sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SABOREANDO O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS

I-O REINO DE DEUS ESTÁ PRÓXIMO

Jesus iniciou a sua pregação anunciando a proximidade do Reino de Deus e a convidar as pessoas a converterem-se.

Eis o que diz São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:

“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).

Os evangelhos dão a entender que o Reino de Deus é um mistério, isto é, um segredo que Deus decidiu revelar aos discípulos através do seu Filho, diz São Marcos:

“A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus. Mas aos de fora tudo lhes é proposto em parábolas” (Mc 4, 11).

A Carta aos Efésios esclarece melhor este aspecto, dizendo que Deus resolver revelar o mistério do Reino de Deus, a fim de os Apóstolos poderem anunciar aos seres humanos o plano salvador de Deus:

“Deus manifestou-nos o mistério da sua vontade e o plano generoso que tinha estabelecido para conduzir os tempos à sua plenitude, isto é, submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no Céu e na Terra” (Ef 1, 10).

E depois acrescenta: “Por revelação me foi dado conhecer este mistério, tal como antes vo-lo descrevi resumidamente.

Lendo-o podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens em gerações passadas, como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos Apóstolos e Profetas.

Segundo este mistério, os gentios são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa em Cristo Jesus, por meio do Evangelho” (Ef 3, 3-6).

Ao mandar os discípulos pregar o Reino de Deus, Jesus indica-lhes que o Reino coincide com a meta do Plano Salvador de Deus (Lc 9, 2).

Os que forem perseguidos por causa da justiça, isto é, por causa da sua fidelidade a Deus, devem considerar-se felizes, pois deles é o Reino de Deus (Mt 5, 10).

Procurar o Reino de Deus é procurar o fundamental da salvação: “Procurai o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).

Ser justo é ser fiel à vontade de Deus. O Reino assenta no poder de Deus que é a força criadora e salvadora do amor.

Eis o que diz a Primeira Carta de São João: “O amor de Deus manifestou-se desta maneira no meio de nós:

Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por meio de ele, tenhamos a vida” (l Jo 4, 9).

O tema da pregação de João Baptista era a necessidade da conversão para acolher o Reino de Deus que estava para chegar:

“Convertei-vos, dizia ele, pois o Reino de Deus está próximo” (Mt 3, 1-2). Os milagres de Jesus significavam que a força libertadora do Espírito Santo estava presente e activa.

Segundo os profetas, o sinal claro da chegada do Reino de Deus era a acção libertadora do Messias a actuar com a plenitude do Espírito Santo:

“Brotará um rebento do tronco de Jessé e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor: Espírito de sabedoria e entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor” (Is 11, 1-2).

Era este o modo como Jesus via o sentido da sua acção libertadora:
“Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12, 28; Lc 12, 31).

Jesus nunca confundiu o Reino de Deus com um reino terreno. Para ele, o Reino de Deus acontece ao nível da renovação dos corações e da libertação de tudo o que impede e o respeito pela dignidade humana.

No evangelho de São João, Jesus diz que é preciso nascer de novo para entrar no Reino de Deus:
“Quem não nasce do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 5-6).

O Reino de Deus implica decisão e fidelidade à vontade de Deus: “Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).

E ainda: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).

O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que São Paulo, depois da sua conversão, passou a vida a anunciar o Reino de Deus (Act 28, 31).

Segundo o testemunho dos evangelhos, os Apóstolos só começaram a ter uma ideia clara do Reino de Deus depois da ressurreição de Jesus.

Antes, disso os apóstolos apenas entendiam a realidade do Reino de Deus segundo os critérios humanos e não segundo os critérios de Deus (Mt 16, 23).

Isto quer dizer que o Reino de Deus é o ponto mais alto do Plano Salvador de Deus para a Humanidade.
II-O REINO DE DEUS COMO COMUNHÃO ORGÂNICA


A grandeza de Jesus Cristo é humano-divina, pois assenta no mistério da Encarnação através da qual o Divino se enxertou no Humano, a fim de a Humanidade ser divinizada.

Por ser de grandeza humano-divina, o mistério de Jesus Cristo envolve uma união orgânica, interactiva e fecunda entre a Humanidade e a Divindade.

Esta união orgânica do divino com o humano acontece como uma interacção directa animada pelo Espírito Santo.

São Paulo diz que as pessoas que se deixam conduzir pela acção do Espírito Santo são incorporadas na Família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho Eterno de Deus (Rm 8, 14-16).

Nesta interacção humano-divina, o humano e o divino fazem uma união, mas não uma fusão.
Por outras palavras, em Jesus Cristo o humano realiza-se perfeitamente, pois ele é um homem em tudo igual a nós menos no pecado.

Por fazer uma união orgânica com toda a Humanidade, Jesus Cristo é, realmente o único medianeiro entre Deus e o Homem (1Tm 2, 5).

Do mesmo modo, a Segunda pessoa da Santíssima Trindade é plenamente Deus com o Pai e o Espírito Santo.

É por esta razão que nós somos incorporados na comunhão familiar da Santíssima Trindade.
Utilizando uma imagem diria que o ramo de limoeiro, enxertado na laranjeira, continua a dar limões e não laranjas.

Isto quer dizer que pela dinâmica da Encarnação nem a divindade é mutilada nem a Humanidade é anulada.

A seiva que circula e alimenta esta união orgânica é o Espírito Santo, o qual faz do nosso coração uma morada.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Por ser o ponto de encontro e o vínculo de união orgânica do humano com o divino, Jesus Cristo é, realmente, o único medianeiro entre Deus e o Homem.

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Isto quer dizer que Jesus Cristo é o alicerce do Reino de Deus, pois é através dele que acontece o encontro definitivo da Humanidade com a Divindade.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Pai Santo, eu dei-lhes a glória que tu me deste, a fim de que sejam um como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, Pai Santo, para que cheguem à perfeição da unidade e deste modo o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como me amaste a mim” (Jo 17, 23-24).

Isto quer dizer que o Reino de Deus está em génese na História e culmina na assunção e incorporação do Homem na Família de Deus.

O Reino de Deus era o tema central da pregação de Jesus. Este Reino tem como lei única o amor e é o horizonte máximo da Esperança Cristã.

É importante não confundir Igreja com o Reino de Deus. A Igreja é sacramento, isto é, explicita e torna visível a dinâmica do Reino a emergir na História.

Ao mesmo tempo, a Igreja é uma mediação do Espírito Santo para facilitar a emergência histórica do Reino de Deus.

A Carta aos Efésios sublinha este papel da Igreja quando diz: “A mim, o menor de todos os santos, foi-me dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido em Deus, o Criador de todas as coisas.

E deste modo, por meio da Igreja, é agora dada a conhecer a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno que ele planeou em Cristo Jesus nosso Senhor” (Ef 3, 8-11).

Dizer que a Igreja é sacramento, significa que a sua missão é histórica e só para a História. No Reino de Deus já não há sacramentos, pois as pessoas estão na evidência e na posse de todas as coisas.

Por outras palavras, no Reino de Deus já não há sacramentos, mas sim a realidade explicitada agora pelos sacramentos.

Na sua perfeição e meta, o Reino de Deus coincide com a humanidade divinizada em Cristo.
O Reino de Deus é para toda a Humanidade.
Mas para tomar parte nesta festa da plenitude é preciso ter a veste nupcial, isto é, ter um coração capaz de comungar fraternalmente.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Jesus disse-lhes: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vão preceder-vos no Reino de Deus.

João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça e não acreditastes nele. Mas os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram, aceitando a sua mensagem” (Mt 21, 31-32).

Na Comunhão Universal do Reino de Deus, a palavra decisiva compete sempre ao amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias





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