Para o Novo Testamento, a ressurreição de Cristo não é apenas um acontecimento com alcance individual.
Por ser um homem como nós, Jesus faz um todo orgânico com a Humanidade. Eis a razão pela qual a ressurreição de Jesus Cristo tem um alcance Universal.
Os primeiros efeitos da força da ressurreição de Jesus tornaram-se evidentes na transformação operada nos Apóstolos.
Na Quinta-Feira Santa, todos fugiram. Pedro afirmou que não conhecia Jesus de lado nenhum.
Três dias depois ei-los na praça pública a dizer aos judeus que Jesus é o Messias, o eleito de Deus.
Uma transformação destas só podia resultar de dois factos: ou os discípulos enlouqueceram devido à perda do Mestre, ou aconteceu um milagre.
Deram provas sobejas de que não estavam loucos, pois utilizavam os textos bíblicos com tanta lucidez que confundiam os especialistas das Escrituras.
Então só pode ter acontecido um milagre a que nós podemos dar o nome de experiência pascal dos discípulos.
Como eles próprios afirmam, a sua mudança deve-se ao facto de terem contactado com o Senhor Ressuscitado.
A experiência pascal não é uma evidência humana, mas uma experiência feita no Espírito Santo, diz São Paulo (1 Cor 12, 13).
A experiência pascal dos discípulos está alicerçada não numa, mas em várias aparições e a grupos distintos (1 Cor 15, 3-7).
Embora não fazendo parte do grupo dos Doze, São Paulo dá testemunho da diversidade das aparições que constituem a experiência Pascal dos apóstolos, tal como eles a relataram ao próprio São Paulo.
Eis as suas palavras: Em primeiro lugar o Senhor apareceu a Pedro e em seguida aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos, isto é, a um grande número de discípulos, muitos dos quais ainda vivem, acrescenta ele.
Em seguida apareceu a Tiago. Aqui nós devemos entender uma aparição a Maria, Mãe de Jesus e aos chamados irmãos de Jesus dos quais o mais velho era Tiago.
Antes da Páscoa, Maria e os irmãos de Jesus não faziam parte do grupo dos apóstolos. Mas logo a seguir à ressurreição do Senhor, diz o Livro dos Actos dos Apóstolos, Maria e os irmãos de Jesus já fazem parte da comunidade de Jerusalém (Act 1, 14).
Depois São Paulo continua a falar das aparições do Senhor ressuscitado e acrescenta: Finalmente apareceu-me também a mim que sou como que um aborto, pois persegui a Igreja de Deus (1 Cor 15, 5-9).
Ao contrário dos mitos das diversas religiões, a experiência pascal dos apóstolos torna-se imediatamente objecto de pregação.
E, um pouco mais tarde, foi redigida por escrito, embora já transformada pela comunicação oral e a preocupação de responder às diversas interrogações e acusações que iam surgindo contra os discípulos.
A ressurreição de Cristo tornou-se o centro da Fé dos discípulos e o acontecimento que os leva a reformular o projecto salvador de Deus.
Eis as palavras de São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é falsa e é inútil a vossa fé.
Ainda estais perdidos, pois ainda permaneceis nos vossos pecados” (1 Cor 15, 14, 17). São Paulo parte do pressuposto de que, sem a ressurreição de Jesus Cristo, não havia salvação para a Humanidade.
Podemos dizer que através da ressurreição de Cristo, a Humanidade deu um salto qualitativo fundamental:
São Paulo diz que a linguagem sacramental do baptismo exprime a nossa condição de seres organicamente unidos ao mistério de Cristo ressuscitado:
“Fomos sepultados com Cristo no baptismo, a fim de vivermos uma vida nova, pois Jesus ressuscitou dos mortos” (Rm 6, 4).
Na Carta aos Colossenses, São Paulo acrescenta que, graças à ressurreição de Cristo, o nosso pecado foi perdoado (Col 2, 12-13).
Contrapondo a infidelidade de Adão e a morte que ela trouxe para a Humanidade, São Paulo diz que o projecto de Deus foi restaurado em Cristo, o qual nos trouxe o dom da vida eterna:
“O salário do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm 6, 23).
Eis o que diz o evangelho de São João: “De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu o seu único Filho, a fim de que todo o que acredita nele não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
A Carta aos Efésios diz que a salvação da Humanidade é um dom gratuito de Deus e não algo que o Homem tenha conquistado pelas suas obras:
“Vós estais salvos pela graça, mediante a Fé. E isto não se deve às vossas obras, pois é um dom de Deus” (Ef 2, 8-9).
O mérito do Homem consiste no facto de acolher Cristo, o Filho de Deus enviado aos seres humanos para fazer deles membros da Família de Deus:
“Àqueles que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram da carne nem da vontade dos homens, mas sim da vontade de Deus” (Jo 1, 12-13).
Calmeiro Matias
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