quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O HOMEM, O TEMPO E A ETERNIDADE

Quando olhamos o tempo, tendo como pano de fundo a eternidade, este ganha um sentido e uma importância fundamentais.

À luz da eternidade, o tempo surge como o ventre em cujo interior os seres pessoais emergem e atingem a sua densidade de Vida Eterna.

Por ser espiritual, a vida pessoal tem uma consistência eterna, pois o espírito não morre. Vista à luz da eternidade, a vocação fundamental Do ser humano é realizar-se como pessoa mediante o amor.
Isto quere dizer que a principal tarefa do Homem na História não é apenas manter a vida mortal, mas construir a vida eterna mediante o amor.
Por outras palavras, é hoje o tempo de configurarmos a nossa identidade pessoal que, por espitual, é eterna.

A nossa identidade espiritual coincide com o nosso jeito de amar.

Jesus comparou a dinâmica da vida eterna à festa de umas bodas. À luz desta imagem de Jesus podemos dizer que a pessoa humana, na Festa das bodas da Ressurreição, dançará eternamente o ritmo do amor com o jeito que tiver treinado na história.

É agora, portanto, o tempo de moldarmos a nossa capacidade de comungar com os outros no Reino de Deus.
Hoje mesmo podemos burilar e aperfeiçoar o nosso modo de nos relacionarmos e comungarmos com as pessoas divinas, as humanas e todas as outras que possam fazer parte da Comunhão Eterna da Família de Deus.

Por outras palavras, é agora o tempo de edificarmos a plenitude da vida que ultrapassa a morte.
Olhando o dia de hoje à luz da eternidade, podemos dizer que o dia de hoje é um dom especial de Deus, pois este dia é o tempo de que dispomos para edificar o que havemos de ser para sempre.

Deus criou-nos inacabados, a fim de nos irmos realizando no tempo, estruturando assim a nossa história pessoal.

Isto que dizer que nós somos os gestores do nosso tempo Por outras palavras, somos nós quem decide no dia-a-dia o que seremos eternamente.

Visto à luz da eternidade o tempo não é uma mera sucessão de instantes que se juntam para dar consistência e configuração aos segundos, aos minutos, às horas, aos dias, aos anos, aos séculos ou aos milénios.

Por outras palavras, o tempo é muito mais do que aquilo que os relógios e os calendários contabilizam.

A Palavra de Deus diz-nos que cada dia é para o Homem um “kairós”, isto é, a hora de Deus e a oportunidade de o Homem, ajudado pelo Espírito Santo, realizar a pessoa que deseja ser eternamente.

Hoje é o dia em que o Espírito Santo nos interpela e ilumina, a fim de completarmos, em nós e no mundo, a criação de Deus.

O maior perigo para nós no dia de hoje é decidirmos matar o tempo. Na verdade, isso significaria não emergir nem crescer como capacidade de comungar mais com Deus e os irmãos.

Somos nós quem diz a última palavra sobre a fecundidade do dia de hoje. As pessoas que ao longo da sua vida tomaram o tempo a sério, atingiram uma maior realização pessoal e fizeram a Humanidade avançar.
É este o mistério do Homem em processo histórico de realização.

Deus criou-nos inacabados, a fim de completarmos a sua obra, realizando-nos de modo livre, consciente e responsável.

O ser humano surge na vida com um leque de talentos ou possibilidades que podemos realizar ou não.
É a este nível que a pessoa se edifica se for fiel aos talentos que Deus lhe deu. À medida que vamos construindo a pessoa que temos a tarefa de realizar, o Espírito Santo vai-nos configurado com Jesus e incorporando na Família Divina.

Deste modo Jesus Cristo se torna o primogénito entre muitos irmãos. Eis o que diz São Paulo a este respeito:

“Porque àqueles que Deus conheceu desde os tempos primordiais, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que ele é o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Se hoje crescermos na nossa capacidade de amar, hoje crescemos na capacidade de participar na comunhão da Família de Deus.

São Paulo diz que estamos na plenitude dos tempos. Is quer dizer que o mistério de Cristo introduziu a Humanidade na fase dos acabamentos.

Antes do mistério da Encarnação, a Humanidade estava em processo de gestação humana. Com a ressurreição de Cristo, os tempos chegaram à plenitude, isto é, começou o parto que dá início ao nascimento dos filhos de Deus.

O Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar conduz o processo deste nascimento e leva-nos a clamar “Abba”, Pai Querido (Gal 4, 4-7).

A Plenitude dos tempos começou com o mistério da Encarnação, dando início ao enxerto do divino no humano no íntimo de Jesus de Nazaré.

No momento da sua ressurreição Jesus entra nas coordenadas da universalidade, difundindo o Espírito da Encarnação pelo tecido da comunhão humana universal.

De facto, a nossa fé afirma que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo que, ao ressuscitar Jesus nos ressuscita e incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-17).

Isto que dizer a nossa vida, vista à luz do mistério de Cristo tem sabor a eternidade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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