quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ORAÇÃO CONFIANTE DE UM HOMEM CRENTE

Trindade Santa,
Vós sois o único Deus Verdadeiro e o nosso Criador. Obrigado por nos terdes amado ainda antes de nós existirmos.

Fostes Vós quem decidiu criar-nos inacabados, a fim de sermos autores da nossa própria realização.

Espírito Santo,
Glória a ti que és o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).
Tu és a ternura maternal de Deus. A tua presença maternal é o princípio animador desse campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Tu és, Espírito Santo, o hálito da vida que, no princípio, saiu das narinas de Deus para o interior do barro amassado do qual saiu Adão!

Ajuda-nos a compreender o Mistério do Homem em construção, a fim de termos critérios para edificar o Homem Novo.

Espírito Santo,
Tu és o hálito da vida que, no princípio, saiu das narinas de Deus para o interior do barro amassado do qual saiu Adão!

Quando te enviou a nós, Jesus confiou-te a missão de nos conduzires à Verdade plena, diz o evangelho de São João (Jo 16, 13).

És tu, Espírito Santo, quem nos faz compreender o Mistério do Homem em construção. És tu quem nos dá os critérios certos para sabermos edificar o Homem Novo.

Com esse teu jeito maternal de amar tu nos enches da sabedoria de Deus, a fim de que as nossas palavras sejam sensatas e as nossas atitudes criadoras de fraternidade.

És tu quem nos conduz e ilumina, a fim de ajudarmos as pessoas que se cruzam connosco a ser felizes.

Espírito Santo,
Só com a tua força nós somos capaz de acolher os irmãos assim como eles são. Graças a ti nós somos capazes de agir de modo a que ninguém fique mais pobre, triste ou machucado, por se encontrar connosco.

És tu quem nos torna fiéis à Palavra de Deus, a fim de fazermos sempre a vontade do Pai como Jesus que um dia disse estas palavras:

“O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).
Senhor Jesus Cristo,
Tu ensinaste aos teus discípulos que a vontade do Pai a nosso respeito coincide sempre com o que é melhor para nós.

Por isso, após a Páscoa, os Apóstolos começaram a testemunhar o amor de Deus pela Humanidade.
Nós te louvamos porque nos deste o mesmo Espírito Santo que capacitou os teus discípulos para anunciar o Evangelho.
Na verdade, também nós fomos consagrados por este mesmo Espírito Santo, a fim de podermos anunciar a Notícia Bonita da tua ressurreição.

Nós te louvamos, Jesus, por este chamamento que nos fazes.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


domingo, 6 de dezembro de 2009

O TEMPO E O PROJECTO CRIADOR DE DEUS

Deus Santo,

Vós não habitais as coordenadas do tempo, pois não sois um Deus em realização, ao contrário dos seres humanos que são o Homem em construção.

Vós sois um Deus em coordenadas de plenitude de amor e comunhão.
Pai Santo,
Louvado sejas por nos teres dado a possibilidade de emergir e estruturar de modo harmonioso e progressivo na sucessão do tempo.

Tu iniciaste a génese da Criação a partir de um leque primordial de possibilidades, permitindo que a sua marcha aconteça numa sequência de causas e efeitos.

Por ser um processo histórico, a marcha criadora acontece de modo evolutivo, impelido pelos impulsos do tempo.

Sem os impulsos do tempo a vida animal não podia evoluir nem atingir as maravilhosas complexidades e os saltos de qualidade que deram origem à sucessão das espécies.

Trindade Santa,
Vós não precisais do tempo para serdes uma família de três pessoas em perfeita comunhão amorosa.

Os seres humanos, pelo contrário, precisam do tempo para emergirem como pessoas e convergirem para a comunhão amorosa.

Sem a dinâmica do tempo, Deus Santo, a Humanidade era uma realidade sem a possibilidade de tomar parte no processo evolutivo da sua própria criação.

Isto quer dizer que apesar de não habitardes no tempo, Vós precisais do tempo para conduzir a Criação à sua perfeição e plenitude!

Vós não precisais do tempo e do espaço para serdes um Deus infinitamente perfeito. A bíblia define a realidade de Deus, dizendo que a divindade transcende o tempo, pois está sempre a ser.

Pai Santo,
Tu disseste a Moisés que és aquele que é. Moisés entendeu que Deus é aquele que está sempre a ser. Eis o relato do Livro do Génesis:

“Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E acrescentou: “Dirás aos filhos de Israel: “ O Eu Sou manda-me a vós!” (Ex 3, 14).

Se Deus é um “Eu Sou”, isto quer dizer que a divindade é um verbo sempre a conjugar-se e não um substantivo abstracto e estático.

Se Vós sois um “Eu Sou”, então Deus é “um sempre presente”, isto é, nunca foi ou será “um passado”.

Olhando o mistério de Deus a partir do Novo Testamento, nós temos de concluir que Vós sois, Deus Santo, não apenas um sujeito infinito, mas também uma comunidade familiar de três pessoas.

À luz do Novo Testamento, nós podemos dizer que a Divindade é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em convergência total de comunhão amorosa.

Na dinâmica histórica da revelação, a Santíssima Trindade surge como ponto de chegada e não como ponto de partida.

Na marcha da revelação surge primeiro a unicidade divina: Há um só Deus. Mas à medida que o Vosso rosto ia definindo melhor, surgiu a possibilidade da revelação de Deus como comunhão de amor:
Deus não é um sujeito isolado, mas uma comunhão de pessoas. Isto leva-nos a concluir que a morada do Deus que precedeu e criou o tempo fica fora do tempo.
Deus é o coração dinamizador de um campo espiritual contínuo de interacções amorosas e que constitui a interioridade máxima do Universo.

Por outras palavras, é a partir deste campo espiritual contínuo que Deus se torna presente a todo o Universo.

É a partir deste campo espiritual contínuo de interacções amorosas que o Espírito Santo interage com a nossa interioridade e se torna o amor de Deus derramado nos nossos corações.

O Deus que precedeu o tempo é uma emergência permanente e eterna de três pessoas infinitamente perfeitas em total convergência de comunhão amorosa.

Sem a dinâmica do tempo, o Homem não podia atingir a sua plena realização e entrar na morada de Deus.

O tempo surge no campo da nossa experiência com uma gama diversificada de formas e impulsos dinâmicos.

Fazemos a experiência do tempo como realidade que podemos medir pelos cronómetros. A este nível o tempo nasce como ponto-instante e vai-se estruturando em segundos, minutos e horas etc.

Fazemos a experiência do tempo do tempo como realidade entretecida nos ciclos da natureza.
Aqui, o tempo adquire uma duração especial dos meses e dos anos.

Como realidade incrustada no tecido da natureza, o tempo apresenta-se-nos com os matizes coloridos e a força geradora da Primavera, do Verão, do Outono e do Inverno.

Entretecido na unidade misteriosa dos anos, o tempo imprime a sua marca irreversível no rosto das pessoas.

Isto é de tal modo verdadeiro que nós, ao olharmos para o rosto de uma pessoa, detectamos facilmente nele as impressões digitais do tempo em forma de anos.

Na verdade, ao cruzarmo-nos com uma pessoa, nós apercebemo-nos de modo espontâneo se esse ser humano tem cerca de dez, vinte, cinquenta ou mais anos.

Temos ainda outros modos de abordar criadora ou corrosiva do tempo, nós inventamos um modo de calcular a acção do tempo de forma mais alargada, juntando os anos de modo a formar séculos e milénios.

Deste modo aprendemos a descobrir e a analisar as impressões digitais do tempo no tecido da matéria e no evoluir da História.

É admirável a exactidão com que os peritos medem em séculos e milénios as marcas que os anos foram imprimindo na estrutura das rochas, das plantas, bem como de homens ou animais fossilizados.

Ao nível das dimensões quase infinitas do Cosmos, o tempo é avaliado com essa unidade de medida a que damos o nome de ano-luz.

Os astrofísicos conseguem calcular os biliões de quilómetros que nos separam das diversas estrelas através do ano-luz.

Mas existe ainda o tempo a nível da vivência íntima da pessoa humana: Temos, em primeiro lugar, o tempo psicológico:
Como passam depressa as horas para dois jovens enamorados que, numa tarde agradável de verão, partilham gestos de ternura junto ao mar.

Pelo Contrário, como são longas as horas para a pessoa que está esperando por alguém que demora em chegar.

Temos ainda a experiência do tempo biológico: como as feridas provocadas no corpo das crianças ou dos jovens cicatrizam depressa, pois as células jovens reproduzem-se de modo muito acelerado.

Pelo contrário, como demoram a cicatrizar as feridas nos corpos das pessoas idosas. Os pensos renovam-se ou substituem-se por tempos que parecem nunca mais ter fim!

Outra experiência frequente do tempo psicológico é o modo rápido como o tempo passa para o idoso.

Como é frequente ouvir pessoas idosas a exclamar: “Que depressa passa o tempo!”
Com o adolescente passa-se o contrário: como tarda a chegar a idade de ter uma moto ou um carro e, deste modo, poder sair à vontade!

Finalmente, os cristãos têm ainda a experiência da Hora de Deus (kairós). O Kairós é o tempo oportuno da salvação, o momento em que o crente sente que Deus o está a iluminar e a convidar no sentido de agir de acordo com a sua vontade para connosco.

Que felizes são as pessoas que procuram auscultar a vontade de Deus e agir de acordo com ela, pois a vontade de Deus coincide rigorosamente com o que é melhor para nós!

Vem depois o fim. Com o Acontecimento da morte a pessoa sai do tempo e entra de modo
definitivo nesse campo espiritual contínuo de interacções amorosas que é a morada de Deus.

Aí dançará o ritmo do amor com o jeito que adquiriu enquanto viveu no tempo. Isto quer dizer que a nossa vida espiritual emerge e ganha densidade eterna enquanto vivemos no tempo.
Seremos eternamente o que construímos enquanto vivemos no tempo. Por outras palavras, vista à luz da eternidade, a vocação fundamental da do ser humano é realizar-se como pessoa mediante o amor.

Vistas a esta luz, as manhãs surgem como um convite a aproveitar o novo dia, pois é uma nova oportunidade para fazer emergir no tempo o que seremos eternamente.


Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias






quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

OS PILARES DA ESPERANÇA CRISTÃ

Trindade Santa,
Glória a Vós por serdes um Deus fiel e verdadeiro. Vós sois o alicerce sólido da nossa esperança, pois as pessoas que confiaram em Vós nunca foram desiludidas.

Senhor Jesus Cristo:

Com a tua ressurreição venceste a nossa morte e, deste modo, iluminaste o sentido da vida humana e robusteceste a nossa esperança.

Após uma vida de doação total ao Evangelho, São Paulo sentia-se feliz e, por isso, podia afirmar:
“Para mim viver é Cristo e morrer é um lucro” (Flp 1, 21).

Espírito Santo,
Com teu jeito maternal de amar, tu vais-nos confirmando na certeza da fidelidade de Deus. A Primeira Carta aos Coríntios diz que ninguém pode dizer que Cristo ressuscitou a não ser por inspiração do Espírito Santo (1 Cor 12, 3).

Apoiada nestes pilares, a nossa esperança dá-nos a garantia de não estamos perdidos num Universo sem sentido, pois não estamos a caminhar para o vazio da morte.

Pai Santo,

Apesar de os judeus terem crucificado Jesus tu confirmaste a autenticidade da sua missão, ressuscitando-o e sentando-o à vossa direita (Rm 1, 3-5).

Jesus teve o cuidado de robustecer a esperança dos Apóstolos, garantindo-lhes que nunca os deixaria abandonados:

“Agora estais abatidos, mas ver-vos-ei de novo e haveis de vos alegrar. Nesse dia já ninguém poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16, 22).

Agora é o Espírito Santo quem nos confirma nesta certeza de que tu, Pai Santo, nos acolhes como filhos teus e irmãos de Jesus Cristo como diz São Paulo:

“Todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus (…). Vós recebestes um Espírito de adopção que faz de nós filhos e nos leva a exclamar: “Abba, ó Papá!” Rm 8, 14-15).

Os pilares sobre os quais se apoia a nossa esperança são dignos de confiança. A Carta aos Colossenses dá-nos uma norma sábia para fortalecermos a nossa esperança, quando afirma o seguinte:

“Colocai a vossa mente nos bens do alto e não nas coisas terrenas” (Col 3, 2). E a Primeira Carta de São Pedro diz o seguinte:
“Acolhei Cristo nos vossos corações, a fim de vos manterdes preparados para testemunhar as razões da vossa Esperança a todos os que vos questionam” 1 Pd 3, 15).

Pai Santo,
A vossa Palavra amplia os horizontes da nossa esperança, fazendo-nos saborear o teu plano de salvação, o qual vai muito para além das nossas expectativas.

A tua Palavra, Pai Santo, capacita-nos para compreender que a plenitude dos seres humanos, ao serem assumidos e incorporados na Família da Santíssima Trindade (cf. Gal 4, 4-7).

Confirmados pela esperança temos a garantia de que a felicidade que nos aguarda no Reino de Deus não tem limites.
Deus Santo,

Nós vos damos graças pelo facto de as lentes da nossa esperança optimizarem os horizontes da nossa inteligência.

Por ter como alicerce a Palavra de Deus, a esperança cristã ultrapassa os muros estreitos da vida presente, capacitando-nos para contemplar, não apenas os bens desta terra, mas também os bens da vida eterna!

Mas isto não significa que a nossa esperança nos distraia ou aliene dos compromissos históricos.
Pelo contrário, a Vossa Palavra capacita-nos e envia-nos para transformarmos o mundo de acordo com os critérios do Evangelho.

No evangelho de São Mateus, Jesus diz que os cristãos estão no mundo como sal que dá sabor à vida.
Impelidos pela esperança, acrescenta Jesus, os cristãos são a luz que ilumina o sentido que a vida tem.
São também um fermento que transforma as estruturas do pecado, as quais impedem a humanização do Homem (cf. Mt 5, 13-16).

Depois de uma vida gasta ao serviço do bem e fortalecidos pela esperança que os capacita para os compromissos do amor o cristão pode dizer com São Paulo:

“Por isso não desfalecemos. E mesmo se em nós o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se todos os dias
Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos uma glória eterna que vai para além de toda e qualquer medida” (2 Cor 4, 16-17).

Eis algumas afirmações de São Paulo que são realmente uma expressão genuína da esperança cristã:

Por isso não nos detemos nas coisas visíveis, pois estas são passageiras, mas olhamos para as realidades invisíveis, as quais são as eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Fundada na Palavra de Deus e na ressurreição de Jesus Cristo, a nossa esperança dá-nos a certeza de que não estamos a caminhar para o fracasso da morte mas para a plenitude da Vida Eterna.

Trindade Santíssima,
Vós sois o alicerce da nossa esperança! Nós vos louvamos pelo dom da revelação que nos capacita para transformar o mundo e a História em harmonia com o vosso plano criador!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

sábado, 28 de novembro de 2009

AMOR E LIBERDADE CAMINHAM JUNTOS

Ao dar-nos a capacidade de amar, Deus estava a dar-nos a possibilidade de sermos livres.


Na verdade, o amor e liberdade caminham juntos. Podemos dizer que uma pessoa começa a ser livre a partir do momento em que o ser humano se torna capaz de orientar a vida fazendo opções na linha do amor, o amor e a liberdade começam a afirmar-se como capacidade de humanização.


O amor afirma-se como capacidade de eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitá-lo como é e agir de modo a facilitar a sua realização.


De facto, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.


A profundidade do amor de uma pessoa indica até que ponto essa pessoa é livre, consciente e responsável.


A liberdade é a capacidade de nos relacionarmos em dinâmica de amor com os outros e interagirmos de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.


A liberdade e o amor são os pilares sobre os quais assenta a humanização da pessoa humana.

A dignidade da pessoa humana radica no facto de não nascer determinada como acontece com os animais.


A pessoa humana tem o poder de se realizar mediante atitudes e opções decididas de modo livre, consciente e responsável.



Na cadeia das nossas escolhas e decisões há ainda muitas ambiguidades, pois estas dependem do livre arbítrio, isto é, da capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

Se forem orientadas no sentido do amor, as nossas decisões e projectos são a força que faz avançar a marcha da nossa humanização.

Pelo contrário, se decidirmos agir contra o amor, estamos a rejeitar a possibilidade de crescer em humanidade, bloqueando as possibilidades de nos realizarmos como pessoas livres.

Os animais nascem determinados pelos instintos próprios da sua espécie, pois não têm livre arbítrio, isto é, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

Os seres humanos têm a possibilidade de exercer o livre arbítrio e, deste modo, emergir como pessoas livres, conscientes e responsáveis.

De facto, Deus criou-nos para que nos criemos, a fim de completarmos em nós a acção e a obra do Criador.

Está nas nossas mãos a possibilidade de fazer escolhas que na linha do amor, o único modo de fazermos avançar a marcha da nossa humanização.

Estamos chamados a amar para ser livres e a ser livres para nos podermos relacionar na linha do amor.

Fomos talhados para ser imagens perfeitas de Deus!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O BARRO ORGÂNICO DO QUAL EMERGIMOS

Podemos afirmar com o Livro do Génesis que a origem do Homem radica num barro fecundo no qual Deus insuflou o hálito da vida espiritual.

Na verdade, o nosso corpo liga-nos à terra, a fonte da qual obtemos os elementos necessários para satisfazer as nossas necessidades básicas:

Fome, sede, necessidade de sono, de vigília, de repouso, de movimento, de vigília, de higiene e tantas outras.

É da terra que obtemos os elementos essenciais para podermos viver. Isto quer dizer que o nosso corpo emergiu através de uma marcha evolutiva a partir do animal.

O nosso corpo é a matriz do nosso ser, embora o ser da pessoa humana não se esgote no seu corpo.
É verdade que a nossa dimensão espiritual transcende o nosso corpo, mas esta emergiu a partir dele.

Podemos dizer com toda a verdade que o mistério da pessoa humana tem origem na pequenez do ovo humano.

É também através do seu corpo que os seres humanos comunicam uns com os outros e interagem com a terra que trabalhamos, a fim de obtermos os seus frutos.

Muitos dos nossos comportamentos estão condicionados pelas necessidades do nosso corpo tais como comer, vestir, movimento, repouso, conforto e outras.

O corpo humano é também um receptor e emissor de ternura. Com efeito, precisamos de receber ternura para crescer como pessoas felizes e equilibradas.

As crianças que recebem ternura e carícias ficam mais capazes de se desenvolverem e realizarem como pessoas felizes e socialmente bem integradas.

As crianças que recebem pouca ternura ficam muito mais atrofiadas e pobres na sua vida psíquica e mental.

Existe uma grande variedade de comportamentos no dia-a-dia da nossa vida que resultam do facto de termos ou não recebido a ternura adequada quando éramos crianças.

As pessoas afectivamente carentes têm muitas vezes comportamentos incorrectos no modo de satisfazer tanto as suas necessidades corporais como no modo de satifazer as suas emoções e afectos.

É enorme a variedade dos comportamentos onde se podem manifestar estes comportamentos:
Relações agressivas, necessidade de compensações agressivas comendo demasiado, abusar das guloseimas procura excessiva de prazeres, intolerância ou exigência excessiva em relação aos outros.

Muitos destes comportamentos resultam do facto de o ser humano, em criança, não ter recebido a ternura e o carinho de que tinha necessidade.

Está comprovado que as crianças privadas de ternura e carícias ficam mais frágeis e com piores sucessos, tanto a nível intelectual como a nível social.

A nossa vida psíquica forma um todo interactivo com as experiências da nossa história e a nossa vida corporal.

Na verdade, os nossos sentimentos, afectos, emoções, desejos, aspirações e a maneira como reagimos aos acontecimentos do dia-a-dia são um espelho que revela se a pessoa foi bem ou mal amada em criança.

Na verdade, todas as experiências com significado emocional ficaram registadas no nosso cérebro, facilitando ou dificultando a nossa realização pessoal.

O contexto afectivo e cultural em que nascemos e crescemos tem um peso enorme no modo como nos realizamos.

As possibilidades de realização que a pessoa recebe pela herança genética, são optimizadas ou bloqueadas pelo contexto afectivo no qual nascemos e crescemos.
A nossa inteligência e a nossa vontade não são faculdades isoladas do conjunto das nossas experiências afectivas.
Somos um todo unido de modo orgânico: o núcleo máximo das energias espirituais, o núcleo intermédio das energis psíquicas e o nívedl periférico das energias biológicas.

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias



sábado, 21 de novembro de 2009

O UNIVERSO TEM SABOR A COMUNHÃO

O Criador do Universo é um Deus em permanente comunicação familiar. É por esta razão que o tecido da Criação está marcado com o selo das relações e da harmonia.

Dos átomos às moléculas, das células ao cérebro humano, do sistema solar às galáxias, tudo está marcado com o selo das relações.

Mas quando o Homem surge na marcha evolutiva da Criação, a dinâmica das relações deu um salto de qualidade.

Com efeito, o aparecimento da vida humana significa o momento em que a Criação entrou no limiar da morada de Deus.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Como barro modelado e dinamizado pelo hálito da vida de Deus, o Homem adquiriu a capacidade de se relacionar, elegendo o outro como alvo de amor.

E as pessoas humanas entraram na esfera da vida pessoal, tornando-se seres capazes de amor e comunhão.

Ao olhar a beleza e a harmonia da Criação nós damo-nos conta que o Criador do Universo entende de música e poesia!

A Criação é uma obra-prima sonhada com sabedoria e amor infinito. É um poema em constante evolução.

Tudo, na Criação tem sentido e finalidade. Ela é um testemunho vivo da ternura e da Sabedoria de Deus.

Por estar em evolução, o Cosmos é uma epopeia a escrever-se todos os dias.
Nele brotam de modo harmonioso os dinamismos da vida, cuja cúpula é o Homem em Construção.
Os poemas humanos cantam a dor, as paixões e o amor. O poema de Deus é um hino em gestação e a caminhar para a meta que o Criador lhe indicou: a Comunhão Universal.

Como cúpula deste projecto criador surge Jesus Cristo, o ponto de encontro do melhor de Deus com o melhor da Humanidade.

No tecido da Criação existem ondas, partículas, átomos e moléculas. Mas a sua obra-prima é a vida espiritual a exprimir-se de modo livre, consciente, responsável e capaz de construir histórias de amor e fidelidade!

É lógico este Universo em que habitamos. Por isso a nossa inteligência o consegue compreender.
É um poema imenso composto de vários temas: planetas e cometas, nebulosas e galáxias, estrelas e sistema solar, animal e ave do céu a voar.
Mas o tema central deste poema de amor é o Homem, com a sua capacidade de comungar.
Com o surgimento da Humanidade, a nossa galáxia tornou-se um lugar onde já acontece amor e fraternidade.

Na cúpula da Criação surge a Humanidade onde cada ser humano é uma história original com seu jeito único de amar, sorrir, chorar, odiar, sofrer ou ser feliz.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



quarta-feira, 18 de novembro de 2009

UMA CAMINHADA COM SENTIDO

O animal gosta de viver, mas não é capaz de fazer projectos de vida, nem procurar sentidos e modos para se realizar.
Os seres humanos, pelo contrário, não conseguem viver sem sentidos, pois a vida surge para eles como um desafio e uma caminhada que é preciso programar.

Quando não encontra sentidos para viver, o ser humano entra em crise e pode mesmo pensar no suicídio.
Por estar a estruturar-se como ser histórico, a pessoa tem a capacidade de associar o passado com o presente e este com planos e sonhos de futuro.

Isto acontece assim porque a pessoa se sente a caminhar para uma meta que se vai confirmando e robustecendo com as realizações com sucesso humano.

Na verdade, a pessoa faz-se, fazendo, realiza-se, realizando. Isto significa que a vida do ser humano é uma cadeia de vivências e realizações que se vão estruturando numa identidade pessoal única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.

Por não ser uma pessoa em construção, o animal não tem esta consciência existencial, nem se sente chamado a actuar de acordo com os valores.

Na verdade, os valores são apelos que a pessoa sente no sentido de se construir em conformidade com eles, a fim de se edificar como pessoal livre, consciente e responsável.

Por outras palavras, como ser em realização, a pessoa edifica-se de modo gradual e progressivo, fazendo emergir a sua novidade de pessoa única.

E é assim que nos vamos tornando imagens de Deus, pois sempre que em nós emerge o novo, vamo-nos transcendendo e configurando a imagem de Deus.
À medida que emerge e se estrutura, a pessoa, sem deixar de ser a mesma, vai-se edificando de modo novo e diferente.

A pessoa humana é um ser faminto de transcendência, pois traz consigo uma vocação a realizar-se, a fim de atingir a sua plenitude em Deus.

É por esta razão que o ser humano não pode deixar de se pôr a questão do sentido da vida. Assim como não se põe o sentido da vida, o animal também não tem consciência da sua morte.

A consciência da sua morte é um estímulo que convida a pessoa a colocar-se o sentido da vida.
Nesta busca sde sentido para a vida, Deus não é de modo algum uma questão secundária. Pelo contrário, confere-lhe razões mais profundas para decidir e agir em harmonia com o amor.

De facto, a consciência universal da Humanidade evoluiu no sentido de se colocar a questão religiosa.

Isto quer dizer que a Humanidade, no seu todo, intuiu que não estamos a edificar para a morte.
Mas foi Jesus Cristo quem trouxe a grande resposta a estas interrogações básicas do Homem.
Na verdade, olhando a vida à luz da ressurreição de Jesus Cristo, damo-nos conta que a morte não tem a última palavra sobre o projecto do Homem em construção.

Graças ao mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

domingo, 15 de novembro de 2009

A TERESA E A FECUNDIDADE DO AMOR

A história da Teresa é um testemunho de fidelidade aos apelos de Deus e um hino de louvor ao Espírito Santo que a capacitou para amar sem fingimento.

Graças ao Espírito que a habitava, a Teresa soube realizar-se como árvore fecunda, pois a sua vida foi rica em gestos de doação e fraternidade.

No momento de partir para o Pai, a Teresa estava consciente e tinha a expressão de alguém que está a transpor o último degrau para entrar na plenitude da Vida:

Um leve sorriso foi o sinal que imprimiu um sentimento de paz naquele rosto enrugado e sereno do qual irradiava a bondade que sempre habitou o seu coração.

A sua realização pessoal é o resultado de quase noventa anos de decisões, escolhas e projectos marcados com o selo do amor.

A sensatez foi o condimento que foi conferindo sabor de autenticidade à história bonita da Teresa.

De entre as muitas pessoas que se cruzaram com ela durante a sua longa da vida, nenhuma ficou mais triste ou mais pobre pelo facto de a ter encontrado.

Tinha um jeito muito sereno de se relacionar com as outras pessoas, deixando nelas as impressões digitais do amor.

Chegou ao fim da sua história com a feliz sensação de ter dado o melhor de si. Eis a razão pela qual a sua partida para a plenitude foi vivida pela Teresa como um acontecimento jubiloso.

Comunicava as coisas mais sublimes com uma linguagem simples e sem pretensões de qualquer espécie.

As suas palavras exprimiam a verdade profunda e a coerência do seu ser.De vez em quando costumava dizer que tinha muitas saudades de Deus!

Pouco a pouco fui-me apercebendo de que, para a Teresa, Deus era realmente uma questão primeira, coisa muito rara entre os seres humanos, exceptuando os profetas e os santos.

Agora já podemos entender a razão pela qual o momento solene da sua partida foi algo tão ardente e esperado.

Durante a sua história, a Teresa construiu uma infinidade de laços de amor e comunhão fraterna.
Por isso, o momento de entrar na plena comunhão da Família de Deus conferiu plenitude aos encontros de amor e comunhão que a Teresa realizou ao longo da vida.

Enquanto viveu na História, o seu jeito de comunicar estimulava as pessoas a criar laços de amor e comunhão.

Por isso levou como identidade definitiva o seu jeito de comunicar e amar, bem como o seu modo peculiar de sorrir e dar as mãos.
As pessoas que assistiram àquela partida cheia de certezas de vida eterna, comentaram entre si:
“A Teresa acaba de entrar na plenitude da Vida Eterna e já vive a felicidade do Reino de Deus.
Já está plenamente assumida na festa do face a face com Deus e os irmãos”.

Na verdade, a identidade espiritual de uma pessoal é o seu jeito de amar e comungar. É esta a veste nupcial com a qual as pessoas humanas são assumidas e incorporadas na morada de Deus e dos muitos milhões de eleitos que a compõem.

Sim, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas e que constitui a interioridade máxima do Universo.

Foi esta a morada na qual a Teresa deu entrada no próprio momento de morrer. Aí, cada pessoa interage e comunga com Deus e os irmãos com o jeito que treinou enquanto viveu na terra.

Isto quer dizer que a pessoa, no Reino de Deus, se possui na medida em que interage amorosamente com Deus e os irmãos.

Com efeito, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade do amor. É assim a plenitude da vida: A participação na Família de Deus, onde a interacção das pessoas é optimizada pela ternura maternal do Espírito Santo.

A Carta Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

E um pouco mais à frente acrescenta que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são assumidas na Família de Deus como filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

A morte da Teresa ajudou as pessoas a compreender o sentido da vida e a salvação como um mistério de comunhão orgânica e dinâmica com Deus e os irmãos.

Quando Deus ocupa o primeiro lugar na vida de uma pessoa a sua vida está cheia de sentido e o seu coração está pleno de Vida Nova.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

SABOREANDO A NOSSA CAMINHADA PARA DEUS

Pai Santo,
A tua morada é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Isto quer dizer que tu te tornas presente a nós sempre a partir de dentro. No ponto onde
termina a nossa interioridade espiritual limitada, começa a vossa morada espiritual ilimitada.

Podemos dizer que o ponto de encontro entre o Homem e Deus é o coração humano. É isto que a Carta aos Romanos quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo põe-nos em Comunhão contigo, Pai Santo, e com o teu Filho, incorporando, deste modo, na Família da Santíssima Trindade.

Espírito Santo,
Apesar de estares tão próximo de nós, tu nunca nos invades ou manipulas. Na verdade, tu estás connosco, mas nunca estás em nosso lugar.

A tua presença junto a nós é dinâmica, criativa e amorosa. Quando abrimos o nosso coração ao amor tu tornas-te, Espírito Santo, uma presença que nos faz renascer, como Jesus diz no evangelho de São João (Jo 3, 6).

O Livro do Génesis diz que tu és o hálito de Deus que faz emergir no nosso íntimo a vida espiritual: “Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o hálito da vida.

E foi assim que o Homem se transformou num ser com vida espiritual” (Gn 2, 7). A nossa grande vocação sobre a terra é realizarmos a tarefa da nossa construção pessoal, a fim de atingirmos a comunhão humana universal.

De facto, nascemos para nos irmos construindo, sendo dóceis ao Espírito Santo, como disse Jesus: “Em verdade em verdade te digo: quem não nascer do Alto, não pode ver o Reino de Deus.

Nicodemos perguntou: “Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura poderá entrar de novo no ventre de sua mãe e nascer?

Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: quem não nascer do Espírito Santo não pode entrar no Reino de Deus.

Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 3-6).
Com estas palavras, Jesus quis ensinar que a pessoa humana é um ser em processo de humanização, a qual acontece como emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.

Com efeito, a emergência espiritual da pessoa é um processo histórico e progressivo. É por esta razão que a pessoa, para se dizer, a tem de contar uma história.

Na verdade, a pessoa humana só consegue comunicar a sua realidade de modo profundo, contando uma história.
A força que faz emergir e fortalece o homem espiritual é o amor. É por esta razão que a pessoa bem-amada se vai constituindo como pessoa bem estruturada.
O mal-amado, pelo contrário, emerge como pessoa mal estruturada e, portanto, condicionada nos seus talentos.

Na verdade, todos nós nascemos com um leque de talentos que são a matéria-prima da nossa realização pessoal.

Ninguém é herói por ter recebido muitos talentos. Do mesmo modo, ninguém é culpado se o feixe das suas capacidades é limitado.

A heroicidade está na fidelidade aos talentos que recebemos, isto é, às possibilidades de realização que temos em nossas mãos.

Pai Santo,
A nossa fé diz-nos que, a Divindade é uma comunhão orgânica de pessoas e que a Humanidade está a emergir à imagem e semelhança da Divindade.

Com o aparecimento da vida espiritual na marcha evolutiva surgiu no Universo a capacidade de amar, dando origem ao aparecimento de seres pessoais.

Por ser espiritual, a vida pessoal entrou no limiar da imortalidade, passando afazer parte da esfera da comunhão amorosa cujo coração é a Santíssima Trindade.

Como o leque dos talentos pessoais não se repete, cada pessoa emerge de modo único, original e irrepetível.

Eis a razão pela qual ninguém está a mais nesta caminhada para a comunhão universal da Família de Deus.

A Encarnação, isto é, o enxerto do divino no humano tornou-se possível graças ao facto de a Humanidade ser pessoas e a Divindade também.

É verdade que as pessoas humanas nãos são iguais às divinas, mas são-lhe proporcionais. Na verdade, já pode acontecer interacção amorosa entre Deus e o Homem.

Graças a este mistério da Encarnação, diz o evangelho de São João, Deus deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).
Aleluia!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

SABOREANDO A FIDELIDADE DE DEUS

Deus Santo,

O pecado do Homem, apesar de atrasar o vosso projecto salvador, não o conseguiu anular.
Como homem totalmente fiel ao vosso plano, Jesus Cristo tornou-se o alicerce sólido da Nova e Eterna Aliança, fazendo de nós filhos de Deus.

Filho Eterno de Deus,
Tu eras o Filho único de Deus Pai. Mas ao fazer-te nosso irmão tornaste-te o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo (Rm 8, 29).

Espírito Santo,
Com o teu jeito maternal de amar, tu nos conduzes à comunhão com Deus Pai, o qual nos acolhe como filhos e à comunhão com o Filho de Deus, nos que recebe como irmãos.


Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho (…) para que nós recebêssemos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou ao nosso íntimo o Espírito de seu Filho que clama: “Abba”, ó Pai!

Deste modo já não és escravo, mas filho. E se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Ga 4, 4-7).

Ninguém vos merece Deus Santo. Vós estais para além de todo o mérito que possamos ter. Mas estais connosco, pois sois um Deus que se dá de graça.

Espírito Santo,
Dá-nos o dom da Sabedoria, a fim de podermos compreender a fidelidade de Jesus ao plano de Deus Pai e o seu amor por nós que foi até ao ponto de morrer por nós.

Ajuda-nos a compreender também que da nossa fidelidade pode depender o bem e a felicidade de uma multidão de irmãos nossos.

Capacita-nos para sermos mediação da fidelidade de Jesus Cristo, dando o melhor de nós mesmos pelos nossos irmãos.

Dá-nos a mesma certeza que Jesus tinha de que Deus toma partido pelos que gastam a vida pela causa do amor.

Senhor Jesus Cristo,
A tua ressurreição é a confirmação de que Deus não permite que o justo seja destruído pela iniquidade.

Foi de modo plenamente livre e consciente que tu decidiste ser nosso irmão, a fim de sermos incorporados na Família de Deus.

Tu és realmente a Cabeça da Nova Criação como diz São Paulo: “Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que, em Jesus Cristo, nos reconciliou com Deus, não levando mais em conta o pecado dos homens” (2 Cor 5, 17-19).Tu és o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tim 2, 15).

Senhor Jesus,

Dá-nos a força do Espírito Santo para que ele nos vá ressuscitando e incorporando na Família de Deus.
Tu és o Novo Adão, pois nós fomos reconciliados com Deus, graças ao facto de seres um homem totalmente fiel.

Tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, Adão não aceitou a sua condição de servo de Deus. Deste modo nos conduziu para o caminho do fracasso.

Também tu, Jesus Cristo, és a imagem perfeita da Deus. Mas ao contrário de Adão, não quiseste pôr-te em lugar de Deus.

Pelo contrário, pela tua obediência e fidelidade incondicional, colocastes-nos, de novo, no caminho
da comunhão com Deus.

Eis a maneira como a Carta aos Colossenses descreve este contraste entre a tua atitude, Jesus, e a atitude de Adão:

“Jesus Cristo é a imagem perfeita do Deus invisível. Ele é o primogénito de toda a Criação. Foi de acordo com ele que todas as coisas foram criadas, tanto as do Céu como as da Terra, as visíveis e as invisíveis (…).

Tudo foi criado nele e por ele, pois ele é anterior a todas as coisas e todas subsistem nele. Ele é a cabeça da Igreja, o princípio e o primogénito de entre os mortos, a fim de ter a primazia em todas as coisas.

Aprouve a Deus que habitasse nele toda a plenitude, a fim de que todas as realidades fossem reconciliadas com Deus” (Col 1, 15-20).

Pai Santo,

Alivia-nos dos fardos que bloqueiam a nossa caminhada para ti. Dá-nos a força para nos libertarmos dos nossos ódios e ressentimentos.

Espírito Santo,
Fortalece-nos, a fim de sermos capazes De dar um salto de qualidade, fazendo que a nossa vida banal e sem rasgos de criatividade faça emergir o Homem Novo segundo Cristo.

Espírito Santo,
És tu quem nos ajuda a saborear o mistério de Jesus ressuscitado como garantia da nossa ressurreição!

Ele é, realmente, a Árvore da Vida que nos dá o fruto da vida eterna que és tu, Espírito Santo!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SABOREANDO O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS

I-O REINO DE DEUS ESTÁ PRÓXIMO

Jesus iniciou a sua pregação anunciando a proximidade do Reino de Deus e a convidar as pessoas a converterem-se.

Eis o que diz São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Os evangelhos dão a entender que o Reino de Deus é um mistério, isto é, um segredo que Deus decidiu revelar aos discípulos através do seu Filho, diz São Marcos:

“A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus. Mas aos de fora tudo lhes é proposto em parábolas” (Mc 4, 11).

A Carta aos Efésios esclarece melhor este aspecto, dizendo que Deus resolver revelar o mistério do Reino de Deus, a fim de os Apóstolos poderem anunciar aos seres humanos o plano salvador de Deus:

“Deus manifestou-nos o mistério da sua vontade e o plano generoso que tinha estabelecido para conduzir os tempos à sua plenitude, isto é, submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no Céu e na Terra” (Ef 1, 10).

E depois acrescenta: “Por revelação me foi dado conhecer este mistério, tal como antes vo-lo descrevi resumidamente.

Lendo-o podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens em gerações passadas, como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos Apóstolos e Profetas.

Segundo este mistério, os gentios são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa em Cristo Jesus, por meio do Evangelho” (Ef 3, 3-6).

Ao mandar os discípulos pregar o Reino de Deus, Jesus indica-lhes que o Reino coincide com a meta do Plano Salvador de Deus (Lc 9, 2).

Os que forem perseguidos por causa da justiça, isto é, por causa da sua fidelidade a Deus, devem considerar-se felizes, pois deles é o Reino de Deus (Mt 5, 10).

Procurar o Reino de Deus é procurar o fundamental da salvação: “Procurai o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).

Ser justo é ser fiel à vontade de Deus. O Reino assenta no poder de Deus que é a força criadora e salvadora do amor.

Eis o que diz a Primeira Carta de São João: “O amor de Deus manifestou-se desta maneira no meio de nós:

Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por meio de ele, tenhamos a vida” (l Jo 4, 9).

O tema da pregação de João Baptista era a necessidade da conversão para acolher o Reino de Deus que estava para chegar:

“Convertei-vos, dizia ele, pois o Reino de Deus está próximo” (Mt 3, 1-2). Os milagres de Jesus significavam que a força libertadora do Espírito Santo estava presente e activa.

Segundo os profetas, o sinal claro da chegada do Reino de Deus era a acção libertadora do Messias a actuar com a plenitude do Espírito Santo:

“Brotará um rebento do tronco de Jessé e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor: Espírito de sabedoria e entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor” (Is 11, 1-2).

Era este o modo como Jesus via o sentido da sua acção libertadora:
“Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12, 28; Lc 12, 31).

Jesus nunca confundiu o Reino de Deus com um reino terreno. Para ele, o Reino de Deus acontece ao nível da renovação dos corações e da libertação de tudo o que impede e o respeito pela dignidade humana.

No evangelho de São João, Jesus diz que é preciso nascer de novo para entrar no Reino de Deus:
“Quem não nasce do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 5-6).

O Reino de Deus implica decisão e fidelidade à vontade de Deus: “Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).

E ainda: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).

O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que São Paulo, depois da sua conversão, passou a vida a anunciar o Reino de Deus (Act 28, 31).

Segundo o testemunho dos evangelhos, os Apóstolos só começaram a ter uma ideia clara do Reino de Deus depois da ressurreição de Jesus.

Antes, disso os apóstolos apenas entendiam a realidade do Reino de Deus segundo os critérios humanos e não segundo os critérios de Deus (Mt 16, 23).

Isto quer dizer que o Reino de Deus é o ponto mais alto do Plano Salvador de Deus para a Humanidade.
II-O REINO DE DEUS COMO COMUNHÃO ORGÂNICA


A grandeza de Jesus Cristo é humano-divina, pois assenta no mistério da Encarnação através da qual o Divino se enxertou no Humano, a fim de a Humanidade ser divinizada.

Por ser de grandeza humano-divina, o mistério de Jesus Cristo envolve uma união orgânica, interactiva e fecunda entre a Humanidade e a Divindade.

Esta união orgânica do divino com o humano acontece como uma interacção directa animada pelo Espírito Santo.

São Paulo diz que as pessoas que se deixam conduzir pela acção do Espírito Santo são incorporadas na Família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho Eterno de Deus (Rm 8, 14-16).

Nesta interacção humano-divina, o humano e o divino fazem uma união, mas não uma fusão.
Por outras palavras, em Jesus Cristo o humano realiza-se perfeitamente, pois ele é um homem em tudo igual a nós menos no pecado.

Por fazer uma união orgânica com toda a Humanidade, Jesus Cristo é, realmente o único medianeiro entre Deus e o Homem (1Tm 2, 5).

Do mesmo modo, a Segunda pessoa da Santíssima Trindade é plenamente Deus com o Pai e o Espírito Santo.

É por esta razão que nós somos incorporados na comunhão familiar da Santíssima Trindade.
Utilizando uma imagem diria que o ramo de limoeiro, enxertado na laranjeira, continua a dar limões e não laranjas.

Isto quer dizer que pela dinâmica da Encarnação nem a divindade é mutilada nem a Humanidade é anulada.

A seiva que circula e alimenta esta união orgânica é o Espírito Santo, o qual faz do nosso coração uma morada.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Por ser o ponto de encontro e o vínculo de união orgânica do humano com o divino, Jesus Cristo é, realmente, o único medianeiro entre Deus e o Homem.

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Isto quer dizer que Jesus Cristo é o alicerce do Reino de Deus, pois é através dele que acontece o encontro definitivo da Humanidade com a Divindade.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Pai Santo, eu dei-lhes a glória que tu me deste, a fim de que sejam um como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, Pai Santo, para que cheguem à perfeição da unidade e deste modo o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como me amaste a mim” (Jo 17, 23-24).

Isto quer dizer que o Reino de Deus está em génese na História e culmina na assunção e incorporação do Homem na Família de Deus.

O Reino de Deus era o tema central da pregação de Jesus. Este Reino tem como lei única o amor e é o horizonte máximo da Esperança Cristã.

É importante não confundir Igreja com o Reino de Deus. A Igreja é sacramento, isto é, explicita e torna visível a dinâmica do Reino a emergir na História.

Ao mesmo tempo, a Igreja é uma mediação do Espírito Santo para facilitar a emergência histórica do Reino de Deus.

A Carta aos Efésios sublinha este papel da Igreja quando diz: “A mim, o menor de todos os santos, foi-me dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido em Deus, o Criador de todas as coisas.

E deste modo, por meio da Igreja, é agora dada a conhecer a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno que ele planeou em Cristo Jesus nosso Senhor” (Ef 3, 8-11).

Dizer que a Igreja é sacramento, significa que a sua missão é histórica e só para a História. No Reino de Deus já não há sacramentos, pois as pessoas estão na evidência e na posse de todas as coisas.

Por outras palavras, no Reino de Deus já não há sacramentos, mas sim a realidade explicitada agora pelos sacramentos.

Na sua perfeição e meta, o Reino de Deus coincide com a humanidade divinizada em Cristo.
O Reino de Deus é para toda a Humanidade.
Mas para tomar parte nesta festa da plenitude é preciso ter a veste nupcial, isto é, ter um coração capaz de comungar fraternalmente.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Jesus disse-lhes: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vão preceder-vos no Reino de Deus.

João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça e não acreditastes nele. Mas os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram, aceitando a sua mensagem” (Mt 21, 31-32).

Na Comunhão Universal do Reino de Deus, a palavra decisiva compete sempre ao amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias





terça-feira, 3 de novembro de 2009

O HOMEM E A MULHER NO PLANO DE DEUS

I-HOMEM E MULHER, DEUS OS CRIOU
A Humanidade leva em si, o selo da difereça e da complementaridade. Por outras palavras, o rosto humano tem duas faces diferenciadas: a face masculina e a face feminina.

O Homem foi talhado por Deus à sua imagem e semelhança. Isto quer dizer que o Homem, à semelhança de Deus, é um mistério de relações interpessoais.

Na verdade, Deus é uma comunhão onde cada uma das pessoas divinas exprime a sua realidade pessoal de modo único, original, irrepetível e com uma capacidade infinita de amar.

Podemos dizer que o ser e o estar de Deus é um mistério de relações. O Céu é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima de toda a realidade, inclusive o coração humano.

Isto quer dizer que o ponto de encontro com Deus e com a comunhão universal dos santos começa a partir do nosso coração.

Deus é o Emanuel, isto é, o Deus connosco. Ao criar o Homem à Sua imagem e semelhança, Deus não podia deixar de o criar como conjunto de pessoas abertas para as relações e comunhão amorosa.

A semelhança principal entre Deus e o Homem radica no facto de a Divindade ser pessoas e a Humanidade também.

Uma pessoa isolada da união orgânica não pode realizar nem atingir a sua plenitude. O próprio facto da condição sexual do ser humano é o alicerce sobre o qual se edifica a pessoa como ser talhado para a relação e o amor como interacção de diferenças.

O Deus Comunhão de amor ao sonhar o Homem como varão e mulher estava a preparar um moldado para o encontro.

Eis o que diz o Livro do Génesis no relato da criação do Homem: “Deus criou o Homem à Sua imagem e semelhança, varão e mulher os criou” (Gn 1, 27).

O varão e a mulher são absolutamente iguais em dignidade, pois são seres a emergir como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capaz de amar.

Criando a mulher, Deus está a fazer emergir o amor em ondas de dom e ternura. Criando o varão, faz emergir o amor em ondas de bem-querer, coragem e firmeza.

A face feminina confere ao amor o colorido da tolerância e do perdão. A face masculina, por seu lado, exprime o sentido e a firmeza que é preciso manter face aos grandes valores da humanização, os quais não podem ser postos em causa.

Criando a mulher, Deus deu provas de que entende de ternura. Criando o varão, demonstrou ser o Deus de uma Aliança assente na firmeza e na autoridade da Palavra.

Esta Humanidade a emergir e a fluir como um rio com duas margens, dirige-se em direcção ao Oceano Infinito da Comunhão da Santíssima Trindade.

Somos imagens de Deus. Isto significa que não fomos feitos para estar sós. De facto, ninguém vê directamente o seu rosto, mas apenas o rosto dos outros. Isto quer dizer que fomos talhados para o face a face.

Reduzida a si, a pessoa está em estado de perdição. O estado de inferno é a situação da pessoa que se fechou em si mesma. De facto a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade amorosa.

Reduzida a si, a pessoa está estado de malogro. Não tem ninguém que lhe diga: “Gosto de ti! Dá-me a tua mão e vamos fazer uma festa”.

O Estado de inferno é a negação total de Deus. Com efeito, Deus é amor, diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4, 7).
II-COLABORADORES DE DEUS NA OBRA DA CRIAÇÃO

Deus não nos criou de modo mágico e automático, pois somos seres em construção. Isto quer dizer que Deus começou a criar-nos e não completa a sua obra sem nós tomarmos parte na nossa própria criação.

Por ser uma união orgânica de seres pessoais, a Humanidade pertence à cúpula personalizada da Criação. Esta é a razão pela qual podemos dizer que o Homem transcende o Cosmos.

A Humanidade não existe em abstracto. Está a emergir no concreto de cada pessoa de modo consciente, livre e responsável. À medida que emergem, as pessoas convergem para a comunhão universal.

Hoje estamos nós de turno na edificação da Humanidade. Muitos outros seres humanos já estiveram antes de nós e se não destruirmos a terra bonita que Deus nos deu, muitas outras pessoas podem continuar a História da Humanidade a emergir.

Esta tarefa pertence tanto aos homens como às mulheres, pois Deus criou-os para trabalharem em conjunto na obra da Criação, diz o Livro do Génesis:

“O Senhor Deus disse: “Não é conveniente que o homem esteja só. Vamos dar-lhe um auxiliar semelhante a ele” (Gn 2, 18-19).

Ao ver Eva Adão exultou, diz o Livro do Génesis: “Então o homem exclamou: Este é realmente o osso dos meus ossos, a carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, pois foi tirada do homem.

Por isso o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e os dois farão uma só carne” (Gn 2, 23-24).

O homem e a mulher de tal modo estão talhados um para o outro que é como se a mulher fosse arrancada do peito do homem e este arrancado do seio da mulher.

Como seres semelhantes a Deus, o homem e a mulher são criadores, isto é, seres capazes de fazer que o novo aconteça e que surjam realidades que antes não existiam.

Deus ordenou a Adão que se realizasse, não como sujeito isolado, mas como ser unido de modo orgânico a outros, diz o Livro do Génesis:

“Abençoando-os, Deus disse: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra” (Gin 1, 28) ”.
Ao fazer acontecer o novo, o Homem e a Mulher estão aptos a ser colaboradores de Deus na obra da Criação.

O Livro do Génesis descreve esta primazia do Homem dizendo que o Senhor Deus lhe deu as plantas, as árvores de fruto, os animais dos campos e as aves do céu (Gn 1, 29-30).
É como varão e mulher que o Homem está chamado a colaborar com Deus na obra da Criação.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias






domingo, 1 de novembro de 2009

O HOMEM NA CÚPULA DA CRIAÇÃO



A Humanidade faz parte da cúpula personalizada da Criação. Esta cúpula é constituída pelas pessoas humanas, as divinas e todas as outras que possam existir.

A morada Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas cujas coordenadas se situam na interioridade máxima de todas as coisas.

Isto quer dizer que Deus chega sempre até nós a partir de dentro!

Por ser constituída por pessoas e estar chamada a comungar com Deus, a Humanidade faz parte do melhor que a Criação conseguiu concretizar.

Apesar de não serem iguais às pessoas divinas as pessoas humanas são-lhe proporcionais.

Por se estar a edificar como comunhão de pessoas, a Humanidade é já proporcional à Divindade.

Na verdade, já pode acontecer interacção e comunhão amorosa entre o Homem e Deus. Por outras palavras, as pessoas humanas não são divinas por natureza, mas graças ao acontecimento da Encarnação já fazem parte da Família de Deus.

Pela Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de a Humanidade ser divinizada.

As pessoas revelam-se, quer contando a sua história pessoal, quer começando a relacionar-se em profundidade.

Apesar de a identidade dos seres humanos ser histórica, a sua vida profunda, por ser pessoal e espiritual, já tem sabor a eternidade.

Por ter sido criado para comungar com Deus, a plenitude do humano é o divino. Ao criar-nos à sua imagem e semelhança, Deus talhou-nos paras sermos membros da Família Divina, pois a Santíssima Trindade tem uma configuração de comunhão familiar:

A Primeira Pessoa da Trindade Divina tem um jeito paternal de amar. A Segunda ama com um jeito filial e a Terceira, o Espírito Santo, é o amor maternal de Deus.

Graças a Jesus Cristo, a Humanidade já está, portanto, incorporada na comunhão familiar divina.

A Humanidade é todos e cada um dos seres humanos. Não apenas os que vivem hoje na história, mas também todos os que nos precederam.

Os seres humanos que vivem actualmente na História formam a parcela dos que estão de turno na edificação da Humanidade.

Os que nos precederam são a multidão dos que já realizaram a missão histórica da sua realização como pessoas, colocando o alicerce deste edifício em construção que é o Homem.

Nós, os que estamos hoje no turno da História Humana, estamos a caminhar para a plenitude da Comunhão Universal da Família de Deus.

Os que nos precederam na História, já atingiram a meta para a qual nós estamos a caminhar.

Mas entre eles e nós existe uma união orgânica e interactiva que é a Comunhão Universal dos Santos.

Mas eles continuam organicamente unidos a nós e nós a eles, formando a comunhão Universal dos Santos.



Com Jesus Cristo chegou a plenitude dos tempos. O tempo da gestação chegou ao fim. Agora é o tempo do parto que vai dar origem ao nascimento dos filhos de Deus, como diz a Carta aos Gálatas:

“Mas quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho que clama: Abba, Pai Querido!

Deste modo já não és escravo mas filho. Ora, se és filho és também herdeiro por graça de Deus” Gal 4, 4-7).


Após a Encarnação, esse enxerto maravilhoso do divino no humano, os seres humanos, à medida que se humanizam são já divinizados.


Com efeito, graças à união que nos liga a Cristo e, por ele, à Santíssima Trindade, já vivemos a vida da graça.


Isto quer dizer que a vida humana já está a ser optimizada de modo permanente pela acção do Espírito Santo que nos vai incorporando de modo gradual e progressivo na Família de Deus.


Através da evolução animal, o barro foi-se amassando até adquirir a sua configuração adequada, isto é, a complexidade própria do ser humano.


Depois, Deus deu-lhe o beijo primordial e o hálito da vida de Deus passou para o interior do barro dando origem ao Homem em construção.


Imaginando o plano da criação como se fosse um dia, diríamos que ao nascer da aurora, Deus amassou o barrou e comunicou-lhe a força personalizante do Espírito Santo.


Ao meio-dia, o Filho de Deus enxertou a sua vida divina no Homem pelo mistério da Encarnação, inaugurando a plenitude dos tempos e o parto que dá origem ao nascimento dos filhos de Deus.


A fome de felicidade e plenitude que levamos em nós são o sinal de que a nossa vocação é a incorporação na própria Família de Deus.


O acontecimento de Cristo ressuscitado é a garantia de que Deus não nos frustrou e de que estamos a caminhar de modo seguro para a plenitude da Vida Eterna.


O apelo interior que nos convida a crescer e a realizarmo-nos como pessoas tem sentido pleno, pois o ser humano não nasce acabado.


Tudo isto quer dizer que não estamos a construir para o vazio da morte e a nossa meta não é a perda definitiva da nossa identidade pessoal-espiritual.


No Reino de Deus, a pessoa é assumida e optimizada na Comunhão da própria Santíssima Trindade.


O Homem não nasce acabado. Deus criou-nos para que nos criemos mediante decisões, opções e realizações com a densidade do amor.


Cada pessoa está chamada a ser como quiser ir sendo através de uma cadeia de escolhas, opções e projectos de vida.


É verdade que ninguém nos pode realizar nesta tarefa da nossa construção. Mas também é verdade que ninguém se pode realizar sozinho, pois a humanização é uma tarefa de amor.

O Homem sonhado por Deus tem um rosto comunitário. O Livro do Génesis diz Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança, criando-os homem e mulher (Gn 1, 26-27).

Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias