sábado, 24 de abril de 2010

A NOSSA META É O HOMEM NOVO EM CRISTO

Ao iniciar a marcha da Criação, Deus já tinha em mente o nível espiritual da vida humana, cuja plenitude se encontra em Deus.

Pelo mistério da Encarnação foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus através de um novo nascimento.

É por esta razão que Jesus disse que temos de nascer de novo pelo Espírito Santo (Jo 3, 6).

Eis o que diz o evangelho de São João: “A todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).

Os seres humanos nascem inacabados, a fim de terem a possibilidade de completar a obra criadora de Deus.

Esta era uma condição essencial para a pessoa humana se estruturar como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de amar.

O ser humano nasce hominizado, isto é, com uma estrutura própria de homem, mas não nasce humanizado, pois a humanização é uma tarefa que a pessoa tem de realizar em contexto de relações e comunhão fraterna.

Depois de o barro estar amassado, diz o Livro do Génesis, Deus beijou-o e introduziu nele o hálito da vida, a fim de este iniciar a aventura da humanização (cf. Gn 2, 7).

Através da Encarnação Deus deu ao Homem um outro beijo, do qual derivou a divinização do Homem.

No início da grande epopeia da humanização, Deus Pai deu-nos o primeiro beijo, capacitando-nos para podermos emergir como pessoas mediante relações de amor.

O segundo beijo é-nos dado pelo Filho de Deus no momento da Encarnação, criando as condições para sermos divinizados e assumidos na Comunhão da Santíssima Trindade.

Por outras palavras, através da Encarnação, os seres humanos foram incorporados de modo orgânico na comunidade familiar de Deus.

Eis o que diz o evangelho de São João: “Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Graças à união orgânica que existe entre nós e Jesus, nós somos incorporados por ele na Família da Deus.

Jesus disse que a união orgânica que existe entre nós e ele é semelhante à união da cepa da videira com os seus ramos. Nós somos os ramos da videira cuja cepa é Jesus Cristo.

E Jesus acrescenta que nós só podemos ser ramos vivos e fecundos se permanecermos unidos à cepa da qual nos vem a seiva (cf. Jo 15, 4-5).

Segundo o evangelho de São João, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo como fonte de Vida Eterna é falar do Espírito Santo (cf. Jo 4, 14; 7, 37-39).

O Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança que Jesus e os discípulos beberão no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).

Ele é o hálito da vida que Deus comunicou ao barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7).

Ele é igualmente o beijo da Encarnação através do qual fomos introduzidos na plenitude dos tempos.

Com a ressurreição de Cristo, o tempo da gestação chegou à plenitude, dando início ao parto do qual vão nascer os novos filhos de Deus, como diz a diz a Carta aos Gálatas:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).

O plano salvador de Deus assenta, pois, sobre estes dois beijos de Deus: o beijo dos primórdios e o beijo da plenitude.

A Comunhão Universal para a qual convergem os seres humanos é a festa do Reino de Deus. Eis algumas afirmações de São Paulo:
“Na verdade, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos encha de medo.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos. É por este Espírito que clamamos “Abba” ó Pai.
O próprio Espírito Santo dá testemunho no nosso íntimo de que realmente somos filhos de Deus.
Ora, se somos filhos também somos herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-16).

Graças à presença dinâmica do Espírito Santo em nós, Deus torna-se realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco, como diz o evangelho de São Mateus:

“Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem chamarão Emanuel, isto é, Deus connosco” (Mt 1, 23).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo Deus vai-nos moldando à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27).

Pelo segundo, vai-nos incorporando na Família Divina (Jo 1, 12-14).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo facilita a nossa caminhada no processo da humanização.

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo ressuscitado. Assim como ressuscitou Jesus também nos vai ressuscitando com ele.

O sacramento da Eucaristia exprime esta união orgânica com Cristo que faz de nós uma unidade com o Filho Eterno de Deus e, através dele, um com o Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

São Paulo diz que o Filho de Deus, ao encarnar, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

Depois acrescenta que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Na Primeira Carta aos Coríntios, ele diz que o nosso coração é um templo no qual habita o Espírito Santo:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

E ainda: “Nós é que somos o templo do Deus vivo. Eis o que diz o Espírito de Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

Diz ainda: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que recebestes de Deus e que está em vós? “ (1 Cor 6, 19).

A presença do Espírito Santo em nós é uma força santificadora, diz São Paulo:

“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Eis como o Livro do Apocalipse descreve a comunhão definitiva do Homem com Deus na plenitude do Reino:

“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.
Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos, pois já não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 19 de abril de 2010

E DEUS CONVIDOU-NOS PARA A SUA FESTA

Pai Santo

Naquilo que temos de bom somos realmente parecidos com Deus.

Foi por esta razão que tu nos enviaste o teu Filho com a missão de nos convidar para a Festa do teu Reino.

O teu convite é redigido pelo Espírito Santo nos nossos corações, dando-nos a garantia de que estamos salvos.

Eis as palavras de São Paulo: “Não sabeis que sois templos do Espírito Santo que habita em vós.

Na verdade, vós recebestes de Deus o Espírito Santo e por isso já não vos pertenceis, pois fostes comprados por um alto preço.” (1 Cor 6, 19-20).

A Segunda Carta aos Coríntios diz que o Espírito Santo é quem nos capacita para vivermos a dinâmica da Nova Aliança que é fonte de Vida Eterna:

“Pelas nossas forças e aptidões somos incapazes de pensar e realizar algo de bom. A nossa capacidade vem de Deus.

De facto é ele que nos torna aptos para sermos ministros de um Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, mas o Espírito dá Vida” (2 Cor 3, 5-6).

É este o sentido profundo da seguinte afirmação de São Paulo: “O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações” (Rm 5, 5).

Isto quer dizer que estamos talhados para o amor.
A vida natural não pode subsistir sem água. Do mesmo, a pessoa humana, privada de amor, não pode emergir, acabando por definhar e morrer espiritualmente.

Por outras palavras, o amor é o fundamento da realidade. De facto, foi o amor que criou o Universo.

Quando a Primeira Carta de São João diz que Deus é amor, está a tocar no coração da essência divina (1 Jo 4, 7-8; 16).

Talhado para a comunhão com Deus, o ser humano está chamado a crescer sempre mais na sua capacidade de amar.

A dignidade da pessoa humana começa no facto de não nascer determinada como os animais. Cada pessoa está chamada a realizar-se como ser único, original e irrepetível.

Na medida em que emergem e crescem em contexto de comunhão amorosa, os seres humanos tornam-se pessoas cada vez mais semelhantes às pessoas da Santíssima Trindade.
A vida pessoal em relações de comunhão familiar foi a primeira realidade que existiu.

Trindade Santa

Glória a Vós que sois um Deus Fiel e Verdadeiro. Ainda não tinha sido iniciada a génese das galáxias e já existia um Deus comunidade de amor.

Como sois amor, a génese do universo foi iniciada pela força criadora do Amor.

Deus Santo

Vós sois comunhão de pessoas. Isto quer dizer que sois Vida em plenitude, pois a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

Por outras palavras, a Vida em Plenitude precedeu o Universo!

Por ter sido criada à imagem e semelhança da Divindade, a Humanidade está a emergir de modo único, original e irrepetível no concreto de cada pessoa.

Com o aparecimento da vida pessoal-espiritual, a marcha evolutiva da Criação atingiu o limiar da eternidade. Depois veio Jesus Cristo, a fim de optimizara vida humana, divinizando-a.

Só o jeito de amar revela a qualidade do coração humano e a densidade da humanização de uma pessoa. É esta a matéria-prima que Cristo veio divinizar.

No Reino de Deus seremos eternamente conhecidos e identificados, pelo jeito de dançar o ritmo do amor.

Este jeito, no entanto, é adquirido enquanto vivemos na História.

É mediante o amor que a pessoa possui Deus e os outros, pois o ser humano possui Deus e aos outros na medida em que se dá.

De facto, ao dar-se, a pessoa não se perde. Pelo contrário, encontra-se na dinâmica da comunhão amorosa.

Estamos talhados para amar. É esta a nossa vocação fundamental.

Isto quer dizer que a pessoa que se recusa a amar não serva para a Vida Eterna.

Glória a Vós, Trindade Santíssima. Vós Sois a garantia da nossa plenitude!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CRISTO E A EMERGÊNCIA DO HOMEM NOVO

I - ASSUMIDOS COM CRISTO EM DEUS

Ao iniciar a marcha da Criação, Deus já tinha em mente o nível espiritual da vida humana, cuja plenitude se encontra em Deus.

Pelo mistério da Encarnação foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus através de um novo nascimento.

É por esta razão que Jesus disse que temos de nascer de novo pelo Espírito Santo (Jo 3, 6).

Eis o que diz o evangelho de São João: “A todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).

Os seres humanos nascem inacabados, a fim de terem a possibilidade de completar a obra criadora de Deus.

Esta era uma condição essencial para a pessoa humana se estruturar como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de amar.

O ser humano nasce hominizado, isto é, com uma estrutura própria de homem, mas não nasce humanizado, pois a humanização é uma tarefa que a pessoa tem de realizar em contexto de relações e comunhão fraterna.

Depois de o barro estar amassado, diz o Livro do Génesis, Deus beijou-o e introduziu nele o hálito da vida, a fim de este iniciar a aventura da humanização (cf. Gn 2, 7).

Através da Encarnação Deus deu ao Homem um outro beijo, do qual derivou a divinização do Homem.

No início da grande epopeia da humanização, Deus Pai deu-nos o primeiro beijo, capacitando-nos para podermos emergir como pessoas mediante relações de amor.

O segundo beijo é-nos dado pelo Filho de Deus no momento da Encarnação, criando as condições para sermos divinizados e assumidos na Comunhão da Santíssima Trindade.

Por outras palavras, através da Encarnação, os seres humanos foram incorporados de modo orgânico na comunidade familiar de Deus.

Eis o que diz o evangelho de São João: “Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Graças à união orgânica que existe entre nós e Jesus, nós somos incorporados por ele na Família da Deus.

Jesus disse que a união orgânica que existe entre nós e ele é semelhante à união da cepa da videira com os seus ramos. Nós somos os ramos da videira cuja cepa é Jesus Cristo.

E Jesus acrescenta que nós só podemos ser ramos vivos e fecundos se permanecermos unidos à cepa da qual nos vem a seiva (cf. Jo 15, 4-5).

Segundo o evangelho de São João, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo como fonte de Vida Eterna é falar do Espírito Santo (cf. Jo 4, 14; 7, 37-39).

O Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança que Jesus e os discípulos beberão no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).

Ele é o hálito da vida que Deus comunicou ao barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7).

Ele é igualmente o beijo da Encarnação através do qual fomos introduzidos na plenitude dos tempos.

Com a ressurreição de Cristo, o tempo da gestação chegou à plenitude, dando início ao parto do qual vão nascer os novos filhos de Deus, como diz a diz a Carta aos Gálatas:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).

O plano salvador de Deus assenta, pois, sobre estes dois beijos de Deus: o beijo dos primórdios e o beijo da plenitude.

A Comunhão Universal para a qual convergem os seres humanos é a festa do Reino de Deus.

Eis as palavras de São Paulo: “Na verdade, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos encha de medo.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos.

É por este Espírito que clamamos “Abba” ó Pai. O próprio Espírito Santo dá testemunho no nosso íntimo de que realmente somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos também somos herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-16).

Graças à presença dinâmica do Espírito Santo em nós, Deus torna-se realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco, como diz o evangelho de São Mateus:

“Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem chamarão Emanuel, isto é, Deus connosco” (Mt 1, 23).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo Deus vai-nos moldando à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27).

Pelo segundo, vai-nos incorporando na Família Divina (Jo 1, 12-14).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo facilita a nossa caminhada no processo da humanização.

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo ressuscitado. Assim como ressuscitou Jesus também nos vai ressuscitando com ele.

O sacramento da Eucaristia exprime esta união orgânica com Cristo que faz de nós uma unidade com o Filho Eterno de Deus e, através dele, um com o Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

São Paulo diz que o Filho de Deus, ao encarnar, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

Depois acrescenta que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Na Primeira Carta aos Coríntios, ele diz que o nosso coração é um templo no qual habita o Espírito Santo:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

E ainda: “Nós é que somos o templo do Deus vivo. Eis o que diz o Espírito de Deus:

Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

Diz ainda: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que recebestes de Deus e que está em vós? “ (1 Cor 6, 19).

A presença do Espírito Santo em nós é uma força santificadora, diz São Paulo:

“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Eis como o Livro do Apocalipse descreve a comunhão definitiva do Homem com Deus na plenitude do Reino:

“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.

Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos, pois já não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).

II – O CORAÇÃO HUMILDE DO HOMEM NOVO

É bom saborear a arte e as atitudes que modelam o coração do Homem Novo cujo alicerce é Jesus Cristo.

Eis algumas dessas atitudes fundamentais:

O coração do Homem Novo torna-se acolhedor e fraterno.

É tolerante e por isso não está sempre a culpar os outros das suas insatisfações e fracassos.

Sabe aceitar as próprias limitações e procura realizar-se com os talentos que tem.

Por ser humilde, o Homem Novo, é verdadeiro em relação a si e aos outros.

Parte do princípio que uma pessoa, para se realizar, precisa dos outros.

Compreende o mistério da pessoa cuja plenitude não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

A pessoa que não aprende a escutar o irmão e a aceitá-lo como ele é nunca será capaz de moldar um coração de Homem Novo.

As pessoas demasiado enredadas no seu egoísmo apenas conseguem escutar-se a si próprias e, portanto, nunca conseguirão sintonizar e comungar com os outros.

A pessoa humilde reconhece os seus erros e sabe que só o amor é capaz de curar as feridas do pecado.

O Homem Novo não está sempre a julgar os outros. Na verdade, as pessoas que estão sempre a olhar os defeitos dos outros, normalmente estão a projectar os seus defeitos nos irmãos.

Jesus disse que do coração humano tanto podem emergir projectos de amor como decisões e projectos de morte:

“O que sai da boca provém do coração e isso pode tornar o homem impuro.

Do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. Tudo isto torna o homem impuro” (Mt 15, 19-20).

Visto sob este prisma, o coração corresponde ao nosso conceito de livre arbítrio, isto é, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

O Homem Novo relaciona-se com os irmãos de modo amável e sereno vivendo já a bem-aventurança prometida por Jesus aos mansos:

“Felizes os mansos porque possuirão a Terra” (Mt 5,5).

Ao declarar os mansos como possuidores da Terra, Jesus queria dizer que os mansos são possuidores de paz e serenidade em todo o lado.

Na verdade, a amabilidade desmonta a violência e a agressividade com que os outros pretendem, por vezes, agredir-nos.

O Homem Novo tem a gentileza de dar a primazia uma atitude que ajuda a moldar um coração atento e fraterno.

Saber reconhecer os momentos oportunos para falar e as melhores ocasiões para escutar é sinal de sabedoria.

É um excelente sinal de amor e humildade saber evitar argumentos inúteis que só servem para exaltar os ânimos.

A capacidade de reconhecer quando o outro tem razão é um excelente sinal de humildade.

O Homem Novo sabe que ao romper com o amor está a romper com Deus, pois Deus é amor.

O Homem Novo faz do amor a Deus o rochedo sólido para edificar a sua casa, sabendo, no
entanto, que o amor a Deus passa sempre pelo amor aos irmãos.

O Homem Novo cultiva a arte facilitar a realização dos outros, sabendo que o importante é aceitá-los por eles serem o que são e não por fazerem o que ele gostaria que fizessem.

Nos seus diálogos, o Homem Novo tenta comunicar sempre numa linha de verdade e autenticidade.

No trato com os irmãos, o Homem Novo não está sempre a olhar só para os seus interesses pessoais, mas é capaz de ajudar os outros com o seu ter e o seu saber.

O Homem Novo reconhece que os outros são um dom um dom de Deus, pois são mediações para se realizar e ser feliz. Na verdade, ninguém é feliz sozinho!

O Homem Novo sabe que sabe que só poderá fazer da Família de Deus com os outros. Na verdade ninguém se salva sozinho.

O Homem Novo tem uma grande capacidade de sintonizar com os outros, pois sabe que não é bom em tudo e por isso presta grande atenção ao que eles dizem e fazem.

O Homem Novo mostra-se agradecido quando se apercebe que os outros estão a ser atentos e respeitadores da sua diferença e originalidade.

As pessoas que tentam controlar e manipular os outros nunca conseguirão ter um coração de Homem Novo, pois estão a impedir que o outro possa emergir como pessoa livre, consciente e responsável.

Amar os outros, apesar dos seus defeitos é amá-los ao jeito de Deus.

O Homem Novo é leal e verdadeiro, por isso se alegra com os sucessos dos outros como se fossem seus.

Por ser humilde, o Homem Novo não alimenta ressentimentos ou planos de vingança.

O homem Novo não é um dominador nem um possessivo, pois sabe edificar sobre a gratuidade.

As pessoas que dão coisas para amarrar os outros nem são felizes nem são capazes de ajudas os outros a emergir como pessoas livres, criativas e felizes.

O Homem Novo entende muito bem as palavras de Jesus que pede aos discípulos para o imitarem, tornando-se mansos e humildes de coração.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quinta-feira, 8 de abril de 2010

A FÉ GERA SABEDORIA E TRANSFORMA A VIDA

Os horizontes da fé cristã são os mesmos horizontes da Palavra de Deus.

Isto significa que a fé é um dom de Deus e não um simples resultado da reflexão humana.

Por outras palavras, os conteúdos da fé cristã brotam da revelação, a qual vai moldando o nosso modo de ser e agir, graças à acção Espírito Santo em nós.

Eis alguns conteúdos da fé que configuram o modo como vemos o sentido da vida e dos acontecimentos:

Em primeiro lugar acreditamos que há um só Deus, o qual é uma comunhão familiar de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Acreditamos que Deus é amor, como diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4, 7; 4, 16).

Acreditamos que a Criação é essencialmente boa, pois é obra de um Deus que é amor.

A nossa fé diz-nos também que, pelo mistério da Encarnação, o divino se enxertou no humano, a fim de nós sermos divinizados.

Acreditamos que o Filho Eterno de Deus se exprimiu em grandeza humana através de Jesus de Nazaré.
Acreditamos que, em Cristo, o humano e o divino fazem uma união orgânica e interactiva.

Graças a esta união, o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o filho de Maria, fazem um, mas sem se confundirem nem fundirem.

Acreditamos que o Espírito Santo é uma pessoa cujo modo de ser e agir consiste em dinamizar as relações de amor entre as Pessoas de Deus Pai e a pessoa do Filho Eterno de Deus.

Por outras palavras, acreditamos que o Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar, exerce um papel fundamental no acontecimento de Cristo.

É isto que o credo quer dizer quando afirma que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo.

Acreditamos que Deus decidiu revelar-se ao Homem, escolhendo, para isso, um povo que seja o medianeiro da revelação para a Humanidade.

Até Jesus Cristo o medianeiro da dinâmica histórica da revelação foi o Povo Hebreu.

Jesus Cristo dá início ao Povo da Nova Aliança constituído, não por uma raça e uma língua, mas por gentes de todas as raças, línguas, povos e nações.

Deste modo, o Novo povo de Deus pode anunciar a Palavra de Deus no interior de todas as raças, línguas, povos e nações, tornando-se assim o sacramento do plano da salvação universal de Deus.

Acreditamos que Deus é amor e, portanto, não condena ninguém, pois não se pode negar a si mesmo.

Acreditamos que a pessoa humana é capaz de romper a comunhão amorosa com Deus, mas não é capaz de fazer que Deus deixe de a amar de modo incondicional.

Por ser amor, Deus não condena ninguém. As pessoas que vão para a morte eterna condenam-se por sua própria decisão.

Devido ao facto de o Homem ainda não estar acabado, nós acreditamos que Deus o está criando à sua imagem e semelhança.

Na verdade, o Homem é um ser em construção, tanto na sua dimensão física, como psíquica, social ou espiritual.

Acreditamos que a pessoa humana não se esgota na sua dimensão biológica.

Acreditamos que a morte não mata a pessoa, mas apenas o seu ser exterior.

Acreditamos que no momento da morte da pessoa, a sua interioridade espiritual é assumida e incorporada na Família de Deus.

Acreditamos que a Vida Eterna acontece através da ressurreição e não apenas através de uma simples subsistência imortal.

Acreditamos que o núcleo do Evangelho é a Boa Notícia da ressurreição e não uma simples crença na imortalidade da alma.

Com efeito, a imortalidade é um conceito que já existia no mundo pagão muito antes de Jesus Cristo.

Acreditamos que a humanização do Homem é uma tarefa ética que, em síntese, implica dizer sim aos apelos do amor e dizer não ao que se opõe ao amor.

Jesus fez do amor o seu único mandamento, pois sabia que o amor é a dinâmica que possibilita a emergência e estruturação da pessoa humana.

Acreditamos que o anúncio do Evangelho é um serviço importante para o bem da Humanidade.

Acreditamos que para o cristão, a disposição de viver como discípulo de Jesus Cristo é a melhor opção para o cristão se realizar e ser feliz.

Acreditamos que Deus não é uma entidade que se limita a pedir-nos práticas religiosas, fundadas em cultos e ritos bem executados.

É sinal de maturidade cristã ter presente que o Espírito Santo habita no nosso íntimo e aí nos vai moldando à imagem e semelhança de Deus.

Quanto mais vivermos esta realidade de modo consciente, mais aptos vamos ficando para testemunhar o amor de Deus para com os seres humanos.

O sentido da vida humana não é uma evidência que se impõe logo à partida, mas uma descoberta gradual e progressiva que vai amadurecendo em nós.

Em primeiro lugar trata-se de uma descoberta que vai amadurecendo no coração da pessoa que tenta encontrar as razões do que lhe acontece.

Para os cristãos, o sentido da vida é visto numa perspectiva mais profunda:

Trata-se de uma revelação, isto é, de uma confidência do Espírito Santo que habita em nós e vai balbuciando em nós a Palavra de Deus.

Por outras palavras, o sentido cristão da vida tem como horizonte a Sabedoria que vem da Palavra de Deus.

Eis o que diz o evangelho de São João: “Quando o Espírito da Verdade vier, ele vai guiar-vos para a Verdade Plena.

Ele não falará só por si, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos-á o que há-de vir” (Jo 16, 13).

Os crentes que se abrem à Palavra de Deus e à luz do Espírito Santo começam a adquirir uma sabedoria cujos horizontes transcendem o alcance da inteligência Humana.

As mediações de que o Espírito Santo se serve para fazer esta confidência no nosso íntimo são a Escritura, a Comunidade Cristã e os acontecimentos da História Humana.

À luz da Palavra de Deus, a grande razão pela qual vale a pena viver é o amor.

Jesus ensinou aos discípulos que o amor é uma razão que vale tanto para viver como para morrer. Eis as suas palavras:

“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.

Ninguém tem mais amor do que aquele que dá ávida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Na verdade, só o Espírito Santo pode projectar luz sobre muitos acontecimentos que parecem tirar todo o sentido à vida. Com efeito, a Palavra de Deus optimiza o sentido daquilo que já o tem e confere sentido àquilo que parece não o ter.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 5 de abril de 2010

BÍBLIA E CONTEMPLAÇÃO DA FACE DE DEUS

I-A FACE DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

O rosto de Deus, na bíblia, significa o seu ser e a sua identidade.

Quando a bíblia diz que um patriarca ou um profeta procura o rosto de Deus quer dizer que deseja entrar na intimidade de Deus.

Por outro lado, há muitas passagens do Antigo Testamento que falam da impossibilidade de ver a face de Deus.

O livro do Génesis fala de uma experiência do patriarca Jacob, dizendo que durante uma noite inteira ele teve de lutar com um personagem desconhecido.

De manhã, diz o texto, Jacob apercebeu-se que se tratava de Deus, pelo que ficou muito assustado e também admirado, pois apesar de ter visto a face de Deus não morreu (Gn 32, 30).

Este relato pretende afirmar que o Jacob teve acesso ao mistério da intimidade de Deus, privilégio que não era concedido aos mortais.

Na visão antiga, pensava-se que a transcendência e a santidade de Deus são realidades tão sublimes e distantes que a sua proximidade pode representar uma ameaça para o ser humano que é pobre e pecador.

É expressivo o relato do Livro do Êxodo no qual aparece Moisés pedindo a Deus que lhe mostre o seu rosto.

Deus respondeu-lhe dizendo que o ser humano não pode ver o rosto de Deus e continuar a viver:

“Não podes ver o meu rosto, disse Deus, pois o homem não me pode ver e continuar a viver” (Ex 33, 20).

Na verdade, o autor quer dizer apenas que Deus e Moisés não são iguais. Deus é santidade e perfeição infinitas, ao passo que o ser humano é imperfeito e pecador.

Quando a Bíblia diz que o ser humano não pode ver o rosto de Deus, quer dizer que a pessoa humana não tem capacidade para captar Deus de modo perfeito.

A prova de que estes textos não devem ser tomados à letra, é que o autor, no capítulo vinte e quatro do mesmo Livro do Êxodo, afirma que Moisés viu a face de Deus e não morreu (Ex 24, 10-11).

Nesta mesma linha, o Livro do Deuteronómio diz que Moisés foi especial entre os profetas, pois Deus comunicou face a face com ele (Dt 34, 10).

Estes textos pretendem apenas afirmar a grande intimidade que existia na relação de Deus com Moisés.

A aparente contradição destes textos não é mais que uma tentativa de afirmar por um lado a total transcendência de Deus e, por outro, a sua presença junto do Homem.

Por vezes a bíblia diz que Deus esconde o seu rosto quando está magoado com os pecados do povo. Estas afirmações querem dizer que a relação de Deus com o Homem está ofuscada.

A palavra hebraica “Paniym” significa realmente rosto e presença. Esconder o rosto é ocultar a presença e a intimidade.

No Livro do Êxodo, Moisés é apresentado como o grande revelador do rosto de Deus, pois ele é o medianeiro privilegiado que actua entre Deus e o Povo Hebreu.
A maneira de Moisés revelar o rosto de Deus ao povo consistia em ir encontro de Deus e depois voltar para junto do povo comunicando-lhe a vontade e o sentir de Deus.

Isto significa que o portador da mensagem de Deus é uma pessoa que fala de Deus como de alguém com quem acabou de se encontrar.

Eis alguns textos significativos sobre o papel do medianeiro de Deus:
“E Moisés subiu até Deus (Ex 19, 3). Então Moisés desceu de junto de Deus e falou aos anciãos do Povo (Ex 19, 7).

Moisés levou as palavras do Povo até junto de Deus (Ex 19, 8). Então Moisés desceu da montanha até à planície onde se encontrava o Povo (Ex 19, 14).

O Senhor chamou Moisés do alto da montanha e Moisés subiu até ao topo da montanha onde conversou com Deus (Ex 19, 20).

Depois, Moisés desceu até junto do Povo e disse (Ex 19, 25). Depois, Moisés subiu para receber as tábuas da Lei.

O Povo, aterrorizado, mantinha-se à distância e não quis aproximar-se da nuvem densa a partir da qual Deus comunicava com Moisés (Ex 20, 18-21).

O Povo mantinha-se à distância, enquanto Moisés se aproximou da densidade da nuvem na qual Deus estava presente (Ex 20, 21).

Moisés desceu até junto do Povo e relatou as palavras do Senhor e os seus preceitos (Ex 24, 3);
De novo Moisés subiu à montanha cujo pico ficou coberto pela nuvem (Ex 24, 15).

Então, Moisés recebeu as tábuas da Lei, as quais foram escritas pelo próprio dedo de Deus (Ex 31, 18).

Moisés desceu da montanha, trazendo as Tábuas da Lei, as quais estavam escritas dos dois lados (Ex 32, 15).

Em seguida, Moisés voltou até junto de Deus (Ex 32, 31).

Deus disse a Moisés: “Agora vai e conduz o Povo até onde eu te disse” (Ex32, 34).

Moisés desceu da montanha, mas não sabia que o seu rosto brilhava em virtude de ter falado com Deus (Ex 34, 29).

Este texto significa que o portador da Palavra de Deus leva em si as marcas da mesma Palavra.
II-A FACE DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO

Segundo Jesus Cristo o coração da pessoa humana é o ponto de encontro onde acontece o face a face com Deus.

Era isto que São Paulo queria dizer quando afirmou que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Na primeira Carta aos Coríntios ele reforça mais esta ideia dizendo que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

É no íntimo do nosso coração que o Espírito Santo nos põe face a face com Deus Pai que nos acolhe como filhos e com o Filho de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14-17).

No evangelho de São Mateus, Jesus diz aos discípulos que eles têm o privilégio de aceder aos mistérios do Reino:

“A vós foi-vos dado conhecer o mistério do Reino dos Céus, mas aos de fora não” (Mt 13, 11).

E São Lucas acrescenta: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Na verdade, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 23-24).

Na verdade, Jesus Cristo é uma expressão privilegiada do rosto de Deus na História.

Antes de revelar a face de Deus aos homens, Jesus Cristo comunicou face a face com o próprio Deus:

Eis um relato muito bonito de São Lucas: “No momento de ser baptizado, Jesus entrou em oração.
Então, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre ele, tendo a forma corporal de uma pomba.

Nesse momento, ouviu-se uma voz vinda do Céu que disse: “Tu és o meu filho bem-amado. Hoje mesmo te gerei” (Lc 3, 21-22).

Antes de iniciar a sua missão, Jesus foi consagrado pelo Espírito santo e o Pai declara que ele é o Messias, o filho de Deus.

Tal como aconteceu com Moisés, Jesus procurava as colinas e os lugares silenciosos para entrar em comunhão com a intimidade de Deus.

O ruído e a dispersão não são boas mediações para nos encontrarmos face a face com Deus:
“Tomando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu à montanha para orar.

Enquanto orava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornam-se brilhantes” (Lc 9, 28-29).

Não é difícil descobrir a associação destes relatos com os relatos do Antigo Testamento que nos falam dos encontros de Moisés com Deus:

“De madrugada, estando ainda escuro, Jesus levantou-se e retirou-se para um lugar deserto, a fim de orar (Mc 1, 35).

São Mateus diz mais ou menos a mesma coisa: “Tendo despedido as multidões, Jesus subiu ao monte para orar a sós” (Mt 14, 23).

Olhando para os ensinamentos de Jesus, vemos como Moisés e os profetas ficaram muito aquém de Jesus no que se refere à profundidade do conhecimento e da experiência de Deus.

Basta olhar para a profundidade deste texto do evangelho de São João para compreendermos o salto de qualidade que a revelação deu com Jesus Cristo:

“Jesus disse a Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco e não ficaste a conhecer-me, Filipe?
Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me pedes para te mostrar o Pai?

Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 9-10).

Numa outra passagem Jesus fez a seguinte afirmação: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Quando a bíblia diz que Deus nos mostra o seu rosto, não está a falar de um acontecimento exterior.

Deus revela-se ao Homem a partir de dentro, pois ele é a interioridade máxima da realidade.

Por outras palavras, quando Deus vem ao nosso encontro nunca vem a partir de fora.

A Primeira Carta aos Coríntios diz que o nosso coração é um templo onde o Espírito de Deus habita (1 Cor 3, 16).

No evangelho de São João, Jesus diz aos discípulos que a revelação acontece no coração da pessoa humana porque Deus faz uma união orgânica connosco:

“Nesse dia, disse Jesus, compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).

Por ser homem como nós, Jesus é um medianeiro privilegiado entre Deus o Homem como afirma a primeira Carta a Timóteo (1 Tim 2, 5).

O medianeiro tem a missão de revelar o rosto de Deus: “Jesus respondeu: eu sou o Caminho a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.

Se me conheceis, conhecereis também o Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo” (Jo 14, 6-7).

Por outras palavras, e atitudes de Jesus são uma revelação perfeita do rosto de Deus. A fidelidade incondicional de Jesus à vontade de Deus é o meio mais perfeito de ele nos revelar o rosto do Pai.

À imitação de Jesus, também nós, os cristãos, estamos chamados a ser no mundo uma revelação do rosto de Deus.

É isto que São Paulo quer afirmar quando diz que as comunidades cristãs são o corpo de Cristo (1 Cor, 10, 17; 12, 27).

Quando acolhemos a Palavra de Deus no nosso coração, o Espírito Santo consagra-nos para anunciarmos essa Palavra ao mundo.

Enquanto orava, Jesus fazia a experiência do face a face com Deus no mais íntimo do seu coração. Por isso ele era uma mediação privilegiada para revelar o rosto de Deus ao mundo.

Quando Jesus falava do seu Pai, as pessoas tinham um pouco a sensação de que ele tinha acabado de se encontrar com o seu Pai do Céu.

No evangelho de São Mateus, Jesus insiste na importância da missão dos cristãos para que o rosto de Deus seja revelado aos homens:

“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar?

Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens” (Mt 5, 13).
Depois acrescentou: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo da mesa, mas sim em cima, a fim de iluminar todas as pessoas” (Mt 5, 14-16).

Como continuadores da missão de Jesus Cristo, os cristãos estão chamados a ser reveladores do rosto de Deus no mundo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matiasw


quinta-feira, 1 de abril de 2010

CRISTO COMO CÚPULA DA HISTÓRIA HUMANA

Pela sua condição de pessoa, o Homem faz parte da cúpula personalizada do Universo. Isto quer dizer que o Homem pertence ao melhor que a génese criadora do Universo produziu.

Graças à sua condição de pessoa, o ser humano é proporcional ao próprio Deus. Na verdade, a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

Por outras palavras, devido ao facto de a Humanidade ser uma união orgânica de pessoas, faz do Homem um ser proporcional ao próprio Deus. Isto quer dizer que já pode acontecer interacção amorosa entre Deus e o Homem.

Através da dinâmica da Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de o Homem ser divinizado.

O ponto da união orgânica do divino com o humano é o coração de Jesus Cristo.

A vida pessoal humana tem sabor a eternidade, pois ao atingir a densidade espiritual entrou na esfera da imortalidade.

Como realidade em construção, a Humanidade está a emergir em cada ser humano de forma única, original e irrepetível.

A multidão dos seres humanos que nos precederam na aventura da história já está incorporada na comunhão Universal da Família de Deus.

Por outras palavras, os milhões de seres humanos que nos precederam na História, já habitam a Comunhão Familiar da Família da Santíssima Trindade.

E nós, graças ao mistério da Encarnação, já estamos unidos a eles, pois fazemos parte da Comunhão Universal dos Santos.

Isto significa que Deus é realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco. Com efeito, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Na verdade, Deus vem até nós sempre a partir de dentro.

E nós, para nos encontrarmos com Deus, temos caminhar sempre no sentido da nossa interioridade, pois o ponto do nosso encontro com Deus ó nosso próprio coração.
Eis as palavras de São Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Estas afirmações ajudam-nos a compreender como o mistério da Encarnação proporcionou à Humanidade um salto de qualidade.

A Carta aos Gálatas diz que, com Cristo chegou a plenitude dos tempos. Os tempos anteriores a Cristo foram os tempos da gestação. Com a Encarnação começou a dinâmica do parto, iniciando o nascimento dos filhos de Deus:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher sujeita ao domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sujeitos à Lei e conceder-lhes a adopção de Filhos de Deus.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que, nos nossos corações clama: “Abba, papá querido”.

Deste modo já não és escravo, mas filho. E se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Segundo a Carta aos Romanos, nós somos incorporados na Família de Deus como filhos e herdeiros em relação a Deus Pai e como irmãos e co-herdeiros em relação ao Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Com o mistério da Encarnação aconteceu uma união orgânica e interactiva do divino com o humano em Jesus Cristo.

Nesta interacção, nem o humano é anulado, nem o divino é diminuído. Eis as palavras de São na Carta aos Romanos:

“De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.
Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de todos nós filhos de Deus e nos leva a chamar a Deus “Abba”, isto é, Pai Querido!”

É o próprio Espírito Santo que, no nosso íntimo, dá testemunho de que somos realmente filhos de Deus.

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Os evangelhos gostam de apresentar o Reino de Deus em forma de um banquete. Na verdade trata-se do grande banquete da Família de Deus.

Por outras palavras, o Reino de Deus é a festa universal do Amor, onde todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que treinou enquanto viveu na terra.

Isto significa que é na História que estamos a edificar a nossa identidade espiritual, isto é, o nosso jeito de amar.

O evangelho de São João diz que o Filho de Deus, ao encarnar, nos deu o poder de nos tornarmos filhos de Deus:

“Mas a quantos o receberam, aos que nele crêem deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

O Verbo encarnou e veio habitar no nosso meio. E nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como filho unigénito do Pai cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 12-14).

Ao nascer da aurora, Deus modelou o barro primordial do qual nasceu Adão (cf. Gn 2, 7).

Ao chegar o meio-dia, Deus concedeu ao Homem o dom da divinização, salvando-o em Cristo:

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era velho passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que, em Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

Os anseios mais profundos do coração humano encontram a sua realização no acontecimento de Jesus Cristo, a cúpula da Nova Humanidade.

Caminhando de modo gradual e progressivo por este caminho, vamo-nos aproximando da plenitude universal, a qual acontece na festa da Família Universal de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 29 de março de 2010

A MORTE À LUZ DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

À luz da ressurreição de Cristo o acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer e, deste modo, atingirmos a felicidade na comunhão do Reino de Deus.

Na verdade, nós nascemos para renascer, como diz o evangelho de São João (Jo 3,3-6).

A consciência da própria morte estimula o ser humano a aprofundar o sentido da vida. Os animais não sabem que um dia hão-de morrer e por isso não sentem necessidade de criar sentidos para viver.

Na verdade, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual. É por esta razão que, normalmente, o mais profundo do sentido da vida emerge na fase terminal.

Nesta fase torna-se claro para a pessoa que o amor é a grande razão que vale para viver e morrer.
Segundo os ensinamentos de Jesus, o amor atinge a sua profundidade máxima quando a pessoa se dispõe a dar a vida pelas pessoas que ama.

Jesus disse aos seus discípulos que amar até à morte é atingir a densidade máxima da vida.

Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor, mesmo que essa opção faça com que a morte chegue mais cedo, como no caso de Jesus.

Com efeito, quando uma pessoa dá a vida para salvar outra, ninguém interpreta esse facto como um suicídio.

Pelo contrário, as pessoas entendem que essa pessoa levou o amor até à sua profundidade máxima.

Na verdade, as pessoas que gastam a vida pelas causas do amor vão morrendo todos os dias ao homem velho que há em nós.

O homem velho tenta poupar a vida a qualquer preço, mesmo que seja a rotura com o amor.
Jesus disse que as pessoas que passam a existência a poupar a vida perdem-na.

A ideia da morte surge ao homem velho como uma tragédia sem saída.

Morrer para dar a vida é a maneira mais perfeita de viver, disse Jesus.

Isto quer dizer que o Homem Novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo. Por outras palavras, a Vida Nova não nasce sem que a velha se vá gastando pelas causas do amor e da comunhão fraterna.

Há seres humanos que vão nascendo todos os dias para a plenitude da vida, pois sabem morrer em cada dia às forças que, em nós, bloqueiam o amor.

Muitas pessoas, ao tomarem consciência da proximidade da sua morte, sentem um apelo especial a fazer o bem.

Isto significa que estão a viver de modo mais profundo o sentido da vida a convidá-las a dar frutos de vida eterna.

Olhada com este sentido, a morte apresenta-se como o último parto para a pessoa renascer de modo definitivo para a Vida Eterna.

À luz da fé cristã a certeza da nossa morte é o convite a criar sentidos válidos para que a vida não seja um fracasso.

A consciência universal da Humanidade já intuiu algo de essencial para o sentido da vida: não estamos a caminhar para o vazio do nada.

De facto, por ter uma interioridade espiritual, o ser humano não cai sob a alçada da morte, nem caminha para o vazio do nada.
A fé diz-nos que é pelo acontecimento da morte que a pessoa entra de modo pleno e definitivo na comunhão universal.

O acontecimento da ressurreição de Jesus Cristo garante-nos que a pessoa humana entra na plenitude da Vida no próprio acto de morrer.

Isto quer dizer que a razão fundamental da nossa existência não é somente prolongar o mais possível a vida mortal, mas construir a vida eterna.

Podemos dizer que no interior da nossa vida mortal a vida imortal emerge como o pintainho dentro do ovo.

Felizes são as pessoas que sabem ocupar a vida presente para construir a vida futura. Para estas pessoas, a morte surge-lhes como a condição indispensável para atingirem a sua glorificação com Cristo Ressuscitado.

Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus se fez nosso irmão, a fim de nós sermos membros da família divina.

Na realidade, a morte é o parto derradeiro através do qual nascemos de modo definitivo para a Família da Santíssima Trindade.

Em geral os seres humanos têm consciência de que a morte destrói o seu ser exterior.

Mas a sabedoria universal da Humanidade diz-nos que a morte não mata a totalidade do ser humano, pois este é imortal no seu ser espiritual.

Iluminada pela Palavra de Deus, a fé diz-nos que a morte é a porta para entrarmos de modo pleno e definitivo na Comunhão Universal da Família de Deus (Rm 8, 14-17).
Jesus ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.
Ele é o Novo Adão que restaura o Homem, conduzindo-o à plenitude da vida que é a comunhão com Deus, na Festa do Reino de Deus (Rm 5, 17-19).

Por outras palavras, o fruto da Vida Eterna do qual fomos privados por Adão ficou de novo ao nosso alcance.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quinta-feira, 25 de março de 2010

DEUS, O HOMEM E O MISTÉRIO DAS RELAÇÕES

O mistério íntimo das pessoas não é evidente, mas revela-se através das relações.

Quando comunicamos significativamente com os outros, estamos a estruturar-nos como pessoas.
Pouco a pouco, e sem darmos por isso, as relações vão criando uma reciprocidade entre nós e os outros com os quais nos relacionamos de modo mais ou menos duradoiro.

O modo como olhamos o outro, vai modelando também no modo como ele nos olha a nós.

De igual modo, também nós começamos a tratar o outro de modo semelhante àquele com que ele nos trata.

De tal modo o mistério das relações é básico que nós só nos conhecemos e possuímos na medida em que interagimos e nos relacionamos de modo significativo com os outros.

Por outras palavras, através das relações que nós passamos a conhecer em profundidade a nossa identidade e a identidade delas.

Mas a importância das relações humanas vai ainda mais longe, pois nós só nos estruturamos através das relações com os outros.

Além disso, é ainda através das relações que a nossa realidade espiritual emerge e se robustece.
As relações humanas são, de facto, a dinâmica que faz emergir e crescer a pessoa na sua identidade fundamental.

Por estarmos talhados para a reciprocidade e a comunhão, só podemos emergir e possuirmo-nos de modo pleno com e através dos outros.

É esta a dinâmica e o mistério do Homem a emergir através da força estruturante das relações.

Como ser criado á imagem e semelhança de Deus, o homem é um mistério de relações, as quais têm o poder de fazer emergir a identidade da pessoa como ser livre, consciente e responsável e capaz de comunhão amorosa.

Através das interacções a pessoa descobre que cada ser humano tem uma identidade distinta da sua, descobrindo o mistério da unicidade pessoal.

Por outras palavras, através das relações, a pessoa descobre o mistério da pessoa como ser único, original e irrepetível.

Podemos dizer que a pessoa é um ser alicerçado na sua unicidade, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.

É também através das relações que a pessoa saboreia a existência de uma unidade orgânica e dinâmica que liga toda a Humanidade.

Esta unidade orgânica constitui a o alicerce sobre o qual emerge e se estrutura a pessoa, bem como o jardim no qual a pessoa encontra a sua plenitude.

Cada ser humano é uma concretização pessoal da Humanidade a acontecer. Na verdade, a Humanidade não cai das nuvens, nem existe em abstracto, mas está a emergir no concreto de cada pessoa.

De facto, a lei da humanização acontece como emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Tal com o Homem, Deus é também um mistério de relações. A nossa fé afirma que exista apenas um só Deus, mas este Deus não é um sujeito infinito e isolado.

Por outras palavras, dizer que existe um só Deus não significa que Deus seja um sozinho, pois é uma comunhão orgânica de três pessoas de infinitamente perfeitas.
A pessoa humana, por vezes, resiste e não se deixa envolver no mistério profundo das relações de comunhão.

No fundo tem medo de perder a sua liberdade, ou a sua unicidade pessoal.

Na verdade a realidade é exactamente o contrário, pois nós só nos encontramos de modo pleno como pessoas livres, responsáveis, únicas, e irrepetíveis na comunhão orgânica universal.

O medo de nos anularmos leva-nos muitas vezes a fechar-nos na nossa pequenez e limitação de seres isolados, o qual nos impede de nos possuirmos e encontrarmos a nossa riqueza mais profunda.

Por outras palavras, só depois de ter sido assumida e incorporada na Comunhão Universal a pessoa adquire a sua plena grandeza.

De facto, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão. É este o núcleo da nossa vocação a construirmo-nos como imagens de Deus.

A comunhão nunca anula a pessoa. Pelo contrário, optimiza tudo aquilo que ela é e faz emergir todas as possibilidades de realização que nela existam.

Por outras palavras, Na comunhão, as pessoas são optimizadas e plenamente valorizadas.

Isto quer dizer que o ser da pessoa atinge a sua plenitude ao realizar aquilo para que ela está talhada.

Deus é amor, diz a bíblia (1 Jo 4,7). Como vimos, não há amor sem relações. Quando dizemos que Deus é amor estamos a dizer que Deus é relações de amor.

No princípio, diz o Livro do Génesis, Deus criou o homem e insuflou-lhe nas narinas o sopro da vida, isto é, o Espírito Santo (Gn 2, 7).

É esta a intervenção especial de Deus na criação do Homem, a qual inicia na História da Humanidade a dinâmica das relações de amor.

Na verdade, ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. O sopro de Deus no barro primordial do qual sairia Adão, portanto, dá início ao processo histórico da humanização do Homem através do amor.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


domingo, 21 de março de 2010

A VIDA ETERNA COMO DOM E TAREFA

À luz da fé cristã a História da Humanidade é um projecto em construção que tende para uma meta. Por vezes as pessoas chamam “Fim do Mundo” ao fim da génese histórica da Humanidade.

São Paulo vê no acontecimento de Jesus Cristo a plenitude dos tempos, isto é, o ponto mais alto da História.

A História Humana, para São Paulo, faz parte de um plano bem estruturado por Deus. A fase que precedeu o acontecimento de Jesus Cristo corresponde aos tempos da gestação.

Com Jesus Cristo, os tempos de gestação chegam ao fim e começa a fase do parto do qual nasce a Nova Humanidade constituída pelos filhos de Deus.

Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher, isto é, homem como nós, a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações, o Espírito de seu Filho, o qual clama “Abba, Pai querido”.

Deste modo, já não somos escravos, mas filhos. Se somos filhos somos também herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Com o mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano, a fim de as pessoas humanas serem assumidas na Família de Deus.

Graças ao acontecimento de Jesus Cristo, portanto, a Humanidade passa a fazer para da Família de Deus. E Cristo que até então era o Filho único de Deus, passa a ser o primogénito de muitos irmãos, diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 29).

A génese da criação e a salvação do Homem faz parte de uma História de muitos milhões de anos, mas com Jesus Cristo teve início a Nova Aliança que une de modo orgânico e definitivo a Humanidade com a Divindade.

Na verdade, com Jesus Cristo a Humanidade atingiu um limiar de vida totalmente novo: os seres humanos foram divinizados.

Ao falar da plenitude dos tempos, São Paulo queria dizer que chegou o tempo da salvação para toda a Humanidade.

A plenitude dos tempos significa que a Humanidade atingiu o topo, isto é, a densidade de vida mais elevada da História.

As primeiras comunidades cristãs julgavam que, devido ao facto de Cristo já estar ressuscitado, o mundo iria acabar muito em breve.

Ao ressuscitar, Jesus Cristo subiu ao Céu, mas vai voltar muito em breve pondo fim à génese da História e a iniciando a plenitude da comunhão do Homem com Deus.

Algumas pessoas imaginavam que tudo isto aconteceria muito em breve e por isso já nem era preciso trabalhar.

São Paulo teve de repreender estes cristãos, dizendo-lhes que a vinda gloriosa de Jesus Cristo vai acontecer e pôr fim à História, mas não assim tão depressa.

Muitos dos Apóstolos, ao princípio, pensavam que muitos deles ainda estariam vivos quando Jesus chegasse (Lc 21, 20-30).

No mundo judaico do tempo dos Apóstolos havia muitas profecias falsas chamadas textos os apócrifos.

Estes escritos eram sobretudo de carácter apocalíptico e falavam do dia da ira de Deus que iria a acontecer em breve para castigar os pecadores e terminar o curso da História.

Nesse dia, só o pequeno resto dos justos escaparia ao dia da ira e da vingança de Deus. Influenciados por estes escritos, os Apóstolos também começaram a pregar o dia da ira que estava para chegar.

Era também esta a maneira de pregar de São João Baptista, com dizem os evangelhos (cf. Mt 3, 7-10).

Graças ao aprofundamento da Palavra de Deus, os Apóstolos começaram a compreender de modo progressivo o significado da vinda gloriosa de Jesus Cristo.

Iluminados pela Palavra de Deus e o Espírito Santo, os Apóstolos começaram a compreender que o fim da História Humana e a vinda gloriosa de Cristo não é uma tragédia, mas um acto do amor de Deus que vai enviar Cristo para salvar a Humanidade.

No dia da vinda gloriosa de Jesus ressuscitado, as pessoas que ainda vivam na Terra serão salvas, passando a fazer parte da Família de Deus para sempre.

Quando as últimas pessoas chegarem ao Céu, isto é, à comunhão da Família de Deus, já lá encontrarão muitos milhões de outras pessoas, isto é, todos os que nasceram depois de Adão.

Temos assim dois aspectos importantes: Em primeiro lugar, o final da História Humana não significa o fim do Universo.

Em segundo lugar, a vinda gloriosa de Jesus não significa uma tragédia para a Humanidade, mas o grande dia da Salvação, pois o Reino de Deus é um projecto do amor de Deus em favor da Humanidade.

A vontade de Deus, diz São Paulo, é que todas as pessoas conheçam Deus e o seu plano para nós e sejam incorporadas na Família Divina (1 Tim 2, 4-5).

Se olharmos atentamente para o modo de Jesus actuar, vemos como ele não agia como quem vem condenar e matar os pecadores.

Pelo contrário curava os doentes e perdoava aos pecadores, anunciando às pessoas que são membros da Família de Deus.

São Paulo entendeu muito bem este plano de Deus realizado através de Cristo. Agora, dizia ele, chegou a plenitude dos tempos, isto é, o tempo do parto do Homem Novo.

A partir de agora já temos connosco o Espírito de Cristo ressuscitado que nos leva a dizer “Abba, Pai querido” (Gal 4, 4-7).
Se prestarmos atenção aos evangelhos encontramos gestos maravilhosos de perdão realizados por Jesus em nome de Deus:

Perdoou à mulher adúltera à qual os sacerdotes judeus queriam matar à pedrada (Jo 8, 1-11).

Perdoou ao Zaqueu, homem desprezado por todos os judeus (Lc 19, 1-10).

Perdoou à Samaritana, considerada uma mulher detestada por Deus (Jo 4,7-21).

Além disso, procedendo deste modo, Jesus dizia que estava a fazer a vontade de Deus: “O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade de meu Pai e realizar o seu projecto de salvação” (Jo 4, 34).

A primeira Carta a Timóteo diz que a vontade de Deus é que os homens se salvem e cheguem a conhecer a verdade de Deus e do Homem” (1 Tim 2, 4).

A meta da História da Salvação é a comunhão universal da Família de Deus, um reino grandioso onde o amor é o único mandamento.

A vinda gloriosa de Cristo no final da História significa que Jesus ressuscitado não deixará ninguém fora da Comunhão Universal da Família de Deus.

Só não toma parte na festa deste reino quem se opõe de modo sistemático às propostas e aos apelos do amor.

Vista à luz da Palavra de Deus, a nossa vida está cheia de sentido e razões para louvar a Deus em todo o tempo e lugar.

Eis alguns dos muito motivos que temos para louvar a Deus:

Louvá-lo porque nos chamou à vida!

Louvá-lo porque nos deu a Natureza como um livro cheio de ensinamentos.

Louvá-lo porque marcou a Criação com o selo da Bondade.

Louvá-lo pelas altas montanhas que parecem dedos gigantes a apontar o céu, a fim de contemplarmos a beleza das estrelas.

Louvá-lo pelos mares e os lagos que reflectem a luz do sol e o azul do Céu.

Louvá-lo pelos rios que regam a nossa terra, capacitando-a para ser fecunda e generosa.

Louvá-lo pelos animais que estimulam a ternura dos seres humanos.

Louvá-lo pelo mistério da Encarnação, graças ao qual o filho de Deus abraçou o Homem em Jesus Cristo, fim de nós sermos introduzidos na Família de Deus.

Louvá-lo pela força da vida a circular nas plantas, nos animais e os nos seres humanos.

Louvá-lo pelo perfume das flores e o sabor delicioso dos frutos que alimentam a nossa vida.

Louvá-lo pela fidelidade do Sol que todas as manhãs nos recorda que estamos a caminhar para o dia sem ocaso onde nunca mais haverá noite.

Louvá-lo pela transparência das crianças que nos convidam a ser verdadeiros e sinceros.

Louvá-lo pelos jovens e adultos que procuram construir a paz nos pilares sólidos da justiça e dos direitos humanos.

Louvá-lo pelo dom da sua Palavra que nos faz compreender o sentido profundo da vida e a meta para a qual estamos a caminhar.

Louvar o Pai que nos acolhe no seu regaço como filhos.

Louvar o Filho de Deus que encarnou para se tornar nosso irmão.

Louvar o Espírito Santo que é a ternura maternal de Deus a conduzir-nos para o amor a Deus e aos irmãos.

Louvar a Santíssima Trindade que nos criou com essa capacidade admirável de amar e comungar na Festa do Reino de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias