Para São Lucas, o Pentecostes acontece em Jerusalém. Aí, o Espírito Santo fortalece os discípulos e envia-os para a grande tarefa da missão.
No capítulo sexto dos Actos, São Lucas fala de um conflito que surge no interior da comunidade de Jerusalém e que ele apresenta como coisa secundária, a fim de não chocar os pagãos.
Segundo ele, tratou-se de um conflito devido ao desentendimento entre os cristãos de origem grega e os cristãos de origem hebraica.
Os cristãos de origem judaica cuidavam das suas viúvas e descuidam as viúvas dos gregos (Act 6, 1).
Com a sua preocupação de apresentar a Igreja como uma realidade harmoniosa, São Lucas disfarça a questão central do conflito existente na comunidade de Jerusalém.
Na realidade o conflito era grave, pois envolvia uma questão central: a incorporação dos pagãos na Igreja.
Para não chocar os pagãos, São Lucas diz que se trata apenas de um mal-estar nascido do facto de os cristãos judeus desprezarem as viúvas de origem pagã.
Para fazer frente a este conflito, os Doze tomam a iniciativa de eleger os diáconos (Act 6, 2). O problema era, na verdade, muito mais grave: os cristãos da comunidade de Jerusalém opunham-se à entrada dos pagãos na Igreja.
Os nomes dos diáconos são todos de origem grega, isto é, pagã. A eleição dos diáconos foi na realidade a eleição de apóstolos para evangelizar os pagãos.
A prova de que os diáconos não se destinavam a distribuir pães às viúvas pagãs é que nenhum deles permaneceu na comunidade de Jerusalém.
Os primeiros cristãos a serem perseguidos foram os diáconos. O primeiro mártir cristão foi Estêvão, um dos sete diáconos (Act 7, 54-60).
O primeiro pagão a ser baptizado foi convertido pelo diácono Filipe (Act 8, 35-40). Com a eleição dos enviados para os pagãos, está reconhecido o direito de os pagãos entrarem na Igreja em pé de igualdade com os judeus.
Para confirmarmos a importância que São Lucas atribui a este facto, basta ver a importância que ele dá ao relato do martírio de Estêvão.
São Lucas descreve o martírio do Apóstolo São Tiago, o irmão de São João, reduzindo o relato a um simples versículo (Act 12, 2).
O martírio do Diácono Estêvão, pelo contrário, ocupa sessenta e sete versículos (Act 7, 1-60).
São Lucas distingue os helenistas (cristãos judeus de cultura grega) dos gregos (cristãos de origem pagã).
A perseguição dos judeus aos diáconos deve-se ao facto de estes serem muito mais abertos do que os onze.
Calmeiro Matias
Sem comentários:
Enviar um comentário