. Tira os teus sapatos, pois o lugar que estás pisando é sagrado”.
Isto significa que Deus é muito superior a nós. Mas Deus é tão bom que quis fazer de nós membros da sua família.

Deste modo, Deus tornou-se muito próximo de nós, abolindo as distâncias que nos fazia seus ser servos.

Eis as palavras de Jesus: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.

Ninguém ama mais do que a pessoa que dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor.

A vós eu chamo-vos meus amigos, pois dei-vos a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 12-16).

Ao ensinar aos Apóstolos o “Pai Nosso”, Jesus quis ensinar-nos que Deus está tão perto de nós que habita no nosso coração.

O nome de Deus é santo e misterioso. Isto quer dizer que não podemos entender totalmente a grandeza de Deus.

Jesus ensinou-nos a dizer “Pai-Nosso” que estais nos Céus”. Com esta expressão que estais nos Céus, Jesus quis dizer-nos que Deus, apesar de habitar em nós, continua a ser uma realidade misteriosa, isto é, não o vemos.

A mensagem do “Pai Nosso” é muito profunda, pois ensina-nos que, se somos família de Deus, as pessoas humanas são todas irmãs umas das outras.
Ensina-nos, também, que devemos trabalhar para construir a Família Deus Pai, pois é este o seu projecto.

Jesus disse-nos para nos aproximarmos de Deus Pai com muita confiança. É importante amarmos a Deus como um filho gosta da sua mãe e sabe que esta gosta dele.

No “Pai-Nosso” também afirmamos o seguinte: “Venha a nós o vosso Reino. O Reino de Deus é a comunhão de toda a Humanidade com Deus, fazendo uma só Família.

Depois ainda acrescentamos: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”. As pessoas que se unem a Cristo, passam a fazer a vontade de Deus Pai como ele fez.

Jesus disse que o Reino de Deus não está longe. Está dentro de nós, mas ainda não se manifestou nem revelou totalmente.

No “Pai-Nosso” também pedimos a Deus o “pão-nosso” de cada dia”. Como somos filhos de Deus, temos o direito de pedir alimento a Deus Pai e ao nosso irmão Jesus Cristo.

O pão de cada dia não é apenas o pão que vai para o estômago, mas também o pão que alimenta a nossa mente e o nosso coração.

Jesus ensina-nos deste modo a dizer a Deus com toda a confiança: “Pai: dá-nos, neste dia, tudo aquilo de que precisamos.”
Outra verdade importante do “Pai-Nosso” é que Jesus nos manda pedir perdão a Deus pelos nossos pecados.

Mas diz-nos também que devemos perdoar aos que nos fazem mal. Por isso dizemos “Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Mas, como para nós, não é fácil perdoar, Jesus ensina-nos a pedirmos ao Pai força para nos dar um coração capaz de perdoar.

A última petição do “Pai Nosso” é: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

A vida é como uma luta que temos de enfrentar todos os dias. Em cada dia temos de saber dizer não ao mal e fazer coisas boas.

A tentação é uma insinuação subtil que surge na nossa mente, pretendendo enganar-nos, dizendo que é bem o que na realidade é muito mau para nós.

Quando dizemos a Deus que não nos deixe cair na tentação estamos a pedir a Deus que nos dê a força do Espírito Santo, a fim de não falharmos na vida.

Podemos dizer que o Pai-Nosso é, de facto, um resumo do Evangelho que Jesus pregou.
Configura o nosso coração com o coração de Jesus que confiava em Deus Pai como um menino confia no seu pai.

Quando rezamos ao jeito de Jesus, o Espírito Santo vem sobre nós, como veio sobre Jesus e diz no nosso íntimo: “Abba,” isto é, “Papá!”
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 6 de maio de 2009

JESUS CRISTO COMO FILHO DO HOMEM-I



I-JESUS E O TÍTULO DE FILHO DO HOMEM

No livro de Ezequiel Deus chama mais de noventa vezes o profeta por Filho do Homem. No contexto deste livro, este título significa apenas filho de Adão, ser mortal e frágil.

No Livro de Ezequiel este título não tem qualquer conotação messiânica como podemos ver logo no início do Livro:
“Filho de homem, põe-te de pé que vou falar contigo.O Espírito penetrou em mim enquanto me falava. Então ouvi alguém que me chamava.

Disse-me: “Filho de homem, vou enviar-te aos filhos de Israel” (Ez 2, 1-2). No Livro de Daniel, pelo contrário, o título tem um alcance messiânico.

Filho do Homem, para Daniel, é o rei Messiânico, entronizado por Deus no Céu: “Entre as nuvens do Céu vinha alguém como um Filho de Homem.

Chegou perto do Ancião (Deus) e foi conduzido à sua presença.Foram-lhe dadas soberania, glória e realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes das diversas línguas o servem.

O seu império é um império eterno que não passará jamais e o seu Reino nunca será destruído” (Dan 7, 13-14).

Não é difícil ver aqui reflexos do oráculo do profeta Natã a David, a primeira profecia messiânica da história do povo bíblico:

“Quando chegar o fim dos teus dias, disse Deus a David e repousares com teus pais, vou manter a tua descendência, consolidando o teu reino através de um teu descendente.

Ele construirá um templo ao meu nome e eu firmarei para sempre o seu trono real.
Eu serei para ele um pai e ele será um filho para mim (…).

A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim e o teu trono estará firme para sempre” (2 Sam 7, 12-16).

A profecia do Filho do Homem é a última no conjunto das profecias messiânicas. Surge num momento em que o povo estava a ser perseguido e martirizado pelos descendentes de Alexandre Magno, os quais queriam impor a religião e os costumes pagãos aos judeus.

A profecia é elaborada em linguagem apocalíptica, a linguagem própria dos momentos de grande perseguição.

O nome de David é substituído pelo nome de Filho do Homem, a fim de não ser mais um motivo de perseguição.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO FILHO DO HOMEM-II

II-JESUS RESSUSCITADO COMO FILHO DO HOMEM

O título de Filho do Homem aplicado a Jesus pressupunha, da parte dos discípulos, a experiência da ressurreição.

Se Jesus utilizou este título para falar da sua missão messiânica não há qualquer dúvida de que ele tinha consciência de que a plenitude da sua missão messiânica iria acontecer após a ressurreição.

Eis o que diz São Paulo: “Acerca do Filho de Deus, nascido da descendência de David segundo a carne, constituído filho de Deus em todo o seu poder (entronizado), pelo Espírito que Santifica, pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo, Senhor Nosso” (Rm 1, 3-4).

Entre os títulos atribuídos pelo Novo Testamento a Jesus, o mais usado é o “Filho do Homem”. Aparece nos evangelhos mais de oitenta vezes.

Este título adaptava-se perfeitamente para falar de Jesus como rei messiânico, entronizado no Céu pela sua ressurreição:

“Acerca do Filho de Deus, nascido da descendência de David segundo a carne, constituído Filho de Deus (rei entronizado) em todo o seu poder, pelo Espírito Santo, no momento da sua ressurreição de entre os mortos” (Rm 1, 3-5).

De acordo com a esperança messiânica, Jesus devia subir ao trono na terra. Mas como os judeus o mataram, Deus ressuscitou-o e entronizou-o no Céu (Act 2, 22-24).

Então, os discípulos vêem na ressurreição de Jesus a realização da profecia de Daniel em Jesus:

Uma vez ressuscitado, Jesus, investido no seu poder real na presença de Deus (Dan 7, 14). Após a Páscoa, os evangelistas aplicam ao Jesus histórico, vão atribuir-lhe muitas características próprias do Filho do Homem entronizado no Céu.

É muito provável que o título tenha sido usado pelo próprio Jesus. De facto, todas as fontes evangélicas dizem que Jesus utilizava este título quando falava de si.

Se assim é, então Jesus tinha consciência de que a plenitude da sua missão messiânica aconteceria após a sua Ressurreição. Ele é, na verdade, o rei messiânico entronizado no Céu, como proclamou o profeta Daniel.

Para a mentalidade bíblica, o rei e o povo fazem um todo orgânico. É por esta razão que o texto passa da figura singular do Filho do Homem, para a figura colectiva do povo:

“Os santos do Altíssimo são os que hão-de receber a realeza e guardá-la por toda a eternidade” (Dan 7, 18).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO COMO FILHO DO HOMEM-III


III-CARACTERÍSTICAS DA MISSÃO DO FILHO DO HOMEM

O título Filho do Homem aponta para o facto de Jesus ser mais que um simples homem ungido com o Espírito Santo para ser o Messias:

O Filho do Homem tem poder para perdoar os pecados (Mt 9, 6). O perdão do pecado pressupõe uma recriação, isto é, um fazer do Homem uma Nova Criação:

“Por isso, se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era velho passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Jesus Cristo” (2 Cor 5, 17-18).
A Nova Criação, é fruto de um novo nascimento, diz o evangelho de São João:

“Jesus respondeu a Nicodemos: “Em verdade em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus”.

Aquilo que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 5-6). Além disso, o Filho do Homem é Senhor do Sábado (Mt 12, 8).

O dever de guardar o Sábado era indiscutível para qualquer judeu. As atitudes de Jesus face ao Sábado indicam que o Filho do Homem é superior a Moisés, legislador.

Assim com Jonas passou três dias no ventre da baleia, o Filho do Homem passará três dias no seio da terra (Mt 12, 40).

Isto quer dizer que o principal da missão de Jesus terá lugar após a sua morte e ressurreição.

O Livro dos Actos dos apóstolos diz que foi no momento da sua ressurreição que Jesus foi
investido na sua missão de rei messiânico (Act 3, 19-21).

O Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os anjos e, então, retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta (Mt 16, 27).

A missão messiânica de Jesus tem a função de realizar o juízo definitivo. Naturalmente que o juízo final não deve ser visto como o momento da condenação.

Pelo contrário, o juízo definitivo implica a salvação definitiva, pois é este o plano de Deus: “A vontade de Deus é que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4).

O juízo final deve ser interpretado como a plena realização da missão salvífica do Filho do Homem:

Nada do que de salvável existir no ser humano se perderá no vazio da morte. O Filho do Homem não condena ninguém. Os que vão para a morte eterna condenam-se por sua própria decisão.

Após a transfiguração, Jesus pede aos Apóstolos para não contarem o que viram sobre a montanha, até o Filho do Homem ressuscitar dos mortos (Mt 17, 19).

A missão do Filho do Homem tem um alcance universal. Será como o relâmpago que sai do Oriente e brilha até ao Ocidente (Mt 24, 27).

A Salvação que Deus concede à Humanidade através do Filho do Homem é para os homens de todas as raças, línguas, povos e nações:

“Então aparecerá o sinal do Filho do Homem no Céu. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do Céu com grande poder e glória” (Mt 24, 30).

De agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Todo-poderoso (Lc 22, 69).

No momento do seu martírio, Estêvão disse: “Vejo o Céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus” (Act 7, 56).

Com o evangelho de São João, o Filho do Homem adquire as características de um ser divino e preexistente.

Ele é o Filho Eterno, Deus com o Pai e o Espírito Santo: “Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem” (Jo 3, 13).

Jesus tem o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem: “Deus Pai deu ao Filho o poder de julgar, pois Ele é o Filho do Homem (Jo 5, 27).

Nesta passagem, São João tem presente a visão do profeta Daniel, segundo a qual o Filho do Homem é investido no Céu com poder e Glória, a fim de julgar todos os povos (cf. Dan 7, 13).

Os evangelhos dizem que o Filho do Homem vai vir de Novo. Todos os homens o verão chegar sobre uma nuvem (Lc 21, 27; Mc 14, 62; Mt 26, 64).

A nuvem era o sinal que acompanhava normalmente as manifestações de Deus. Tal como aconteceu com a profecia do Servo Sofredor do profeta Isaías (cf. Is 52, 13-53, 12), também a profecia do Filho do Homem não encontrou no povo judeu.

Foi com o acontecimento de Jesus Cristo que estas duas profecias encontraram o seu sentido pleno.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


JESUS CRISTO COMO FILHO DO HOMEM-IV

IV-O FILHO DO HOMEM COMO FILHO PREEXISTENTE

E se virdes o filho do Homem subir para onde estava antes?” (Jo 6, 62). Com o evangelho de São João o título de Filho do Homem adquire a sua profundidade máxima: O Filho do Homem é o Filho preexistente de Deus.

É eterno como o Pai e é Deus com ele e o Espírito Santo. Visto a esta nova luz, o Filho do Homem torna-se o Filho de Deus encarnado:

“O Verbo era Luz verdadeira que, ao vir ao mundo, ilumina todos os homens. Ele estava no mundo e o mundo veio à existência por ele.

Mas o mundo não o reconheceu. Veio ao que era seu e os seus não o receberam. Mas aos que o receberam, a todos os que nele crêem deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem do impulso da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo encarnou e habitou no meio de nós. Nós contemplámos a sua glória, glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de Graça e de Verdade” (Jo 1, 9-14).

O Filho do Homem preexistente revela-nos as duas faces do mistério de Cristo: a face humana e a face divina.

A dimensão divina e a humana interagem de modo perfeito, formando uma união orgânica de grandeza humano-divina animada pelo Espírito Santo.

Em Jesus Cristo o humano não diminui o divino e o divino não anula o humano. Por outras palavras, em Jesus Cristo, a natureza humana, tal como a divina, realizam-se de modo perfeito em Cristo.

Deus é apenas um, apesar das pessoas do Pai e do Filho serem distintas, inconfundíveis e formarem uma unidade orgânica no Espírito Santo.

Do mesmo modo, Cristo é apenas um, apesar da sua grandeza humano-divina. Trata-se de uma unidade orgânica, isto é, relacional e interactiva animada pelo Espírito Santo.

O Pai e o Filho fazem Um, diz o evangelho de São João (Jo 10, 30).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 2 de maio de 2009

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-I

I-HUMILDADE E PAZ DE CORAÇÃO

Um dia Jesus fez a seguinte proposta aos discípulos: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

No sentido espiritual o coração é o núcleo mais nobre da nossa interioridade, a partir do qual brotam as opções e escolhas decisivas para a humanização da pessoa humana.

Para modelarmos um coração parecido ao de Jesus precisamos de ser guiados pelo Espírito Santo.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações. Eis algumas atitudes e opções fundamentais para moldarmos o nosso coração de acordo com o coração de Jesus Cristo:

Não estar sempre a culpar os outros das coisas que nos correm mal.

Não é possível moldar uma coração de acordo com o de Jesus sem cultivarmos a humildade.

A humildade é a capacidade de se relacionar com as pessoas numa linha de verdade e saber situar-se socialmente de modo adequado e correcto.

Ser humilde é procurar ser verdadeiro em relação às nossas qualidades e defeitos.

Não é humilde a pessoa que se julga sempre melhor que os outros.

Santa Teresa dizia que a humildade é a verdade. A pessoa humilde é uma pessoa lúcida e sensata.

A pessoa humilde sabe ver com realismo as suas qualidades, mas também as suas limitações e defeitos.

A pessoa humilde reconhece que ninguém é bom em tudo.

É verdade que em determinado aspecto podemos ser melhores que os outros. Mas por ser sensata, a pessoa humilde compreende e aceita que haja muitas pessoas melhores do que ela em muitos outros aspectos.

A pessoa humilde sabe que precisa dos outros. Na verdade, ninguém se basta a si mesmo e ninguém é capaz de ser feliz sozinho.

Seria errado pensar que humilde é a pessoa que julga não valer nada. A pessoa humilde não se julga indispensável.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-II

II-RELAÇÕES FRATERNAS E PAZ DE CORAÇÃO

Para termos um coração parecido com o de Jesus precisamos de cultivar a amabilidade. A amabilidade tira força à agressividade dos outros.

No momento em que alguém esteja a ser agressivo para nós, se procurarmos ser amáveis e serenos ficaremos espantados com a força da mansidão.

Para termos uma coração semelhante ao de Jesus é fundamental ouvir os outros e procurar compreender os sentimentos e ideias que eles procuram comunicar-nos.

Cultivar a lealdade em relação às outras pessoas, sobretudo sabendo guardar segredo sobre o que elas nos comunicam.

Só assim merecemos que elas nos comuniquem o mais íntimo de si. É importante saber valorizar as coisas que as outras pessoas fazem e prestar atenção às suas etapas de crescimento.

É importante termos presente que não há crescimento sem crises. Procuremos edificar a fraternidade sobre em relações baseadas assente na verdade e na autenticidade.

Para termos um coração como o de Jesus é importante tomarmos a sério as amizades. Deus também nos toma a sério e pede-nos que realizemos apenas os talentos que temos e não outros.

Lembremo-nos que as coisas boas que as outras pessoas fazem não deixam de o ser, só porque não foram realizadas por nós.

Ser atento à pessoa do outro estando dispostos a falar quando sentirmos que isso é útil e válido.
Do mesmo modo, devemos estar dispostos a calar-nos sobretudo quando o outro deseja comunicar algo.

É importante compreender e olhar com respeito a história das outras pessoas, a fim de compreender melhor as suas atitudes e comportamentos.

É importante olhar com as lentes da fé para as pessoas. Lembremo-nos de proceder de modo a que os outros dêem graças a Deus por nos terem encontrado na vida.

Na verdade os outros são um dom de Deus para nós, pois ninguém se pode realizar sozinho.

Lembremo-nos com frequência que os outros são irmãos que Deus nos dá, a fim de criarmos laços de fraternidade, condição fundamental para edificarmos a família de Deus.

Procuremos reconhecer as qualidades das outras pessoas e não girar de modo obsessivo em redor dos seus defeitos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-III


III-ESPÍRITO SANTO E PAZ DE CORAÇÃO

São Paulo diz que o Espírito Santo é o Amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

A primeira Carta aos Coríntios diz que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

Jesus aconselhava as pessoas a procurar momentos de silêncio, a fim de poderem entrar no seu íntimo e escutar aí a voz do Espírito Santo.

Também aconselhava os discípulos a não se deixarem dominar por preocupações excessivas.
Esta maneira de proceder não resolve os nossos problemas, acrescentava Jesus:

“Quem de entre vós, com as suas preocupações, pode prolongar a duração da sua vida?” (Mt.6,25-27).

No evangelho de São Lucas ele é ainda mais explícito quando afirma: “Tende cuidado para que as vossas vidas não fiquem pesadas devido ao excesso de preocupações” (Lc.21,34).

São Paulo diz que a Paz de coração é um dos frutos do Espírito Santo (Gal 5,22). O Espírito Santo é, no nosso interior, uma presença geradora de paz e alegria, pois capacita-nos para darmos frutos de vida.

A pessoa dominada pelo stress fica empobrecida e bloqueada nas suas capacidades físicas e mentais.

Além de se sentir cansada vive frustrada por não ser capaz de se concentrar e criar. Na véspera de partir para o Pai, Jesus deixou-nos a paz interior como o grande dom do Espírito Santo:

“Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou” (Jo.14,27).

São Paulo, depois de ter experimentado a riqueza da vida dinamizada pelo Espírito Santo, escreve aos Colossenses:

“Reine em vossos corações a paz de Cristo à qual fostes chamados, a fim de formardes um só corpo” (Col 3,15).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-IV

IV-A PAZ INTERIOR COMO TAREFA

Sempre que a Palavra de Deus encontra eco no nosso coração podemos ter a certeza de que estamos a ouvir a voz do Espírito Santo.

Segundo o ensinamento de Jesus, as coisas mais importantes acontecem no interior das pessoas.

Por isso ele aconselha os discípulos a procurarem a força do Espírito Santo no silêncio fora dos ruídos do mundo:

“Retiremo-nos para um lugar deserto, disse-lhes Jesus, e fiquemos ali por algum tempo” (Mc.6,31).

Traduzindo esta proposta de Jesus para os nossos dias tenhamos a certeza de que quinze ou vinte minutos de concentração e meditação diária são muito importantes para realizarmos a “higiene” da mente e do coração.

Deste modo encontraremos equilíbrio, sabedoria e força para sermos sal, luz e fermento no meio do mundo, como diz Jesus (Mt 5, 13-16).

Quando sentirmos o nervosismo a progredir e a agitar o nosso coração ponhamos um travão e procuremos a paz interior procurando sintonizar com o Espírito Santo que está em nós.

Jesus convidava os discípulos a pôr os problemas e dificuldades nas mãos de Deus. A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7).

Isto quer dizer que podemos ter a certeza de que a vontade de Deus a nosso respeito coincide com o que é melhor para nós.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-V

V-CONFIANÇA EM DEUS E PAZ DE CORAÇÃO

Através dos seus ensinamentos, Jesus convidava as pessoas a treinar a arte da confiança em Deus

Podemos ter a certeza de que Deus está connosco, por nós e para nós. As pessoas em cujo coração habite a paz de coração, tornam-se construtoras de paz junto das pessoas que se cruzam consigo.

Deste modo vão realizando na sua vida a bem-aventurança prometida aos construtores da paz:

“Bem-aventurados os construtores da paz, pois estes serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9).

Apesar do ritmo acelerado em que o nosso mundo se move, nós podemos contrariar esta tendência, não nos deixando dominar pela excitação da vida diária.

É bom recordar as palavras de São Paulo na Carta aos Gálatas: “O fruto do Espírito é paz…” (Gal 5, 22).

Zacarias, o pai de São João Baptista, exulta de alegria pelo dom de seu filho e diz o seguinte:
“O Senhor guia os nossos passos no caminho da paz” (Lc.1,79).

A paz e a felicidade emergem no interior da pessoa que no seu interior sintoniza com a presença do Espírito Santo.

Nesses momentos, a pessoa faz uma experiência maravilhosa de comunhão com Deus e com a Humanidade.

Saboreia ainda a harmonia do Universo com o qual se sente em sintonia, pois este é um dom de Deus para todos nós, como diz São Paulo:

“Tudo vos pertence (…) a vida, a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1Cor.3,21-23).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PAZ DE CORAÇÃO COMO DOM E TAREFA-VI

VI-PAZ DE CORAÇÃO E FECUNDIDADE DE VIDA

Quando sentirmos o nervosismo a querer dominar-nos ousemos enfrentar a situação dizendo para nósmesmos:

“Para quê toda esta agitação? Não é com este nervosismo que eu vou melhorar o mundo e as minhas relações com os outros”.

Eis o que Jesus nos aconselha: Não vos preocupeis com o dia de amanhã. Basta a cada dia basta a sua própria dificuldade” (Mt 6, 34).

Na verdade, quanto mais nos deixamos dominar pelo frenesim do mundo mais limitamos as nossas capacidades de dar frutos de vida.

Ao mesmo tempo menos capazes seremos de nos manter equilibrados e poder ajudar os outros.

Se pensarmos que Deus está em nós e por nós, mais facilmente desaparecem do nosso coração os medos e mais facilmente surgirá a paz e a harmonia interior.

Jesus aconselha-nos a manter sempre uma atitude de vigilância: “Felizes os servos que o Senhor, ao chegar, encontrar vigilantes” (Lc.12,37).

A presença libertadora de Deus em nós pode ser experimentada no dia-a-dia da nossa vida.
É uma experiência que nos confirma que o Reino de Deus está a acontecer dentro de nós como paz e alegria, diz a Carta aos Romanos:

“O Reino de Deus não é uma questão de comidas e bebidas, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm14,17).

Jesus falou do Reino de Deus como realidade a emergir no nosso interior das pessoas: “A vinda do Reino de Deus não é observável no nosso exterior.

Não se poderá dizer: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá, pois o Reino de Deus está dentro de ós” (Lc.17,20-21).

Isto quer dizer que a paz de coração é um sinal de que o Reino de Deus está emergir no nosso íntimo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

segunda-feira, 27 de abril de 2009

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-I

I-O PLANO DE DEUS É UM PROJECTO DE AMOR

A fé cristã ensina-nos que a História terá um fim e o Homem será incorporado na Família de Deus.

Eis o que diz a primeira carta a Timóteo: Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tim 2, 4).

No evangelho de São João, Jesus diz que ele mesmo é a porta e todo aquele que passar por esta porta entra na salvação (Jo 10, 9).

A vontade do Pai que me enviou é que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu (Jo 6, 39).

Deus chamou-nos para uma vocação santa, não pelas nossas obras, mas em virtude do seu plano de salvação e pela graça (2 Tim 1, 8-9).

Quando chegar o final da História acontecerá a plenitude da Humanidade como um todo orgânico e interactivo.

Os eleitos, isto é, os que têm coração para comungar com Deus e os irmãos, são plenamente incorporados na comunhão da família de Deus.

A Carta aos Efésios diz que fomos eleitos em Cristo antes da criação do mundo (Ef 1, 3-4). Isto quer dizer que Deus nos talhou para comungarmos com ele.

A Segunda Carta a Timóteo diz que as Escrituras nos comunicam a Sabedoria que conduz à Salvação pela fé em Cristo (2 Tim 3, 15).

Estes textos ajudam-nos a olhar a História como um projecto com um sentido salvador. O conteúdo central do Novo Testamento é, de facto, a Boa Nova da Salvação em Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-II

II-A NOVACRIAÇÃO EM CRISTO

Graças a Cristo e ao Espírito Santo que ele nos envia os seres humanos já são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

O evangelho de São João diz que Jesus não veio para julgar o mundo mas para o salvar (Jo 12, 47).

Ainda que o homem exterior se vá degradando e envelhecendo, o interior vai-se renovando diariamente pala acção do Espírito Santo (2 Cor 4, 16).

Assim como a morte veio por um homem, por um homem veio a salvação que é a vida eterna (Rm 5, 12-21).

Se alguém está em Cristo é uma nova criação. Passou o que era velho. Tudo isto nos vem de Deus Pai que, em Cristo, reconciliou a Humanidade consigo não levando mais em conta os pecados dos homens (2 Cor 5, 17-19).

Na verdade Deus destinou-nos para sermos seus filhos adoptivos em Cristo (Ef 1, 5). Com Cristo, portanto, seremos herdeiros (Ef 1, 9-11).

Este mistério esteve oculto durante milénios, mas foi-nos revelado através do seu Filho nestes tempos que são os da plenitude (Col 1, 26).

Ao chamar-nos à fé, Cristo incorporou-nos no grupo do resto fiel, o qual está livre da ira que está para vir (1 Ts 1, 10).

A nossa plenitude é a comunhão universal do Reino de Deus. Ninguém é filho de Deus de modo individual ou a título pessoal.

Somos filhos porque fazemos um todo orgânico com Cristo. Somos convidados a dizer Pai-Nosso, a fim de compreendermos que Deus é nosso Pai na medida em que formos irmãos dos outros.

É este o modo de ser irmão de Deus Filho e filho de Deus Pai.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-III


III-ASSUMIDOS NA COMUNHÃO FAMILIAR DE DEUS

Fomos chamados a unir-nos ao Filho, a fim de fazermos uma unidade orgânica com o Pai mediante o Espírito Santo (Jo 17, 21-23).

Vista à luz da fé, a História está cheia de sentido, pois é um projecto de amor sonhado de Deus.

Ao ressuscitar, Jesus introduziu a História na plenitude, isto é, na fase dos acabamentos. Os Apóstolos associavam o final da História com a Segunda vinda de Cristo.

São Paulo imaginava que o fim dos tempos estava para muito breve. Deus enviou o seu Filho, a fim de se tornar o primogénito de muitos irmãos e, deste modo, nos integrar na plenitude do Reino (Rm 8, 29).

E porque Cristo ressuscitado nos introduziu na Família de Deus, todos nós já podemos proclamar “Abba”, ó Pai! (Gal 4, 4-7).

As primeiras comunidades cristãs julgavam que a História estava precisamente a atingir o seu fim.

Os Apóstolos pensavam que ainda estariam vivos no dia da segunda vinda de Cristo (Lc 21, 20-30).


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Calmeiro Matias


FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-IV

IV-O DIA DO JUÍZO

Influenciados pela visão trágica dos apocalipses judeus, os apóstolos, após a ressurreição de Jesus, começam a associar a segunda vinda de Cristo com o dia da ira.

O dia da ira significava para o judaísmo do tempo de Jesus, o dia em que Deus enviaria os seus anjos para destruir os pecadores.

Pouco a pouco começam a associar o dia da ira com a vinda do Messias. Nesse dia apenas um pequeno resto, o chamado resto fiel, escaparia à destruição.

São Paulo interpretava a segunda vinda de Cristo na linha do dia da ira. Ele julgava que as comunidades cristãs como o pequeno resto fiel que escaparia à punição final ele diz o seguinte aos Tessalonicenses:

“Deus não nos destinou para a ira mas para a salvação em nosso Senhor Jesus Cristo (1 Ts 5, 9).

O livro do Apocalipse vê o resto fiel constituído pelos justos do Antigo Testamento. O número dos justos da Antiga Aliança é de cento e quarenta e quatro mil.

Trata-se de um múltiplo de doze que simboliza os doze patriarcas multiplicados pelos doze apóstolos.

Vem depois a multidão dos cristãos vindos do paganismo e oriundos dos diversos quadrantes da terra:

“Não danifiqueis a terra nem o mar nem as árvores até termos marcado com o selo a fronte dos servos do nosso Deus.

Ouvi depois o número dos que foram assinalados: “cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel (…).

Depois disto apareceu uma multidão que ninguém podia contar, a qual provinha de todas as nações, povos e línguas” (Apc 7, 3-9).

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Calmeiro Matias

FINAL DA HISTÓRIA E SALVAÇÃO-V

V-O DIA DA SALVAÇÃO

Pouco a pouco, o Espírito Santo foi conduzindo as comunidades para a verdade do plano de Deus.

De modo gradual, os crentes começam a compreender que a vinda gloriosa de Jesus Cristo não será uma tragédia, mas sim a plena realização do amor salvador de Deus.

Jesus vai conferir plenitude à História realizando não a destruição dos pecadores, mas a realização do juízo de Deus, o qual é um juízo de salvação, não de condenação.

O juízo de salvação consiste em que Deus não permite que se perca nada daquilo que existe de
salvável na pessoa humana.

Por outras palavras, o juízo final de Deus não se compara com os julgamentos dos tribunais humanos, mas sim com os julgamentos dos pais, os quais são feitos pela lei do amor.

No final da História, e com o juízo final realizado segundo a lei do amor, o Reino de Deus atingirá a sua plenitude.

Nesse dia realizar-se-à a afirmação da Primeira Carta a Timóteo, a qual afirma: “A vontade de Deus é que todas as pessoas se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4).

Eis o que diz a Carta a Tito: Manifestou-se a graça de Deus para salvação de todos os homens (Tt 2, 11).

Quanto à maneira de se realizar este juízo e plenitude humana não devemos imaginar uma multidão homens e mulheres reunidos em qualquer canto da terra.

Na verdade esta plenitude final acontecerá no íntimo do coração das pessoas que estejam em comunhão com Deus.

Eis o que diz São Lucas sobre a plenitude do Reino: “O Reino de Deus não vem de modo aparatoso.

Na verdade trata-se de uma realidade que está dentro de cada um de vós (Lc 17, 20).

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Calmeiro Matias

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-I

I-O FRACASSO DE ADÃO

Adão, na bíblia, significa a Humanidade nos seus primórdios. O Livro do Génesis diz-nos que Adão foi criado para viver em harmonia com o Criador.

Mas logo no princípio, numa bela manhã cheia de sol e aves a chilrear, aconteceu a tragédia da rotura.

Enquanto caminhavam pelo jardim, Adão e Eva deixaram-se vencer pela tentação de serem iguais a Deus.

A tentação não é pecado. Pecado é ceder às sugestões da tentação. A tentação é uma sugestão subtil que pretende convencer o Homem de que é melhor para nós fazer o contrário do que Deus nos propõe.

Podemos dizer que o pecado é sempre uma oposição ao amor. A experiência ensina-nos que opor-se ao amor não é nunca a melhor opção para a pessoa.

A pessoa humana tem sempre a possibilidade de se opor à vontade de Deus. Mas quando isto acontece, a pessoa humana está fazendo uma opção que a conduz para o caminho do malogro e do fracasso.

No interior da nossa consciência, o Espírito Santo inspira-nos e convida-nos no sentido de fazermos a vontade de Deus.

A tentação, pelo contrário, pretende fazer-nos crer que o nosso bem está em fazermos o contrário do que Deus nos propõe.

Adão deixou-se seduzir pela tentação, recusando-se a dar ouvidos às propostas de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos interpelando e convidando a olhar a verdade do projecto de Deus.

Com uma ternura infinita, ele sugere-nos que a vontade de Deus coincide exactamente com o que é melhor para nós.

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Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-II

II-ADÃO FACE À TENTAÇÃO

Associando a vontade de Deus com a Árvore da Vida, podemos dizer que as pessoas que optam pelo fruto da Árvore da Vida têm a vida Eterna, (cf. Gn 3, 22).

A Árvore do conhecimento do bem e do mal, pelo contrário, é a arbitrariedade que gera a morte.
Desvinculada da sabedoria a ciência humana é profundamente ambígua.

Privada da sabedoria que confere o sabor da História, do Homem, e do plano criador de Deus, a ciência humana é perigosa.

Todos conhecemos as tragédias que muitas conquistas da ciência trouxeram para a Humanidade.
Dando ouvidos à tentação, Adão preferiu o fruto da Árvore do conhecimento do bem e do mal.

Mas o ser humano muitas vezes prefere decidir-se pelo fruto da árvore proibida, optando pelo capricho revestidos com a capa da autonomia.

A tentação não é pecado. Pecado é a pessoa ceder às insinuações da tentação, pensando que o mal é bem para nós.

Quando isto acontece, a nossa mente fica baralhada e julgar que o mal é bem para nós. A tentação é uma sugestão que conduz à mentira e ao erro.

Na oração do Pai-Nosso, Jesus ensinou os discípulos a pedir a Deus que não os deixe cair na tentação.

Deus conhece muito bem o que é melhor para nós. Como é fiel e verdadeiro, o seu querer não é um capricho, mas o desejo de que sejamos pessoas realizadas e felizes.

No Livro do Génesis a serpente é apresentada como o símbolo da tentação e da mentira.

Como símbolo da mentira, a serpente tentou destruir a amizade que reinava entre Adão e Deus, servindo-se da mentira.

Eis as suas palavras: “Deus disse-vos que se comêsseis o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, morreríeis.

Mas isso não é verdade. Pelo contrário, se comerdes esse fruto, acabais por ser iguais a Deus”.
A tentação não passava de uma insinuação que viria a culminar no fracasso da morte.

Eva deixou-se conduzir pela mentira, comendo o fruto da morte e dando dele ao seu marido.
O pecado atinge o pecador e, além disso, faz ainda outras vítimas.

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Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-III

III-AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE ADÃO

Depois de pecar, Adão descobriu as consequências trágicas do seu pecado. Ao descobrir que estava nu, isto é, incapaz de se humanizar deu-se conta que, afinal, não podia ser Deus por si mesmo.

É verdade que Deus tinha sonhado um plano de divinização para o Homem, mas isso é um dom de Deus e não uma conquista do Homem:

“Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de servidão, mas sim um Espírito de filiação que faz de vós filhos, o qual, no vosso íntimo clama: “Abba” ó Pai” (Rm 8, 14-15).

Ao aperceber-se de que estava nu, Adão sentiu-se numa situação de total malogro e fracasso sem possibilidades de se realizar e ser feliz.

Mas Deus mostrou o seu amor total a Adão e Eva, chamando-os e iniciando com eles uma nova relação de amizade.

Adão conhecia o plano de Deus para ele e, portanto, sabia o que era o melhor para ele. Mas em vez de dar ouvidos a Deus, Adão deu ouvidos à tentação, acabando por entrar no caminho do malogro e do fracasso.

Como era a cabeça da Humanidade, Adão conduziu-a para o fracasso. Mas Deus planeia logo a tarefa da restauração, prometendo a Eva o Messias libertador (Gn 3, 15).

O descendente de Eva que vencerá a serpente, ajudando a Humanidade a caminhar de acordo com a vontade de Deus.

O descendente prometido a Eva é Cristo, o qual, ao ressuscitar, nos põe em comunhão íntima com o Espírito Santo que, no nosso coração, nos fortalece e torna capazes de vencermos a tentação.

Por isso agora, como diz São Paulo, se nos deixarmos conduzir pelo Espírito de Deus somos incorporados na família de Deus (Rm 8, 14-17).

Adão e Eva compreenderam que a infidelidade à vontade de Deus deixa a pessoa incapaz de atingir a sua plena realização.

Esta experiência interpela os seres humanos a abrir o coração e a mente ao plano de Deus que, por ser infinitamente sábio, sabe o que é melhor para nós.

Ao mesmo tempo, como Deus é infinitamente bom, quer sempre o que é melhor para nós.

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Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-IV

IV-ADÃO E O MISTÉRIO DA INIQUIDADE

O Livro do Génesis diz que Deus, à medida que ia fazendo surgir as obras da Criação, exclamava de contentamento, pois achava que a sua obra era boa (Gn 1, 12; 18; 21; 25; 31).

Mas logo a seguir, o Livro do Génesis, diz que Deus ficou desencantado, pois o Homem, com o seu pecado distorceu o plano criador de Deus (Gn 6, 13-22).

Mas Deus insiste e renova a sua Aliança com Noé (Gn 6, 17-18). O relato do dilúvio é um relato alegórico para dizer que o pecado destrói o Homem.

O Livro do Génesis associa a morte com o pecado de Adão: “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3, 19).

É verdade que a morte como acontecimento natural não tem a ver com o pecado. Mas podemos dizer que o pecado é sempre gerador de morte, mas morte não natural.

É neste sentido que devemos entender o relato do fratricídio de Caim ao matar Abel. Também é neste sentido que devemos interpretar os homicídios, isto é, mortes não naturais que têm manchado a História de sangue humano.

Também quando matamos as possibilidades de humanização nos irmãos, estamos a matar o irmão, impedindo-o de emergir.

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Calmeiro Matias

ALEGORIA SOBRE O PECADO DE ADÃO-V

V-SALVOS PELO NOVO ADÃO

“Portanto, como pela falta de um só veio a morte, para todos, assim também pela fidelidade de um só veio a vida para todos.

De facto, assim como pela desobediência de um só homem todos caíram no fracasso do pecado, assim também pela obediência de um só todos são restaurados (Rm 5, 18-19).

Deus correu o risco de criar o Homem como ser dotado de livre arbítrio, isto é, com a capacidade psíquica de escolher pelo bem ou pelo mal.

O livre arbítrio é a possibilidade de a pessoa humana se tornar livre. A liberdade é sempre um bem, mas a pessoa humana, dotada de livre arbítrio, pode recusar-se a ser livre, optando pelo mal.

A liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.

A liberdade humana é, portanto, o resultado de uma cadeia de opções na linha do amor. Mas o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal, isto é, pelo amor ou contra o amor.

Só a dinâmica do amor humaniza o ser humano, fazendo-o emergir como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Se assim não fosse, a pessoa era fatalmente um ser humanizado e, portanto, livre. Mas a verdade não é esta, pois, a pessoa não nasce livre, mas com a possibilidade de se tornar livre.

Se temos a possibilidade de nos tornarmos livres, isto quer dizer que não somos livres de modo fatal.

A liberdade é uma das dimensões principais do homem humanizado. Um ser humano profundamente desumanizado é uma pessoa muito pouco ou quase nada livre.

Com efeito, temos a possibilidade de dizer não à nossa realização se essa for a nossa preferência.
É precisamente aqui que radica a possibilidade do pecado, isto é, a possibilidade de dizermos não ao amor.

O pecado mutila a pessoa do pecador e bloqueia a humanização das vítimas das suas recusas de amor.

As pessoas não são ilhas. A Humanidade forma uma interacção de tipo orgânico, tanto para o bem como para o mal.

Com a sua capacidade de optar contra o amor, o ser humano é capaz de criar roturas graves no tecido das relações humanas.

As nossas acções, tanto as positivas como as negativas têm consequências pessoais e consequências sociais e históricas.

No sentido do bem podemos dizer que as consequências pessoais do nosso agir são a nossa realização e crescimento pessoal.

No sentido do mal são os bloqueios interiores que resultam das nossas recusas de amor. Do mesmo modo, as consequências sociais e históricas do nosso agir podem ser positivas ou negativas.

As positivas são os ritmos humanizantes que vamos inscrevendo no tecido social através do bem que fazemos.

Estes ritmos formam uma dinâmica que possibilita a marcha humanizante da sociedade. As consequências sociais e históricas de tipo negativo são os ritmos negativos das nossas recusas de amor.

Estas forças de bloqueio dificultam a marcha da humanização. A lei do amor é esta: “Ninguém é capaz de amar, antes de ter sido amado, e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si”.

Isto quer dizer que o sucesso de uma realização humana passa sempre pelo amor. Assim como a componente básica da nossa vida corporal é a água, a componente básica da nossa vida pessoal-espiritual são as relações de amor.

Isto faz-nos compreender a importância do amor para a realização das pessoas e das sociedades, bem como a gravidade fundamental do pecado.

Não exageramos nada se dissermos que o amor é a origem e a plenitude do Universo, pois Deus é Amor (1 Jo 4, 16).

Como obstáculo à humanização do Homem, o pecado atinge o ser humano no seu próprio coração.

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Calmeiro Matias

domingo, 19 de abril de 2009

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-I

I-A FELICIDADE COMO TAREFA

A felicidade tem como alicerce uma vida edificada sobre as propostas do amor. Com efeito, a Palavra de Deus amplia os horizontes da plenitude da vida e seus sentidos.

Em critérios meramente humanos, a base da felicidade parece estar no exterior, naquilo que nos acontece, no tipo de pessoas que encontramos, nos acasos do dia-a-dia ou no dinheiro que temos.

Para a fé cristã, pelo contrário, a felicidade é algo que acontece no interior da pessoa. É sobretudo um dom que Deus concede às pessoas que se abrem à presença e à acção do Espírito Santo.

Para a bíblia, a felicidade acontece no coração do ser humano que se empenha em ser fiel à Aliança de Deus.

Podemos enumerar alguns dos aspectos importantes para acontecer no nosso coração a felicidade:

A paz interior. A serenidade resultante da certeza de que Deus, pelo Espírito Santo, está permanentemente actuando no nosso íntimo.

A fraternidade e a solidariedade são pilares básicos para edificarmos a felicidade. Não podemos esquecer que os dons de Deus nos são dados em forma de possibilidades, a fim de os podermos realizar.

Por outras palavras, aceitar os dons de Deus é realizar o seu leque de possibilidades. A felicidade não é uma simples ausência de sofrimentos, de dificuldades ou problemas.

Podemos dizer que a felicidade é uma experiência de plenitude que se vai reforçando de modo gradual e progressivo a partir de dentro.

Mesmo que a partir do contexto possam surgir contrariedades, obstáculos e oposições, como Jesus sublinhou nas bem-aventuranças (Mt 5, 1-12).

A felicidade acontece sobretudo às pessoas que se esforçam por edificá-la no seu íntimo com a ajuda do Espírito Santo.

São Paulo entendeu muito bem o papel central do Espírito Santo no nosso coração, fonte de alegria e felicidade.

Foi por esta razão que disse que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

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A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-II

II-DEUS FAZ-NOS MUITAS PROPOSTAS DE FELICIDADE

Se olharmos para os textos bíblicos nos quais Deus nos foi indicando os caminhos de realização, descobrimos facilmente as suas propostas de felicidade.

Ao mesmo tempo podemos constatar que tomam a sério essas propostas de Deus são realmente pessoas felizes.

Transformado por uma experiência espiritual profunda, São Paulo põe de lado a sua teologia judaica, e converte-se a Cristo.

Após a sua conversão viver para ele era o Evangelho e Cristo ressuscitado como ele mesmo afirma.

O seu compromisso com o Evangelho trouxe-lhe dissabores, perseguições, dias de fome e muitos perigos.

No entanto, como ele confessa, o seu trabalho de evangelizador foi a fonte da sua felicidade:
“Sinto-me profundamente alegre no meio de todas as minhas tribulações” (2 Cor 7, 4).

Podemos concluir que São Paulo é um testemunho do que significa tomar Cristo e o Evangelho a Sério.

Por isso a sua vida, apesar dos seus sofrimentos, foi uma vida feliz. Isto quer dizer que é muito perigoso brincar com Deus. Não porque Deus se vingue, pois ele é amor.

Brincar com Deus significa entrar no caminho do fracasso, pois a vontade de Deus a nosso respeito coincide com o que é melhor para nós.

Por outras palavras, desviar-se da vontade de Deus é desviar-se do caminho da própria realização e da felicidade.

Eis o que diz a Primeira Carta de São a propósito da certeza do amor de Deus, o qual é o fundamento da nossa felicidade:

“Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus. E somo-lo de verdade (1 Jo 3, 1-2).

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A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-III

III-A ARTE DE EDIFICAR A FELICIDADE

Deus dá-nos o dom da felicidade em forma de possibilidades que podemos realizar ou não. Por outras palavras, os dons de Deus são-nos concedidos forma de possibilidade, a fim de os podermos aceitar ou não.

Se assim não fosse, não se tratava de dons, mas sim de imposições. As possibilidades de edificarmos a nossa felicidade concretizam-se através de uma série de atitudes que vamos concretizando na vida.

Podemos enumerar algumas dessas atitudes que são realmente importantes para nos realizarmos e sermos felizes:

Aprender a viver com aquilo que não podemos mudar. É muito importante sabermos aceitar-nos, apesar das nossas limitações.

Cultivar pensamentos construtivos e partilhar com os outros uma visão positiva da vida.
É fundamental ser honesto consigo e com os outros.

É importante enfrentar as dificuldades com confiança, procurando viver unidos a Deus, a fim de resolver as dificuldades do modo mais acertado.

É muito importante não andarmos sempre a comparar-nos com os outros. Não nos devemos deixar esmagar com situações cuja solução não está nas nossas mãos.

Não será feliz quem não aprende a partilhar com os outros o seu tempo, os seus bens e o seu saber.

É importante cultivar o sentido de humor, impedindo que os pensamentos negativos nos dominem.

Não nos devemos esquecer de cuidar de nós. Quem não gosta de si não conseguirá gostar dos outros.

Ajudemos os outros sempre que se nos ofereçam ocasiões de o fazer. Procuremos manter-nos o mais possível calmos, evitando situações de stress.

Procuremos ser moderados na comida e na bebida. Nas relações com os outros procuremos adoptar sempre uma atitude humilde e discreta.

É muito importante aprender a escutar as mensagens que os outros nos querem transmitir.

Procuremos estar sempre actualizados nos assuntos que fazem parte do nosso trabalho ou missão.

Aprendamos desenvolver a capacidade de partir de uma situação para outra. As mudanças trazem com frequência novas possibilidades de crescimento e realização pessoal.

Procuremos viver a vida com paixão. Mantenhamo-nos ocupados com coisas das quais gostamos verdadeiramente.

Respeitemos os outros como gostaríamos de ser respeitados por eles.

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Calmeiro Matias

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA-IV

IV-A FELICIDADE E O DINHEIRO

Não queiramos ter como objectivo de vida o simples o amontoar de riquezas. Lembremo-nos de que a fonte da felicidade é o amor, não o dinheiro.

Isto quer dizer que as pessoas que têm muito dinheiro, se quiserem ser felizes, têm de pôr o dinheiro ao serviço do amor.

Procuremos aplicar os nossos bens em favor da nossa realização pessoal e da fraternidade.
Cultivemos o sentido de partilha com os mais pobres.

Se queremos realmente ser felizes, não pretendamos ter muitas coisas, pois não as poderemos usufruir nem dominar completamente.

Ter muitas coisas torna as pessoas ansiosas, preocupadas e muitas vezes desconfiadas.

Procuremos ser gratos para com os outros, aceitando os seus dons e as oportunidades de realização que eles nos oferecem.
Tanto quanto pudermos procuremos assumir compromissos sérios de realização pessoal.

Elaboremos objectivos de vida e procuremos realizá-los, numa linha de fidelidade a nós mesmos.
Não percamos de vista a meta que pretendemos alcançar.

Dentro do possível evitemos endividar-nos, procurando gerir os nossos bens de modo a bastar-nos, evitando o mais possível depender dos outros.

Não corramos riscos incontrolados, sobretudo não nos comprometamos em campos que não conhecemos e não controlamos.

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Calmeiro Matias