domingo, 21 de março de 2010

A VIDA ETERNA COMO DOM E TAREFA

À luz da fé cristã a História da Humanidade é um projecto em construção que tende para uma meta. Por vezes as pessoas chamam “Fim do Mundo” ao fim da génese histórica da Humanidade.

São Paulo vê no acontecimento de Jesus Cristo a plenitude dos tempos, isto é, o ponto mais alto da História.

A História Humana, para São Paulo, faz parte de um plano bem estruturado por Deus. A fase que precedeu o acontecimento de Jesus Cristo corresponde aos tempos da gestação.

Com Jesus Cristo, os tempos de gestação chegam ao fim e começa a fase do parto do qual nasce a Nova Humanidade constituída pelos filhos de Deus.

Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher, isto é, homem como nós, a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações, o Espírito de seu Filho, o qual clama “Abba, Pai querido”.

Deste modo, já não somos escravos, mas filhos. Se somos filhos somos também herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Com o mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano, a fim de as pessoas humanas serem assumidas na Família de Deus.

Graças ao acontecimento de Jesus Cristo, portanto, a Humanidade passa a fazer para da Família de Deus. E Cristo que até então era o Filho único de Deus, passa a ser o primogénito de muitos irmãos, diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 29).

A génese da criação e a salvação do Homem faz parte de uma História de muitos milhões de anos, mas com Jesus Cristo teve início a Nova Aliança que une de modo orgânico e definitivo a Humanidade com a Divindade.

Na verdade, com Jesus Cristo a Humanidade atingiu um limiar de vida totalmente novo: os seres humanos foram divinizados.

Ao falar da plenitude dos tempos, São Paulo queria dizer que chegou o tempo da salvação para toda a Humanidade.

A plenitude dos tempos significa que a Humanidade atingiu o topo, isto é, a densidade de vida mais elevada da História.

As primeiras comunidades cristãs julgavam que, devido ao facto de Cristo já estar ressuscitado, o mundo iria acabar muito em breve.

Ao ressuscitar, Jesus Cristo subiu ao Céu, mas vai voltar muito em breve pondo fim à génese da História e a iniciando a plenitude da comunhão do Homem com Deus.

Algumas pessoas imaginavam que tudo isto aconteceria muito em breve e por isso já nem era preciso trabalhar.

São Paulo teve de repreender estes cristãos, dizendo-lhes que a vinda gloriosa de Jesus Cristo vai acontecer e pôr fim à História, mas não assim tão depressa.

Muitos dos Apóstolos, ao princípio, pensavam que muitos deles ainda estariam vivos quando Jesus chegasse (Lc 21, 20-30).

No mundo judaico do tempo dos Apóstolos havia muitas profecias falsas chamadas textos os apócrifos.

Estes escritos eram sobretudo de carácter apocalíptico e falavam do dia da ira de Deus que iria a acontecer em breve para castigar os pecadores e terminar o curso da História.

Nesse dia, só o pequeno resto dos justos escaparia ao dia da ira e da vingança de Deus. Influenciados por estes escritos, os Apóstolos também começaram a pregar o dia da ira que estava para chegar.

Era também esta a maneira de pregar de São João Baptista, com dizem os evangelhos (cf. Mt 3, 7-10).

Graças ao aprofundamento da Palavra de Deus, os Apóstolos começaram a compreender de modo progressivo o significado da vinda gloriosa de Jesus Cristo.

Iluminados pela Palavra de Deus e o Espírito Santo, os Apóstolos começaram a compreender que o fim da História Humana e a vinda gloriosa de Cristo não é uma tragédia, mas um acto do amor de Deus que vai enviar Cristo para salvar a Humanidade.

No dia da vinda gloriosa de Jesus ressuscitado, as pessoas que ainda vivam na Terra serão salvas, passando a fazer parte da Família de Deus para sempre.

Quando as últimas pessoas chegarem ao Céu, isto é, à comunhão da Família de Deus, já lá encontrarão muitos milhões de outras pessoas, isto é, todos os que nasceram depois de Adão.

Temos assim dois aspectos importantes: Em primeiro lugar, o final da História Humana não significa o fim do Universo.

Em segundo lugar, a vinda gloriosa de Jesus não significa uma tragédia para a Humanidade, mas o grande dia da Salvação, pois o Reino de Deus é um projecto do amor de Deus em favor da Humanidade.

A vontade de Deus, diz São Paulo, é que todas as pessoas conheçam Deus e o seu plano para nós e sejam incorporadas na Família Divina (1 Tim 2, 4-5).

Se olharmos atentamente para o modo de Jesus actuar, vemos como ele não agia como quem vem condenar e matar os pecadores.

Pelo contrário curava os doentes e perdoava aos pecadores, anunciando às pessoas que são membros da Família de Deus.

São Paulo entendeu muito bem este plano de Deus realizado através de Cristo. Agora, dizia ele, chegou a plenitude dos tempos, isto é, o tempo do parto do Homem Novo.

A partir de agora já temos connosco o Espírito de Cristo ressuscitado que nos leva a dizer “Abba, Pai querido” (Gal 4, 4-7).
Se prestarmos atenção aos evangelhos encontramos gestos maravilhosos de perdão realizados por Jesus em nome de Deus:

Perdoou à mulher adúltera à qual os sacerdotes judeus queriam matar à pedrada (Jo 8, 1-11).

Perdoou ao Zaqueu, homem desprezado por todos os judeus (Lc 19, 1-10).

Perdoou à Samaritana, considerada uma mulher detestada por Deus (Jo 4,7-21).

Além disso, procedendo deste modo, Jesus dizia que estava a fazer a vontade de Deus: “O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade de meu Pai e realizar o seu projecto de salvação” (Jo 4, 34).

A primeira Carta a Timóteo diz que a vontade de Deus é que os homens se salvem e cheguem a conhecer a verdade de Deus e do Homem” (1 Tim 2, 4).

A meta da História da Salvação é a comunhão universal da Família de Deus, um reino grandioso onde o amor é o único mandamento.

A vinda gloriosa de Cristo no final da História significa que Jesus ressuscitado não deixará ninguém fora da Comunhão Universal da Família de Deus.

Só não toma parte na festa deste reino quem se opõe de modo sistemático às propostas e aos apelos do amor.

Vista à luz da Palavra de Deus, a nossa vida está cheia de sentido e razões para louvar a Deus em todo o tempo e lugar.

Eis alguns dos muito motivos que temos para louvar a Deus:

Louvá-lo porque nos chamou à vida!

Louvá-lo porque nos deu a Natureza como um livro cheio de ensinamentos.

Louvá-lo porque marcou a Criação com o selo da Bondade.

Louvá-lo pelas altas montanhas que parecem dedos gigantes a apontar o céu, a fim de contemplarmos a beleza das estrelas.

Louvá-lo pelos mares e os lagos que reflectem a luz do sol e o azul do Céu.

Louvá-lo pelos rios que regam a nossa terra, capacitando-a para ser fecunda e generosa.

Louvá-lo pelos animais que estimulam a ternura dos seres humanos.

Louvá-lo pelo mistério da Encarnação, graças ao qual o filho de Deus abraçou o Homem em Jesus Cristo, fim de nós sermos introduzidos na Família de Deus.

Louvá-lo pela força da vida a circular nas plantas, nos animais e os nos seres humanos.

Louvá-lo pelo perfume das flores e o sabor delicioso dos frutos que alimentam a nossa vida.

Louvá-lo pela fidelidade do Sol que todas as manhãs nos recorda que estamos a caminhar para o dia sem ocaso onde nunca mais haverá noite.

Louvá-lo pela transparência das crianças que nos convidam a ser verdadeiros e sinceros.

Louvá-lo pelos jovens e adultos que procuram construir a paz nos pilares sólidos da justiça e dos direitos humanos.

Louvá-lo pelo dom da sua Palavra que nos faz compreender o sentido profundo da vida e a meta para a qual estamos a caminhar.

Louvar o Pai que nos acolhe no seu regaço como filhos.

Louvar o Filho de Deus que encarnou para se tornar nosso irmão.

Louvar o Espírito Santo que é a ternura maternal de Deus a conduzir-nos para o amor a Deus e aos irmãos.

Louvar a Santíssima Trindade que nos criou com essa capacidade admirável de amar e comungar na Festa do Reino de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



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