A revelação de Deus não é um conjunto de telefonemas do Céu. As Escrituras e a tradição são a grande mediação para a revelação acontecer no coração dos crentes.
A Palavra de Deus não é letra que mata, mas Espírito que dá vida, diz São Paulo: “É Deus quem nos capacita para sermos, a fim de sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito.
Na verdade, a letra mata, mas o Espírito dá vida (2 Cor 3, 6). Isto quer dizer que o conhecimento de Deus não é como uma questão teórica como a tabuada que se aprende para depois ser repetida de cor.
O conhecimento, no pensamento bíblico, é resultado de uma comunhão orgânica, interactiva e fecunda.
A Primeira Carta de São João afirma que a lente adequada para conhecermos Deus é o amor:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus.
Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8).
Jesus Cristo não separa o amor de Deus do amor aos irmãos. Pelo contrário, o amor aos irmãos é o caminho seguro para chegarmos ao conhecimento de Deus:
“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).
E depois acrescenta: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.
Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).
São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido por Deus. São Paulo era um judeu profundamente enraizado no pensamento bíblico.
Isto quer dizer que ele utiliza a expressão “ser conhecido por Deus”, no sentido de acontecer uma verdadeira interacção amorosa entre Deus e o Homem (1 Cor 8, 3).
O conhecimento de Deus, portanto, não é uma questão de ciência, mas de amor. Eis o que diz São Paulo: “A ciência incha, mas o amor edifica” (1 Cor 8, 1).
O princípio animador da comunhão com Deus e os irmãos é o Espírito Santo, diz a Primeira Carta de São João:
“Nós apercebemo-nos de que estamos em Deus e ele em nós, pois nós participamos da Vida no Espírito Santo” (1 Jo 4, 13).
São Paulo diz que ninguém pode saborear o mistério de Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:
“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).
Isto quer dizer que Conhecer Cristo é fazer com ele uma união orgânica, animada pelo Espírito Santo.
Eis a razão pela qual comemos a carne de Cristo (Jo 6, 54-57). O Espírito Santo é a carne e o sangue de Cristo ressuscitado, diz o evangelho de São João (Jo 6, 62-63).
A comunhão, na Eucaristia, exprime de modo sacramental este conhecimento e comunhão do Homem com Deus em Jesus Cristo.
A Primeira Carta aos Coríntios diz que esta união a Cristo faz de nós membros do seu Corpo:
“Comemos um só pão porque formamos um só Corpo (1 Cor 10, 17).
E ainda, “Fomos baptizados no mesmo Espírito Santo, a fim de formarmos o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13).
O evangelho de São João, referindo-se à nossa união com Cristo, diz que Cristo é a cepa da videira e nós os seus ramos:
“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá também convosco, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 4-5).
Calmeiro Matias
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