Para Jesus Cristo o encontro com o rosto de Deus acontece no interior da pessoa. Também para São Paulo a experiência de Deus é algo interior.
É por esta razão que ele diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
A primeira Carta aos Coríntios reforça esta ideia dizendo que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).
É no íntimo do nosso coração que o Espírito Santo nos põe face a face com Deus Pai que nos acolhe como filhos e com o Filho de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14-17).
Quanto maior for a nossa fidelidade ao Espírito que nos habita mais profunda será a nossa comunhão familiar com o Espírito de Deus.
Por outras palavras, o mistério, na bíblia, é um segredo, isto é, uma realidade desconhecida à qual o ser humano só pouco a pouco pode ter acesso mediante a revelação de Deus.
Eis as palavras de São Paulo na Carta aos Efésios: “Por revelação me foi dado conhecer o mistério, tal como vo-lo apresentei de modo sumário.
Ao lê-lo podereis compreender a compreensão que eu tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer dos homens do passado.
Mas agora Deus o revelou pelo Espírito Santo aos seus santos Apóstolos e Profetas” (Ef 3, 3-5).
Para o Novo Testamento o encontro com Deus acontece sempre mediação do Espírito Santo.
A Carta aos Colossenses diz que a missão de São Paulo é anunciar a riqueza e profundidade do mistério de Cristo, a fim de as pessoas poderem conhecer o mistério de Deus, no qual estão ocultos os tesouros da Sabedoria e do conhecimento de Cristo” (Col 2, 2-3).
No evangelho de São Mateus, Jesus diz aos seus discípulos que eles têm o privilégio de aceder aos mistérios do Reino:
“A vós foi-vos dado conhecer o mistério do Reino dos Céus, mas aos de fora não” (Mt 13, 11).
O evangelho de São Lucas é ainda mais explícito quando põe na boca de Jesus as seguintes palavras:
“Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Na verdade, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 23-24).
Jesus Cristo é a melhor expressão do rosto de Deus na História. Antes de revelar o rosto de Deus aos homens, Jesus Cristo comunicou face a face com o próprio Deus.
“Após ter sido baptizado, Jesus entrou em oração. Nesse momento, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre ele, tendo a forma corporal de uma pomba.
Nesse momento, ouviu-se uma voz vinda do Céu que disse: “Tu és o meu filho bem-amado. Hoje mesmo te gerei” (Lc 3, 21-22).
Antes de iniciar a sua missão, Jesus foi consagrado pelo Espírito santo e o Pai declara que ele é o Messias, o filho de Deus.
Tal como aconteceu com Moisés, Jesus procurava as montanhas, as colinas e os lugares silenciosos para contemplar o rosto de Deus, isto é, entrar em comunhão com a intimidade de Deus.
O ruído e a dispersão não são boas mediações para nos encontrarmos face a face com Deus. Eis o que diz o evangelho de São Lucas:
“Tomando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu à montanha para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornam-se brilhantes” (Lc 9, 28-29).
Não é difícil descobrir a relação desta e outras passagens com os relatos que falam dos encontros de Moisés com Deus:
“De madrugada, estando ainda escuro, Jesus levantou-se e retirou-se para um lugar deserto, a fim de orar (Mc 1, 35).
São Mateus diz mais ou menos a mesma coisa: “Tendo despedido as multidões, Jesus subiu ao monte para orar a sós” (Mt 14, 23).
Olhando para os ensinamentos de Jesus, vemos como Moisés e os profetas ficaram muito aquém de Jesus no que se refere à profundidade do conhecimento e da experiência de Deus.
Podemos dizer com toda a verdade que antes de Jesus, ninguém chegou tão longe na revelação do rosto de Deus.
Basta olhar para a profundidade deste texto do evangelho de São João para compreendermos o salto de qualidade que a revelação deu com Jesus Cristo:
“Jesus disse a Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco e não ficaste a conhecer-me, Filipe?
Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me pedes para te mostrar o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 9-10).
Numa outra passagem deste mesmo evangelho, Jesus fez a seguinte afirmação: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).
Quando a bíblia diz que Deus nos mostra o seu rosto, não está a falar de um acontecimento exterior.
Deus revela-se ao Homem a partir de dentro, pois ele é a interioridade máxima da realidade.
Por outras palavras, quando Deus vem ao encontro do Homem não vem a partir de fora.
A Primeira Carta aos Coríntios diz que o nosso coração é um templo onde o Espírito de Deus habita (1 Cor 3, 16).
O evangelho de São João diz que a revelação do rosto de Deus acontece porque Deus faz uma união orgânica connosco:
“Nesse dia, disse Jesus, compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).
Por ser homem como nós, Jesus é o medianeiro entre Deus o Homem como afirma a primeira Carta a Timóteo (1 Tim 2, 5).
O medianeiro tem a missão de revelar o rosto de Deus. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João:
“Jesus respondeu: eu sou o Caminho a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim.
Se me conheceis, conhecereis também o Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo” (Jo 14, 6-7).
Isto quer dizer que as palavras e atitudes de Jesus são uma revelação perfeita do rosto de Deus.
Por outras palavras a fidelidade incondicional de Jesus à vontade de Deus é o meio mais perfeito de Jesus nos revelar o rosto do Pai.
Calmeiro Matias
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