O sofrimento do justo, portanto, não é inútil, pois Deus toma partido pelos justos quando estes estão em sofrimento.
Por ser um membro unido a todo o povo, o justo é solidário com o mesmo povo. Ao tomar partido pelo justo, Deus liberta-o e glorifica-o e com ele, todo o povo.
Deste modo o sofrimento do justo adquire um efeito redentor. O sofrimento do justo, portanto não é entendido como um sacrifício exigido por Deus para perdoar aos pecadores.
É o contrário, Deus não suporta o sofrimento do justo nem quer sacrifícios humanos. Quando Abraão pensou oferecer o seu filho em sacrifício para dar glória a Deus, o Senhor rejeitou a oferenda de Abraão:
“Abraão construiu um altar, dispôs a lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha.
Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo para degolar o seu filho. Mas o mensageiro do Senhor gritou-lhe do Céu: “Abraão! Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou.”
O mensageiro disse: “Não levantes a mão contra o menino e não lhe faças qualquer mal” (Gn 22, 9-12).
Deus toma sempre partido pelo justo em sofrimento. Graças ao sofrimento do justo, Deus vai ressuscitar o povo, diz o profeta Ezequiel.
Utiliza a simbologia de um montão de ossos ressequidos que, pouco a pouco se vão cobrindo de carne.
Uma vez revestidos de carne, o Espírito Santo entra neles, fazendo que ganhem vida, tornando-se deste modo um Novo Povo de Deus (Ez 37, 1-14).
Ao tomar partido pelo justo sofredor, Deus ressuscita-o e glorifica-o. Ao mesmo tempo ressuscita e glorifica o povo, pois o justo faz uma união orgânica com ele.
Esta simbologia riquíssima é um terreno fértil para fazer uma leitura redentora dos sofrimentos e da morte de Jesus.
O profeta Isaías e o Salmo vinte e um afirmam que os pecadores, apesar das suas infidelidades, são redimidos, graças à fidelidade e à justiça do Servo sofredor (cf. Is 52, 13-53, 12; Sal 21).
Apoiados nestes textos, São Paulo e os evangelistas, defendem a autenticidade messiânica de Jesus, interpretando os seus sofrimentos e morte à luz do justo sofredor.
É nestes textos que se inspiram os relatos que nos apresentam a figura de Jesus como servo sofredor como vítima de expiação para salvar a Humanidade.
Esta interpretação fazia frente às acusações dos judeus, para quem os sofrimentos e a morte de Jesus eram o sinal de que ele tinha sido um amaldiçoado por Deus.
Calmeiro Matias
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