quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CRISTO COMO INÍCIO E CÚPULA DA CRIAÇÃO

O protagonista da Criação, diz o Livro do Génesis, é a Palavra de Deus, a qual é eficaz porque realiza aquilo que significa (Gn 1, 1-28).

As coisas são boas, pois foram criadas por Deus (Gn 1,1-27). O Novo Testamento assume esta visão do Génesis, mas vai mais longe.

Agora, a Criação é vista à luz do acontecimento de Cristo.O prólogo do evangelho de São João é como que um novo Génesis.

Mas a Criação, no prólogo de São João, é vista à luz da ressurreição de Cristo. São João inicia o seu prologa com as mesmas palavras com que o Génesis inicia o relato da criação:

“No princípio” (Jo 1,1; cf. Gn 1, 1). Tal como no Livro do Génesis também aqui a Criação é obra da Palavra (Jo 1,3).

Surgem referências à luz e às trevas, tal como no Livro do Génesis (Jo 1, 4-5). Todas as obras criadas por Deus são boas. Não há alimentos impuros, diz Jesus.

O que mancha o homem é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que possa ingerir (Mc 7, 14-20).

São Paulo diz que podemos comer de tudo sem nos pormos questões de consciência (Rm 14,14; 1 Cor 1 0, 25).

A Primeira Carta a Timóteo é ainda mais explícita quando afirma:

“Tudo o que Deus criou é bom. Não devemos rejeitar qualquer alimento por razões de pureza ou impureza” (1 Tm 4, 2-5).

Deus chama à existência as coisas que não são, a fim de começarem a existir (Rm 4, 17; cf. Gn 1, 3).

Deus é invisível, mas o seu ser mostra-se-nos de modo analógico através das criaturas (Rm 1, 19; cf. Sb 13).

A Primeira Carta a Timóteo diz que é Deus quem dá vida a todas as coisas (1 Tim 6, 13).

Ele cuida com ternura de tudo o que criou: Nem um só pássaro cai por terra sem que Deus o permita (Mt 10, 29).

Foi ele quem deu beleza aos lírios do campo e agilidade às aves do céu (Mt 6, 25-34).

São Paulo diz que o mundo foi criado por Cristo e para Cristo (Col 1, 15-20; Flp 2, 6-11).

Cristo veio como Novo Adão, a fim de corrigir os danos causados pelo primeiro Adão e conduzir a Criação à sua plenitude.

Como Adão falhou, a imagem perfeita de Deus, agora, é Jesus Cristo (Col 1, 15; Flp 2, 6).

Ele é o princípio, o centro e o fim da Criação (Col 1, 15-20).

A Segunda Carta aos Coríntios diz que Jesus Cristo é primogénito da Criação e a sua plenitude:

“Todos os que estão em Cristo são uma Nova Criação. Passaram as coisas velhas.
Tudo isto se deve ao facto de Deus ter reconciliado consigo a criação por intermédio de Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

Cristo é a imagem de Deus e por isso ele é a causa exemplar e o padrão do projecto de Deus para a Humanidade (Col 1, 1-16; cf. Sb 9, 1-2, 4; Prov 8, 22).

Isto quer dizer que Deus, ao iniciar o seu projecto criador, já tinha presente a plenitude da salvação em Jesus Cristo.

É este o sentido da afirmação da Carta aos Colossenses quando diz que “Tudo foi criado em Cristo e para ele “ (Col 1, 16).



No momento em que criou Adão, Deus constituí-o cabeça da Criação. Mas com o seu pecado, Adão desorientou a Criação, introduzindo-a no caminho do fracasso.

Foi por esta razão que Deus nos enviou Jesus Cristo como Novo Adão, corrigindo as distorções operadas pelo primeiro (Rm 5, 15-17).

Com Cristo, a Criação reencontra o caminho sonhado por Deus e o Homem assume o seu lugar de Cabeça da Criação, diz São Paulo:

Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus (1 Cor 3, 21-23). A Carta aos Efésios, para dizer que nós fazemos parte do plano que Deus sonhou desde o princípio, diz que Deus nos elegeu antes da criação do mundo (Ef 1, 3).

Depois acrescenta que fomos eleitos desde o princípio de acordo com um desígnio prévio de Deus (Ef 1, 11).

No livro do Génesis a criação é iniciada em simultâneo com a marcha do tempo.

O prólogo do evangelho de São João vai mais longe neste aspecto, fazendo recuar a génese da Criação até à eternidade.

Nós podemos dizer que a Criação, apesar de ter sido sonhada na eternidade, inicia a sua génese em simultâneo com o tempo (Jo 1, 12-14).

O tempo possibilita a génese criadora do tecido cósmico e o espaço a sua estruturação harmoniosa.

A estrutura literária do prólogo de São João é a dos grandes hinos sapienciais: Existe um ser preexistente à Criação, que é mediação e causa exemplar da mesma.

Nos livros sapienciais esta missão cabe à Sabedoria (cf. Prov 8, 22; Si 24, 3-12; Sb 9, 9-12).

No prólogo de São João esta é a missão do Filho, a Palavra Criadora que o Pai enviou ao Mundo.

Depois de realizar a sua missão, o filho volta para onde estava antes (Jo 6, 62). Ao encarnar, o Logos habitou entre nós e deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

Dá-nos a Água Viva, isto é, o Espírito Santo, que faz germinar uma nascente de Vida Eterna no nosso coração (Jo 4, 14; 7, 37-39).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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