II-O DIA DA IRA NA PREGAÇÃO DOS APÓSTOLOS
Ao ouvir a pregação de João, Jesus começou a distanciar-se, sobretudo em relação ao Deus vingativo do dia da ira.
Na verdade, Jesus não se sentia chamado a destruir os pecadores, mas a libertá-los das amarras do pecado.
De João Baptista Jesus recebeu a ideia de que o Reino estava a chegar e por isso começa a sua pregação anunciando a proximidade do Reino de Deus.
Eis como o evangelho de São Marcos apresenta o início da sua pregação: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e pregava o evangelho de Deus, dizendo: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo.Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).
As tentações de Cristo não foram mais que a crise pela qual Jesus passou quando se afastou de João e ainda não via claro o modode realizar a sua missão.
Segundo o evangelho de São Lucas, o Espírito Santo ajudou Jesus a ver claro, através de um texto de Isaías (Is 61, 1-3).
Após ter descoberto o plano de Deus e a missão que lhe era pedida, Jesus comunicou de modo solene a sua descoberta quando foi à sinagoga de Nazaré (Lc 4, 18-21)
Entretanto, os Apóstolos seguiam Jesus convencidos de que ele era o rei messias anunciado pelos profetas e que, muito em breve subiré ao trono.
A morte de Jesus foi uma desilusão para os Apóstolos, pois afinal morreu sem subir ao trono.
Quando Jesus ressuscitado lhes apareceu, estes recuperaram as antiga esperanças e começam a anunciar Jesus como o Messias rei que vai via de novo.
Os judeus mataram-nos, mas Deus ressuscitou-o e fê-lo sentar num trono à sua direita no Céu (Rm 1, 3-5).
Isto quer dizer que o Senhor ressuscitado, uma vez constituído rei messiânico, vai regressar em breve para restaurar o Reino de Deus.
Esta restauração vai acontecer através de uma segunda vinda que acontecedrá ao jeito do dia da ira. Antes de restaurar o seu reino, Jesus fará desaparecer da terra o pecado.
Para realizar esta acção purificadora, Jesus terá de actuar como juiz implacável, destruindo os pecadores tal como os profetas anunciaram quando falaram do dia da ira.
Jesus, agora, está sentado no seu trono de glória até ao dia em que voltará para estabelecer o Reino de Deus sobre a terra (Act 3, 19-21).
É com esta linguagem que os Apóstolos começam a pregar a segunda vinda de Cristo. O dia da sua vinda será o dia da ira.
Nesse dia Deus vai punir os pecadores, sobretudo os que mataram o seu Filho. A segunda vinda de Jesus é anunciada pelos discípulos ao jeito do dia da ira.
Eis as palavras duras que evangelho de São Lucas põe na boca de Jesus quando este falava do dia da sua vinda:
“Quanto a esses meus inimigod que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trzei-os cá e degolai-os na minha presença” (Lc 19, 27).
Na pregação dos Apóstolos após a Páscoa, o dia da ira torna-se sinónimo da segunda vinda de Cristo:
“Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. Vós sabeis perfeitamente que o dia do Senhor chega de noite, como um ladrão.
Quando disserem, paz e segurança, então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína como as dores de parto sobre a mulher grávida. Nenhum deles escapará.
Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão (…).
Considerando-se privilegiado por fazerem parte do pequeno resto dos justos, São Paulo diz que Deus não nos destinou para a ira, mas para a posse da salvação, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5, 1-9).
Jesus vai vir como juiz severo e castigador. O dia da sua vinda será um dia de castigo.
Eis as palavras do Livro dos Actos dos Apóstolos: “O Sol transformar-se-á em trevas e a Lua em sangue antes de vir o dia do Senhor, grande e glorioso.
Todo o que invocar o nome do Senhor (o resto fiel) será salvo” (Act 2, 20-21). Jesus Cristo virá sentado no seu trono, investido do poder de julgar, condenar e destruir os pecadores (Lc 21, 20-30).
A prova de que esse dia está perto, é que Deus já derramou o seu Espírito como tinha prometido pelo profeta Joel, diz o Livro dos Actos dos Apóstolos:
“Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: “Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura” (Act 2, 16-17).
Só os que fazem parte do resto fiel escaparão ao dia da ira, diz a Primeira Carta aos Tessalonicenses:
“Deus não nos reservou para o dia da ira, mas para alcançarmos a salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 5, 9).
Esta pregação dos Apóstolos está fundamentada nos textos apocalípticos dos antigos profetas e não são fruto directo da pregação de Jesus.
Na verdade, a pregação de Jesus incidia sobre a vinda do Reino de Deus e não sobre uma segunda vinda para destruir os pecadores.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário