I-O BARRO DO QUAL EMERGIU ADÃO
Ao iniciar a génese da criação, Deus já tinha em mente a emergência da vida espiritual, condição básica para o gesto de amor infinito da Encarnação.
Por outras palavras, ao iniciar a marcha criadora, Deus já tinha em vista a génese da vida pessoal na génese do Universo e a divinização do Homem em Jesus Cristo.
A Palavra de Deus diz-nos que a plenitude do Homem não culmina na comunhão humana, mas sim na assunção e incorporação Do Homem na Família de Deus.
Por outras palavras, a nossa plenitude acontece através de Jesus ressuscitado o qual, ao comunicar-nos o Espírito Santo, nos introduziu na comunhão da Santíssima Trindade.
É esta a razão pela qual temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, como diz Jesus Cristo (Jo 3, 6).
Ao encarnar, acrescenta o evangelho de São João, o Filho de Deus deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus.
Eis as suas palavras: “A todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).
Por outras palavras, nascemos inacabados, a fim de completarmos em nós a obra criadora de Deus, isto é, humanizarmo-nos em relações de amor, a fim de atingirmos a plenitude do Reino de Deus.
Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de amar e comungar com Deus e os irmãos.
O ser humano nasce hominizado, isto é, com uma estrutura própria de homem, mas não nasce humanizado, pois a humanização é uma tarefa que cada pessoa tem de realizar em contexto de relações de amor.
Depois de o barro estar amassado, diz o Livro do Génesis, Deus beijou-o e introduziu nele o hálito da vida, a fim de este iniciar a aventura da humanização (cf. Gn 2, 7).
A Encarnação representa um outro beijo, do qual derivou a divinização do Homem. O primeiro beijo foi dado ao Homem por Deus Pai no início da grande epopeia da humanização.
O segundo beijo é dado ao Homem pelo Filho de Deus, possibilitando o salto qualitativo da divinização da Humanidade.
Através do segundo beijo, os seres humanos passam a interagir de modo orgânico com a própria comunidade divina.
De facto, isto só pode acontecer através de Jesus, o evangelho de São João: “Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).
O Espírito Santo fortalece e alimenta a nossa união orgânica com Jesus através do qual somo incorporados na comunhão da Família de Deus.
Jesus comparou a nossa união com ele à união que existe entre ele que é a cepa da videira, e nós que somos os ramos.
Só podemos ser ramos vivos e fecundos se permanecermos unidos à cepa da qual nos vem a seiva, isto é, o Espírito Santo (cf. Jo 15, 4-5).
No nosso íntimo, diz Jesus, o Espírito Santo é como uma Água Viva que faz brotar no nosso coração uma fonte de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).
Por outras palavras, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo como fonte de Vida Eterna é falar da mesma realidade.
O Espírito Santo é o Sangue da Nova Aliança que vai ser derramado para perdão dos pecados (cf. Mt 26, 28).
Ele é o produto da videira que Jesus beberá com os discípulos no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).
Ele é o beijo que Deus deu ao barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7). Ele é também o beijo da Encarnação através do qual fomos introduzidos na plenitude dos tempos.
O tempo da gestação chegou à plenitude, dando início ao parto do qual vão surgir os filhos de Deus, pela acção do Espírito Santo, diz a Carta aos Gálatas:
“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.
E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).
O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).
O plano de Deus assenta sobre estes dois beijos que devem ser entendidos como uma realidade dinâmica e progressiva.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
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