A Vida Eterna é uma realidade relacional. Não é algo que alguém possa possuir de modo isolado.
Por isso é que o Espírito Santo, princípio animador de relações e vínculo de comunhão orgânica, é o elo da comunhão que constitui a vida eterna.
A vida eterna emerge no coração de cada pessoa à medida que esta se vai realizando na vida presente.
De facto, Deus assume e diviniza a pessoa humana na medida em que esta se humaniza, emergindo como interioridade espiritual capaz de interacção amorosa.
O evangelho de João diz que a Encarnação é o princípio da vida eterna: “Mas aos que o receberam, aos que crêem nele, o Verbo deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne nem da vontade do homem, mas sim de Deus.
E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).
A vida eterna implica, portanto, a incorporação na Família de Deus que tem como resultado a divinização da pessoa humana.
Por outras palavras, a matéria-prima a ser divinizada é o resultado da humanização de cada pessoa.
A lei da humanização é um processo histórico que assenta sobre dois pólos: o pessoal e o social.
A nível pessoal a humanização acontece como emergência espiritual mediante relações de amor.
Na plenitude do Reino de Deus, esta emergência liberta-se, finalmente, das diferenças rácicas, linguísticas, culturais e converge para a edificação da fraternidade universal.
A vida eterna é um dom que inclui a divinização, isto é, uma interacção familiar das pessoas divinas com as pessoas humanas.
Quanto mais uma pessoa se torna livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa, mais interage com as pessoas humanas e as divinas.
Isto significa, portanto, que a vida eterna é algo que já está em marcha na História. Viver a Vida Eterna, diz a Primeira Carta de São João, é criar laços de amor com os irmãos, o único caminho para atingir a comunhão com Deus:
“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.
Todo o que tem ódio ao seu irmão é um homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a vida eterna” (1 Jo 3, 14-15).
Depois acrescenta que a vida eterna é realmente um dom que Deus nos concede e não algo que nós possamos ter isoladamente.
Ninguém pode possuir a vida eterna sem o dom que nos vem de Deus através de Jesus ressuscitado, isto é, o Espírito Santo, a Água viva que faz jorrar uma fonte de Vida Eterna no nosso coração (Jo 4, 14; 7, 37-39).
“Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o filho não tem a vida” (1 Jo 5, 11-12).
Calmeiro Matias
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