O evangelho de São João mantém um perfeito equilíbrio entre a afirmação de Cristo como filho eterno de Deus e a sua condição de homem em tudo igual a nós excepto no pecado.
Como filho eterno de Deus, Cristo e o Pai fazem um diz o evangelho de São João (Jo 10, 30). Por isso, quem vê o seu modo de actuar de Jesus, está a ver o próprio jeito de ser de Deus Pai (Jo 14, 9).
Tomé, depois de ver o Jesus Cristo ressuscitado declara: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).
O próprio Jesus se declara Deus, usando a mesma expressão que Yahvé usou no Monte Sinai: “Agora digo-vos estas coisas antes que aconteçam, a fim de que, quando elas acontecerem, acrediteis que EU SOU” (Jo 13, 19).
Por outro lado, como homem, Jesus reconhece que vai para junto do seu e nosso Pai, do seu e nosso Deus” (Jo 20, 17).
Devido à sua condição divina o Filho é igual ao Pai. Mas devido à sua condição de homem, o Pai é maior do que o Filho:
“Ouvistes o que eu vos disse: “Eu vou mas voltarei para vós”. Se me tivésseis amor, devíeis alegrar-vos por eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que eu” (Jo 14, 28).
Os fariseus e os doutores da Lei, ao notarem que Jesus se fazia igual a Deus, mais se acendeu neles o desejo de matarem Jesus, diz o evangelho de São João:
“Devido ao facto de Jesus realizar estes prodígios em dia de sábado, os judeus começaram a perseguí-lo.
Em resposta, Jesus disse aos judeus: “O meu Pai continua a realizar obras até agora, e eu também continuo!”
Perante estas afirmações cresceu mais nos judeus a vontade de matar Jesus, pois não só anulava o sábado, mas também chamava a Deus seu Pai, fazendo-se, deste modo, igual a Deus” (Jo 5, 16-18).
A compreensão de Cristo como Filho Eterno de Deus não foi o ponto de partida, mas sim o ponto de chegada da revelação de Deus.
Compreender o mistério de Cristo com este alcance supõe um salto de qualidade muito teológico muito profundo.
Este salto de qualidade implica a reformulação do mistério central da fé judaica. Com efeito, reconhecer que Cristo é o Filho eterno de Deus implica afirmar que Deus não é apenas o Yahvé do Antigo testamento mas uma comunidade familiar de três pessoas:
“Não acreditais que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?
As palavras que eu vos digo não são ditas por minha própria iniciativa. O Pai que habita em mim é que faz as obras. Acreditai que eu estou no Pai e o Pai está em mim.
Acreditai ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14, 10-11).
Calmeiro Matias
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