quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A FIGURA DE MARIA NO NOVO TESTAMENTO-I

I- MARIA COMO MEDIAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

As referências a Maria nos evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas deixam claro este princípio:

A realidade de Jesus Cristo enquanto Messias é obra do Espírito Santo, não dos laços do sangue.
“Enquanto ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse:

“Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” Ele, porém, retorquiu: “Felizes antes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 27-28).

Jesus tinha plena consciência de que a sua missão era construir a Família de Deus, a qual não assenta nos elos do sangue, mas nos laços do Espírito Santo.

Eis a razão pela qual Jesus rejeita certas afirmações que parecem opor-se a esta verdade: “Estava ele a falar à multidão, quando apareceram sua mãe e seus irmãos que, do lado de fora, procuravam falar-lhe:

Disse-lhe alguém: “A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te”. Jesus respondeu ao que lhe fez a comunicação: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?”

E indicando com a mão os discípulos, acrescentou: “Aí estão minha mãe e meus irmãos, pois todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 46-50).

Os evangelistas São Lucas e São Marcos substituem a expressão “fazer a vontade do Pai” por “Escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática” (Lc 8, 20; cf. Mc 3, 31-35).

Em Nazaré, os conterrâneos de Jesus espantavam-se com a sua sabedoria e com os milagres que fazia, pois ele era conhecido deles, bem como a sua família:

“Chegado o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam:

“De onde lhe vem tudo isto e que sabedoria é esta? Como é possível realizar tais milagres?
Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E as suas irmãs não vivem aqui no nosso meio? E isto chocava-os” (Mc 6, 2-4).

No relato da visita de Maria a sua prima Isabel, São Lucas apresenta Maria como uma mediação privilegiada para o acontecimento e a missão messiânica de Jesus.

Maria estava grávida de Jesus e a sua prima Santa Isabel estava grávida de João Baptista.
Ao saber que a sua prima estava grávida e já perto do fim do tempo, Maria decidiu visitá-la.

Apesar de ainda estar no seio materno, Jesus já estava cheio da força do Espírito Santo.Quando Maria chega a casa da sua prima, a força do Espírito Santo fez exultar João Baptista ainda no seio de Santa Isabel.

O relato tem um grande significado simbólico. Em primeiro lugar afirma que não foi João que comunicou o Espírito Santo a Jesus quando o baptizou, mas foi Jesus que comunicou o Espírito Santo a João quando o visitou na casa de seus pais.

Depois aparece a figura de Maria como a grande mediação do Espírito do Santo no acontecimento do Messias.

Na verdade, foi Maria quem levou Jesus Cristo, o portador do Espírito Santo, até João Baptista.

Eis o relato de São Lucas: “Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se de modo apressado para as montanhas, a uma cidade da Judeia.

Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? De facto, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1, 39-44).

Não podemos negar o valor simbólico e a beleza deste texto de São Lucas com o qual pretende fazer a ligação entre João Baptista e Jesus Cristo, subordinando a missão de João à missão de Jesus.

No que se refere à figura de Maria, São Lucas aprofunda toda a riqueza teológica associada à mãe do Messias Salvador:

Maria aparece neste relato como uma mulher de Fé: “Feliz de ti que acreditaste”, diz-lhe a sua prima Isabel (Lc 1, 45).

Tal como Abraão, Maria acreditou. Graças à sua fé, Abraão tornou-se o medianeiro das bênçãos de Deus para a Humanidade, como diz o Livro do Génesis:

“Disse o Senhor a Abraão: “Farei de ti um grande povo. Abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.

Abençoarei aqueles que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E na tua descendência todas as famílias da terra serão abençoadas” (Gn 12, 2-3).

Por ser a mãe do Messias e uma mulher de Fé, Maria recebeu a missão de ser uma mediação privilegiada das bênçãos prometidas a Abraão para a Humanidade.

A Maior das bênçãos que o Filho de Maria traz para a Humanidade é o Espírito Santo que faz dos seres humanos membros da Família de Deus.

Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Romanos: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito de adopção, graças ao qual clamais: “Abba, Pai Querido!” (Rm 8, 14-15).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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