“Portanto, como pela falta de um só veio a morte, para todos, assim também pela fidelidade de um só veio a vida para todos.
De facto, assim como pela desobediência de um só homem todos caíram no fracasso do pecado, assim também pela obediência de um só todos são restaurados (Rm 5, 18-19).
Deus correu o risco de criar o Homem como ser dotado de livre arbítrio, isto é, com a capacidade psíquica de escolher pelo bem ou pelo mal.
O livre arbítrio é a possibilidade de a pessoa humana se tornar livre. A liberdade é sempre um bem, mas a pessoa humana, dotada de livre arbítrio, pode recusar-se a ser livre, optando pelo mal.
A liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.
A liberdade humana é, portanto, o resultado de uma cadeia de opções na linha do amor. Mas o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal, isto é, pelo amor ou contra o amor.
Só a dinâmica do amor humaniza o ser humano, fazendo-o emergir como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
Se assim não fosse, a pessoa era fatalmente um ser humanizado e, portanto, livre. Mas a verdade não é esta, pois, a pessoa não nasce livre, mas com a possibilidade de se tornar livre.
Se temos a possibilidade de nos tornarmos livres, isto quer dizer que não somos livres de modo fatal.
A liberdade é uma das dimensões principais do homem humanizado. Um ser humano profundamente desumanizado é uma pessoa muito pouco ou quase nada livre.
Com efeito, temos a possibilidade de dizer não à nossa realização se essa for a nossa preferência.
É precisamente aqui que radica a possibilidade do pecado, isto é, a possibilidade de dizermos não ao amor.
O pecado mutila a pessoa do pecador e bloqueia a humanização das vítimas das suas recusas de amor.
As pessoas não são ilhas. A Humanidade forma uma interacção de tipo orgânico, tanto para o bem como para o mal.
Com a sua capacidade de optar contra o amor, o ser humano é capaz de criar roturas graves no tecido das relações humanas.
As nossas acções, tanto as positivas como as negativas têm consequências pessoais e consequências sociais e históricas.
No sentido do bem podemos dizer que as consequências pessoais do nosso agir são a nossa realização e crescimento pessoal.
No sentido do mal são os bloqueios interiores que resultam das nossas recusas de amor. Do mesmo modo, as consequências sociais e históricas do nosso agir podem ser positivas ou negativas.
As positivas são os ritmos humanizantes que vamos inscrevendo no tecido social através do bem que fazemos.
Estes ritmos formam uma dinâmica que possibilita a marcha humanizante da sociedade. As consequências sociais e históricas de tipo negativo são os ritmos negativos das nossas recusas de amor.
Estas forças de bloqueio dificultam a marcha da humanização. A lei do amor é esta: “Ninguém é capaz de amar, antes de ter sido amado, e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si”.
Isto quer dizer que o sucesso de uma realização humana passa sempre pelo amor. Assim como a componente básica da nossa vida corporal é a água, a componente básica da nossa vida pessoal-espiritual são as relações de amor.
Isto faz-nos compreender a importância do amor para a realização das pessoas e das sociedades, bem como a gravidade fundamental do pecado.
Não exageramos nada se dissermos que o amor é a origem e a plenitude do Universo, pois Deus é Amor (1 Jo 4, 16).
Como obstáculo à humanização do Homem, o pecado atinge o ser humano no seu próprio coração.
Calmeiro Matias
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