terça-feira, 18 de agosto de 2009

OLHANDO A MORTE À LUZ DE CRISTO-I

I-APRENDER A VIVER E A MORRER

Morrer é a derradeira possibilidade de renascer. A consciência da nossa morte ilumina o sentido que a vida tem.

Na verdade, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual. Pouco a pouco a pessoa vai descobrindo que o amor é uma causa que tanto vale para viver como para morrer.

Jesus disse que a pessoa atinge a profundidade máxima do amor quando dá a vida pelos outros.

Podemos dizer que a pessoa que ama até à morte nasce para a plenitude da vida. Para as pessoas que gastam a vida pelas causas do amor, a morte final já não tem o sentido de uma tragédia sem saída, pois estas pessoas souberam ir morrendo ao homem egoísta que há em todos nós.

Morrer para dar vida é a maneira mais perfeita de rebentar os muros da própria finitude. Felizes dos que sabem ir morrendo, a fim de dar vida aos outros.

Estas pessoas estão a renascer todos os dias para a plenitude da vida. É muito frequente encontrar pessoas que, ao tomarem consciência da proximidade da sua morte, se sentem mais profundamente chamadas a gastar a vida pelo amor.

Na verdade, é o amor que torna fecunda a vida das pessoas. Por isso a consciência da proximidade da morte é um apelo a amar mais plenamente.

Vista à luz da dinâmica do amor, a morte surge um pouco como o parto fundamental para o nascimento definitivo.

À luz da fé, a morte surge como o rebentar da casca do ovo em cujo interior está a germinar o pintainho, isto é a nossa interioridade espiritual.

De facto, a pessoa em construção é como uma obra-prima feita de barro em cujo interior está a emergir outra obra-prima feita de Espírito.

Por ser espiritual, a nossa interioridade pessoal não cai sob a alçada da morte. Pelo contrário, graças à ressurreição de Cristo, a morte é condição para atingirmos a nossa glorificação com ele.

Pelo mistério da Encarnação o Filho de Deus fez-se nosso irmão, a fim de sermos membros da família divina.

A pessoa humana atinge esta meta através desse acontecimento derradeiro que é a morte.

Na verdade, a pessoa nasce para a vida plena ao ser definitivamente incorporada na Comunhão da Santíssima Trindade.

Ao anular o ser exterior da pessoa, a morte possibilita a libertação definitiva do seu ser espiritual, condição para entrarmos na intimidade de Deus.

Isto quer dizer que a morte não mata a pessoa, mas apenas o ser exterior que lhe servia de matriz.

Ao ressuscitar Cristo tornou-se para nós a Árvore da Vida que nos proporciona o fruto da vida eterna.

Este fruto é o Espírito Santo, ao qual Cristo no une de modo orgânico, pois a Encarnação aconteceu como o enxerto do divino no humano pelo Espírito Santo.

Como habita no mais íntimo de nós, o Espírito Santo configura-nos interiormente com Cristo e introduz-nos na Família Divina (Rm 8, 14-17; Ga 4, 4-7).

Com seu jeito maternal de amar, ele ajuda-nos a nascer de novo, como Jesus diz no evangelho de São João (Jo 3, 6).

Parafraseando o Livro do Génesis, podemos dizer que, graças a Cristo ressuscitado, passamos a ter acesso ao fruto da Vida Eterna do qual Adão fora privado (cf. Gn 3, 22-24).

São Paulo diz que assim como a morte nos veio por Adão, a Vida Eterna vem-nos por Jesus Cristo o Novo Adão (Rm 5, 17-19).

Graças ao Espírito Santo que nos vem do Novo Adão, nós tornamo-nos membros da Família de Deus (Rm 8, 14-17).

Ele é a cabeça da Humanidade restaurada. É o medianeiro da reconciliação universal com Deus (2 Cor 5, 17-19).

Por Ele veio a plenitude humana, isto é, o Homem assumido e integrado na Comunhão Universal do Reino de Deus.

E deste modo somos organicamente inseridos na comunhão da Santíssima Trindade. Eis o novo nascimento que culmina na nossa divinização.

Ao morrer, Cristo destruiu a nossa morte. Ao ressuscitar restaurou a nossa vida, incorporando-a na comunhão familiar da Santíssima Trindade.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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