III-A VIDA ETERNA COMO CONHECIMENTO DE DEUS
“Esta é a vida eterna: Conhecer-te, Pai Santo, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).
O projecto que Deus sonhou para a Humanidade implica duas vertentes: a criação e a salvação.
Nenhuma destas vertentes pode acontecer sem a acção do Espírito Santo.
A primeira vertente acontece pela comunicação do Espírito Santo, esse hálito da vida que faz do Homem um ser com vida espiritual (Gn 2,7).
O barro, costumo eu dizer, adquiriu um coração capaz de eleger o outro como alvo do seu amor.
Esta comunicação inicial do Espírito Santo é o início do processo histórico da humanização, a qual só pode acontecer através do amor.
No nosso interior, o Espírito Santo está connosco de modo permanente, mas nunca nos substitui.
É ele que nos ilumina, interpela e convida a agir na linha do amor. A segunda comunicação do Espírito Santo acontece como introdução da Humanidade na plenitude do conhecimento e comunhão com Deus.
Na primeira vertente o ser humano realiza-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
O segundo beijo é dado por Deus Filho ao chegar a plenitude dos tempos através desse acto de amor infinito que é a Encarnação.
Através deste segundo beijo o Divino se enxertou-se no Humano, a fim de o Humano ser divinizado.
Com a Encarnação iniciou-se a fase da plenitude dos tempos, isto é, a plenitude da gestação e o começo do parto que dá início ao nascimento do dos filhos de Deus.
Ao chegar a plenitude dos tempos, diz a Carta aos Gálatas, Deus enviou o seu Filho que nos comunicou o Espírito de adopção e nos leva a clamar “Abba”, isto é, Papá (Gal 4, 4-7).
É este o segundo beijo de Deus através do qual o Espírito Santo nos é comunicado, não como hálito de vida, mas como Espírito divinizante.
São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Este amor introduz-nos na comunhão familiar da Santíssima Trindade, fazendo de nós filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).
O beijo dos primórdios, tal como o beijo da plenitude são realidades dinâmicas e progressivas que se continuam ao longo da História Humana e durante a vida toda de cada pessoa.
Por outras palavras, o beijo primordial do Pai dinamiza a marcha da humanização e o beijo do Filho na plenitude, dinamiza a marcha da divinização do Homem.
Pelo primeiro beijo, Deus cria-nos à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27). Pelo segundo introduz-nos na Família de Deus através de um novo nascimento como diz São João:
“O que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 6). O primeiro beijo introduz-nos na marcha histórica da humanização, dando-nos a possibilidade de sermos humanos.
O segundo dá-nos a possibilidade de sermos divinos:
“Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).
Este nascimento implica uma verdadeira união orgânica com Cristo alimentada pelo Espírito Santo que é a carne e o sangue de Cristo ressuscitado:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).
Jesus Cristo é a condição para o dinamismo maternal do Espírito Santo se difundir rganicamente pela Humanidade, incorporando-a na Família Divina.
Deste modo, diz São Paulo, Jesus Cristo tornou-se o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).
O Evangelho de São João exprime esta verdade, dizendo que Jesus é a cepa da videira da qual nós somos os ramos (Jo 15, 1-8).
Com esta imagem o evangelista está a pensar na Árvore da Vida cujo fruto, Espírito Santo, está ao nosso alcance (Gn 2, 9).
No momento da morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade que o precedeu passou a fazer uma união orgânica de grandeza humano-divina.
Os que precederam Jesus Cristo, no momento da morte e ressurreição do Senhor, não mudaram de lugar, mas a densidade da sua plenitude passou deu um salto de qualidade.
E a situação dos que vivem na História depois de Cristo foi igualmente optimizada como diz a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios:
“Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).
É este o sabor da Salvação, como diz São Paulo: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? “ (1 Cor 6, 19).
Eis a maneira bonita como o livro do Apocalipse descreve esta comunhão orgânica do Homem com Deus:
“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: "Esta é a morada de Deus entre os homens.
Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.
O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos.
Agora já não haverá mais morte nem pranto, pois as coisas antigas passaram” (Apc 21, 3-4).
Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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