Colocando o Magnificat na boca de Maria, São Lucas quis atribuir a Maria uma ligação privilegiada à missão libertadora do Messias.
Não é por acaso que o canto de Maria tem uma referência muito clara à obra libertadora de Jesus:
“Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias (Lc 1, 51-53). Podemos dizer que a força profética destas palavras é uma síntese do jeito de viver de Jesus.
Esta relação aparece muito clara no evangelho de São Lucas, logo no início da vida pública de Jesus:
“Jesus veio a Nazaré onde se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.
Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista.
Consagrou-me para mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar um ano favorável da parte do Senhor”.
Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Começou então a dizer-lhes: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).
São Lucas interpreta este texto de Isaías como um anúncio antecipado da acção profética e libertadora da missão de Jesus.
Os dois textos são exclusivos de São Lucas, o que demonstra bem a sua intenção de sublinhar a garra profética das palavras e das acções de Jesus.
Nesta mesma linha do Magnificat está o cântico profético de Zacarias, ao qual damos o nome de “Benedictus” (cf. Lc 1, 67-79).
Os dois cânticos surgem como uma exultação no Espírito Santo. Este tema da exultação no Espírito Santo é muito querido para São Lucas.
O Espírito Santo faz exultar os justos que formam o resto fiel, isto é, o conjunto de pessoas que vivem na expectativa da vinda do Messias.
Para São Lucas a abundância do Espírito é o sinal claro de que chegaram os tempos messiânicos, tal como os profetas tinham previsto.
Eis o que São Lucas diz no Livro dos Actos dos Apóstolos: “Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel:
“Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura” (Act 2, 16-17; cf. Jl 3,1).
O Magnificat de Maria, tal como o Benedictus de Zacarias são exultações no Espírito Santo (cf. Lc 1, 46-56; 1, 67-79).
Nesta mesma linha está o cântico de Simeão, o ancião que tomou nos braços o Menino Jesus quando este foi apresentado no templo.
Este cântico de Simeão é muito sugestivo, pois aparece como obra explícita do Espírito Santo:
“Ora vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Era justo e esperava a consolação de Israel (…).
O Espírito Santo estava em Simeão e tinha-lhe revelado que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.
Impelido pelo Espírito Santo veio ao templo no momento em que os pais do Menino Jesus o trouxeram para o apresentar ao Senhor.
Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus dizendo: “Agora, Senhor, tal como disseste, deixa partir em paz o teus servo, pois os meus olhos acabam de ver a Salvação que ofereceste a todos os povos:
Luz para se revelar às nações e glória de Israel teu povo” (Lc 2, 25-32). Estes cânticos têm em comum o reconhecimento de que Jesus é Messias anunciado pelos profetas e prometido aos patriarcas.
Significam também que o conhecimento de Jesus como Messias é um dom do Espírito Santo.
Calmeiro Matias
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