O mistério íntimo das pessoas não é evidente, mas revela-se através das relações.
Quando comunicamos significativamente com os outros, estamos a estruturar-nos como pessoas.
Pouco a pouco, e sem darmos por isso, as relações vão criando uma reciprocidade entre nós e os outros com os quais nos relacionamos de modo mais ou menos duradoiro.
O modo como olhamos o outro, vai modelando também no modo como ele nos olha a nós.
De igual modo, também nós começamos a tratar o outro de modo semelhante àquele com que ele nos trata.
De tal modo o mistério das relações é básico que nós só nos conhecemos e possuímos na medida em que interagimos e nos relacionamos de modo significativo com os outros.
Por outras palavras, através das relações que nós passamos a conhecer em profundidade a nossa identidade e a identidade delas.
Mas a importância das relações humanas vai ainda mais longe, pois nós só nos estruturamos através das relações com os outros.
Além disso, é ainda através das relações que a nossa realidade espiritual emerge e se robustece.
As relações humanas são, de facto, a dinâmica que faz emergir e crescer a pessoa na sua identidade fundamental.
Por estarmos talhados para a reciprocidade e a comunhão, só podemos emergir e possuirmo-nos de modo pleno com e através dos outros.
É esta a dinâmica e o mistério do Homem a emergir através da força estruturante das relações.
Como ser criado á imagem e semelhança de Deus, o homem é um mistério de relações, as quais têm o poder de fazer emergir a identidade da pessoa como ser livre, consciente e responsável e capaz de comunhão amorosa.
Através das interacções a pessoa descobre que cada ser humano tem uma identidade distinta da sua, descobrindo o mistério da unicidade pessoal.
Por outras palavras, através das relações, a pessoa descobre o mistério da pessoa como ser único, original e irrepetível.
Podemos dizer que a pessoa é um ser alicerçado na sua unicidade, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.
É também através das relações que a pessoa saboreia a existência de uma unidade orgânica e dinâmica que liga toda a Humanidade.
Esta unidade orgânica constitui a o alicerce sobre o qual emerge e se estrutura a pessoa, bem como o jardim no qual a pessoa encontra a sua plenitude.
Cada ser humano é uma concretização pessoal da Humanidade a acontecer. Na verdade, a Humanidade não cai das nuvens, nem existe em abstracto, mas está a emergir no concreto de cada pessoa.
De facto, a lei da humanização acontece como emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.
Tal com o Homem, Deus é também um mistério de relações. A nossa fé afirma que exista apenas um só Deus, mas este Deus não é um sujeito infinito e isolado.
Por outras palavras, dizer que existe um só Deus não significa que Deus seja um sozinho, pois é uma comunhão orgânica de três pessoas de infinitamente perfeitas.
A pessoa humana, por vezes, resiste e não se deixa envolver no mistério profundo das relações de comunhão.
No fundo tem medo de perder a sua liberdade, ou a sua unicidade pessoal.
Na verdade a realidade é exactamente o contrário, pois nós só nos encontramos de modo pleno como pessoas livres, responsáveis, únicas, e irrepetíveis na comunhão orgânica universal.
O medo de nos anularmos leva-nos muitas vezes a fechar-nos na nossa pequenez e limitação de seres isolados, o qual nos impede de nos possuirmos e encontrarmos a nossa riqueza mais profunda.
Por outras palavras, só depois de ter sido assumida e incorporada na Comunhão Universal a pessoa adquire a sua plena grandeza.
De facto, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão. É este o núcleo da nossa vocação a construirmo-nos como imagens de Deus.
A comunhão nunca anula a pessoa. Pelo contrário, optimiza tudo aquilo que ela é e faz emergir todas as possibilidades de realização que nela existam.
Por outras palavras, Na comunhão, as pessoas são optimizadas e plenamente valorizadas.
Isto quer dizer que o ser da pessoa atinge a sua plenitude ao realizar aquilo para que ela está talhada.
Deus é amor, diz a bíblia (1 Jo 4,7). Como vimos, não há amor sem relações. Quando dizemos que Deus é amor estamos a dizer que Deus é relações de amor.
No princípio, diz o Livro do Génesis, Deus criou o homem e insuflou-lhe nas narinas o sopro da vida, isto é, o Espírito Santo (Gn 2, 7).
É esta a intervenção especial de Deus na criação do Homem, a qual inicia na História da Humanidade a dinâmica das relações de amor.
Na verdade, ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. O sopro de Deus no barro primordial do qual sairia Adão, portanto, dá início ao processo histórico da humanização do Homem através do amor.
São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
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